8 motivos pelos quais os filmes de super-heróis estão fracassando

A fadiga dos super-heróis chega a 2024 para assombrar lançamentos aguardados, como novas produções de Deadpool e Coringa. Entenda por que isso acontece!

madame teia

2023 foi complicado para os super-heróis, mostrando que não está fácil pra ninguém. O ano marcou o lançamento de Homem Formiga e a Vespa: Quantumania, Shazam: Fúria dos Deuses, Guardiões da Galáxia Vol. 3, Homem-Aranha: Através do Aranhaverso, The Flash, Besouro Azul, As Marvels e Aquaman e o Reino Perdido.

Dos oito, apenas dois foram considerados bem-sucedidos comercialmente: a despedida dos Guardiões e a sequência da animação de Miles Morales. A “fadiga dos super-heróis” é mesmo real?

Publicidade
Publicidade

Talvez. Há muitos fatores que determinam uma bilheteria rechonchuda e, no ano passado, outros elementos adversos entraram em ação, desde astros dos filmes indo parar nos tribunais até greves.

Atores falam sobre a “fadiga dos super-heróis”

Na última semana, dois atores envolvidos nas franquias da Marvel e da DC deram suas opiniões sobre o cenário atual para os justiceiros de capa.

Durante uma Comic Con em Seattle, Chris Evans, o eterno Capitão América, disse que, na verdade, não se trata de uma questão dos filmes serem ruins:

[Filmes baseados em quadrinhos] nem sempre recebem o crédito que merecem. São filmes grandes, enormes. Há muitos cozinheiros na cozinha. Mas a evidência empírica está aí: eles não são fáceis de serem feitos. Se fossem fáceis, haveria muito mais filmes bons [de super-heróis]. Não estou mandando indireta! Fiz parte de alguns que deram errado. Isso acontece. Fazer um filme é complicado. Ter mais cozinheiros na cozinha não torna mais fácil. Não quero destacar filmes específicos no catálogo da Marvel, mas alguns são fenomenais. Tipo, independentemente, objetivamente filmes ótimos, e acho que merecem um pouco mais de crédito.

Paul Dano, que interpretou o Charada em The Batman, acha que a baixa atual pode levar a uma renovação do gênero – ou ao seu fim:

É um momento interessante em que todo mundo tem que dizer tipo ‘OK, e agora?’. E aí com sorte alguém trará um novo fôlego [para os filmes de super-heróis], ou algo irá desabrochar que não tenha a ver com heróis. Tenho certeza de que ainda virão alguns bons, mas acho que é um momento bem-vindo.

Para entender essa sinuca de bico em que se meteram os Vingadores, a Liga da Justiça, os X-Men e todos os seres dotado de poderes das histórias em quadrinhos, confira alguns fatores abaixo e considere se vale a pena comparecer aos cinemas para os maiores lançamentos de 2024!

8 motivos para filmes de heróis estarem fracassando

Críticas de todos os lados

Não importa o que Martin Scorsese diga, os filmes de heróis são elogiados pela crítica especializada em múltiplas ocasiões. Mas tudo tem limite.

A reação a Madame Teia, por exemplo, conseguiu um abismal 12% de aprovação no Rotten Tomatoes, site que agrega resenhas, mostrando uma insatisfação generalizada. 

Poderia ser implicância do meio, mas nem mesmo os fãs estão apoiando os filmes. Os motivos variam, mas a misoginia está sempre presente no mundo geek, em especial após heroínas ganharem seus próprios filmes e até tomarem papeis que eram originalmente destinados a homens.

Dos mesmos produtores de “quem lacra não lucra” e “estão estragando a minha infância”, veio aí o movimento coordenado de críticas negativas a filmes estrelados por mulheres. Entra ano, sai ano e a masculinidade permanece frágil.

Ingressos cada vez mais caros

Ir ao cinema tem sido salgado – e, infelizmente, não estamos falando da pipoca. O preço médio do ingresso no Brasil atingiu seu valor máximo desde a implementação do real, de acordo com o Anuário Estatístico do Cinema Brasileiro.

Quer ver só? Em 2017, a média do ingresso no país era de R$15. Em 2023, a média subiu para R$28,75 em São Paulo e R$27,34 no Rio de Janeiro. Ou seja, quase dobrou de preço em sete anos. Fortaleza tem o ingresso mais barato, com média de R$18,24. O Brasil é o quarto país com o cinema mais caro do mundo, atrás apenas da Rússia, África do Sul e Índia.

Claro que o preço não aumentou sem motivos. As salas estão mais modernas e confortáveis; os custos de manutenção também subiram, incluindo folhas de pagamento, energia, aluguel inflacionado, etc. Além disso, o dólar está em alta, impactando importações. 

Então o público adotou a estratégia mais óbvia: esperar para assistir no streaming. As Marvels foi de uma das piores estreias do MCU – o universo cinematográfico da Marvel – para o filme mais assistido no Disney+, enquanto Aquaman 2: O Reino Perdido já está no Max pouco tempo após sair dos cinemas.

Outro fator importante é que o download ilegal de filmes voltou a crescer nos últimos anos. De acordo com um estudo da Muso, empresa de análise de pirataria, o número de acessos a sites piratas de filmes e séries aumentou 13% em 2022 em comparação com 2021.

Ou seja, não é que as pessoas não queiram assistir aos filmes: elas só talvez achem que não vale a pena pagar (tanto) por eles.

Dificuldade em acompanhar as linhas do tempo do cinema e da TV

Ninguém nega que a Marvel está a alguns passos à frente da DC quando o assunto é estabelecer personagens, não importa quão secundários eles pareçam – os Guardiões da Galáxia que o digam, enquanto o Super Homem até hoje sofre pra ter um filme decente nas encarnações mais recentes.

Mas agora que até os heróis mais obscuros têm as próprias séries de TV, está cada vez mais difícil acompanhar todos os lançamentos para estar a par da linha do tempo evolutiva das histórias. 

Este pode ter sido um dos fatores que ajudaram a colocar As Marvels na pilha dos fracassos, já que o filme não foi vendido como uma sequência do ótimo Capitã Marvel. Ficou claro que seria ideal trazer na bagagem a série Ms. Marvel, introdução da personagem Kamala Khan, para engajar com a nova história.

Isso exige um comprometimento que muitos espectadores não estão dispostos a ter na era do excesso de conteúdo – independente do carisma inegável da jovem atriz Iman Vellani.

Greves deixam sua marca

Os meses de paralisação em Hollywood bagunçaram todo o cronograma de lançamentos de filmes e séries. Adiamentos foram as medidas mais populares naquela época, enquanto roteiristas e atores faziam piquetes na porta dos estúdios. Isso fez a expectativa para alguns dos lançamentos baixarem ou sumirem de vez. 

Os grandes eventos que impulsionam o marketing desses filmes, como premiações, pré-estreias e convenções de cultura pop deixaram de acontecer ou foram adiante sem a presença de suas maiores estrelas – os atores. Isso comprova a importância das rodadas de entrevistas e de ter rostos famosos agraciando tapetes vermelhos, por mais banal que possa parecer.

Produções conturbadas

Ezra Miller (Foto: Divulgação)

Nos bastidores e na vida pessoal dos atores, as tretas deram pano pra manga. A começar pelo julgamento mais público dos últimos tempos, que colocou a atriz de Aquaman, Amber Heard, contra o ex-marido, Johnny Depp, com direito a detalhes escatológicos e documentário na Netflix. 

Ainda no mundo do Deus das águas, Aquaman passou por um total de três refilmagens, além de boatos circularem sobre Jason Momoa estar gravando bêbado. The Flash foi cercado das controvérsias envolvendo o protagonista, Ezra Miller, acusade de abuso, assédio e agressão em múltiplos casos.

Já no mundo da Marvel, Jonathan Majors, o Kang, foi julgado e declarado culpado de agressão contra a então namorada. Cara do Pantera Negra, um dos personagens mais abraçados pelo público nos últimos anos, Chadwick Boseman faleceu inesperadamente após uma batalha privada contra o câncer. Foi baque atrás de baque…

Concorrência à altura

Warner Bros./Divulgação

Enquanto nos anos anteriores os filmes da Marvel e da DC estavam sempre na disputa pela bilheteria mais lucrativa, em 2023 e 2022 este não foi o caso. Barbie e a sequência de Avatar, respectivamente, levaram a coroa.

A grande competição dos últimos tempos foi entre a boneca de Margot Robbie e o Sr. Bomba Atômica em Oppenheimer, gerando o fenômeno Barbenheimer. Sinal de que havia a necessidade de uma mudança de ares das franquias sem fim que vêm dando o tom do cinema americano há anos.

Dança das cadeiras

Foto de James Gunn via Shutterstock

O comando dos estúdios passou por mudanças, brecando projetos em andamento e começando outros. James Gunn trocou a Marvel e sua bem-sucedida trajetória no comando dos três filmes dos Guardiões da Galáxia pelo comando criativo da DC. Com isso, muita gente se viu desmotivada a ir aos cinemas, sem saber se filmes como The Flash e Shazam: Fúria dos Deuses contariam na linha temporal seguida por Gunn a partir de agora. 

Na Marvel, a produtora executiva argentina Victoria Alonso, uma das responsáveis por estabelecer o tom do universo cinematográfico da empresa, foi demitida após 17 anos de casa. A Disney alega quebra de contrato, já que Alonso estava envolvida na produção de Argentina, 1985, longa indicado ao Oscar de 2023 e promovido pela Amazon – um estúdio concorrente. Isso contribuiu para balançar mais uma vez o barco do MCU.

Efeitos especiais em xeque

Os efeitos especiais em franquias de super-heróis estão sendo criticados por alguns fãs e críticos. Embora a qualidade dos VFX, como são chamados, esteja deixando a desejar, o que vem à tona é a precarização do trabalho.

Isso porque, ao invés de ter departamentos dedicados a essa arte, os estúdios optaram por terceirizar o serviço, pensando em redução de custos. 

Porém, as empresas contratadas nem sempre recebem detalhes sobre o escopo de cada projeto, sendo necessário um pequeno exército de artistas para dar conta da demanda por entregas ágeis e com muita complexidade. Isso levou a um setor totalmente desgastado e com salários que não refletem as horas exaustivas de trabalho.

Não é por acaso que os artistas de VFX estão se sindicalizando em todo o mundo. Nos Estados Unidos, a Animation Guild, Local 839, do sindicato IATSE (International Alliance of Theatrical Stage Employees), está em processo de organizar os trabalhadores do setor.

No Reino Unido, a Bectu (Broadcasting, Entertainment, Cinematograph and Theatre Union) também está se mobilizando. Os mesmos movimentos acontecem no Canadá, Austrália e Nova Zelândia – todos pólos de grande procura por estúdios americanos. As maiores demandas da categoria são por melhores condições de trabalho, reconhecimento e proteção contra abusos. 

Com tantos fatores, é natural que os filmes de super-heróis estejam passando por um momento difícil. O que vem por aí?

Filmes de super-heróis em 2024

Embora o mundo pós-greves de Hollywood indique uma desaceleração na quantidade de produções, várias delas já estavam bem encaminhadas quando as paralisações ocorreram. O calendário de 2024 inclui alguns filmes tanto da Marvel quanto da DC que, apesar de tudo, continuam gerando expectativa.

Depois de Madame Teia, que saiu em fevereiro, em 23/04 estreia Liga da Justiça: Crise nas Infinitas Terras Parte 2, animação da DC que teve a parte 1 lançada em janeiro. Em julho será a vez de Deadpool & Wolverine. Em agosto, Kraven – O Caçador soma ao universo Homem-Aranha na Sony. O novo filme do Coringa, Joker: Folie à Deux, trará Lady Gaga no papel de Arlequina em outubro. Por fim, Venom 3 irá tentar abocanhar as bilheterias em novembro.

Outras produções ainda estão com datas a serem definidas, como a aguardada última parte da história de Miles Morales, Homem-Aranha: Além do Aranhaverso; e a improvável Batman Asteca: Choque De Impérios, que coloca o rico excêntrico da DC como um guerreiro asteca resistindo à colonização espanhola.

Como dá pra ver, há histórias para todos os gostos – o que dá a entender que os filmes de super-heróis não vão a lugar nenhum tão cedo.

Sair da versão mobile