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TMDQA! Entrevista: a tecnologia paraense da DJ Gabi Matos invade o festival Turá, em São Paulo

Tecnóloga, especialista em BREGA, Gabi Matos é uma artista sonora que representa a conexão entre dois estados: o Pará e Goiás. Conheça na entrevista!

DJ Gabi Matos, atração do Festival Turá 2024
Foto por Cyntia Miranda

Por Salomão Augusto

Tecnóloga, especialista em BREGA, Gabi Matos é uma artista sonora que representa a conexão entre dois estados: o Pará e Goiás.

Nascida paraense, mas com raízes criadas no cerrado goiano, Gabi tem uma bagagem extensa em horas de pista e pesquisa desde 2017, ano que iniciou no ofício de DJ e pesquisadora Musical.

Nesse tempo, Gabi já tocou e é residente de diversos festivais, blocos de carnaval e festas de renome nacional, como Bananada (GO), Vaca Amarela (GO), Prosa Sonora (GO), Festival Obalalá (GO), Festival Criolina (DF), Festival da Primavera (GO), Goiânia Noise (GO), Grito Goiânia (GO), Casa Farm (PA), Festa Je Treme Mon Amour (SP), Xêpa (RJ), Bloco Não é Não (GO) e Bloco do Mancha (GO).

Além de tocar em diversas cidades da região Centro-Oeste, Norte e Sudeste do Brasil, já tocou junto com DJs renomados (Mulú, Waldo Squash, Mirands, Miss Tacacá, Tatá Ogan, Giu Nunez) e bandas como Francisco El Hombre, Marina Sena, Aretuza Lovi, BNegão, Luísa e os Alquimistas, Felipe Cordeiro, Rachel Reis, Rodrigo Alarcon, Juliana Linhares, Totô de Babalong, Kaya Conky.

Há 7 anos Gabi fez essa escala entre Goiás e Pará e agora alça voos para São Paulo, rumo ao Turá.

Festival Turá 2024

O Festival Turá, que neste ano de 2024 apresenta uma das curadorias mais diversas de todas as edições já realizadas no Brasil, traz atrações que vão de Chitãozinho e Xororó até Adriana Calcanhotto em 2 dias de festival em São Paulo.

Com artistas de todo Brasil, Gabi crava sua bandeira como representante do Norte do país, junto com a DJ Carol Tucuju, do Amapá.

Para falar um pouco mais sobre essa conquista, batemos um papo com a artista paraense para contar um pouco sobre como ela está encarando esse novo passo.

Leia a entrevista abaixo!

TMDQA! Entrevista DJ Gabi Matos

TMDQA!: Gabi, você conquistou muitos passos importantes na sua carreira até aqui. Como você vê esse passo atual rumo ao palco do Turá?

Gabi Matos: Acho que as conquistas são os resultados de muito trabalho que tenho feito há anos em Goiânia e em Belém. Me sinto muito feliz em poder representar, como DJ, 2 estados e 2 regiões diferentes do Brasil. Acho que sou merecedora e também privilegiada por fazer parte de um evento tão grande em São Paulo. E ao mesmo tempo sei que isso pra mim vai ser um pontapé importante para conquistar novos lugares, novos espaços e começar uma carreira voltada para esses grandes palcos. Tenho muita ambição e interesse em começar a ocupar estes lugares de shows, festivais, eventos grandes e fazer por merecer.

TMDQA!: Como aconteceu esse convite pra compor o line do festival?

Gabi Matos: A princípio, fui procurada pela Tefa, que faz parte do artístico do Festival Turá. Normalmente as pessoas acabam me conhecendo ou entrando em contato pelo Instagram, Soundcloud ou Email. No caso do festival, fui convidada por terem pesquisado meu trabalho, conheceram um pouco do que faço e produzo e aí veio o contato e convite.

TMDQA!: Como DJ, mulher e produtora de eventos, como você enxerga os espaços atuais ocupados por profissionais mulheres em eventos no Brasil?

Gabi Matos: Acho de extrema importância a presença das mulheres em eventos. Ter mulheres ocupando lines, produções, curadorias e todo o trabalho que envolve eventos é um direito, é uma justiça social, é garantir equidade de gêneros. Representatividade é uma coisa muito básica, mas que parece não entrar na cabeça das pessoas. Se o mundo é feito por pelo menos 50% de mulheres, 50% de um trabalho precisa ser pensado e executado por mulheres. Isso é pensar de forma igualitária, garantir que a diversidade de gêneros, origens, culturas e orientações estejam presentes. Atualmente o mercado de trabalho nessa área melhorou muito, mas ainda tem muito caminho pela frente para garantir essas representatividades.

TMDQA!: Sua pesquisa musical é inteira pautada em sonoridades que trazem o Pará pro front, além do grande repertório voltado para dar luz a trabalhos produzidos por mulheres no Brasil. Conte um pouco sobre esse seu processo criativo único.

Gabi Matos: Acho que meu trabalho reflete quem eu sou, minha história e quem eu quero mostrar para o público. Minha pesquisa musical sempre foi baseada no Pará e nos gêneros musicais da região. Nasci em Belém (PA) e vim criança para Goiânia (GO), mas sempre estive nessa ponte aérea para Belém porque boa parte da minha família mora lá até hoje.

Eu cresci criada por mulheres, cresci e tive um convívio muito forte com minha mãe, minhas tias, minha irmã gêmea. Sempre ouvi muito em casa sobre as questões de ser mulher, sobre termos que trabalhar duro para mostrar que somos capazes. Então eu sempre valorizei muito o trabalho de mulheres, isso sempre me instigou muito.

Musicalmente, muitos sons que eu pesquisava de música brasileira tinham como referência homens. Eu ouvia os mestres da guitarrada do Pará, mestres do carimbó e ao mesmo tempo me questionava onde estão as mestras da nossa música. E nisso comecei a pesquisar a música paraense e a música feminina brasileira. Acho que são duas bases importantes das minhas apresentações. Eu toco música brasileira. E pesquiso sempre música brasileira feminina.

TMDQA!: Ainda estamos longe de equalizar espaços, cachês e outras frentes de trabalho entre os gêneros nos lines dos festivais pelo Brasil. Qual a sua visão pra que isso se equilibre, além do trabalho que você tem feito na Selvática?

Gabi Matos: Acho que as coisas mudam socialmente quando existem muitas fontes querendo e exigindo essas mudanças. Pensando no universo dos eventos no Brasil, hoje em dia existe uma parcela de público mais preocupada com o que consome, então esse público exige que exista mais diversidade nos lines, produções e tudo que envolve os trabalhos do meio.

Além disso, existe também uma quantidade maior de artistas e trabalhadoras exigindo esses espaços e ganhando visibilidade. Até a igualdade ser atingida, a gente (como público também) faz trabalho de formiguinha. Por exemplo, se eu tenho dinheiro pra sair pra algum evento no meu dia de folga, eu vou gastar meu dinheiro no lugar que eu vejo que tem essa preocupação de diversidade no line. Se você tem a oportunidade de contratar alguém para trabalhar no meio, é importante dar espaço e pensar na equidade de representatividades.

A Selvática é um trabalho de valorização da mulher DJ em Goiânia, trabalho de coletivo, pesquisa, união feminina. A Selvática ao longo desses anos não mudou a cena goiana, mas com certeza abriu os olhos para o trabalho feminino nas discotecagens. Então esse também é um trabalho de formiguinha, é fazer a nossa micro parte para que uma micro coisa no mundo mude.

TMDQA!: Qual o recado que a Gabi de 2024 daria para a Gabi de 2017, pensando na Gabi de 2034?

Gabi Matos: Égua! Tanta coisa pra dizer! Para a Gabi de 2017 eu diria para ela se acalmar porque vai dar certo! Continuar sempre fazendo, tentando, não desistir porque a gente vai chegar mais longe do que imaginamos! Não é fácil ser artista no Brasil, não é fácil trabalhar com música brasileira, não é fácil querer trabalhar com circuitos alternativos, mas é recompensador! Tem que ter muita criatividade pra viver de arte, então é preciso também de tempo para cultivar essa criatividade. Pensar mais no meu descanso, valorizar mais as minhas pausas e experiências pessoais para viver mais plenamente e me ver cada vez mais como uma artista.