Casais na música: a harmonia entre amor e trabalho

Neste Dia dos Namorados, o TMDQA! conversa com MAR ABERTO, BABY e Dudalu sobre viver de música e amor, os desafios e delícias de unir paixões.

Dudalu, MAR ABERTO e BABY
Créditos: Helmut Hossmann; Dri Bresciani; Carolina Vianna

Ah, o amor. O responsável por unir gente do nível de Beyoncé e Jay-Z, Rita Lee e Roberto de Carvalho, Fernanda Takai e John Ulhoa, Carole King e Gerry Goffin. O mundo nunca mais foi o mesmo depois que esses casais – e outros tantos – passaram a fazer música juntos.

À distância, é fácil se sentir parte dessas famílias musicais. O que não é fácil é equilibrar o romance e a vida real, aquela que acontece fora dos palcos e holofotes, no dia-a-dia dos boletos e saídas de escola. Afinal, casais que trabalham juntos, em qualquer área de atuação, garantem: não é só cor de rosa. 

Publicidade
Publicidade

Fato é que entre o amor e os desafios do convívio a dois, há muita inspiração para cantar as delícias e prazeres de se perder no outro; de colocar em versos aquilo que tantos também sentem. Essa química é forte, e a música brasileira está cheia de bons exemplos.

Alguns deles representam bem a nova geração de artistas que dividem a cama e os palcos. Crias das redes sociais, não escondem os lados fáceis e difíceis desse convívio. Trazem para a intimidade os seguidores que os acompanham e sentem que já são de casa. A parceria amorosa torna-se, portanto, indissociável de tudo que esses duos criam. Afinal, esse é o feat da vida real.

Para entender como é viver de amor e música, o TMDQA! conversou com alguns novos expoentes da música nacional – aproveitando este Dia dos Namorados, mas não só. Afinal, romance nunca sai de moda!

Pra criar e amar, é só começar

Crédito: Motte

Que música combina com romance, ninguém duvida. Mas Dudalu, BABY e MAR ABERTO levam isso ainda mais a sério. Formados por Luiz Quinderé e Dani Guimarães; Luê e Mateo Piracés-Ugarte; e Gabriela Luz e Thiago Mart, estes duos são prova viva de que amor e trabalho podem caminhar juntos. Vamos conhecer as peculiaridades dessas relações que se estendem para além do pessoal.

É o caso do Dudalu, um duo que surgiu da sintonia musical – e só depois deu match na vida romântica. Dani relata que a música sempre foi um elo forte na relação deles:

Nós nos conhecemos numa roda de samba na casa de amigos em comum. A música sempre foi um elo na relação. Muito antes do nosso duo autoral existir, a música já era presente na nossa rotina.

Ela, que sempre foi atriz e cantora, não tinha um projeto totalmente focado em seu trabalho autoral até formar a dupla com Luiz.

Mas nem sempre é assim que acontece. Para Luê e Mateo Piracés-Ugarte, do BABY, o romance veio antes do trabalho musical. Eles se conheceram em um estúdio de gravação e se reencontraram anos depois em Belém, onde o romance começou. “Menos de um mês depois, fiz a primeira música para a Luê, ‘Me Enamoré’, que entrou para nosso disco”, conta Mateo.

Continua após o vídeo

Luê recorda:

Naturalmente começamos a fazer alguns trabalhos juntos nesse processo. Mateo produziu duas músicas minhas e a gente também já vinha experimentando compor algumas mais românticas e meio cafonas sem compromisso, só pra gente se divertir mesmo. Então veio a pandemia e e a gente se viu isolado num apartamento com nossos trabalhos individuais parados e pensamos, ‘Ok, e se a gente tirar aquelas músicas românticas da gaveta e fizer disso um projeto que fale de amor e afeto?’. Assim nasceu o BABY.

Já Thiago Mart e Gabriela Luz formaram o duo MAR ABERTO há quase 10 anos. A história deles começou em 2013, quando Thiago enviou uma canção para Gabriela, que estava gravando um disco solo:

Mandei uma, ela adorou, ficamos amigos e logo começamos a namorar. Estávamos juntos já fazia três anos quando decidimos criar o MAR ABERTO. Nossa relação já estava bem firme, por assim dizer, pra dar esse passo profissional a dois.

Gabriela destaca as vantagens de trabalhar em dupla:

Com certeza tem mais partes boas do que ruins. A gente se conhece muito bem e sabe as dinâmicas que funcionam um com o outro. Também temos funções bem divididas no duo, seja na parte empresarial ou artística e assim tudo acaba por fluir bem.

Nem tudo são flores

Crédito: Dri Bresciani

Trabalhar em casal no meio musical apresenta desafios únicos, como a necessidade de equilibrar a vida pessoal e profissional e lidar com a intensidade das duas áreas. Contudo, os benefícios, como a sinergia criativa e a possibilidade de compartilhar sucessos e desafios, são significativos.

Desde que se conheceram e formaram o Dudalu, Dani e Luiz atuam juntos em muitas frentes, se apoiando mutuamente em projetos individuais e em dupla. É o caso da série Som na Lata, que desenvolvem em parceria. 

Luiz comenta sobre a dificuldade de equilibrar o tempo:

Existem muitos desafios em se trabalhar em casal, como saber dividir para não falarmos só em trabalho, ser compromissados o suficiente para não cairmos no cômodo e não cumprirmos os prazos. Acreditamos muito que a dose de tudo precisa ser equilibrada para fazer acontecer de uma forma mais saudável!

Por outro lado, o fato de morarem juntos facilita os ensaios e as viagens para shows, transformando-as em programas juntos.

A divisão de tarefas no Dudalu é clara: Dani lida com as demandas artísticas e gestão de gravações, enquanto Luiz cuida da parte burocrática e técnica musical. Ambos participam da criação de composições e melodias. 

Já o maior desafio para o BABY é a ausência de um espaço separado para o trabalho, já que a casa funciona como estúdio e escritório. Mateo menciona a dificuldade de saber quando parar de trabalhar para viver a relação:

Às vezes, puxamos o freio de mão intencionalmente num projeto quando sentimos que ele começa a atropelar a relação.

A divisão de tarefas reflete suas experiências anteriores: Mateo lida com a parte estratégica, composição e produção musical, enquanto Luê se dedica à composição de melodias e direção de arte/figurino. Cada dinâmica é única. “Eu venho de banda, Luê vem de trabalho solo. É muito interessante como cada um encara os trabalhos diferentemente. Eu aprendi que cada pessoa entrega melhor de acordo com seu interesse, e não com sua obrigação”, reflete.

Luê exemplifica:

O Mateo é uma pessoa extremamente comprometida com o trabalho e se ele resolve fazer uma coisa ele mergulha de cabeça mesmo. Não tem meio termo, é ação, o que é bom mas às vezes passa do limite do saudável. Já o meu fluxo de trabalho é diferente, eu pondero muito mais as coisas e consigo desligar com mais facilidade, o que é bom mas às vezes me pego dando voltas pra tomar decisões simples. Então essas nossas diferenças acabam servindo como um balanço bom entre nós.

No MAR ABERTO, também há uma clara divisão de funções: Thiago é responsável pela composição, produção musical e direção artística, enquanto Gabriela cuida da parte burocrática e também se envolve nos processos artísticos. 

Continua após o vídeo

Sem contos de fadas

Toda banda briga, e todo casal também. Como fica isso num duo musical? Para a Dudalu, pode existir a percepção – errônea – de que “estamos sempre ‘bem’”. Dani explica:

Muitas vezes ligamos o modo automático para alguns compromissos para não influenciar no nosso trabalho e shows; conseguimos segurar a ‘emoção’ para nossos problemas depois.

Essa ideia é alimentada pela sensação de que a vida que aparece nas redes sociais ou nos palcos é a representação completa de um casal, mas não poderia estar mais longe da verdade. Segundo Gabi, existe a ilusão “de que nós estamos lindos, arrumados, radiantes e sorridentes o tempo todo. Aliás, nem sei se as pessoas pensam isso, mas seria irreal (risos). Tem hora que a gente tá correndo atrás de trocar fralda enquanto dá uma entrevista, por exemplo”. E Thiago revela: “Tipo agora (risos)”.

Claro que os casais da música não são livres da possibilidade de um término, como qualquer outro par romântico. Não existe uma receita de bolo para lidar com essa situação, que muitas vezes envolve trâmites legais e a custódia de filhos. 

Porém, a música é cheia de exemplos de bandas que sobreviveram ao fim de relacionamentos – nem que seja por um breve tempo! É o caso de No Doubt, The White Stripes e Fleetwood Mac. Outros términos marcaram o fim de uma era, como foi com os Fugees e Sonic Youth, por exemplo.

Caso a relação romântica com Luê chegue ao fim, Mateo é categórico:

Uma banda como BABY só existe se existir o relacionamento. Não existiria se algum dia acabar. E não temos medo disso, sabemos muito bem que tudo tem a possibilidade de ser efêmero. Entrar num relacionamento imaginando que vai durar pra sempre é uma ilusão, não sabemos o futuro e parte da faísca da relação também está aí!

Mas nem tudo é definitivo, como pondera Luê:

Acho que tudo é possível se estivermos em paz e a situação não gerar desconfortos. Talvez diante desse cenário o projeto ganhasse um novo contorno? Mudaríamos a abordagem? Não tenho essas respostas mas acredito que o tempo é capaz de ressignificar e reacomodar as coisas. O que eu sei é que o amor que temos é pra sempre, independente de juntos ou não.

Crédito: Carolina Vianna

Para o MAR ABERTO, fruto do casamento de Gabriela e Thiago, agora pais de um bebê de um ano, essa possibilidade também não existe. Gabriela é enfática: “Somos casados e fizemos a promessa no altar de lutar por essa relação acima de qualquer coisa. E é isso que faremos até o fim da nossa vida”. Thiago complementa:

A gente costuma brincar (mas brinca sério) que tem mais chance do MAR ABERTO acabar do que a gente. Nossa paixão virou amor faz teeeempo.

No Dudalu, essa conversa também já aconteceu. Dani diz que, caso cheguem a essa possibilidade, já decidiram cumprir toda agenda de shows e projetos previamente fechados:

Já conversamos muito sobre isso, porque acreditamos que o diálogo prévio facilita muito quando a ‘bomba estoura’. Essa conversa prévia evita muitos problemas futuros, que acabam acontecendo por não termos estabelecido os limites e caminhos. Nós decidimos que iremos cumprir toda agenda de shows e projetos já fechados anteriormente ao término e iremos seguir separadamente. Claro que tudo pode mudar, mas esse seria nosso plano A.

Continua após o vídeo

É possível ter sorte no trabalho e ser feliz no amor

Para outros casais que estão pensando em embarcar nessa jornada musical juntos, os conselhos variam, mas todos ressaltam a importância da comunicação, diversão e respeito mútuo. 

Luiz, do Dudalu, recomenda:

Precisamos ter em mente que temos que escolher o ‘melhor’ pra Dudalu, e não somente pra nós individualmente. Disciplina, rotina, travem a agenda do casal para se dedicarem totalmente, que seja pra ensaiar, resolver burocracias, atualizar as planilhas financeiras… Todo dia! Todo dia dedicamos nossa energia e tempo pra Dudalu! É preciso cultivar, regar pra colher frutos no futuro. É um trabalho diário e pra sempre.

Luê, do BABY, enfatiza a necessidade de saber quando deixar o trabalho de lado e se entregar ao relacionamento:

Se em algum momento as coisas se misturarem demais e o trabalho atropelar: parem, respirem e avaliem. Uma parceria legal é feita de escuta, conversem sobre os incômodos. O mais importante é não perder a diversão do trabalho a dois e também não se perder de vista enquanto indivíduos.

Thiago, do Mar Aberto, sugere nunca esquecer que a parceira profissional é o amor da sua vida. Já Gabi convida a misturar pessoal e profissional de forma harmoniosa:

O melhor, que eu sei que funciona por experiência própria: misturem as coisas! Não dá pra dissociar pessoal e profissional quando se trabalha com quem se ama.

A música como elo

A trajetória de Dudalu, BABY e MAR ABERTO mostra que a música pode ser um elo poderoso que une casais de forma profunda e significativa.

Esses duos demonstram que é possível equilibrar o amor e o trabalho, criando algo belo e duradouro. A chave para o sucesso parece estar na comunicação aberta, na divisão clara de tarefas e, acima de tudo, no respeito e na diversão que vêm do trabalho conjunto.

Em um mundo onde a colaboração é cada vez mais valorizada, esses duos provam que, com amor e dedicação, é possível criar algo verdadeiramente especial. Não por acaso, se tornaram a trilha de tantos outros casais Brasil afora.

Sair da versão mobile