“A música é a melhor língua universal”: LANY fala ao TMDQA! sobre nova vinda ao Brasil e os 10 anos da banda

Fenômeno do Pop mundial, LANY reflete sobre a passagem do tempo, música como terapia e sua relação com os fãs brasileiros antes de shows no país.

Redenção: shows do LANY no Brasil serão sonho realizado para banda e fãs após incidente
Imagem: Divulgação

Em uma conversa com o TMDQA!, o duo californiano LANY se dá conta: exatamente naquele dia, a banda completava 10 anos de existência. Embora não tivesse bolo com velinhas, Paul Jason Klein (voz, teclados e guitarra) e Jake Clifford Goss (bateria, samples) estavam comemorando ao conversar com jornalistas da América do Sul sobre sua atual turnê.

Os músicos estão de malas prontas para visitar a região, onde encontram seus públicos favoritos: aqueles bem calorosos. Será uma mudança bem-vinda em relação ao primeiro show de LANY no país, que aconteceu debaixo de uma chuva tão intensa no Lollapalooza Brasil a ponto da apresentação só durar uma música e meia

Agora, os músicos já conhecem seus fãs brasileiros, tendo passado por aqui também na turnê anterior. E em maio acontece esse reencontro, com shows na Audio, em SP, no dia 07; e no Circo Voador, no RJ, em 09/05. Os ingressos já estão à venda.

O clima otimista é, também, melhor que o da última entrevista da banda com o TMDQA!, já que a primeira conversa foi no auge da pandemia. Superada essa fase, LANY agora tem um novo álbum, A Beautiful Blur, cuja capa entrega as ambições de Paul e Jake: mirar nos céus.

Em uma entrevista franca, os músicos entregaram seus maiores sonhos e inseguranças e refletiram sobre a marca dos 10 anos de carreira.  Confira abaixo a conversa completa!

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TMDQA! Entrevista: LANY

TMDQA!: Oi pessoal! Prazer estar falando com vocês. Onde estão no mundo hoje?

Paul Jason Klein: Oi! Estamos em L.A.

Jake Clifford Goss: Em Los Angeles.

TMDQA!: Legal, legal! Bom, quero começar colocando o papo em dia. A última vez que entrevistamos vocês – na verdade, só você, Paul -, foi em junho de 2020, o que parece uma vida atrás. De certa forma, é: vocês agora são um duo, tem disco novo na área, nova gravadora… 

Paul: Caramba, é verdade.

TMDQA!: Pois é, muito mudou. Queria saber se quando vocês olham cada fase da carreira, se conseguem se reconhecer ou se parecem até outros artistas.

Paul: Eu vejo algumas fotos minhas com cabelo loiro e comprido e fico assim, “quem é aquele cara?” (risos). Mas tirando isso, não. Se tem uma coisa que sempre foi sensacional é que fomos 100% nós mesmos em cada álbum e em cada temporada. Claro que nós mudamos e evoluímos com o tempo. Mas aqueles álbuns são polaroides do tempo, de quem éramos naquele momento, e acho que isso é algo que sempre fizemos muito bem: ser nós mesmos. Então ao olhar pra trás, podemos não ser os mesmos caras exatamente, mas naquele momento, éramos nós mesmos, então me orgulho disso. 

Jake: É. São os mesmos caras, que só tentando melhorar a cada fase.

TMDQA!: E dá pra sentir isso, que é verdadeiro.

Paul e Jake: Obrigado.

TMDQA!: Agora, a música da LANY é meio animada, mas claro que é uma cilada! Quer dizer, Home is Where The Hurt Is? Alonica? (risos) Primeiro: vocês estão bem? E segundo: vocês veem a música como uma oportunidade de começar conversas sobre os sentimentos e como eles nos unem?

Paul: Eu acho que sim, com certeza. Acho que estamos ótimos, melhor do que nunca. Mas usamos música e as canções para colocar pra fora ou processar, trabalhar algumas coisas, é meio parecido com a terapia, né? Eu particularmente não escrevo num diário meus pensamentos ou sentimentos, porque assim que digo o que quero dizer, quando tiro do peito, não sinto necessidade de fazer de novo. Fazemos isso e colocamos em canções. Jake e eu só queremos que as pessoas se sintam um pouco menos sozinhas no mundo. É algo que notamos, ao estar nessa banda há um tempo. Conseguirmos deixar as vidas das pessoas 1% melhor ao cantar sobre algo que elas sentem que estão enfrentando sozinhas. Saber que elas não estão [sozinhas] é muito útil. É isso que fazemos e parece que as pessoas apreciam.

Jake: Eu acho que a música é a melhor língua universal. Mesmo que não falemos a mesma língua, a música pode bater em nós do mesmo jeito e nos fazer sentir a mesma coisa. Isso é incrível.

TMDQA!: Verdade. Eu estava pesquisando sobre vocês e fui parar no Reddit, onde alguma pessoa perguntava “onde é Alonica? Tentei achar no Google Maps, mas…”, e eu fiquei tipo, “cara, quando você perceber, vai bater fundo” (risos).

Paul: E a gente já tentou explicar pras pessoas umas 100 vezes, mas elas ficam sempre obcecadas em perguntar isso.

TMDQA!: É!

Jake: Vou procurar no Google Maps também (risos).

Paul: É, isso é hilário (risos).

TMDQA!: Claro que a gente tá falando de coisas que vem de um lugar muito pessoal. A Inteligência Artificial nunca conseguiria fazer algo assim… né? Qual a perspectiva de vocês sobre essa visão apocalítica de que a IA vai tornar todo mundo obsoleto, inclusive a arte?

Paul: Nossa, cara! Eu não acho que sou lido o suficiente para ter uma resposta bem informada, mas a IA não me tira o sono à noite. Ainda não me sinto super ameaçado por ela. Seria interessante ver como usar para escrever melhores canções. Talvez tenha um lugar ou um momento no futuro em que estou preso numa letra e pergunto “e aí chatGPT, ajuda aí com esse verso”, e aí ele entrega uma entrega frase maneira e você diz “show, obrigado”. Não sei as implicações disso ainda, mas espero que tenhamos pessoas nas lideranças para garantir que não saia do controle, acho.

TMDQA!: É. Agora, me corrijam se eu estiver equivocada, mas parece que 2024 marca o décimo aniversário da LANY, se você contar o lançamento de Acronyms. Algum plano especial para comemorar?

Jake: Estamos falando com você!

Paul: É! Hoje é o dia, exatamente. E todo mundo parece saber disso, inclusive, achei muito legal. 

Jake: Hoje foi o dia em que nós lançamos “Hot Lights”? [o primeiro single, em 2014]

Paul: Sim, foi falando “ah, temos uma banda, toma aqui duas músicas, nos chamamos LANY” [“Walk Away” completava o single duplo disponibilizado no Soundcloud]. 

TMDQA!: Gente, hoje é o dia e vocês estão aqui falando comigo? Vocês mereciam algo melhor! (risos)

Paul: (risos) Não, sabe, acho que é uma marca muito legal. Mas não acho que Jake e eu achamos que já está bom por aqui, então nem planejamos nada! A gente mal conseguiu chegar aqui (risos), não foi o tipo de coisa que você fala “ufa, chegamos aos 10 anos”. Adoraríamos continuar o máximo possível, mas ficamos felizes que as pessoas ficam empolgadas com isso. Mas temos um longo dia de entrevistas com a América do Sul e temos que continuar a bola rolando.

Jake: Somos parecidos nesse sentido. Legal, 10 anos, mas tô aqui sentado pensando “cara, quantas pessoas a gente consegue levar naquele show no Brasil?”.

TMDQA!: (risos) É só continuar em frente, né?

Jake e Paul: É!

TMDQA!: Agora, queria falar do último disco. O título faz a gente pensar, e achei bem poético. Pra mim, A Beautiful Blur [“Um Belo Borrão”] me passa a noção de ver beleza em momentos difíceis. E às vezes, a gente precisa abraçar esse “borrão”, e às vezes precisamos sair dele! Queria saber como vocês fazem pra manter o foco e ter uma visão bem afiada, em especial quando estão na estrada.

Paul: Acho que Jake e eu nos sentimos super sortudos e abençoados por estar nessa banda. É uma oportunidade única, só de estarmos aqui há 10 anos e de que se passou todo esse tempo e hoje eu amo o Jake mais do que já amei antes. Isso é único, sabe? Acho que nós protegemos isso, valorizamos isso. Protegemos ao caminhar pela vida com muita gratidão. Cada show é importante. Posso dizer com certeza que nunca subimos no palco e fizemos de qualquer jeito, não importa o que o público estava nos entregando, ou o que estava acontecendo na nossa vida naquela hora. Porque sabemos que pode não ser pra sempre, mas queremos proteger isso e manter vivo pelo tempo que for possível. Mas o Jake pode ter uma resposta diferente, não sei.

Jake: Eu amo isso! E o Paul e eu temos a mesma missão. Seria difícil se tivéssemos planos diferentes para a nossa banda, que é ir o mais longe possível com isso e sermos bons amigos em todo o processo. A resposta brega é o “amor”, mas é isso, o amor é a resposta. Nós entendemos que tivemos a oportunidade de fazer algo que nem todo mundo tem a oportunidade de fazer, então vamos aproveitar cada momento em todos os dias. E cá estamos nós.

TMDQA!: Isso é mais do que o suficiente. Agora, falando em entregar tudo no palco, depois daquele quase-show no Lollapalooza, vocês vieram pro Brasil e finalmente se apresentaram. Então vocês sabem o que esperar, porque somos um público bem caloroso e acolhedor.

Paul: Com certeza!

TMDQA!: Mas foi tudo que vocês esperavam, finalmente? E pra essa nova vinda, tem alguma novidade ou surpresa preparada?

Paul: É, eu tinha esquecido que a gente tinha perdido o show por conta da chuva no Lollapalooza.

Jake: É, foi muita doideira. 

Paul: Foi uma pena. Mas fiquei feliz que deu pra subir no palco por talvez uma música e meia, e depois voltar pra fazer nosso próprio show. Mas você disse perfeitamente: vocês são um povo caloroso, corações enormes e muita paixão. É o que nós mais gostamos, é o nosso tipo preferido de público para tocar, basicamente nosso tipo de gente favorita de ter por perto, pra ser sincero. Então estamos ansiosos pra isso. Não sei quantas bandas voltam ao Brasil, mas nós queremos voltar. Vamos ao Rio pela primeira vez e não apenas São Paulo, então estamos expandindo. Isso mostra onde nossos corações estão com o nosso público brasileiro. Quanto a surpresas, não temos nenhuma, nenhum convidado, mas vamos apresentar o que acreditamos ser o nosso melhor show que já fizemos, com a melhor setlist de todas, e esperamos que as pessoas saiam se sentindo abençoadas, acho.

Jake: É. Às vezes nos perguntam quais foram os shows mais memoráveis e eu sempre falo desse Lollapalooza, porque nós tocamos só uma música e meia, mas sabíamos que ia ser um dos melhores shows de todos. Começamos a tocar e as pessoas foram descendo pra ver, pensamos “a casa vai cair”. E aí eles puxaram a tomada.

TMDQA!: É, aí caiu mesmo (risos).

Jake: Mas aí que a gente soube que precisava voltar.

Paul: É, loucura!

TMDQA!: A gente precisa encerrar, então vamos terminar de modo positivo. Li em algum lugar que antes do disco ser A Beautiful Blur, se chamava I Really Really Hope So [“Eu espero muito muito que sim”]. Então, podem compartilhar algo que deixa vocês esperançosos para o futuro próximo?

Paul: Ah… Eu espero que nossos sonhos se realizem e que colhamos as sementes que plantamos pelos últimos 10 anos, por todo o mundo. E espero que nos apaixonemos pela LANY mais e mais a cada dia, e um pelo outro, e que possamos fazer isso pelo resto da vida. 

Jake: É, eu só ia dizer que espero chegar em dezembro correndo com tudo pela linha de chegada da turnê, ao invés de passar pela linha tropeçando, sabe? Atravessá-la com impulso ainda, com empolgação, e pensando “uau, que grande ano tivemos”.

TMDQA!: É tudo que podemos esperar.

Paul: Isso.

TMDQA!: E o resto virá. E as pessoas virão! Vocês estão preocupados? Da última vez esgotaram os ingressos, não?

Paul: É, acho que sim! 

Jake: Vamos torcer pra que aconteça.

TMDQA!: Ah, não precisam se preocupar. Divirtam-se por aqui!

Paul e Jake: Nós vamos!

Jake: Muito obrigado, Nathália.