Janis Joplin: por que Hollywood não consegue fazer uma cinebiografia da "Pearl"?

A indústria de cinema tenta há anos levantar filmes sobre a vida tumultuada de Janis Joplin - só não mais bagunçada que as próprias produções dos longas!

Janis Joplin

Hollywood tem uma longa tradição de criar cinebiografias de figuras icônicas da música, como Jim Morrison e, mais recentemente, Amy Winehouse.

No entanto, a vida da lendária Janis Joplin, uma das maiores estrelas do rock dos anos 60, permanece inexplicavelmente ausente das telonas. Apesar de múltiplas tentativas ao longo das décadas, a indústria de cinema ainda não conseguiu concretizar um filme sobre Janis Joplin. 

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Abaixo, você vai entender melhor os motivos por trás dessa ausência e os desafios enfrentados pelas produções que tentaram trazer a história de Joplin ao cinema.

Em tempo, confira aqui nossa conversa com a produção e atores do filme Back to Black, sobre Amy Winehouse.

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O fascínio por Janis Joplin

Janis Joplin é uma figura emblemática do rock e da contracultura dos anos 60. Nascida em 1943, Joplin ganhou fama por sua voz potente e estilo de vida rebelde, tornando-se uma das artistas mais influentes de sua época. 

Sua morte precoce por overdose de heroína, aos 27 anos, a colocou no trágico “Clube dos 27” junto com outros ícones como Jimi Hendrix, Jim Morrison e Kurt Cobain. A vida de Joplin foi marcada por uma intensa paixão pela música e uma luta contra os demônios pessoais, o que a torna uma figura fascinante para uma cinebiografia.

Ao mesmo tempo, como uma pessoa extremamente solitária e com um final trágico, esta se torna uma história difícil de ser contada – e, possivelmente, assistida.

Tentativas frustradas de cinebiografias de Janis Joplin

Desde a década de 70, houve inúmeras tentativas de levar a vida de Janis Joplin ao cinema. Em 1979, o filme The Rose, estrelado por Bette Midler, foi originalmente planejado como uma cinebiografia de Joplin intitulada Pearl, seu apelido e título de seu icônico álbum póstumo. 

No entanto, a família de Joplin se opôs ao projeto, resultando na criação de uma personagem fictícia. The Rose foi um sucesso e rendeu a Midler uma indicação ao Oscar, mas não satisfez os fãs que desejavam ver a verdadeira história de Joplin nas telonas.

Anos 90: a primeira onda de tentativas

Nos anos 90, surgiram novos esforços para produzir uma cinebiografia de Janis Joplin. Em meados da década, um projeto intitulado Piece of My Heart foi anunciado com Courtney Love no papel principal. No entanto, o filme nunca avançou além dos estágios iniciais. 

Em 1998, a cantora Melissa Etheridge escreveu um roteiro e planejou estrelar uma cinebiografia dirigida por Gary Fleder, conhecida também como Piece of My Heart. Esse projeto não se concretizou.

Com a aproximação do 30º aniversário da morte de Joplin, novos possíveis filmes surgiram. Brittany Murphy foi considerada para o papel principal em uma versão de Piece of My Heart, enquanto Lili Taylor foi cogitada para outra cinebiografia que também nunca foi adiante. A constante competição entre esses projetos gerou a expressão “cinebiografias de Joplin em conflito”, refletindo a dificuldade de concretizar qualquer um dos filmes. E esta não seria a última batalha!

A fama de “projeto impossível” para uma cinebiografia de Janis Joplin até virou piada. Na série 30 Rock, a personagem Jenna Maroney (interpretada por Jane Krakowski) é escalada para interpretar a lenda do Rock em um filme. Porém, a produção esbarra nas dificuldades de conseguir os direitos de contar a história da cantora e não consegue adquirir suas músicas. O resultado? O longa se torna sobre uma personagem “fictícia” chamada “Janet Jopler”. 

Anos 2000: Renée Zellweger e Zooey Deschanel

No início dos anos 2000, Piece of My Heart foi revitalizado com um novo roteiro escrito por Anne Meredith, e Renée Zellweger foi escalada para o papel de Janis Joplin. Ao mesmo tempo, um filme intitulado The Gospel According to Janis, dirigido por Penelope Spheeris e estrelado por Pink, foi anunciado. Este projeto recebeu autorização de Laura Joplin, irmã de Janis, e o produtor Peter Newman adquiriu todos os direitos necessários para a produção – mas o filme foi repetidamente adiado.

Em 2006, Zooey Deschanel substituiu Pink no papel principal de The Gospel According to Janis. Deschanel até mesmo começou a fazer aulas de canto para se preparar para o papel, mas o projeto foi cancelado em 2011. Paralelamente, Renée Zellweger continuou interessada em sua versão do filme, que passou por várias revisões de roteiro e mudanças de direção.

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A década de 2010: Amy Adams e Michelle Williams

Em 2010, o diretor Fernando Meirelles, famoso por Cidade de Deus, assinou contrato para dirigir a versão de Piece of My Heart, agora estrelada por Amy Adams, com um novo roteiro de Ron Terry e Theresa Kounin-Terry.

Mesmo com novos diretores e roteiristas, o projeto enfrentou obstáculos legais e dificuldades para garantir os direitos das músicas de Joplin. Catherine Hardwicke substituiu Meirelles como diretora, seguida por Lee Daniels, mas nenhum dos diretores conseguiu levar o projeto adiante.

Em 2015, o documentário Janis: Little Girl Blue, dirigido por Amy Berg e narrado por Cat Power, foi lançado com sucesso, mas não substituiu a demanda por uma cinebiografia de ficção. 

Finalmente, em 2016, Peter Newman anunciou um novo projeto com Michelle Williams no papel de Janis Joplin, dirigido por Sean Durkin e baseado no livro Love, Janis de Laura Joplin, que contém cartas reais da cantora.

Obstáculos legais e criativos

Um dos principais desafios para a produção de uma cinebiografia de Janis Joplin é a resistência do espólio da cantora em liberar os direitos de suas músicas. Sem a música de Joplin, qualquer filme sobre sua vida perde uma parte essencial de sua narrativa. A família de Joplin tem sido protetora de seu legado e muitas vezes não concorda com a forma como ela é retratada, levando ao bloqueio de vários projetos.

Além dos problemas legais, a complexidade da vida de Joplin representa um desafio criativo significativo. Capturar a essência de sua personalidade e a profundidade de sua luta pessoal exige uma abordagem sensível e autêntica. Pink, que foi considerada para o papel de Joplin, revelou que muitos produtores queriam dar um “final feliz” à história da cantora, o que não reflete a realidade de sua vida e morte trágica.

Segundo Pink, essa tentativa de suavizar a narrativa não faz justiça à verdadeira história de Joplin.

A pressão de retratar uma lenda

A pressão de retratar fielmente uma figura tão icônica como Janis Joplin é enorme. Qualquer erro na interpretação de sua personalidade ou em eventos significativos de sua vida pode resultar em críticas severas. 

A expectativa de capturar a energia bruta e o espírito livre de Joplin, ao mesmo tempo em que se aborda seus momentos mais vulneráveis, é uma tarefa hercúlea para qualquer ator ou diretor.

Apesar das inúmeras tentativas, Hollywood ainda não conseguiu produzir uma cinebiografia de Janis Joplin que capture sua verdadeira essência. As dificuldades legais, os desafios criativos e a pressão para fazer justiça à sua lenda continuam a ser obstáculos significativos. 

Até que esses desafios sejam superados, a vida de Joplin permanecerá sem uma representação cinematográfica oficial. Seu legado, no entanto, continua a inspirar novas gerações através de sua música, que permanece tão poderosa e influente quanto durante sua vida.

A história de Joplin, com toda sua complexidade e tragédia, é uma lembrança do poder transformador da música e da eterna luta da alma humana contra seus próprios demônios.

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