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A história da única e caótica passagem do Nirvana pelo Brasil, em 1993

Uma das maiores bandas da história do Rock, o Nirvana veio ao Brasil apenas uma vez e deixou uma impressão um tanto bizarra; entenda.

A história da única e caótica passagem do Nirvana pelo Brasil, em 1993
Reprodução/YouTube

Dois anos depois do lançamento de Nevermind, o Nirvana vivia exatamente a situação que a banda mais temia – um aumento gigantesco de popularidade – quando veio ao Brasil para dois shows que entraram para a história.

Ao longo de 1992, a banda se apresentou em eventos gigantes como o Reading Festival e o MTV Music Awards, mas os bastidores do grupo geravam rumores de que eles poderiam se separar, fosse pela saúde fragilizada de Kurt Cobain ou por disputas internas pelos royalties das canções.

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A gravadora cobrava um disco novo ainda para aquele ano, mas o Nirvana adiou as gravações para fevereiro de 1993. E foi nesse cenário conturbado que, em janeiro, essas verdadeiras lendas do Rock desembarcaram por aqui.

Neste artigo especial, vamos relebrar todas as polêmicas envolvendo a passagem de Kurt, Dave Grohl e Krist Novoselic por São Paulo e Rio de Janeiro, que para muitos são os dois piores shows da carreira da banda.

Cusparada na câmera, covers displicentes e Flea no trompete

O extinto festival Hollywood Rock realizou uma edição histórica em 1993, quando trouxe várias bandas importantes do Rock Alternativo que nunca tinham feito shows no Brasil, incluindo Red Hot Chili Peppers, Alice in Chains e L7. Mas o Nirvana roubou a cena em todos os sentidos.

No estádio do Morumbi (SP), no dia 16 de janeiro, a banda equalizou as guitarras com um volume altíssimo e fez algumas “jams” dispiscentes, com os integrantes revezando os instrumentos para tocar covers bizarras de nomes como Iron Maiden, Queen e The Clash.

Em contrapartida, eles encerraram o show tocando pela primeira vez ao vivo duas inéditas que estariam no álbum In Utero: “Heart-Shaped Box” e “Scentless Apprentice” – veja, inclusive, o setlist completo no fim desta matéria.

Já na Praça da Apoteose (RJ), sete dias depois, o grupo decidiu não fazer aquela jam infame, mas Kurt Cobain cuspiu na câmera e mostrou o pênis para todo o Brasil na tansmissão oficial da TV Globo.

Nas duas performances, o Nirvana convidou Flea, baixista do Red Hot, para subir ao palco durante o clássico “Smells Like Teen Spirit”. Mas não para tocar seu instrumento habitual, e sim para fazer o solo da música com um trompete.

LEIA TAMBÉM: Flea relembra conversa com Kurt Cobain em show histórico do Nirvana no Brasil

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A culpa dos shows ruins do Nirvana foi de João Gordo?

Acontece que um músico brasileiro pode ter sido responsável pela displicência do Nirvana em São Paulo. João Gordo, líder do Ratos de Porão, assumiu a “culpa” em seu livro biográfico Viva La Vida Tosca!, de 2016.

O ícone do Punk nacional relembrou uma festinha regada a drogas que a banda realizou no camarim antes da performance, e disse que “nunca viu alguém cheirar tanto” quando Kurt.

Naquela ocasião, João Gordo falou mal do festival Hollywood Rock para Kurt, Dave e Krist, que teriam decidido sabotar o próprio show:

O Nirvana no Morumbi foi uma bosta. Muita gente, inclusive a banda, achou que aquela foi uma das piores apresentações da carreira. E acho que boa parte disso é culpa minha. Falei tão mal do festival que os caras entraram pra zoar tudo. Antes de eles subirem no palco, o Krist Novoselic me deu um papel com um manifesto e pediu pra eu ler no microfone. Eu tinha bebido tanto e fumado tanta maconha que tava com a boca na nuca, não conseguia nem falar. O show foi horrível, cem mil pessoas em silêncio. Parecia um ensaio ruim.

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Nirvana encerrou a carreira tragicamente no ano seguinte

De volta a Seattle, sua terra natal, o Nirvana deu uma longa e raríssima entrevista falando seriamente sobre várias questões. Durante a conversa, eles admitiram que tocar para 100 mil pessoas em São Paulo foi “muito estranho”, porque com essa dimensão a plateia “não consegue sentir a energia do palco”.

A banda ainda revelou que a faixa bônus do In Utero chamada “Gallons Of Rubbing Alcohol Flow Through The Strip” foi gravada no Rio de Janeiro, em um pequeno estúdio da BMG, e que “tudo foi completamente improvisado” – assista aqui.

O álbum completo foi gravado em fevereiro, poucas semanas após a caótica passagem pelo Brasil, e lançado em setembro daquele ano. O trabalho chegou ao topo das paradas dos EUA e do Reino Unido, e rendeu uma turnê mundial.

Essa excursão acabou precocemente na Itália, quando Kurt sofreu uma overdose e foi internado às pressas, cancelando as demais datas. Tragicamente, como sabemos, ele retornou para Seattle e cometeu suicídio alguns dias depois, em 8 de abril de 1994.

Você pode conferir abaixo o setlist completo da apresentação do Nirvana em SP, e na sequência a íntegra do show no RJ.

Setlist: Nirvana no Estádio do Morumbi, São Paulo – 16/01/1993

1. School
2. Drain You
3. Breed
4. Sliver
5. In Bloom
6. About a Girl
7. Dive
8. Come as You Are
9. Molly’s Lips (cover de The Vaselines)
10. Lithium
11. Polly
12. D-7 (cover de Wipers)
13. Smells Like Teen Spirit (com Flea tocando trompete)
14. On a Plain
15. Negative Creep
16. Something in the Way (Kurt improvisou uma letra totalmente diferente)
17. Blew
Jam de covers:
18. Run to the Hills (cover de Iron Maiden)
19. Heartbreaker (cover de Led Zeppelin)
20. We Will Rock You (cover de Queen)
Outra jam, dessa vez com Kurt na bateria, Dave no baixo e Krist na guitarra:
21. Seasons in the Sun (cover de Jacques Bre)
22. Kids in America (cover de Kim Wilde)
23. Should I Stay or Should I Go (cover de The Clash)
24. 867-5309/Jenny (cover de Tommy Tutone)
25. Rio (cover de Duran Duran)
Bis:
26. Lounge Act (instrumental)
27. Territorial Pissings
28. Heart-Shaped Box (pela primeira vez ao vivo)
29. Scentless Apprentice (pela primeira vez ao vivo)

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