O South by Southwest (SXSW) começou na última sexta-feira (8 de março) com protestos.
Dezenas de pessoas se reuniram em frente ao Centro de Convenções em Austin, no Texas, para condenar o patrocínio do Exército dos EUA e a presença de empresas de defesa como a Collins Aerospace no festival, que acontece em meio ao conflito Israel-Palestina. O movimento começou a gerar um efeito dominó que levou bandas e artistas a cancelarem sua participação na programação do evento.
A saída dos artistas veio em solidariedade aos protestos que começaram a se tornar mais notórios à medida que muitas bandas chegam na cidade para se apresentar.
O SXSW é um dos principais eventos para músicos independentes ganharem relevância internacional, com uma seleção em estilo showcase que preza pela diversidade. Agora, as bandas colocam na balança se vale a pena se associar a um line-up patrocinado pelo militarismo americano. Como resultado, há dezenas de apresentações canceladas em poucos dias.
Protestos movimentam primeiros dias do SXSW
O motivo da revolta é porque a Collins Aerospace é uma subsidiária da RTX Corporation (antiga Raytheon), que forneceu armas ao governo israelense. Tanto que, no dia do protesto, acontecia o painel “Impulsionando a Inovação: Avanços Tecnológicos em Transporte”, com o veterano do Exército e ex-funcionário da Raytheon, JD Johnson.
Em meio a cantos de “cessar-fogo agora” e “Libertem a Palestina”, o grupo que protestava pedia ao SXSW que desconvidasse afiliados do Departamento de Defesa do festival.
Os músicos Connor McCampbell do TC Superstar e Jon Siebels do Eve 6 também se pronunciaram, encorajando seus colegas artistas a se juntarem à onda de atrações que estão se retirando dos showcases oficiais do SXSW em desafio à presença militar no evento de artes, cultura e inovação.
O que o SXSW tem a ver com o setor de defesa?
Pelo visto, bastante. A Collins Aerospace esteve à frente do painel “Quebrando barreiras: O próximo salto em inovação governamental e de defesa”, ao lado da rede de empreendedores MassChallenge e da empresa de software de defesa Second Front Systems.
A L3Harris, outra empresa de defesa, apresentou um painel com a participação do funcionário do Departamento de Defesa, Travis Langster. Para completar, Sara Lazarus, ex-membro da Unidade de Exploração Cibernética da Raytheon, aparece como mentora oficial.
O Exército dos EUA é um patrocinador master do SXSW 2024 e organiza vários eventos dentro da programação do festival, incluindo uma apresentação sobre inovação tecnológica com a secretária do Exército, Christine Wormuth, e uma ativação oficial “This Is Our House” em colaboração com a Marinha dos EUA e a revista SPIN.
Artistas protestam contra presença do Exército no SXSW
A participação dos músicos no SXSW no festival em Austin já estava abalada por manifestações a favor de um pagamento justo para se apresentarem. Considerando que muitos dos palcos são em pubs locais, é comum que a programação inclua eventos sem compensação ou de baixos cachês.
O problema é que muitos músicos se deslocam pelo país e mesmo de outros continentes para estarem na programação, gerando despesas que não deixam a conta fechar. Agora, a associação ao exército americano parece ter sido a gota d’água. Jon Siebels, do Eve 6, disse:
Eles [os músicos] não estão recebendo quase nada de qualquer maneira, então é melhor que [abandonem].
E foi isso que aconteceu. Artistas como Squirrel Flower, Shalom, Eliza McLamb e Mamalarky abandonaram seus showcases oficiais do SXSW no início desta semana. Desde então, Scowl, Snõõper, Proper, Merce Lemon, Birthday Girl, Horse Jumper of Love, They Are Getting a Body of Water e muitos outros anunciaram movimentos semelhantes, direcionando os fãs para shows alternativos que continuarão a fazer na região de Austin.
A onda de protestos também inclui artistas da própria cidade, como Buffalo Nichols, Lucía Beyond e Madison Baker. A banda inglesa Lambrini Girls postou um comunicado que explana a situação (confira o post original ao final da matéria):
Estaremos nos retirando do SXSW amanhã. Não iremos a Austin de forma alguma. Por motivos de transparência, o motivo de termos levado alguns dias para sairmos do festival é porque recebemos financiamento da PRS Foundation para tocar. Tentamos encontrar uma maneira de sair da situação sem comprometer nossa integridade moral e sem ter que pagar milhares de libras. Isso não é possível. O dinheiro precisa ser devolvido e não podemos nos associar ao SXSW de forma alguma, sem que nossa solidariedade se torne completamente inautêntica. Estávamos pensando em ir ao festival e protestar no palco, mas não há uma maneira de fazer isso que não pareça performativo ou intrinsecamente explorador. Phoebe e Lilly.
Squirrel Flower foi na mesma linha. A artista se retirou dos shows oficiais do SXSW em protesto, por considerar a permanência como cumplicidade com o genocídio palestino, enquanto incentiva outros artistas a se posicionarem contra o festival.
SXSW continua mesmo com cancelamentos
O evento em Austin segue até o dia 16 de março, conforme previsto, sem qualquer mudança anunciada até o momento pelos organizadores. Questionada por múltiplos veículos de imprensa, a produção não se pronunciou.
O Exército, por outro lado, soltou um comunicado em que diz estar “orgulhoso em ser patrocinador do SXSW e de ter a oportunidade de colocar em destaque o Exército dos Estados Unidos”.
Confira abaixo um pouco da repercussão no meio artístico.
We are boycotting @sxsw pic.twitter.com/mGN7XeXlwr
— Lambrini Girls (@Lambrini_Girls) March 9, 2024