Chappell Roan poderia ser mais um nome nas paradas de sucesso. Mas, aos 26 anos, a cantora e compositora norte-americana é única – para muito além de seus visuais icônicos.
Nascida Kayleigh Rose Amstutz no Missouri, ela passou quase uma década ralando em Los Angeles até conseguir o improvável: ir de uma relativa obscuridade para se tornar uma das estrelas mais empolgantes do pop mundial. E faz isso abraçando sua própria autenticidade, enquanto a garota lésbica da cidade pequena que busca no mundo um lugar para se expressar.
Com uma presença impossível de ignorar, Roan conquistou a internet e recebeu elogios de artistas renomadas como Olivia Rodrigo, Sabrina Carpenter, Azealia Banks, SZA e Lady Gaga – esta última, uma de suas múltiplas inspirações para um visual que desafia padrões; a penúltima, dona de um dos álbuns que Chappell mais ouviu no último ano.
Agora ela chega aos ouvidos de suas divas, já que sua popularidade disparou recentemente, com o número de ouvintes mensais no Spotify aumentando de 2 milhões para mais de 23 milhões após causar em múltiplas aparições na TV e em festivais, sendo a mais recente sua passagem pelo The Tonight Show com Jimmy Fallon.
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Mas Fallon talvez tenha chegado atrasado ao bonde do hype. Desde o ano passado, Chappell Roan tem sido um nome difícil de ignorar, com seu bem recebido primeiro álbum, The Rise and Fall of a Midwest Princess. Em abril de 2024, isso tornou-se praticamente impossível, com o single Good Luck, Babe! estourando mundo afora.
Quem é Chappell Roan?
Apesar de parecer que Roan surgiu do nada, ela está na indústria musical há uma década. Começou postando músicas no YouTube sob o nome de Kayleigh Rose e, aos 17 anos, assinou um contrato com a Atlantic Records, lançando seu primeiro EP, School Nights, em 2017.
Após ser dispensada pela gravadora em 2020, Roan voltou para sua cidade natal no Missouri, onde trabalhou em um drive-thru e economizou dinheiro para retornar a Los Angeles. Lá, ela abraçou a cena queer e começou a trabalhar no álbum lançado em 2023. O disco recebeu ótimas resenhas por sua abordagem ousada e cheia de humor sobre amor, sexo e autodescoberta.
São suas performances ao vivo que têm chamado mais atenção. Conhecida por seus vocais poderosos, estilo extravagante e declarações audaciosas, Roan ganhou destaque em festivais como Coachella e Governors Ball, onde fez discursos sobre direitos trans e Palestina. Sua postura política direta e estilo vibrante dialogam especialmente com os fãs mais jovens, que se sentem frustrados com a falta de posicionamento de outras estrelas pop em questões sociais importantes.
Tudo isso faz de Chappell Roan a nova princesinha – não só do meio-oeste americano, mas da música pop mainstream, que ficou mais colorida e com perucas fabulosas! O TMDQA! teve a oportunidade de falar com Roan sobre o atual momento da carreira e os desafios de chegar até aqui.
TMDQA! Entrevista: Chappell Roan
TMDQA! Oi, Chappell. Como está?
Chappell Roan: Estou bem, e você?
TMDQA!: Estou ótima! É um prazer estar falando com você – em vez de ouvir você cantando “Good Luck, Babe!” sem parar na minha cabeça! É uma descrição bastante precisa dos últimos dois meses! (risos)
Chappell: Ah, obrigada! (risos)
TMDQA!: Então, eu quero falar sobre tudo o que está acontecendo na sua vida! E eu vi essa descrição do seu álbum, de que é um “conto de amadurecimento de autodescoberta”. E eu acho que isso é bem legal, mas bem, crescer também pode ser uma bagunça e tão doloroso. E sua música é uma celebração. Seria pra você uma maneira de encontrar alegria no agridoce?
Chappell: Sim, acho que me ensinou a encontrar paz no caos e na alegria e nas dores de crescimento. É doloroso, mas também é tão cheio de alegria e amor!
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TMDQA!: É, e realmente transparece. Quer dizer, as músicas são tão pessoais, né? E eu fiquei curiosa sobre como você se sente sobre colocar tanto de si mesma para o mundo externo. É libertador ou talvez um pouco assustador às vezes?
Chappell: É as duas coisas. Tipo, no domingo [o Governor’s Ball] foi assustador, foi assustador abrir mão… de tudo, sinceramente. Eu estava tipo: eu só tenho que dizer as coisas que acredito. E eu tenho meio que plantar minha bandeira na areia. E eu pensei, “Ok, essa é quem eu sou, goste ou não. Então ou você embarca nesse trem ou vamos deixá-lo para trás. Mas essa é quem eu sou, e isso é assustador, mas também… Vai se foder, sabe? Não te devo nada. Se você não gosta da minha música, literalmente é só pular ou me bloquear”. [Toma um gole de vinho]
TMDQA!: Tá certo. Acho que é por isso que o que você faz soa tão sincero. E eu li em algum lugar que você queria mostrar como as mulheres podem ser multidimensionais no mundo pop. E acho que já conseguimos ver um monte de lados seus no álbum, mas tenho certeza que você tem algumas surpresas na manga. Então eu acho que a minha pergunta é: o que ainda não vimos? Quais as dimensões ainda não conhecidas de Chappell?
Chappell: Bem, eu quero meio que explorar algo mais dance, bem de pista, menininha dançante. E também quero algo mais faroeste e também rock, mais intenso. Eu meio que venho me dizendo: vamos ver com o que eu posso me safar. Vamos ver o quão longe eu consigo ir, o que dá pra fazer até que alguém diga, “Ok, se você fizer isso de novo, você nunca mais vai ser convidada para estar na TV”. É meio que o que eu gosto de fazer. Vamos ver até onde consigo empurrar os limites.
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TMDQA!: Pois é. E falando desses limites, acho que você provavelmente já tenha notado a essa altura que os críticos de música adoram adjetivos, tipo chamá-la de “ousada” e “corajosa” ou “única”, o que quer que isso signifique. E jornalistas também, vamos admitir. Então, embora todos nós provavelmente tenhamos boas intenções, você se sente especialmente limitada por alguma dessas descrições?
Chappell: Não me sinto limitada por isso. O que me faz sentir assim é quando sou comparada a outras mulheres. Porque são sempre mulheres. Eles não têm uma comparação comigo, nunca me comparam com qualquer homem. Porque eu fico, tipo… somos todos diferentes. E há espaço pra todo mundo. Eu não preciso ser comparada a ninguém. Ou falar coisas do tipo que eu sou “o XYZ gay”, uma versão de XYZ. Não dá. E sinto que as mulheres vêm falando isso há anos, “Olha, eu não gosto disso, isso não é justo com nenhuma das mulheres que você está comparando”. E não acho que as pessoas estão ouvindo ou levando a sério. É só muito preguiçoso e um saco.
TMDQA!: É bem isso. E sabe, pra quem tá vendo de longe, provavelmente parece que Chappell Roan aconteceu da noite para o dia, mas é claro que não foi assim. E nós temos uma expressão aqui no Brasil que é tipo, “quem vê close não vê corre”. Então quando a gente te vê na capa da NME, tocando no Coachella… o que nós não vemos? Como é o corre pra você?
Chappell: Estou cansada! (risos) Eu só quero ir pra casa. Eu amo o silêncio. Talvez nem o silêncio, só deitar na grama descalça. O tanto que eu quero fazer isso é na mesma proporção o tanto que eu não consigo fazer isso. Mas todo mundo está cansado. Todo mundo está cansado no seu trabalho. Todo mundo é parecido nesse sentido. É tipo, eu sinto isso mesmo sendo 1 bilhão por cento mais gratificante do que trabalhar em uma loja de donuts, que é o que eu costumava fazer. Ainda é bater o cartão. E acho que as pessoas não… Tipo, a ralação pra mim envolvia não ter como pagar minhas refeições. Eu vivia de proteína em pó e shakes feitos com água no lugar do jantar, por muito tempo. E acho que foram os anos de não se deixar abater… E se houvesse o menor sinal de que havia uma luz no fim do túnel, eu achava que estava imaginando, sabe? Que não era possível haver nenhum pouquinho de luz. E foi assim todos os dias por mais ou menos 10 anos. Todo dia por uma década. E eu dizendo pra mim mesma: “sim, eu consigo. Sim, vai dar certo, eu vou conseguir”. E ainda me falo isso.
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TMDQA!: Bom, então fico feliz que você não tenha desistido. E agora estamos aqui e estamos falando de Good Luck, Babe!, que você chama de a primeira música do seu próximo capítulo. Então fiquei curiosa para saber como você compararia as duas versões de você, sabe? Aquela que lançou seu primeiro LP completo e agora, se preparando para o segundo. Quão diferentes são essas duas versões da mesma artista?
Chappell: Eu amo quando os artistas gostam de realmente se solidificar entre as eras. Acho que ainda não cheguei lá. Então eu não sei a resposta para isso. Eu só gosto da maneira como estou abordando este álbum – apenas na parte das composições, porque obviamente não está nem perto de ficar pronto. Mas enquanto estamos escrevendo, é a mesma coisa que fiz com o primeiro álbum, que é apenas escrever músicas que amo e fazer o que parece certo. E nisso não é diferente do primeiro.
TMDQA!: Tá aí um bom modelo: se divertir no processo. Agora, sei que você está levando a “capela” para a estrada. Você vai pra Europa esse ano, por exemplo, então eu tenho que perguntar: já apareceu alguma bandeira do Brasil nos comentários do seu Instagram?
Chappell: Ah, você sabe que sim!
TMDQA!: Eu sei! E como você planeja entregar para o povo brasileiro o que eles estão pedindo? (risos)
Chappell: Eu prometo, eu prometo, Brasil, eu vou! Eu estou fazendo tudo que posso para ir aí. Porque todos os artistas com quem já conversei falam “não há ninguém melhor para se apresentar na frente do que o Brasil e a América do Sul em geral”. Não há lugar melhor no mundo. E então eu tenho pensado nisso toda a minha carreira, honestamente. Eu amo comemorar com as pessoas e admiro muito o Brasil porque a cultura é muito rica em autoexpressão e sem vergonha de se expressar. E eu acho que isso está realmente alinhado com ser queer. E independente de as pessoas serem queer ou não, é só… liberdade. E eu sempre amo isso.
TMDQA!: Pois é! É só chegar aqui e nós vamos te encher de amor, porque é isso que o público brasileiro faz. Muito obrigado, Chappell. Espero que você se divirta muito com o que vier por aí e espero que isso a traga para o Brasil.
Chappell: Muito obrigado pelo seu tempo. Até logo.