A música de Lenine trilha bem os caminhos do groove e da poética, do suingue e da melancolia. Seu violão, ao mesmo tempo harmônico e percussivo, se torna uma peça chave dessas canções. Não por acaso, “Leão do Norte”, “Jack Soul Brasileiro” e “Paciência” são alguns exemplos de sucessos que hoje fazem parte do repertório básico nacional.
Mostrando seu potencial versátil, essas músicas serão recriadas ao vivo fora de seu “habitat natural”: dos shows do cantor pernambucano, passarão a habitar brevemente o mundo da música clássica, em um show especial com a Orquestra Petrobras Sinfônica.
A parceria de Lenine e a orquestra se repete nesse encontro que, até pouco tempo atrás, poderia soar inusitado. Porém, na última década, as parcerias entre a música popular e a de concerto se tornaram cada vez mais recorrentes. Sinal de que os dois universos têm muito mais em comum do que muitos podem imaginar, como você pode descobrir na nossa entrevista com o maestro Felipe Prazeres.
Nesta semana, o “showcerto” Petrobras Sinfônica Convida Lenine leva o cantor e compositor à sua Recife natal para uma apresentação única, em 08/05, no Teatro Guararapes.
Aproveitando essa novidade, o TMDQA! também convidou Lenine para um papo franco sobre a junção de suas canções com uma orquestra – algo que o músico já fez com algumas das mais renomadas formações do mundo, da Orquestra Ouro Preto à Martin Fondse Orchestra.
Confira a entrevista completa abaixo!
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TMDQA! Entrevista: Lenine
TMDQA!: Essa não é sua primeira vez trabalhando com uma orquestra – ou mesmo com a Petrobras Sinfônica! O que mais lhe agrada em fazer essa transposição para o mundo sinfônico? E qual o maior desafio?
Lenine: Eu acho que a coisa mais interessante para um compositor/cantor, como eu, que ao longo dos anos foi criando um repertório, é ver parte desse trabalho ser tocado com uma roupagem sonora diferente, com relevo sonoro diferente. Só uma Orquestra pode fazer com que determinada música ganhe nuances que você jamais imaginou fazendo ela da forma que você fez no universo do popular. Acho que o que ressalta mais pra mim é o fato de ver parte das minhas canções vestidas dessa maneira.
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TMDQA!: O seu violão é muito reconhecível, uma marca registrada das suas canções. Ao subir ao palco com uma orquestra, você ainda empunha o instrumento – mesmo que as cordas no palco sejam abundantes. Queria saber como é pra você integrar o violão, orgulhosamente popular, aos arranjos das orquestras! Ele ganha uma função diferente nesse contexto?
Lenine: Acho que o acontece no caso dessa associação direta das composições que eu faço, isso dá uma particularidade às canções e isso não muda quando estou com orquestra, com banda ou estou sozinho. Quero dizer que ele tem uma função primordial em grande parte das composições que eu já fiz, então é natural que num momento com a orquestra, mesmo tendo tantos instrumentos de cordas – mas são melódicos, só o somatório deles formam uma harmonia, o violão tá mais próximo do piano, no sentido de harmonizar um único instrumento, ele compreende uma harmonia. Então quando eu to na orquestra, é mais raro ter um pianista nesta apresentação porque meu violão desempenha, harmonicamente, uma função principal nas canções, então é natural que também com a orquestra eu esteja com meu instrumento.
TMDQA!: Seu repertório é cheio de clássicos, o que normalmente levanta mais o público – mesmo em uma sala de concerto! Qual canção, no entanto, tem uma recepção que te surpreende nessas apresentações com orquestras?
Lenine: Existe um processo de eleger, eu coloco um dentro do meu repertório de canções, quais poderiam se adaptar nesse universo sinfônico, acho que isso faz parte da minha função, do meu trabalho: escolher as canções que imagino serem propícias e que dentro das próprias composições tenham elementos sonoros que vão poder ser distribuídos pela orquestra.
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TMDQA!: Revisitar as canções pode ser um processo de rememorar a própria carreira. Ao vê-las sob um novo prisma, você descobre outras nuances que não havia percebido antes (mesmo que cante algumas dessas canções há décadas)?
Lenine: A canção “O último pôr do sol”, uma parceria com Bráulio Tavares, é uma canção que me toca profundamente toda vez que me apresento com orquestra.
TMDQA!: A Orquestra Petrobras Sinfônica vem mostrando que o clássico é pop. Porém, a música clássica ainda é vista sob um prisma elitista por muitos brasileiros. Além de iniciativas como esta, o que você acha que pode ser feito para aproximar as pessoas das orquestras (e vice versa)?
Lenine: Acessibilidade. Só isso. Eu me lembro quando li Platão, ele dizia algo do tipo: “Quer conhecer o povo? Veja a música que dão pra esse povo ouvir”.