Depois de estrear com o bem recebido primeiro álbum Sopa Primordial, a banda Meyot mostra outras camadas do single “No Túnel”, um dos destaques do trabalho. A faixa é densa, cheia de levadas dissonantes que se encontram e desencontram. Da mesma forma, o vídeo brinca com esses conceitos ao transformar essa metáfora da vida em uma dança contemporânea e poética.
A direção do clipe foi da cineasta carioca Jo Sefarty. Ela escolheu o uso de imagens duplicadas e passos coreografados para demonstrar a busca humana de si mesmo em outra pessoa. O vídeo começa minimalista e se expande para uma pista de dança de uma espécie de baile comunitário, onde os dançarinos da terceira idade observam o desenrolar daquela coreografia paralela.
Como a música da Meyot é tudo menos óbvia, o clipe não seria uma tradicional transposição do áudio para o visual. O objetivo era adicionar outras visões para uma canção já rica, agregando à sonoridade da banda que combina elementos psicodélicos, progressivos e de rock brasileiro melódico. É o que contam os músicos:
A princípio, só tínhamos uma certeza: não queríamos que o clipe fosse uma mera tradução imagética literal da música. Quando trabalhamos com outra linguagem, preferimos que os profissionais envolvidos coloquem seus olhares, expandindo o campo interpretativo da canção. O desafio era encontrar realizadores que tivessem uma sinergia criativa com a banda e a capacidade/disponibilidade para gerir um projeto que demandava certa urgência. Então, por volta de julho do ano passado, tivemos o prazer de conhecer a diretora e roteirista carioca Jo Sefarty, que topou o desafio de roteirizar, dirigir e que ainda conseguiu montar uma equipe maravilhosa que colocou o projeto de pé em poucos meses.
A canção foi o ponto de partida para a visão única que a diretora trouxe para o projeto:
O videoclipe se inspira em uma fantasmagoria da solidão e dos encontros e propõe uma estética que se conecta com uma atmosfera de alucinação. Dois dançarinos entram em busca pelo outro, mas essa busca se desenrola no reflexo de si mesmo. O encontro real torna-se uma espécie de ilusão noturna, escapando quando quase alcançado nesse mundo contemporâneo atravessado pelo narcisismo. Levando essa ideia adiante, o videoclipe persegue um espelhamento e duplicação, onde as imagens se replicam, os figurinos se assemelham, o toque é fugaz, nada permanece fixo, tudo se multiplica e flui opaco como em um bosque suspendido no tempo onde não há entradas e saídas.
A Meyot fez de Sopa Primordial uma potente estreia no cenário nacional, após alguns anos revelando suas canções autorais. O disco, lançado pelo selo Eu Te Amo Records, mostra a inventividade de um projeto que nasceu inquieto e disposto a desafiar os limites dos gêneros musicais.
A banda é formada por Arthur Montenegro e Giuliam Uchima e se tornou conhecida por incorporar influências que vão desde a MPB dos anos 1970 até o post-rock do século 21, passando pelo rock progressivo, jazz e música eletrônica.
O clipe de “No Túnel” continua abrindo os caminhos da Meyot em direção a uma sonoridade única e cheia de identidade. Assista a seguir!