A segunda edição do C6 Fest aconteceu no último final de semana em São Paulo, mais precisamente no Parque Ibirapuera.
Após ficar conhecido por colocar a música em destaque e proporcionar uma experiência deliciosa para todos os espectadores que decidem curtir o parque, o evento passou por algumas alterações importantes que mantiveram sua essência, mesmo alcançando um público maior.
Ao final, ficamos com a sensação de que a segunda edição foi uma evolução da primeira, consolidando a mensagem de que o C6 Fest olha para passado, presente e futuro da música, apresentando talentos nacionais e globais com o envelopamento do tipo de experiência que você pode ter em poucos festivais aqui no Brasil.
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Estrutura
Dividido em dois palcos principais, o C6 Fest 2024 ocupou uma boa área do Parque Ibirapuera e, enquanto a Arena Heineken era ampla, espaçosa e com a vibe “gramadão”, a Tenda Metlife era um local coberto com capacidade limitada, o que não foi um grande problema durante a maior parte do festival mas que é um ponto a ser revisto caso ele abrigue shows maiores.
Poucas filas foram vistas para serviços como água grátis, comida e cerveja, e a sensação era de que estávamos passeando pelo parque com o grande bônus de assistir a shows de nomes como Pavement, Cat Power, Raye, Black Pumas e muito mais.
A transição entre as duas áreas, apesar de fluir bem, é outro ponto que pode ser revisto no futuro, ainda que existam fatores ligados ao parque para que tivéssemos algo como dois festivais separados.
Para ir de um palco a outro, era necessário passar por uma saída do C6, andar pelo parque e entrar novamente, com direito à pulseira sendo escaneada novamente.
Ainda assim, foram poucos os momentos em que houve algum tipo de problema nesse trajeto, mais notadamente no sábado ao final da noite, quando pessoas ficaram de fora tentando acessar a área da Tenda Metlife para, então, acessar o Pacubra.
Como foram os Shows?
A curadoria do C6 Fest preza pela mistura do que é consagrado e o que há de novo, mesmo que isso não se traduza em vendas astronômicas de ingressos.
A ideia é criar, no médio prazo, o senso de que os responsáveis pelo line-up do festival sabem o que estão fazendo e têm a capacidade de montar escalações que vão surpreender fãs de música o tempo todo. Nessa segunda edição, isso ficou bem claro.
Ficou bem claro principalmente em shows como da britânica Raye, que apesar de ter números enormes nas plataformas de streaming, não é conhecida do grande público brasileiro. Quem viu seu show se deparou com uma entrega absurda, vocais de outro planeta e uma mistura impecável de R&B, Blues e Rock And Roll. Além disso, ela entregou muito carisma ao começar o show dizendo que havia comido uma ostra estragada e passado a madrugada inteira no banheiro. Ainda assim, garantiu que iria apresentar “apenas grandes vocais, e não outras coisas nojentas”.
Do outro lado do “espectro C6 Fest”, tivemos gigantes consagrados como o Pavement, que fez o melhor e mais concorrido show do final de semana ao lado de Cat Power, que lotou igualmente a Tenda Metlife com sua apresentação especial onde canta canções de Bob Dylan.
Outros destaques da programação ficaram com a energia contagiante do PARIS TEXAS, que mistura Hip Hop com a entrega de um show de Rock, a emoção desenfreada do brasileiro Jair Naves, que fez um show brutal e emocionante, e o fim de festa com todo carisma e romance de Daniel Caesar, jovem que, justamente como os jovens dizem, tem o molho.
Romy, vocalista da banda The XX, também fez um showzão, transformando a Tenda Metlife em uma pista de dança com a diferença de que, ao invés de DJ Sets puramente instrumentais, ali muitos fãs cantaram seus sons a plenos pulmões.
Uma das atrações mais aguardadas por esse que aqui escreve, a dupla Black Pumas apresentou bons minutos de Blues Rock, R&B e ainda deixou claro que se aproxima da música Pop cada vez mais. Confesso que, apesar de uma banda incrível e músicos impecáveis, o show teve ares de repetição e em muitos momentos era como se estivéssemos ouvindo a mesma música ou uma longa jam, algo que não caracterizava o início da carreira dos caras, especialistas em canções, no sentido mais literal da palavra, como “Colors”.
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Artistas Brasileiros
Além do Art-Punk poderoso de Jair Naves, vale destacar a programação brasileira do festival que fez bonito demais durante o final de semana.
Jaloo conduziu um show onde se emocionou e emocionou a plateia, contando com momentos em que o público foi uma espécie de “segundo vocalista” para o show que ainda teve momentos com Gaby Amarantos.
No domingo, o Baile Cassiano celebrou a obra impecável de Cassiano e ainda a apresentou para novos públicos como os fãs de Daniel Caesar que ali estavam esperando pelo seu show.
Com um time estrelado, montado pelo produtor Daniel Ganjaman, a apresentação teve Fran Gil, Preta Gil, Liniker, Luccas Carlos e Negra Li em um envelopamento belíssimo, tanto musicalmente como esteticamente.
É justamente esse tipo de encontro especial que outros festivais tentam emular e copiar, resultando em apresentações plásticas e sem sal, mas que o C6 Fest teve a capacidade de montar, trabalhar e deixar tão orgânico quanto poderia ser. Golaço.
Celebração ao Jazz
A programação do C6 Fest ainda teve shows de Jazz, e o TMDQA! acompanhou a primeira noite, na sexta-feira, com destaques para Charles Lloyd Quartet e a dupla de brasilienses formada por Daniel Santiago e Pedro Martins.
Enquanto os dois apresentaram parcerias instrumentais incríveis usando guitarra e violão, misturando elementos da MPB com ritmos regionais e pitadas de Blues e Rock, o quarteto liderado pela lenda Charles Lloyd entregou jams viscerais capitaneadas pelo seu saxofone.
No domingo, ao final da programação dos palcos, o Auditório Ibirapuera voltou a receber o Jazz com shows de Chief Adjuah e Dinner Party, que tem Terrace Martin, Kamasi Washington e Robert Glasper.
Resumo: como foi o C6 Fest 2024?
Ao final das contas, o C6 Fest mostrou que é um evento pra lá de necessário no calendário brasileiro de eventos, que anda tão abalado ultimamente.
Repleto de fórmulas batidas e line-ups que parecem se repetir em diferentes cidades do país, o circuito de eventos precisa se reinventar urgentemente, e o C6 Fest é um respiro delicioso na forma de um festival que fala de música, apresenta música, consome música e devolve música, acima de tudo, para seu público.
Que dure muito tempo e tenha muitas edições!
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