A batalha do áudio: lossless vira tendência e ameaça futuro do MP3

Audiófilos esnobam o formato mais difundido para o consumo de música e colocam em xeque: o MP3 é mesmo inferior ao lossless? Saiba mais na matéria.

Foto stock, laptop e fone de ouvido
Foto por Pexels via Pixabay

A era digital democratizou o acesso à música, mas também gerou um debate acalorado entre os fãs mais dedicados: o áudio lossless faz mesmo diferença na experiência musical? 

À medida que plataformas como Apple, Amazon e Tidal tiram onda com seus sons “sem perda”, uma comparação se faz necessária: onde fica o bom e velho MP3 na disputa com o novo queridinho dos amantes de música? O lossless terá a capacidade de superar a revolução que a MP3 causou no mundo da música?

A resposta é mais complexa do que parece. 

Lossless x MP3: desvendando os formatos

O MP3 é um velho conhecido dos ouvintes de música. A sigla significa “MPEG-1 Audio Layer III” e se refere a um formato de compressão com perdas, ou seja, que remove alguns dados da música original para reduzir o tamanho do arquivo.

Isso torna o MP3 ideal para quem busca praticidade, pois as músicas ocupam menos espaço nos dispositivos e podem ser transferidas mais rapidamente.

Apenas com o MP3 se tornou possível armazenar uma biblioteca musical completa sem se preocupar com o espaço de armazenamento. É ideal para quem gosta de ouvir música em movimento, como durante uma corrida ou no transporte público, e foi essa praticidade que facilitou a sua disseminação.

Em contraste, os formatos lossless, como FLAC e ALAC, não sacrificam a qualidade do som em nome da compactação. Eles preservam 100% dos dados da música original, proporcionando uma experiência auditiva mais rica e detalhada. É como se você estivesse ouvindo a música ao vivo no estúdio de gravação.

Imagine ouvir uma sinfonia com fones de ouvido de alta qualidade. Com um arquivo lossless, você pode apreciar a sutileza de cada instrumento, a textura dos sons e a emoção da performance. Este é o mais recomendado para audiófilos que desejam a melhor experiência auditiva possível.

Lossless: o herói da batalha do streaming

Mulher com fones de ouvido
Foto de Stock via Shutterstock

Numa época em que plataformas digitais disputam o suado dinheirinho de assinatura das gerações Z, Y e millennial, especialmente, empresas como a Amazon Music, o Tidal, a Deezer e a Apple Music passaram a mirar nos ouvintes mais tradicionais e puristas. Foi assim que o lossless passou a ser oferecido como diferencial – e não um direito básico do consumidor de música. 

Embora o Tidal tenha se destacado com essa proposta, sendo um streaming fundado por artistas comprometidos com a qualidade sonora – como Jay-Z e Jack White -, o lossless não é novidade: o Qobuz oferece essa opção desde 2007!

Mas será que vale a pena escolher um serviço de música com base na oferta de áudio superior? Bem, isso depende de alguns fatores. O primeiro deles é a qualidade do equipamento do ouvinte. Quem possui fones de ouvido ou caixas de som de alta qualidade certamente irá perceber a diferença. Mas para quem utiliza fones tradicionais – e entram aí os que vêm com os celulares mais modernos -, a melhora é quase imperceptível.

O debate em torno dessa diferença vem se desdobrando há tempos. Em 2014, o site de tecnologia Gizmodo perguntou aos seus leitores se eles conseguiam diferenciar “áudio lossless” de arquivos MP3. Mais de 380 leitores comentaram na matéria, muitos compartilhando seus resultados em um teste simples. 

A pontuação média dos participantes foi de 56% – bem abaixo do esperado para um formato que promete zero perdas. Porém, há que se considerar que passados 10 anos, a qualidade dos fones, dos sistemas de som e gravações está ainda superior, o que poderia mudar drasticamente os resultados da pesquisa.

lossless audio mp3
Comparativo do Qobuz (Crédito: Reprodução)

Por fim, entram na conta questões como gosto pessoal e espaço de armazenamento dos dispositivos.

MP3: respeita a minha história!

O MP3 é trintão – e está aí até hoje não é à toa.

O ano era 1991. A internet engatinhava seus primeiros passos, mas já dava sinais de que transformaria a forma como consumimos informação. No meio desse cenário promissor, uma tecnologia inovadora surgia para revolucionar a maneira como ouvimos música: o MP3.

Desenvolvido por um grupo de especialistas do Fraunhofer Institute na Alemanha, o MP3 foi apresentado ao mundo como uma solução para o problema do tamanho excessivo dos arquivos de música digital. Na época, formatos como o WAV e o AIFF dominavam o cenário, mas ocupavam um espaço considerável nos discos rígidos, limitando o compartilhamento online.

A genialidade do MP3 reside na sua capacidade de comprimir arquivos de áudio sem sacrificar significativamente a qualidade do som. Através de algoritmos inteligentes, o formato remove dados redundantes da música, reduzindo drasticamente seu tamanho sem comprometer a experiência auditiva do usuário.

Uma música de 3 minutos em formato WAV pode ter cerca de 30 MB, o que, principalmente no passado, dificultava o compartilhamento online. Com o MP3, essa mesma música pode ser comprimida para 3 MB, tornando-a muito mais fácil de baixar, enviar por e-mail ou armazenar em dispositivos portáteis.

A popularização do MP3 teve um impacto colossal no mundo da música. O formato possibilitou o boom do compartilhamento de músicas online, democratizando o acesso a uma variedade musical nunca antes vista. Serviços como o Napster e o Kazaa permitiram que milhões de pessoas trocassem músicas livremente, criando uma comunidade global de amantes da música.

Com o passar dos anos, o MP3 passou por diversas evoluções, aprimorando sua qualidade de som e oferecendo novas funcionalidades. Hoje, o formato é suportado por praticamente todos os dispositivos de reprodução de música, desde smartphones até computadores e sistemas de som automotivos. Tudo isso faz do MP3 um símbolo da revolução digital da música. 

A evolução é constante

A música percorreu um longo caminho desde seus primórdios. Com o surgimento da era digital no final dos anos 90, formatos compactos como MP3 viveram seu auge.

Graças ao avanço tecnológico, surgiram formatos sem perdas (FLAC) que possibilitaram a alta resolução. Até mesmo esse termo gera debate, pois alguns consideram 48 kHz e 24 bits suficiente, enquanto outros acreditam que a alta qualidade começa em 96 kHz e 24 bits. Nas melhores lojas do ramo, a alta resolução vai até 192 kHz e 24 bits.

É possível ir além do padrão, mas isso requer equipamentos de qualidade e audição apurada. Já existem decodificadores (DACs) capazes de reproduzir arquivos até 768 kHz e 32 bits!

O formato DSD, uma variação no campo dos arquivos de alta resolução, pode chegar a DSD1024, mas poucos dispositivos conseguem lê-lo. Além disso, arquivos com essa definição podem ter até 1 GB de tamanho.

Mudanças no horizonte?

Disco de Vinil e Fones de Ouvido
Foto Stock via Shutterstock

Dizem que quem é rei nunca perde a majestade, mas os dias de dominância do MP3 podem estar contados. Isso porque suas maiores vantagens eram relacionadas ao espaço que ocupava (ou melhor, não ocupava) nos HDs. Na era de audição de música via streaming, em que boa parte do público não coleciona arquivos nos seus dispositivos, isso pode deixar de fazer diferença.

Enquanto isso, o preço dos equipamentos de alta qualidade ainda podem afastar algumas pessoas de verem os arquivos lossless como uma prioridade. Mas as mudanças tecnológicas, como internet mais rápida e o acesso aos arquivos na nuvem, podem acabar facilitando essa transição até mesmo para quem não tem equipamentos de alta definição. 

Independente do que acontecerá no futuro, uma qualidade melhor por preços acessíveis dificilmente sofrerá resistência no mundo da música. Mas a história do MP3 e a sua contínua presença no mundo do áudio mostra como o formato não pode ser descartado.