Encontrando na música uma forma de expressar tudo aquilo que sente – e sim, ela sente muito! -, Melly, dona de uma belíssima e poderosa voz, compartilhou recentemente com os fãs seu aguardado disco de estreia Amaríssima.
O trabalho chega cerca de três anos depois do lançamento do seu elogiado EP Azul, responsável por inserir a jovem cantora de 22 anos na lista de grandes apostas da música brasileira e por contribuir com sua vitória na categoria “Artista Revelação” do Prêmio Multishow de 2023.
Fazendo uma ligação entre o título e a maneira como aborda os assuntos em seu novo disco, Melly nomeou seu primeiro trabalho com um termo que é superlativo de “Amargo”. Em conversa com o TMDQA!, a artista explicou que as novas músicas refletem sobre sua personalidade, seu amadurecimento e sua verdade e comentou sobre a maneira como ela apresenta esses temas no álbum:
[…] Eu sou uma pessoa que sente muito, e eu queria falar sobre sentir. E aí eu abordei o sentimento dessa forma um pouquinho mais amarga, porque eu acho que a gente às vezes subtrai o amargo – sendo que é muito importante que a gente erre e faça coisas que são desconfortáveis para poder conhecer novos caminhos e ter novos olhares.
Tornando o projeto ainda mais especial, Amaríssima conta com as participações especiais de Liniker e Russo Passapusso, que além de admirarem o trabalho de Melly se tornaram seus amigos – o líder do BaianaSystem, inclusive, liberou seu estúdio em Salvador para que a artista pudesse produzir seu disco.
Surpreendendo os fãs, algumas faixas do álbum mostram a cantora baiana explorando elementos voltados ao Pop, fazendo uma união com seu som mais conhecido que vai desde R&B e Soul à MPB, Rap e Pagode Baiano. Segundo Melly, o Pop sempre esteve entre suas pesquisas e referências e acabou saindo “naturalmente” no novo trabalho.
Na conversa, Melly também contou quais foram os maiores desafios no processo de criação do disco e revelou como encarou os comentários negativos que recebeu no ano passado após ser escolhida como Artista Revelação do Prêmio Multishow.
Confira o papo na íntegra a seguir e ouça Amaríssima ao final da matéria!
TMDQA! Entrevista Melly
TMDQA!: O seu disco de estreia chega após o lançamento de diversos singles e do EP AZUL, e também depois de você ter construído uma base de fãs, que estava ansiosa por esse álbum. Como você está se sentindo ao colocar esse disco no mundo?
Melly: Estou animada, estou animada! Tem tempo que eu estou com esse segredo, né? Normalmente é assim, eu vou guardando, vou guardando, vou guardando, aí eu lanço do nada. Eu estou animada. Espero muitas coisas boas desse lançamento.
TMDQA!: Quais foram os maiores desafios que você enfrentou ao longo do processo de criação desse disco?
Melly: Todas as etapas foram bastante difíceis de entender. Porque eu sou muito nova e ainda estou aprendendo a caminhar com a música, e a música pra mim sempre foi algo muito pessoal também. E eu sempre fui da minha verdade. “Azul” sempre foi muito minha verdade e ela teve uma notoriedade tão grande que eu pensei: “Eu não vou mudar o jeito que eu sou pra alcançar qualquer outra coisa a mais e vou continuar sendo verdadeira”.
Aí eu peguei e lancei logo “Amaríssima”, que fala justamente sobre isso: sobre ser eu, sobre amadurecer, sobre o que é a sua verdade, sobre ser uma pessoa que sente muito. Eu sou uma pessoa que sente muito, e eu queria falar sobre sentir. E aí eu abordei o sentimento dessa forma um pouquinho mais amarga, porque eu acho que a gente às vezes subtrai o amargo – sendo que é muito importante que a gente erre e faça coisas que são desconfortáveis para poder conhecer novos caminhos e ter novos olhares.
TMDQA!: Eu queria saber mais sobre a escolha do título “Amaríssima”, superlativo de “Amargo”. Você disse que o disco gira em torno desse gosto, dessa sensação. Como as pessoas vão identificar o amargo nesse projeto?
Melly: Rapaz, eu acho que a cada música que você escuta você consegue entender o desconforto delas.
“Falar De Amor” mesmo é um término, fala sobre algo que acabou de parar de acontecer, é sobre desapartar. “Cacau” é muito sobre a chuva, sobre o que a gente sente quando algo termina e o que a gente sente quando o tempo estia. “Derreter & Suar” é sobre estar preocupada com o tempo. “Rio Vermelho” também é sobre essa ânsia sobre o futuro, essa ansiedade. Eu sou uma pessoa bastante ansiosa, então eu quis falar sobre isso. “10 minutos” é sobre sensualidade, se descobrir sensual, então também não é algo muito confortável. Pra mim não é algo confortável ser sensual, mas eu me descobri sensual depois que eu comecei a fazer novas músicas.
Cada música é uma parcela de descoberta, é um pouquinho nostálgica, é um pouquinho sinestésica, é um pouquinho amarga.
TMDQA!: Por que você escolheu “Bandida” como a única prévia do seu disco de estreia?
Melly: “Bandida” estava mais pronta. Quando eu lancei eu ainda estava emergindo no processo do disco, e eu achei que ela também ia ser interessante de se introduzir, porque ela ainda vem com a Bahia, ela ainda tem o que eu quero mostrar que é sempre a minha parcela original, a minha sensualidade. Eu sempre reforço isso; eu sou essa pessoa, eu sou Melly, se você me escutar você vai ouvir isso aqui. E “Bandida” também é um pouquinho amarga porque é sobre toxicidade, é sobre não saber se relacionar com alguém.
TMDQA!: Apesar de você já apresentar em seus singles anteriores a mistura do R&B com o pagode baiano, você reforça essa sonoridade no disco, apresentando também o afrobeat, o samba reggae, mas também apresenta um destaque para o Pop. Como foram os seus estudos para chegar nessa sonoridade e em que momento você decidiu apresentar essa pegada mais voltada ao Pop também?
Melly: O Pop é um gênero que eu passei a me interessar. Eu já me interessava desde o EP “Azul” e as minhas composições também sempre vão por esse caminho. Acho que eu também escutei muito artista Pop. Todas as minhas referências, Tim Maia, Amy Winehouse, que eu também tenho citado bastante, são referências do Pop mundial. Sempre foi uma pesquisa minha. E aí saiu naturalmente, caminhando e indo para esse caminho do Pop.
TMDQA!: Sobre as parcerias do disco, eu li em uma entrevista que um dos seus sonhos era gravar com Liniker e você realizou isso nesse disco, na faixa “10 Minutos”. Como foi a experiência de gravar com ela e como foi a construção dessa música?
Melly: Liniker foi uma amiga que a vida me deu. Ela se parece muito comigo, a gente criou uma afinidade bem grande depois de um primeiro contato que eu não lembro nem como é que foi. Mas a gente se gostou.
E aí eu postei essa canção um dia no story, porque eu tinha acabado de fazer, estava querendo gravar um videozinho, postei e não esperava nada. Ela foi lá, viu e gostou e me pediu o áudio. Eu mandei para ela no Zap, ela escutou e no mesmo momento ela mandou uma ideia de composição dela. Ela tinha gostado bastante da música e as coisas fluíram.
E hoje ela é uma amiga – que tô sentindo falta inclusive, não estou conseguindo encontrar com ela direito, mas a gente sempre conversa. Eu fiquei feliz porque ela também era uma pessoa que eu me inspirava e agora, conhecendo ela pessoalmente, eu descobri que ela é uma pessoa melhor ainda. Então, as coisas só confluíram.
TMDQA!: Além de Liniker, o álbum também conta com a participação de Russo Passapusso em “Rio Vermelho” e essa faixa marca a segunda parceria de vocês. O que a participação de Russo agregou nessa música?
Melly: Russo não participou só dessa faixa, ele participou do disco inteiro. Eu produzi esse disco no estúdio dele. Ele me deu a chave do estúdio. A gente se conheceu, a gente se gostou também. A mesma coisa com Liniker. E aí ele me deu a chave e disse: “Melly, vá lá, faça sua onda”. E eu passei horas a fio, madrugadas nesse estúdio produzindo “Amaríssima”.
Por ouvir tudo e participar de tudo, eu apresentei essa canção para ele, que não se chamava “Rio Vermelho”, se chamava “Deixa”. E mudou de nome porque a gente foi adicionando e compondo coisas e eu achei que seria interessante fazer uma homenagem a esse bairro que estava sendo a sede de “Amaríssima”, porque o estúdio de Russo era no Rio Vermelho.
TMDQA!: Tem alguma faixa que você está mais ansiosa para tocar ao vivo?
Melly: Todas! Eu quero muito tocar “Domingo” ao vivo e também quero muito tocar “Bye Bye” ao vivo. Estou muito ansiosa para tocar essas duas.
TMDQA!: Melly, você já comentou algumas vezes que se considera uma pessoa tímida, mas você se jogou na atuação no curta de divulgação do seu novo disco. Como foi a experiência de gravar esse material?
Melly: Poxa, foi uma ideia arriscada, porque de fato eu sou uma pessoa muito tímida, mas eu acho que, como era algo que eu acredito muito, valeu a pena me jogar por inteira. E eu não deixei a timidez vencer. Fui lá pela arte. Mas eu gostei do resultado. Ed, que foi meu parceiro diretor, Edvaldo Raw, conseguiu captar muito bem a mensagem do disco e traduzir isso para uma história visual e ficou bem legal.
TMDQA!: No ano passado você recebeu o prêmio de Artista Revelação do Prêmio Multishow e, após a sua vitória, alguns fãs de outros artistas que estavam concorrendo com você fizeram comentários debochados sobre sua conquista. Ao mesmo tempo, muitos fãs e artistas que te admiram saíram em sua defesa e enalteceram seu trabalho. Como você lida com esses comentários negativos e como é receber o apoio de outros artistas?
Melly: Eu fui criada muito bem e eu me considero uma mulher muito forte. Eu só escuto o que é construtivo. Se fossem comentários construtivos de pessoas que eu admiro, com certeza aquilo ali iria me machucar profundamente. Mas foram coisas tão, assim… fúteis. E eu acredito bastante no meu trabalho, não deixei isso me abalar.
Esse prêmio só agregou. Eu tenho mais confiança hoje depois dele, eu reconheço que o meu sonho é válido, eu faço algo bom. E é isso, gostei muito que a galera se pronunciou. É massa ver que tem gente pensando igual a mim também e é muito interessante também ver que tem pessoas pensando diferente; a gente precisa do diferente.
TMDQA!: Entre os artistas que apoiaram, Luedji Luna compartilhou um tweet dizendo: “Melly é o presente, e o futuro! A Bahia fora da caixa”. Agora, lançando seu álbum de estreia, participando de diversos festivais ao redor do Brasil, você se enxerga dessa forma, como uma forte representante da música baiana?
Melly: Sim, hoje eu me enxergo. Hoje eu sinto que eu tenho estudado bastante e tenho tentado bastante ser melhor todos os dias. E eu estou tentando levar essa nova linguagem da Bahia pro mundo.
TMDQA!: Melly, para encerrar nosso papo, eu queria saber um pouco mais das suas referências para “Amaríssima”. Então, quais discos ou artistas foram seus melhores amigos ao longo do processo deste disco?
Melly: Deixa eu abrir meu Spotify que eu vou te dizer certinho o que eu tenho ouvido. But You Caint Use My Phone de Erykah Badu, ficou no meu repeat. More Love, Less Ego de Wizkid também, o disco novo de Flora, Um Corpo no Mundo de Luedji [Luna] e Bom Mesmo É Estar Debaixo D’água (Deluxe), esse chega ficou insuportável de tanto que estava no meu repeat. Sinto Muito de Duda Beat eu amo e repito o tempo todo e Changes de Justin Bieber; eu gosto do Justin!