A história das mulheres na TV e no cinema é uma jornada de desafios, conquistas e progresso gradual. Desde os primórdios da sétima arte, mulheres como Alice Guy-Blaché desempenharam papéis fundamentais no desenvolvimento do cinema, enfrentando discriminação de gênero enquanto buscavam oportunidades em uma indústria dominada por homens.
Na televisão, Lucille Ball e outras pioneiras desafiaram estereótipos de gênero, abrindo caminho para uma representação mais diversificada de mulheres na mídia. Embora tenham enfrentado obstáculos significativos ao longo do tempo, as mulheres continuaram a lutar por igualdade de oportunidades e representação, levando a um aumento gradual de vozes femininas tanto na frente quanto atrás das câmeras.
Movimentos contemporâneos como #MeToo e #OscarsSoWhite destacaram as questões de sexismo e racismo no mundo do entretenimento, levando a um impulso renovado para uma mudança positiva em direção a uma indústria mais inclusiva e equitativa para todos.
Mas o trabalho não está concluído – ainda há muito a ser feito para garantir que as mulheres sejam vistas para além dos estereótipos e recebam em pé de igualdade com seus companheiros de cena e profissionais na mesma função.
Por isso, o TMDQA! escolheu algumas pioneiras para destacar sua importância em continuar movendo as estruturas de um negócio patriarcal. Conheça algumas das mulheres cujo impacto é sentido diretamente na indústria do entretenimento hoje.
Mulheres que mudaram a história do cinema e da TV
Shonda Rhimes
Poucas mulheres têm uma noite inteira da TV aberta americana para si – mas Shonda Rhimes tem. Depois de trabalhar bastante escrevendo roteiros, ela desenvolveu uma voz própria, criou suas histórias e as transformou na Shondaland, com horas e horas de programação com dramas humanos.
Seja na já novelesca Grey’s Anatomy, há 20 anos no ar, seja na recente Bridgerton, na Netflix, Shonda mostra por que tornou-se uma poderosíssima mulher quando o mundo dos produtores executivos era dominado por homens brancos. Não é à toa que ela coloca ao centro das suas séries homens e mulheres negros de todos os tipos, fugindo aos estereótipos.
Laverne Cox
Laverne Cox se destacou como uma das primeiras atrizes transgênero a ganhar renome na TV e streaming, desafiando normas com seu papel em Orange Is the New Black. Sua interpretação como Sophia Burset, uma detenta trans na prisão de Litchfield, trouxe visibilidade para a comunidade LGBTQ+ e promoveu discussões importantes sobre identidade de gênero.
Desde então, Laverne é presença garantida em todos os principais tapetes vermelhos e um símbolo de status e resiliência. Mais que isso, usa seu talento para personagens que trazem muitas camadas, indo além da visibilidade trans.
Oprah Winfrey
Oprah Winfrey é uma figura lendária da televisão, conhecida por seu programa de entrevistas revolucionário The Oprah Winfrey Show, que ficou no ar por 25 anos.
Em tudo que faz, ela se destaca – inclusive no cinema. Winfrey foi indicada ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante em 1986 por seu papel em A Cor Púrpura. Embora não tenha ganhado o prêmio, sua indicação foi um marco histórico, pois a tornou a primeira mulher negra a ser indicada para um Oscar em uma categoria de atuação desde Dorothy Dandridge em 1955.
Além de seu trabalho na TV, Oprah é uma empresária de sucesso, filantropa e produtora de cinema, cujo impacto na cultura popular é inegável. Não por acaso, ela é a única bilionária nesta lista, estendendo sua influência como figura de poder e autoridade dentro do entretenimento.
Lucille Ball
Lucille Ball deixou sua marca na televisão como uma das comediantes mais icônicas da história, especialmente com sua série I Love Lucy.
Através de seu trabalho como atriz e produtora, Ball abriu caminho para futuras mulheres na comédia e na produção televisiva, desafiando normas de gênero e promovendo uma maior representação feminina na tela.
Ball ficou marcada como uma das primeiras mulheres a ter sucesso como comediante na televisão e inclusive com total controle criativo. Seu humor físico e timing impecável possibilitaram o surgimento de outras comediantes na TV, como Carol Burnett e Mary Tyler Moore, anos mais tarde.
Lucille lutou por ter seu marido, Desi Arnaz, como co-estrela, desafiando as normas da época que proibiam casais inter-raciais na televisão. Tudo isso fez dela uma mulher que mudou o jogo.
Ava DuVernay
Ava DuVernay é uma diretora, roteirista e produtora premiada, conhecida por seu compromisso com a narrativa inclusiva e a justiça social em filmes como Selma, que retrata a marcha histórica de Selma a Montgomery liderada por Martin Luther King Jr., e When They See Us, uma série que conta a história verídica dos Cinco do Central Park.
DuVernay é uma das poucas diretoras negras de grande destaque em Hollywood. Seu compromisso em contar histórias autênticas e impactantes sobre a experiência afro-americana nos EUA trouxe à tona questões importantes de justiça social e igualdade racial, desafiando o status quo e inspirando mudanças significativas dentro e fora da indústria do entretenimento.
DuVernay é ainda fundadora da ARRAY, uma empresa de distribuição focada em promover filmes dirigidos por mulheres e cineastas não-brancos. Com a ARRAY, DuVernay tem ampliado ainda mais as oportunidades para cineastas marginalizados, oferecendo uma plataforma para suas vozes e histórias serem ouvidas em todo o mundo.
Devery Jacobs
Devery Jacobs é uma atriz indígena canadense conhecida por seus papeis em séries e filmes que destacam as questões enfrentadas pelas comunidades indígenas.
Ela interpretou o papel de Sam Black Crow na série American Gods, baseada no livro Deuses Americanos de Neil Gaiman, e foi aclamada por sua interpretação em Rhymes for Young Ghouls.
O grande destaque da carreira de Jacobs é, no entanto, o seu papel como Elora Danan na premiada e aclamada série Reservation Dogs, onde também atuou como roteirista. Ela ainda estreou na Marvel, nas séries Echo e What If…?.
Devery desponta como uma nova e impactante voz que coloca a comunidade indígena americana em destaque.
Mira Nair
Mira Nair é uma diretora indiana cujo trabalho inclui filmes aclamados como Salaam Bombay!, que foi indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, e Um Casamento à Indiana, uma comédia dramática que retrata os rituais e conflitos familiares durante um matrimônio indiano.
Seu cinema autêntico e envolvente trouxe histórias do subcontinente indiano para o cenário internacional, ampliando a diversidade de narrativas.
Mira Nair é considerada uma pioneira na indústria cinematográfica por sua capacidade de contar histórias autênticas. Como diretora, ela desafiou as convenções de Hollywood, trazendo à tela narrativas ricas e culturalmente diversas, que capturam a complexidade e a beleza da vida na Índia e em outras partes da Ásia.
Kathryn Bigelow
Kathryn Bigelow é uma diretora premiada, conhecida por seu trabalho em filmes como Guerra ao Terror, pelo qual se tornou a primeira mulher a ganhar o Oscar de Melhor Direção.
Seu estilo visceral e sua abordagem única em filmes de suspense e ação desafiaram normas de gênero em Hollywood, abrindo caminho para mais oportunidades para diretoras na indústria cinematográfica. Sua filmografia ainda inclui o clássico noventista Caçadores de Emoção e A Hora Mais Escura.
Ellen DeGeneres
Ellen DeGeneres é uma comediante e apresentadora que desafiou estereótipos e promoveu a aceitação LGBTQ+ com a sua série The Ellen DeGeneres Show. Sua coragem ao se assumir publicamente como lésbica em 1997 e a abordagem descontraída e inclusiva de seu programa a tornaram uma voz importante na comunidade LGBTQ+ e uma inspiração para muitos.
Em 2018, comediantes que trabalharam com Ellen a acusaram de criar um ambiente de trabalho tóxico, com relatos de má conduta por parte de produtores do programa Ellen, seu talk show. A Warner Bros. Television conduziu uma investigação interna sobre as alegações e Ellen pediu desculpas publicamente, levando a mudanças e demissões na equipe. Mas não foi o suficiente pra segurar a audiência do programa, que acabou na temporada seguinte após 19 anos.
Ellen DeGeneres está fora do ar, mas nada apaga o seu legado como alguém que ajudou a levar as narrativas lésbicas para o horário nobre da TV americana.
Ruth de Souza
Ruth de Souza foi uma atriz brasileira pioneira, quebrando barreiras raciais no cinema e na TV do Brasil. Ela atuou em produções como O Ébrio e Sinhá Moça, e sua presença na tela desafiou estereótipos e promoveu a representação negra na mídia brasileira.
Ela foi a primeira atriz negra a ter um papel de destaque em uma telenovela. Em 1969, protagonizou A Cabana do Pai Tomás, abrindo caminho para a representatividade afro-brasileira na televisão.
Atuou em mais de 40 telenovelas, minisséries e programas de televisão, acumulando diversos prêmios e reconhecimento por seu talento. Ruth de Souza foi uma referência para a comunidade negra e um símbolo de resistência e superação.
Greta Gerwig
Greta Gerwig é uma diretora e roteirista aclamada por filmes como Lady Bird, que recebeu cinco indicações ao Oscar, incluindo Melhor Filme e Melhor Direção, e Adoráveis Mulheres, uma adaptação do clássico romance de Louisa May Alcott. Sua abordagem sensível e autêntica à narrativa feminina a estabeleceu como uma das vozes mais importantes do cinema contemporâneo.
A recente direção de Gerwig de Barbie, uma adaptação live-action altamente antecipada, desafia a percepção tradicional de sucesso. O longa tornou-se o primeiro filme dirigido por uma mulher a faturar mais de 1 bilhão de dólares – US$1,5 bi, pra ser mais exato – e dominou o debate público por muito tempo. Mas além disso, mostrou o impacto de uma visão para transformar um projeto, recebido anteriormente com desconfiança, em uma referência narrativa e de produção.
Isso faz de Gerwig a cineasta com mais influência no momento no cinema popular americano.
Rita Moreno
Rita Moreno é uma atriz e cantora premiada, conhecida por seu trabalho em filmes como Amor, Sublime Amor, pelo qual ganhou o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante, tornando-se a primeira mulher latina a receber esse prêmio. Sua carreira diversificada e sua habilidade em interpretar uma variedade de papéis a tornaram uma figura icônica na indústria do entretenimento.
Mas não é “só” o Oscar. Moreno é uma das poucas pessoas com um EGOT – Emmy, Grammy e Tony também – e continua na ativa, falando abertamente sobre a experiência latina nos Estados Unidos.
Seu mais recente papel de destaque foi na série One Day at a Time, refilmagem de um clássico da TV. Sua jovialidade e carisma, junto de sua trajetória pioneira para mulheres da América Latina, seguem impressionando as gerações mais jovens.
Lana e Lilly Wachowski
Lilly e Lana Wachowski são figuras extremamente relevantes na indústria cinematográfica por seu trabalho inovador, especialmente na trilogia Matrix, mas também em grandes produções como V de Vingança, Speed Racer e Sense8.
Além de serem responsáveis por uma das franquias mais influentes e revolucionárias da história do cinema, as irmãs Wachowski desafiaram normas de gênero e narrativa em Hollywood ao abordarem questões complexas sobre identidade, realidade e liberdade.
Como mulheres transgênero, elas também têm sido modelos de inspiração e visibilidade para a comunidade LGBTQ+, promovendo a aceitação e a diversidade na indústria do entretenimento. Seu legado continua a influenciar cineastas e espectadores em todo o mundo, destacando a importância da inclusão e da representatividade no cinema contemporâneo.
Alice Guy-Blaché
Alice Guy-Blaché é uma figura fundamental na história do cinema, reconhecida como uma das primeiras diretoras do mundo. Ela promoveu a exploração das possibilidades narrativas e técnicas sem precedentes, dirigindo filmes como A Fada nos Cartões e A Vida do Cristo.
Alice começou a lançar filmes por volta de 1896, com La Fée aux Choux (A Fada dos Repolhos). Ao longo de sua carreira, Guy-Blaché dirigiu mais de mil filmes e desempenhou um papel fundamental no desenvolvimento inicial da indústria cinematográfica.