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TMDQA! Entrevista: Justice fala sobre o ótimo novo disco "Hyperdrama" e revela segredos de seus incríveis shows

Em entrevista exclusiva ao TMDQA! após o lançamento do novo disco "Hyperdrama", o Justice deu mais detalhes sobre a nova fase que vive. Confira!

Justice em 2024
Foto por André Chémétoff

Foram 8 anos de espera, mas eles voltaram melhores do que nunca. Estamos falando do Justice, duo francês formado por Gaspard Augé Xavier de Rosnay que lançou em 2024 o tão aguardado disco Hyperdrama, sucessor do aclamado Woman, que colocou a dupla eletrônica de vez na rota de uma sonoridade mais Pop – e isso, claro, passa longe de ser ruim.

Tanto que Hyperdrama surfou bem na onda de todas as conquistas sonoras de seu antecessor. É só bater o olho na lista de feats que permeiam o álbum: Tame Impala (duas vezes!), Connan Mockasin Miguel são alguns dos destaques, juntamente com outros nomes que dão o tom mais experimental do trabalho, como o sempre fantástico Thundercat.

Mas calma que a gente já chega nessas colaborações. Primeiro, é preciso entender que a sonoridade de Hyperdrama é igualmente “Justice do passado” e “Justice do futuro”. Parece complexo mas, para o novo disco, Gaspard e Xavier parecem ter deixado de lado tudo que já construíram antes ao mesmo tempo em que resgataram algumas de suas primeiras influências.

O resultado é um álbum que vai da Disco Music à sonoridade eletrônica mais pesada e experimental, gerando grandes singles (como “Neverender”, que você ouve logo abaixo) e músicas com um teor muito diferente, que parecem feitas para quem quer “fritar” em casa ao som de belos sintetizadores (como “Muscle Memory”).

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Justice fala sobre o novo disco Hyperdrama

Em uma entrevista exclusiva ao TMDQA!, Gaspard e Xavier falaram mais detalhes sobre todo o processo que levou até Hyperdrama. Logo de cara, a primeira pergunta foi sobre essa necessidade de deixar de lado o passado para construir o futuro – e Xavier explicou muito bem uma decisão que tem vários níveis de complexidade:

Primeiro de tudo, nós queríamos fazer um disco que fosse divertido e, de alguma forma, surpreendente. Também caótico às vezes, mas algo que, para nós, fosse um disco de pura fantasia, algo que realmente se desdobra de maneiras que nem sempre são previsíveis. E quando começamos a trabalhar nesse disco, pensamos – e é algo em que pensamos muito – que é fácil nos prendermos a padrões e formas de pensar e tentamos nos livrar disso. Essa é a parte de esquecer de tudo, até mesmo no que diz respeito à produção.

Porque quando você encontra uma forma de fazer algo soar bem, é muito tentador voltar a usar isso o tempo todo! E às vezes não vai funcionar, porque nós realmente acreditamos que cada música precisa ser produzida de uma forma, mixada de uma forma, e é muito difícil aplicar a mesma receita a tudo.

No quesito de composição, segundo de Rosnay, as progressões de acordes e outras técnicas que permeiam o processo foram deixadas pra trás e substituídas por novidade. Ainda assim, ele destaca que “é muito difícil esquecer aquilo que você sabe para fazer esse disco com a maior liberdade possível”. De maneira direta, ele resume:

É meio que, ‘Ah, pelo menos não soa como se estivéssemos fazendo música juntos há 20 anos’. Então, é empolgante. É a palavra mais simples que posso usar.

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Essa pergunta, no entanto, leva a um novo questionamento: o que é Justice? Como descrever tudo que já foi feito antes para evitar cair nas armadilhas de se repetir depois de tanto tempo? Só no primeiro disco, por exemplo, temos faixas como “D.A.N.C.E.” e “Waters of Nazareth” – ambas absolutamente distintas entre si.

A gente deixa a definição por conta de Gaspard Augé:

Acho que o Justice, pra mim, é o fato de ter tantos gêneros que amamos na música e portanto termos tantas influências e coisas diferentes que estamos amando. É isso que amamos na música. Não queremos discos monótonos, eles precisam passar por vários momentos e atmosferas diferentes; e é esse o objetivo do Justice, ir de um extremo para o outro.

Porque nós amamos o Rock dos EUA, amamos o Rock britânico, amamos Gabber [um gênero de música eletrônica], amamos trilhas sonoras de filmes. Todas as influências fazem com que sejamos quem somos.

Em resumo, Augé concorda com uma definição trazida segundos antes por seu companheiro de banda: “é como [se o Justice sempre fizesse] o mesmo disco com diferentes acabamentos, porque não conseguimos escapar do que somos”. De Rosnay complementa essa ideia:

Não significa que vai ser algo novo, mas quando finalizamos uma música, é porque encontramos algo empolgante o suficiente e novo o suficiente para fazermos. […] Um [disco] é um pouco mais sujo, outro tem algo mais Prog Rock, tem um que é mais Gospel, é como se todos tivessem uma roupagem diferente, mas essencialmente são os mesmos tipos de disco. Amanhã poderemos fazer um disco de Reggae e tenho certeza que soaria como algo do Justice por conta de tudo que crescemos ouvindo. Tudo que fizermos sempre terá um quê do Justice clássico, de qualquer maneira.

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Justice teve Tame Impala, Miguel e mais em novo disco

https://www.youtube.com/watch?v=B7EtRHsun1U

Chegou a hora de falar deles: os feats. Todos eles dão um tom único ao novo disco da dupla, talvez ilustrando muito bem o que foi falado justamente agora sobre a nova roupagem que cada álbum traz. O que o ouvinte pode pensar, no entanto, é que algumas das composições foram feitas especificamente para agradar os artistas convidados.

Nada disso! O processo desta vez foi basicamente o mesmo de outras vezes, em que o Justice convidou artistas pouco conhecidos para cederem suas vozes para faixas que virariam clássicos da banda. Xavier explica que, apesar de estarem trabalhando com nomes mais famosos, nada mudou:

Nós entramos em contato porque achamos que suas personalidades iriam naturalmente ao encontro das nossas, então não houve muito pensamento sobre tentar encaixar uma coisa na outra, só aconteceu naturalmente. É por isso que quisemos que eles estivessem no disco! Só o que aconteceu é que, de fato, dessa vez, tivemos algumas pessoas mais famosos. Mas nós sempre ouvimos coisas em comum com suas músicas, mesmo que eles sejam bem diferentes de nós.

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Dos estúdios ao palco: o impacto do Justice ao vivo

Quem ouve um disco do Justice certamente é transportado por um universo próprio. Imagina, então, ter a experiência de curtir essas músicas ao vivo? É claro que, como quase tudo que envolve música eletrônica feita por poucas pessoas, é muito difícil para a dupla replicar a criação de tudo ali ao vivo – sem contar os vocais, que são feitos sempre por convidados.

A solução, então, é montar um verdadeiro espetáculo para manter a plateia entretida. Desde o show de luzes até a mixagem que leva uma canção a outra, o show do Justice é como uma história (e, não à toa, um dos projetos mais legais do duo é a performance IRIS: A Space Opera) e é difícil não se envolver com ela.

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Curiosamente, Xavier explica que a banda não tem costume de trazer inspirações de outros atos de música eletrônica para seus shows. A maior parte do que eles consomem no quesito música ao vivo é o Rock, e “não há muitas coisas com as quais podemos ser influenciados no Rock”, explica de Rosnay.

Ainda assim, ele aproveita a oportunidade para nos contar alguns dos segredos dessas excelentes performances ao vivo:

Para manter as coisas interessantes musicalmente, nós sempre pensamos em fazer uma grande faixa com todas as nossas músicas. Tem que ser concisa, divertida, e meio que uma grande festa de música por uma hora, uma hora e meia – o que difere dos nossos álbuns, porque eles nem sempre são música de festa.

O Justice ao vivo é 200% ‘party time’ [‘hora da festa’]. Essa é a direção principal que temos em mente, e daí buscamos o que achamos elegante dentro dessas músicas de festa. Na parte visual, temos a mesma ideia desde o começo: um palco que pareça tão mecânico e técnico quanto possa parecer; nós amamos todas as técnicas que costumamos ver no palco [em shows de Rock], como os amplificadores Marshall.

Mesmo que a gente não use mais, era parte do que víamos nos palcos de cada banda. Tipo, o teto, à primeira vista, parece igual ao de qualquer banda; mas em dado momento ele começa a descer e se mover, e toda estrutura tem um, dois, três, quatro, cinco tipos diferentes de luzes e materiais, e tudo começa a se desdobrar e tudo que você costuma ver em um palco começa a ganhar vida.

Tem muita luz! [risos] Nós sempre trabalhos só com luzes, não há filmagens ou imagens durante o show. São só essas técnicas todas ganhando vida e produzindo luz.

O Brasil, infelizmente, por enquanto não tem qualquer previsão de recebê-los por aqui. A última passagem foi em 2012, mas a dupla garante que quer voltar e inclusive cita que tem alguns amigos próximos morando em São Paulo, algo que pode incentivá-los ainda mais a vir até aqui.

A esperança continua, ainda mais com um novo ciclo chegando e trazendo essa oportunidade. Segundo eles, vontade não falta – e, vale ressaltar, o duo estará nas edições europeias do Primavera Sound deste ano. Eles não quiseram responder se há novidades sobre uma presença na edição brasileira, no fim deste ano, mas quem sabe?

Ficamos na torcida! Por enquanto, você pode ouvir Hyperdrama na íntegra logo abaixo.