Papatinho, nome artístico de Tiago da Cal Alves, é um DJ, beatmaker e produtor musical brasileiro nascido no Rio de Janeiro em 1986. Ele é figura central no cenário musical brasileiro, reconhecido por sua inventividade e por ter contribuído para o desenvolvimento de diversos gêneros, como o Rap nacional, o Funk e o Pop.
Sua influência se manifesta de diversas maneiras. Como produtor, ele já trabalhou com grandes nomes da música brasileira, como Anitta, Marcelo D2, Ludmilla e Criolo. Seus beats e instrumentais inovadores moldaram o som de diversas faixas de sucesso, garantindo-lhe um lugar de destaque na indústria. Além disso, Papatinho é um dos fundadores da ConeCrewDiretoria, um dos grupos de Rap mais influentes da história do Brasil.
Papatinho, no entanto, não se limita à produção musical. Ele também é um empreendedor de sucesso, tendo fundado a Papatunes Records, gravadora responsável por lançar diversos artistas talentosos. Sua visão estratégica e seu conhecimento do mercado da música o tornam um nome respeitado no music business.
Essa jornada toda será levada para o palco do Rio2C, onde o produtor participará do painel Collab/Feat – Tudo Junto e Misturado. A mesa, que acontece no dia 05/06 às 17h, reúne ainda DENNIS, renomado artista do funk atual com mais de 4,7M inscritos no YouTube, 4,4M no Instagram e 2M no TikTok; o empreendedor carioca e produtor do projeto Favela Vive, Paulo Alvarez; e Alana Leguth, sócia-diretora na KondZilla e idealizadora do projeto HERvolution, na mediação.
TMDQA! no Rio2C
O Rio2C é o maior encontro de criatividade da América Latina e acontece no Rio de Janeiro, reunindo as indústrias da música, tecnologia e audiovisual. O TMDQA! estará te mostrando o melhor do evento.
Enquanto isso, confira abaixo nosso papo exclusivo com Papatinho sobre o feat como estratégia de mercado e sua visão sobre a cena atual! Esta é a primeira de uma série de entrevistas que o Tenho Mais Discos Que Amigos! irá publicar com alguns dos principais produtores musicais do Brasil.
Continua após o vídeo
TMDQA! Entrevista: Papatinho
TMDQA!: Como você enxerga o futuro das colaborações e feats na música “urbana” e pop? Quais tendências você acredita que irão moldar o cenário nos próximos anos?
Papatinho: Eu acho que hoje em dia, é difícil você escutar um álbum sem a colaboração de um artista ou mais de um. Por exemplo, se você olhar o Top Global, sempre vai ter uma ou mais de duas colaborações. Acho que é um processo muito interessante, um ajuda o outro, os artistas se ajudam e assim conseguem alcançar um público, às vezes, inesperado. Não só no mesmo nicho, às vezes um feat em um álbum de música urbana colocar um refrão de um artista Pop, ou em um álbum Pop colocar um rapper, são práticas cada vez mais comuns que dão resultado. E eu acho que é interessante pra todos, não só pros artistas, mas pra quem tá ouvindo… A galera quer ouvir essas colaborações, eu acho.
TMDQA!: Quais critérios você usa para escolher artistas com quem colaborar? Existe algum processo específico que você segue ao decidir com quem trabalhar?
Papatinho: Eu não tenho critério nenhum pra escolher, eu sou produtor então estou sempre produzindo música pra diversos artistas, seja da nova geração ou artistas que ainda não tem relevância na cena. Eu tô sempre trabalhando com um pouco de cada e dando meu máximo em todos os projetos, independente de ser um artista novo ou um superstar. Estou sempre sendo eu mesmo e dando meu máximo, como faço com todos os projetos. Assim, para escolher os projetos, todos meus lançamentos como Papatinho, eu preciso dessas participações especiais e isso muda de acordo com o projeto. Quando eu lancei o projeto de trap com funk eu procurei artistas do funk e juntei os dois mundos. É uma coisa que vou procurando de acordo com o projeto e de acordo com a música, o beat e a produção. A música “Final de semana” foi assim, quando estava produzindo pensei “imagina se o Seu Jorge bota a voz aqui” e acabamos conseguindo chegar até ele. No meu caso, vai de acordo com o que tô trabalhando no momento e o que acaba saindo no momento, sabe? Às vezes penso em fazer algo específico para fulano ou às vezes sai alguma coisa que é a cara do fulano e eu vou atrás.
TMDQA!: Na sua opinião, quais são as principais tendências no cenário da música urbana em termos de colaborações e feats? Como você se mantém atualizado e inovador nesse aspecto?
Papatinho: Acho que me mantenho atualizado sempre pesquisando e escutando tudo o que tá acontecendo na cena. É muito importante e ainda mais eu sendo produtor, tenho que estar sabendo o que está rolando. Pode surgir uma vertente diferente ou um subgênero do que eu faço em algum lugar do mundo, como aconteceu com o rap, o boombap que apareceu o trap em Atlanta e depois apareceu o Drill em Londres. No Brasil, o funk muda o tempo inteiro, depois apareceu o funk em São Paulo, às vezes o flow é diferente por isso tô sempre me atualizando e me conectando com todas essas vertentes e subgêneros, isso me mantém no presente.
Estava até vendo meu Spotify recentemente e tinha as 4 músicas mais tocadas no momento, que era um drill do rap/trap de Londres, um boombap – não lembro de quem era – e um acústico love song com o Orochi e um funk com a Luísa Sonza. É uma prova de que tô pesquisando e trabalhando em todos esses submundos, eu não queria ficar limitado e meu maior medo sempre foi esse. Quando comecei não sabia tocar nenhum instrumento e fazia tudo de ouvido.
Comecei a produzir usando samples (não entendi a palavra) e percebi que tinha aquele feeling musical para perceber o que a galera quer escutar. Eu entrei no mundo da música por acaso e quem conhece minha história sabe que eu não fazia ideia de que iria seguir este caminho, eu só era um fã de música e meus amigos começaram a fazer música, a rimar e eu queria participar, fazer algo pra ajudar. Então comecei a produzir os Beats utilizando um Sample, que é a ferramenta que me possibilitou ser o Papatinho hoje, onde posso gerar e criar e produzir meus próprios samples. Mas quando comecei, era tudo feeling musical mesmo, e esse feeling musical que eu tinha no início da minha carreira eu aplico hoje nas minhas produções quando chamo alguém para fazer parte de uma música ou quando crio um projeto novo.
TMDQA!: Quais são os maiores desafios ao produzir músicas em colaboração com outros artistas e como você os enfrenta? Existe uma “fórmula” para o sucesso nessas parcerias?
Papatinho: Eu não sei exatamente se existe uma fórmula, porque várias vezes a gente aposta as fichas numa música que acha que vai viralizar mas não é, e às vezes alguma coisa que a gente lançou ali acaba estourando hoje em dia, tem muito essa surpresa. Mas é claro que a gente trabalha tentando juntar o melhor time possível, igual time de futebol – o técnico trabalhando e tentando juntar “os melhores jogadores” pra formar um time dos sonhos. Cada música que faço com colaborações, eu penso nisso e em tentar formar a melhor seleção que eu posso, às vezes dá certo, mas às vezes também não, comercialmente falando, em questão de números. Mas pra mim, qualquer música que eu lancei pra mim já deu certo e o resto é tudo consequência. Eu faço música pra mim mesmo, tenho mais de 100 músicas no estúdio que não foram lançadas e a gente tá feliz lá escutando por mais que nunca vai sair, então não ligo muito por essa pressão do mercado…
Sempre fui independente e comecei fazendo música underground, não planejei nada disso, mas de certa forma quebrei essa barreira e acabei virando de certa forma Pop também e tudo de forma natural pelo amor à música, não pensando em números e na fórmula do sucesso! O álbum do Black Alien [Abaixo de zero – Hello hell] é considerado um álbum underground, eu produzi todas as músicas do álbum querendo fazer o melhor álbum do Black Alien e meu objetivo era esse. Eu, como um fã dele, quero escutar dele isso, tive a chance de fazer um álbum exatamente como eu queria escutar vindo dele. Depois de vários anos, foi legal fazer, mas nunca esperei que o álbum fosse ganhar o prêmio de Álbum do Ano em todas as categorias, o Prêmio Multishow. Acho que foi como falei, não estava procurando nenhuma fórmula, só queria fazer o melhor álbum com ele.
TMDQA!: Quais são os projetos e colaborações dos seus sonhos que ainda não foram realizados?
Papatinho: Eu já trabalhei com muita gente e no Brasil eu sempre falava nas entrevistas, que por acaso eu citei o Seu Jorge e Mano Brown, que era um artista que eu sempre quis trabalhar, sempre acompanhei desde muito novo e eu consegui realizar isso. Fiz a música com o Mano Brown, Lil Baby e o Lennon pra copa do mundo, foi maneiro pra caramba e com o Seu Jorge “Final de Semana” foi número 1 nas rádios aí várias vezes, ele me chamou pra tocar no The Town com ele… Então maneiro demais, os artistas que eu mais queria eu consegui juntar esse time, claro que sempre vão aparecer novos desafios, hoje tenho trabalhado muito pra fora do Brasil e estou nos EUA agora, tô trabalhando bastante e tô sempre em busca de mais desafios… É um caminho sem fim, sabe?
Continua após o vídeo
TMDQA!: No seu selo, você traz novas vozes com diferentes influências. Como funciona a curadoria? O que você busca em novos talentos?
Papatinho: Tô sempre escutando música na rua todo dia e trabalhar no estúdio acaba sempre aparecendo gente nova. Eu fico ligado no que tá acontecendo e não tem uma regra também pra escolher um talento, quando eu gosto eu gosto e é isso… Quando eu gosto da música, quando gosto do artista, eu vou querer produzir, vou querer lançar e é assim que eu tenho feito. Por acaso, em 2015 para 2016, quando eu estava pesquisando novos artistas e lançando o selo Papatunes, eu descobri pesquisando na internet sobre a cena que estaria por vir, muitos artistas vem das batalhas MC… é um ciclo que se repete. Eu lembro de ter visto o Orochi com 15 anos batalhando na batalha com o boné da Cone Crew, meu grupo de rap na época, a gente estava em muita atividade, viajando e fazendo bastante show… Eu descobri o Orochi assim, mandei mensagem pra ele e foi o início, pra mim, como selo Papatunes. Ele tinha formado um grupo chamado Modéstia À Parte e o primeiro lançamento do meu selo já foi aí com nome gigante na cena do trap, ele me tem como padrinho e aí a nossa relação é maneira demais… torço muito por ele.
Dois anos depois veio o Lennon também. Claro que não foram só esses, pois trabalho com muita gente, mas o Lennon também foi muito gigante pra Papatunes, um rimador, sonhador, esforçado, trabalhador e skatista, né? Trabalhando juntos conseguimos quebrar essa barreira e transformar ele num superstar também… Tem vários casos assim, quando gosto do artista, vou atrás e uso meu esforço junto com o dele pra realizar alguma coisa.
TMDQA!: Você está na cena há tempo suficiente para ver uma mudança na forma como as pessoas do mercado e até o público em geral percebem a figura do produtor musical, agora mais em evidência. Como você vê a evolução desse reconhecimento para os profissionais da produção?
Papatinho: Eu tenho 18 anos de carreira e desde do início eu sempre quis que o produtor não ficasse por trás das câmeras, sempre quis participar também. Até porque estava vivendo um sonho junto com os meus amigos, a gente formou um grupo de rap e eu ali produzia todas as músicas, todos os Beats e quando começamos os primeiros shows eu ficava no público assistindo, eu tive que arrumar um jeito de estar ali também, queria estar ali, sabe? Eu coloquei o Sampler no palco e comecei a tocar os Beats ao vivo, de uma maneira que eu pudesse participar, e aos poucos eu fui participando mais, comecei a aparecer nos clipes, sempre mencionaram meu nome também e hoje tenho a tag do Papatinho, né? O Snoop Dogg até fala “Papatino número uno”, que ajuda muito a marcar minha participação, tendo um pouco mais de protagonismo mesmo sendo produtor.
É isso, muito legal também que o pessoal reconhece que eu contribuí bastante como produtor, que tenha esse protagonismo. A molecada da nova geração acabou de certa forma sendo influenciada pelo meu trabalho também e hoje faço colaborações com eles também, tudo uma coisa só e todo mundo unido… um time. Maneiro demais estar vivendo esse momento aí para os produtores.