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Doce Maravilha passa por reestruturação e entrega ao público shows brasileiros memoráveis

Doce Maravilha enfrenta mais um ano de chuva mas volta a entregar grandes shows de nomes gloriosos da música brasileira. Leia nossa resenha!

Maria Bethânia e Xande de Pilares no Doce Maravilha
Crédito: Bel Gandolfo

O festival Doce Maravilha conseguiu, de certa forma, resgatar a confiança de boa parte do seu público em sua segunda edição, que foi realizada no último final de semana no Rio de Janeiro, além de mais uma vez ter proporcionado dois dias repletos de música boa.

Depois de ter recebido uma série de críticas por conta de sua organização no ano passado, ao enfrentar um mau tempo que tomou conta da cidade durante o evento e que transformou a Marina da Glória em um verdadeiro lamaçal e causou atrasos e falhas técnicas em shows, o evento fez o que deveria ser feito para enfrentar mais uma edição debaixo de chuva.

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Após ter mudado o festival para o Jockey Club Brasileiro, no Rio, a equipe do Doce também fez questão de compartilhar em suas redes sociais quais medidas foram tomadas para que o público conseguisse aproveitar da melhor maneira com chuva ou sol.

Entre as iniciativas, que de fato foram colocadas em prática nos dois dias de festa, estavam a instalação de tendas em grandes áreas de descanso, instalação de pisos em boa área do palco principal para evitar as poças de água – que se formaram em alguns pontos – e distribuição de capas plásticas.

Com isso, o ambiente se tornou um pouco mais agradável para aqueles que decidiram ir ao evento mesmo sabendo que a previsão do tempo não estava das melhores. E quem estava por lá, assim como nós do TMDQA!, dificilmente se arrependeu, pois shows foram históricos e emocionantes.

Te contamos a seguir um resumo de tudo o que rolou na segunda edição do evento, que novamente contou com a curadoria artística do renomado jornalista e compositor Nelson Motta.

Segunda edição do Doce Maravilha

Sábado: Dos clássicos de Jorge Ben Jor ao encontro de gerações do Rap

O primeiro dia do Doce Maravilha abriu sua programação às 12h30 com o show do trio Os Garotin, que apresentou um interessante show de soul, R&B e funk tocando faixas do seu disco mais recente, Os Garotin de São Gonçalo.

Ainda no início da tarde, a talentosíssima cantora cabo-verdiana Mayra Andrade encantou a todos com seus belíssimos vocais enquanto cantava músicas de toda a sua discografia. A artista ainda recebeu a cantora baiana Rachel Reis e juntas interpretaram “Manga” de Mayra e o sucesso de Caetano Veloso “Tigresa”. O show contou com um público atento e que soltou a voz ao lado da artista ao longo de sua performance.

Com o festival dividido em dois palcos quase que simultâneos, enquanto Mayra Andrade se apresentava no palco Elo, o projeto b, formado pelas baianas Luedji Luna, Larissa Luz e Xênia França estava realizando um show potente no palco principal do evento, que mesmo chovendo atraiu boa parte do público presente. Por lá, as artistas se dividiram entre sucessos de suas carreiras solos e músicas que inspiram o grupo que vão desde “I Ain’t Got Nothing But The Blues” de Ella Fitzgerald a “700 por hora” parceria de Ludmilla e Gloria Groove.

Divulgação

Ao final do show, Luedji Luna, que celebrou aniversário naquele mesmo dia, foi surpreendida com um bolo pelo seu companheiro, o rapper Zudzilla, enquanto cantava o hit “Banho de Folhas”. A apresentação foi encerrada com uma interpretação do sucesso “Lua Soberana”, faixa de Sérgio Mendes regravada por Xênia e Luedji para a abertura da novela Renascer.

Em seguida foi a vez de Letrux subir no palco Elo para interpretar o prestigiado disco Último Romântico, lançado por Lulu Santos em 1987. As versões da artista chegaram unindo elementos de percussão com o rock indie característico de suas obras. Além dos clássicos de Lulu como “De repente Califórnia” e “Último Romântico”, a cantora aproveitou para incluir sua obra no repertório, cantando músicas do seu último disco Letrux Como Mulher Girafa.

Em uma das pausas da chuva, quem fez tudo ferver no Doce Maravilha foi a banda ÀTTOOXXÁ, que chegou com muito groove da música baiana e elementos eletrônicos, fazendo todo mundo dançar. Depois de apresentar músicas de diferentes fases de sua carreira, o grupo recebeu no Palco Principal a dupla de cantores do É o Tchan. Beto Jamaica e Compadre Washington chegaram animando ainda mais o ambiente, tocando hits como “Tomada”, “Pau Que Nasce Torto/ Melô Do Tchan” e muitos outros.

Crédito: Caiano Midam

Já no Palco Elo, localizado em uma das áreas cobertas do festival, o público foi agraciado com a estreia do show “Donato Imperial”, apresentado pela big band Orquestra Imperial e com o apoio de Marcos Valle e Donatinho. A apresentação contou com alguns dos maiores hits do saudoso multi-artista como “Gaiolas abertas”, “Flor de Maracujá” e mais.

No final da tarde do primeiro dia do Doce Maravilha, Jorge Aragão foi responsável por agradar os amantes de Samba tocando seus sucessos e ainda experimentando um novo formato de show ao convidar rappers da nova geração como Djonga, BK’ e Xamã para se apresentar com ele, além de ainda ter recebido Negra Li e Ana Carolina no palco.

Antes da colaboração com Xamã na música “Tape deck”, em que Jorge menciona alguns artistas brasileiros de Rap, o show passou por problemas técnicos e enquanto era resolvido o rapper aproveitou para fazer alguns versos improvisados falando sobre sua carreira e o festival. Na apresentação, além de clássicos do samba, o público teve a oportunidade de ver Djonga cantando a fenomenal “Olho de Tigre” e Negra Li apresentando seu hit “Você Vai Estar Na Minha”.

Crédito: Bel Gandolfo

Um dos momentos mais aguardados do dia foi o show da lenda da música brasileira Jorge Ben Jor. O carioca transformou o local numa verdadeira festa e foi aclamadíssimo pela multidão do início ao fim de sua performance que foi recheada de hits que marcaram sua carreira e a vida dos fãs.

Acompanhado por uma banda fenomenal, entre as músicas apresentadas, o público formado por diferentes gerações soltou a voz ao lado do veterano cantando “País Tropical”, “Oba, Lá Vem Ela”, “Ive Brussel”, “Salve Simpatia” e muitos outros sucessos de Jorge Ben.

Crédito: Bel Gandolfo

Encerrando o primeiro dia do festival, Criolo, Rael e Mano Brown se uniram para uma performance pra lá de especial que foi capaz de transportar todos para uma São Paulo que não costuma estar no cartão postal. Com os três no palco ao longo de todo o show, os músicos apresentaram as principais faixas de suas discografias como “Não Existe Amor em SP”, “Jesus Chorou”, “Envolvidão”, “O Hip Hop É Foda” e mais.

O show terminou com uma interpretação pesada de “Vida loka”, hino dos Racionais MC’s, e além dos artistas principais, a performance contou com a participação de Djonga e do veterano Dexter, que se uniram aos músicos e proporcionaram uma verdadeira celebração ao Rap nacional.

Doce Maravilha passa por reestruturação e entrega shows brasileiros memoráveis

Domingo: Do Forró do Falamansa à união de Maria Bethânia e Xande de Pilares

Horas antes do Doce Maravilha dar início ao seu segundo e último dia, a organização do evento tranquilizou e alertou seu público por conta da previsão do tempo, que apontava para uma chuva moderada ao longo do domingo (27).

Em um comunicado, o festival informou que dependendo do volume da chuva poderia haver “mudanças na grade de horários, atrasos e cancelamentos de artistas mais sensíveis”. Além disso, o evento anunciou que realizaria o reembolso do valor do ingresso para aqueles que decidiram não comparecer ao festival.

Para a felicidades daqueles que colocaram sua capa de chuva e foram para o Jockey Club, nenhum artista precisou cancelar sua apresentação e os horários de cada show ficaram praticamente no horário previsto.

A tarde do último dia da segunda edição do doce começou com o show intimista e delicado do talentosíssimo duo ÀVUÀ, formado por Bruna Black e Jota.pê. Os músicos ainda receberam a cantora Bela Ciavatta, que compartilhou sua belíssima voz com aqueles que já estavam no festival.

Em seguida, o palco Elo foi tomado por Miguelzinho, fenômeno mirim que agitou o evento com releituras de sambas e pagodes que marcaram a história, incluindo canções de Jorge Aragão, Arlindo Cruz, Revelação e também Thiaguinho.

Crédito: Bel Gandolfo

A primeira atração do palco principal de domingo foi Ana Frango Elétrico, que lançou em 2023 o disco Me Chama de Gato Que Eu Sou Sua, um dos discos mais elogiados do ano passado. Apesar da chuva, que neste momento estava intensa, Ana prendeu a atenção do público com seu som experimental e canções como “Insista em Mim”, “Mulher Homem Bicho”, “Electric Fish”, e ainda recebeu Bruno Berle e FBC no palco, que tornaram o show ainda mais especial.

Com o fim do show de Ana, boa parte do público se direcionou para área coberta do palco Elo e ficou apostos para prestigiar o show do Falamansa que começou logo em seguida. Tato e seus companheiros de banda anteciparam as festas juninas com seu repertório repleto de clássicos como “Xote dos Milagres”, “Rindo à Toa”, “Oh! Chuva”, e ainda contou com a presença de Lucy Alves que encantou a todos com seu talento. Em determinado momento, o vocalista perguntou ao público quem estava vendo o Falamansa pela primeira vez e como muitas pessoas levantaram o braço, Tato brincou dizendo: “somos uma banda nova né, só 25 anos anos na estrada…”.

Crédito: Caiano Midam

Voltando ao palco principal, Nação Zumbi celebrou o emblemático disco Da Lama ao Caos, que está completando 30 anos de história, e também faixas que marcaram a carreira da banda, incluindo canções como “Um sonho” e “Maracatu Atômico”, com a última fazendo até algumas rodinhas se abrirem na plateia. O grupo ainda contou com uma participação pra lá de especial da brilhante Lia de Itamaracá, que fez o público se unir e abrir diversas rodas de ciranda ao longo de sua apresentação.

Crédito: Bel Gandolfo

O palco Elo encerrou suas programações com um show inédito intitulado “Nosso Sonho”, que reuniu a Nova Orquestra, Buchecha, Deize Tigrona e Gabriel do Borel. Na apresentação, as principais músicas dos funkeiros ganharam novas versões sensacionais acompanhadas por violinos e instrumentos de sopro e a performance se tornou um verdadeiro espetáculo para quem estava assistindo.

Quem também celebrou um disco icônico de sua trajetória foram Os Paralamas do Sucesso. O grupo liderado por Herbert Vianna preparam um show em homenagem às quatro décadas do aclamado O Passo do Lui, que apresentou ao público hits atemporais como “Óculos”, “Meu Erro”, “Me Liga”, “Romance Ideal”. Além dos clássicos desse disco, o grupo ainda presenteou os fãs que estavam no Doce Maravilha com outros grandes sucessos como “Lanterna Dos Afogados”, “Aonde Quer Que Eu Vá” e “Cuide Bem Do Seu Amor”. Como era de se esperar, foi um show bastante emocionante e acompanhado pelo coro do público em todos os momentos.

Crédito: Bel Gandolfo

Após os Paralamas, chegou a vez de um dos shows mais aguardados do festival: Maria Bethânia recebe Xande de Pilares. Ovacionada pela multidão, a cantora baiana iniciou seu show com canções como “Gema”, “As Canções Que Você Fez Pra Mim”, “Fera Ferida” e “Gostoso Demais” e em seguida, já recebeu o ícone do samba com quem interpretou belíssimas versões de “Sonho Meu” e ” Diamante verdadeiro”, faixa lançada em 1978 por Caetano Veloso e que foi regravada por Xande em seu elogiado disco de 2023 Xande canta Caetano.

Com Bethânia sentada no fundo do palco, Xande de Pilares comandou uma parte do show relembrando sambas marcantes como “Do jeito que a vida quer”, “Deixa acontecer”, “Clareou” e muitos outros. A irmã de Caetano em seguida voltou para o lado de Xande e cantou outros clássicos como “Mel” e “Gente” e sozinha performou uma cover de “Baila Comigo” da saudosa Rita Lee e encerrou o show ao lado de Xande com uma interpretação emocionante de “Tá escrito”.

Crédito: Caiano Midam

E para encerrar os trabalhos da segunda edição do Doce Maravilha, o evento proporcionou ao público mais um show memorável. O Capital Inicial subiu ao palco para celebrar os 25 anos do seu elogiado disco Acústico MTV, que foi apresentado na íntegra, seguindo a ordem da tracklist. Tornando o momento ainda mais especial, o grupo brasiliense contou com as presenças ilustres de Kiko Zambianchi, Zélia Duncan, Denny Conceição e Marcelo Sussekind.

Durante o show, a banda foi acompanhada pelo coro do público que soltou a voz durante praticamente o show inteiro que contou com uma sequência de hits como “O Passageiro (The Passenger)”, “Todas as Noites”, “Independência”, “Primeiros Erros (Chove)”, “Natasha” e muitos outros. Nos bastidores do festival, o TMDQA! conversou com Dinho Ouro Preto sobre a expectativa de revistar o álbum que marcou a história do Capital, confira aqui.

Apesar de mais uma vez ter sido atingido pela chuva, o Doce Maravilha parece ter internalizado as críticas construtivas feitas ao festival no ano passado e conseguiu entregar uma estrutura melhor ao seu público. Já musicalmente falando, o evento proporcionou shows emocionantes e que, sem dúvidas, ficaram marcados na memória daqueles que estavam no festival.

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