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Polysom completa 15 anos de reabertura com expansão e inovações no mercado de vinil

Com nova prensa Hamilton, associação à VRMA e planos de abrir lojas físicas, a Polysom celebra seu papel vital no renascimento do vinil no Brasil.

João Augusto - Deck/Polysom
Crédito: Divulgação

Em maio de 2024, a Polysom comemorou um marco significativo: 15 anos desde sua reabertura. Durante parte desse período, consolidou sua posição como a única fábrica de vinil em operação na América Latina, fabricando 1.268 títulos e totalizando 1.326.123 unidades. 

A série “Clássicos em Vinil” e outros licenciamentos representaram 137 e 92 títulos, respectivamente, resultando em 433.518 unidades. Mantendo seu compromisso inicial, a Polysom continua a apoiar a produção independente, enquanto pela sua fábrica continuam a passar importantes títulos da música brasileira por intermédio de grandes gravadoras.

Recentemente, a Polysom deu um passo importante ao se associar à Vinyl Records Manufacturers Association (VRMA), organização que reúne mais de 50 membros globais. A VRMA aborda questões cruciais sobre o formato, produção e sustentabilidade do vinil. Além disso, a associação com a FutureSource Consulting visa gerar uma pesquisa mundial abrangente sobre o mercado de vinil, trazendo dados reais e relevantes –  o que nem sempre se encontra no setor dos bolachões.

Recentemente, a Polysom instalou uma prensa Hamilton, recuperada do zero, demonstrando seu compromisso com a qualidade e inovação. E, neste mês, a empresa participou do Making Vinyl em Nashville, um evento para fabricantes, fornecedores, gravadoras e consumidores do mundo do vinil. 

A expansão do vinil e a Polysom

No Brasil, a crescente demanda pelos discos impulsiona a abertura de novas lojas independentes. A Polysom, observando o sucesso internacional desse movimento, está considerando abrir lojas físicas no Rio de Janeiro, com planos de expansão para São Paulo. Esta iniciativa visa a suprir a carência de pontos de venda especializados no país, embora as vendas online continuem a crescer.

Dados da IFPI mostram que o mercado fonográfico global aumenta há sete anos consecutivos, com um crescimento de 10,2% em 2023, atingindo US$28,6 bilhões. A venda física de CDs e discos de vinil escalou 13,4%, representando 17,8% do mercado global de música. Especificamente, o vinil registrou crescimento contínuo por 16 anos, sendo responsável por 69% das vendas físicas.

Nos Estados Unidos, o vinil superou os CDs pelo segundo ano consecutivo, com 43 milhões de unidades vendidas e gerando receitas de US$1,4 bilhão. Na Inglaterra, novas lojas independentes surgem para preencher o espaço deixado por grandes cadeias, destacando o renascimento do vinil e sua receita crescente, que atingiu 170 milhões de libras em 2023.

Aproveitamos esse momento de otimismo no mercado para conversar com João Augusto, consultor da Polysom. Nesse papo, exploramos o papel vital da empresa no mercado global de vinil, suas conquistas e os desafios futuros.

Galvanoplastia de vinil - Polysom
Crédito: Daryan Dornelles

TMDQA! Entrevista: João Augusto (Polysom)

TMDQA!: João, obrigada pelo seu tempo! Em junho, vocês estiveram em Nashville em mais uma convenção do setor. Como vocês avaliam a presença do Brasil no mercado global quando o assunto é vinil?

João Augusto: O encontro em Nashville foi extremamente produtivo, já que contou com a presença de representantes da grande maioria das fábricas de vinil do mundo e muitas experiências foram trocadas. As fábricas do Brasil e da América do Sul, com destaque para a Polysom que é a maior e mais antiga, têm características muito próprias, como o fato de serem todas 100% manuais, enquanto as outras são completamente automatizadas. Para que se tenha uma ideia, quando a Polysom foi reativada há exatos 15 anos, havia apenas 12 fábricas no mundo que faziam o processo completo como ela. Hoje são provavelmente mais de 100 entre as 175 (88 na Europa, 22 na Ásia e 65 na América do Norte e Latina) levantadas pela FutureSource. A diferença em números de produção é acachapante, mas ainda assim a Polysom, que se tornou membro da VRMA – Vinyl Records Manufacturers Association, exerce importante papel por estar tão distante das grandes fábricas dos outros continentes. Ou seja, excesso de oferta de produção, queda na demanda, nada disso atinge a Polysom exatamente por estar distante dos outros mercados.

TMDQA!: Por algum tempo, a Polysom era a única fábrica de vinil em toda a América Latina, mesmo quando o mundo todo já voltava a comprar os bolachões. Como vocês veem o mercado local de 15 anos atrás e como veem o de hoje?

João Augusto: A comparação do número de fábricas que existiam em 2009 e as que existem atualmente demonstra o quanto o mercado mudou. Naquela época, chamavam a gente de maluco. Hoje, quando tentam nos chamar de espertos, digo logo que não, de jeito nenhum: nós somos malucos mesmo. Agora a coisa toda se repete com a duplicação das fitas cassetes, serviço que a Polysom passou a oferecer há dois anos, também seguindo uma tendência mundial. Para muita gente, trata-se de outro projeto doido, mas já há movimentos claros no mundo. Nós só estamos nos antecipando. No final das contas, o papel da Polysom foi e continua sendo manter o Brasil e sua rica música no jogo. Com o apoio das grandes gravadoras, relançamos em vinil mais de 140 títulos clássicos brasileiros. Há uma geração mais nova que merecia conhecer essa música, por sua riqueza e importância. E continua assim. Quando começamos, João Araújo, criador da RGE e da Som Livre, ícone da indústria musical brasileira e nosso grande incentivador, usou palavras simples para determinar o nosso caminho: não importa quantas fábricas apareçam, vocês têm que fazer o melhor vinil. Assim seguimos. O mercado cresceu e a produção da Polysom aumentou. Estamos quites.

TMDQA!: A Polysom se orgulha em trabalhar com artistas independentes. Para grande parte desses músicos, cantores e bandas, o vinil continua a ser um alvo muito desejado, um símbolo de concretização do seu lugar na música. Hoje, está mais acessível para artistas independentes chegarem a esse patamar? Que dicas dão para quem almeja chegar à sua primeira prensagem de vinil?

João Augusto: A Polysom foi reativada com o objetivo maior de atender os independentes. E incluo aí a Deck, que ficou sem uma fábrica no Brasil e tinha no elenco artistas que brilhavam com o vinil. Não sabíamos no que ia dar e nem mesmo se iria funcionar. Passamos dois anos penando para encontrar a melhor forma de fabricar, viajamos o mundo inteiro à procura de orientação, tivemos que adaptar a opção tributária para que os impostos baixassem e os preços se tornassem acessíveis. Dessa forma, atingimos o equilíbrio tão desejado. Arrisco dizer que, hoje, 90% da fabricação da Polysom, excluindo os licenciamentos, são de artistas e selos independentes. Isso dá muito orgulho. Era isso que a gente queria desde o início.

Corte de acetato - vinil - Polysom
Crédito: Daryan Dornelles

TMDQA!: A empresa está considerando investir em lojas físicas, identificando um nicho de mercado no Brasil. Na gringa, esse movimento já acontece – mais lojas abrem do que fecham. Por que vocês pensam que essa aposta é uma boa para o atual momento do vinil no país?

João Augusto: A abertura de lojas físicas passou a ser estudada pela Polysom quando uma matéria publicada no The Guardian mostrava que as lojas de rua estavam vivendo um novo boom na Inglaterra, notadamente em Londres. Aproveitei uma viagem e fiz um levantamento dessas lojas, muitas delas reabrindo após a pandemia, com clientes fuçando e comprando. Ficamos empolgados com aquilo tudo e decididos: ainda que não entremos nesse negócio, vamos apoiar muito quem quiser seguir com isso.

TMDQA!: A Polysom já detectou um crescimento dos interessados em vender vinil, mas afirma que não há estatísticas disponíveis sobre. De que forma vocês avaliam o impacto da ausência de dados significativos nas tomadas de decisão dos empreendedores do setor?

João Augusto: Isso é muito ruim para o negócio. Como você vai planejar investimentos se não sabe o tamanho do mercado, o crescimento ano a ano, a abertura de lojas, questões de preços e costumes? A VRMA deu um passo grande ao se associar com a FutureSource em busca de números consistentes com os fatos. Espera-se a publicação de uma primeira pesquisa em agosto ou setembro. Há ainda a Luminate (antiga SoundScan), o Vinyl Institute, o Discogs (que começou como a iniciativa de um fã e hoje se tornou referência de informações). Ou seja, estão buscando os números reais. Lamentavelmente, o Brasil ainda ficará longe disso: como exemplo, veja como os prêmios locais cometem injustiças com grandes criadores ao privilegiar a visão de alguns poucos votantes. É um exemplo representativo do quanto estamos dando voo cego.

TMDQA!: O vinil segue crescendo, ano após ano, em vendas e relevância no mercado. Porém, os preços ainda são pouco convidativos para o brasileiro médio, tanto na aquisição das vitrolas quanto das próprias bolachas. Qual seria um caminho possível para democratizar o acesso?

João Augusto: Nós vendemos vinil a um preço muito mais alto do que gostaríamos. Mas os insumos, as leis locais, tudo nos impede de baixar os preços. O fenômeno hoje é mundial, o custo está alto em todos os lugares. Discos que comprava lá fora por 12,00 a 15,00 dólares há algum tempo não custam menos do que 25,00 a 30,00 hoje. Mas o problema aqui é maior. É uma pena, porque atrapalha bastante esse nosso sonho de ver todo mundo ouvindo discos de vinil. Ainda assim, vamos seguindo, melhorando sempre e nunca deixando de buscar soluções para popularizar o vinil.