Um dos rostos mais famosos e reconhecíveis do mundo, o de Nicolas Cage, é o pontapé inicial para uma comédia de horror da A24. O Homem dos Sonhos finalmente chega aos cinemas brasileiros em 4 de abril e entrega uma das performances mais únicas na carreira do ator americano.
Cage interpreta um professor universitário infeliz que começa a aparecer durante o sono de estranhos. Sem qualquer controle sobre suas ações nesse ambiente onírico, ele vê sua vida também desgovernada.
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Uma comédia que dá medo
Primeiro filme do norueguês Kristoffer Borgli em língua inglesa, O Homem dos Sonhos segue a história de Paul Matthews, um homem comum cuja vida monótona é interrompida quando ele começa a aparecer nos sonhos de pessoas desconhecidas, transformando seus sonhos em pesadelos.
A trama mescla elementos de comédia ácida e terror, característicos da A24, explorando a repentina fama de Paul e sua luta para lidar com essa situação peculiar. Cage identificou semelhanças entre o personagem e sua própria vida, o que o motivou a aceitar o papel.
O longa brinca com o equilíbrio entre o excêntrico e o assustador o tempo todo. Embora tenha alguns momentos de susto, não é o tipo de horror clássico, com sangue, trilha de suspense, assombrações ou monstros. O pulo do gato está em criar uma crônica social que deixa o protagonista sem qualquer controle sobre como será percebido pelo mundo ao seu redor.
Esse é o maior medo de quem vive no auge das redes sociais, mas o filme não se restringe apenas a esse debate. É uma ideia mais ampla que resvala em temas como a cultura do cancelamento, o impacto da fama e como deixar de processar emoções como inveja, raiva e desejo pode ser danoso no longo prazo.
Paralelos
O filme de Borgli remete a outras produções que buscaram uma abordagem diferente para as questões sobre sociedade e mídia propostas no filme.
O Show de Truman, por exemplo, também trata da manipulação da vida de uma pessoa comum pela mídia. O longa de 1998 estrelado por Jim Carrey acompanha a vida de Truman Burbank, que descobre que sua vida inteira é um programa de televisão.
Outro paralelo inegável é Black Mirror, a série da Netflix que utiliza nossas interações com as redes sociais para explorar os aspectos mais obscuros de nossos desejos e comportamentos, revelando como a busca pela validação online pode distorcer a percepção da realidade e levar a consequências nefastas.
This Man vai ao cinema?
Mas é inevitável não associar a história de O Homem dos Sonhos ao fenômeno “This Man” – este, da vida real. Ou quase.
Reza a lenda que um homem misterioso começou a aparecer nos sonhos de inúmeras pessoas ao redor do mundo desde 2006. O fenômeno ganhou atenção em 2008, quando o sociólogo e publicitário italiano Andrea Natella criou o site “Ever Dream This Man?” [sic], que recebeu milhares de relatos de encontros com Este Homem em sonhos, semelhantes a um retrato falado feito por um psiquiatra em Nova York.
A história rapidamente se tornou viral, inspirando memes na internet e referências em filmes e programas de televisão. No entanto, em 2010, foi revelado que This Man era na verdade um golpe publicitário criado por Natella, baseado em uma foto de seu pai quando jovem. O episódio levanta questões sobre a manipulação da internet para criar lendas urbanas e mitos coletivos, explorando os aspectos mais sombrios da mente humana e nossa relação com a tecnologia.
Nicolas Cage é o homem dos sonhos da A24
Mas este não é um filme apenas sobre as nossas idiossincrasias cotidianas, uma provocação de debate social apenas para ser instigante. No fim das contas, O Homem dos Sonhos é uma história de um homem infeliz que precisava desesperadamente de algo que mudasse o rumo das coisas e o tornasse relevante e interessante.
Não é uma escolha óbvia, mas Nicolas Cage é ótimo interpretando papeis do tipo. Basta olhar filmes como Adaptação, em que ele faz não um, mas dois roteiristas – uma versão ainda mais excêntrica de Charlie Kaufman, dividida entre dois irmãos gêmeos. O desespero para adaptar de forma convincente um livro para os cinemas o leva a uma jornada intensa e incômoda – como é o caso de O Homem dos Sonhos.
Falando em histórias criadas por irmãos, a comédia surreal de Joel e Ethan Cohen aparece em Arizona Nunca Mais. E o escopo dramático de Cage não pode ser negado em Despedida em Las Vegas, filme que lhe rendeu o Oscar.
O Homem dos Sonhos tem um título à sua altura, já que o longa depende quase que única e exclusivamente de Nicolas Cage para conseguir fazer decolar essa história tão maluca e surreal que poderia ser verídica.