AWOLNATION fala ao TMDQA! sobre próximo álbum, "The Phantom Five", e revela por que não vem ao Brasil há 10 anos

Aaron Bruno, vocalista do AWOLNATION, celebra Sepultura e os fãs brasileiros em um papo sincero sobre o quinto - e possivelmente último - álbum da banda.

AWOLNATION - Aaron Bruno
Crédito: Xan Doane

Parece que foi ontem, mas o AWOLNATION fez seu nome em 2011, com o sucesso “Sail”, alcançando rapidamente reconhecimento global. O single, que acumula impressionantes 800 milhões de reproduções apenas no Spotify, consolidou a banda como um dos nomes mais proeminentes do dance-rock.

Além de “Sail”, o AWOLNATION também é lembrado até hoje por “I’m On Fire”, faixa presente na trilha sonora do filme 50 Tons de Cinza. Tudo isso colaborou para que em 2014 a banda se apresentasse no Brasil, marcando presença em um dos mercados musicais mais importantes da América Latina.

Mas, embora a presença da banda tenha continuado ao longo dos anos, povoando séries, filmes, comerciais e jogos – de Just Dance ao FIFA -, o AWOLNATION fez jus ao nome e… sumiu da nação. Da brasileira, pelo menos. A banda não vem ao país há 10 anos e esse foi um dos assuntos do papo que o TMDQA! teve com o vocalista Aaron Bruno

Ele vive um período feliz. Bruno passou os anos da pandemia compondo para seus dois projetos – além do AWOLNATION, ele mantém The Barbarians of California, com quem também lança um novo álbum nos próximos meses. O momento foi de transformação, já que agora o vocalista é também pai e consegue olhar para a vida com outra perspectiva.

Talvez venha daí títulos como “Panoramic View”, um dos singles já revelados de The Phantom Five, quinto e potencialmente último álbum do AWOLNATION. A faixa é uma balada introspectiva que destaca a faceta mais pessoal de Aaron Bruno. A canção foi escrita durante o isolamento social e é descrita como uma carta do vocalista aos seus futuros filhos – que ele não tinha à época. Ao som de piano, a letra aborda o realismo de viver em um mundo assustador, mas transmite uma mensagem de esperança, garantindo que tudo ficará bem no final. 

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Além desta, a alegre “Jump Sit Stand March”, com nuances de rock alternativo, uniu a banda a Emily Armstrong (Dead Sara). Suas trajetórias se reencontraram após convivência em bastidores de shows, como a Warped Tour. O single anunciou o próximo álbum para 30 de agosto.

Esse capítulo soma a uma discografia composta por outros quatro discos de estúdio e vários EPs, incluindo o recente Candy Pop (2023). O último álbum da banda, My Echo, My Shadow, My Covers, and Me, é um projeto de covers que inclui participações especiais de artistas renomados como Beck, Brandon Boyd (Incubus) e Portugal. The Man

Para combinar com esse momento celebratório, o AWOLNATION anunciou uma turnê pelos Estados Unidos ao lado de 311 e Neon Trees. Será sinal de uma possível nova vinda ao Brasil nesta década? A depender de Aaron Bruno, sim – mas ele joga a bola para os fãs brasileiros fazerem acontecer. Confira abaixo o papo do TMDQA! com o músico!

TMDQA! Entrevista: AWOLNATION

TMDQA!: Oi Aaron! Como você está?

Aaron Bruno: Estou ótimo, e você?

TMDQA!: Estou ótima também. Muito obrigado pelo seu tempo. Quero falar sobre essas novas músicas e o que vocês têm por vir. Então, em primeiro lugar, “Jump Sit Stand March” reúne AWOLNATION com Emily Armstrong, que você conhece de tempos atrás, e “Panoramic View” é como uma conversa com seu eu mais jovem. Então, de certa forma, essas novas músicas têm sido uma oportunidade de olhar para trás. Minha primeira pergunta é: você revisita o passado, ou mesmo momentos diferentes da sua carreira? E se sim, como você se sente como as versões anteriores de si mesmo? 

Aaron: Acho que tive tempo suficiente para refletir sobre minha jornada pela vida quando estava escrevendo essas músicas para o The Phantom Five. E a coisa da Emily Armstrong não era necessariamente sobre o passado, mas sobre o futuro, porque eu sempre quis que ela estivesse em uma música e então “Jump Sit Stand March” realmente parecia nos dar essa oportunidade para ela preencher o espaço em branco do segundo verso e cantar comigo no refrão. 

Então eu fiquei em êxtase por ela concordar em fazer parte disso, porque ela soa tão incrível na música. E então, com Panoramic View, enquanto eu estava, sim, considerando escrever para meu eu mais jovem, não era sobre o passado. Era sobre uma versão mais medrosa de mim mesmo, como a criança em mim. 

E eu estava tentando começar uma família na época com minha esposa, e então como eu ainda não tinha um filho ou uma filha – mas estava sentindo essa nostalgia familiar e amor, esperança e tristeza, porque estava demorando um pouco para criar essa família -, eu meio que imaginei meu filho ainda não nascido, o que me lembrou de mim quando criança. 

E eu queria apenas dizer a mim mesmo ou a essa criança hipotética que vai ficar tudo bem. Porque, naquela época [na pandemia], tudo o que nos diziam a cada minuto era que íamos todos morrer. E então foi importante para mim me manter positivo porque eu não achava que todos nós íamos morrer. 

E é importante desligar o medo às vezes. E então eu meio que coloquei em uma música, e foi muito terapêutico para mim. Então, quando eu tocava, me soava importante e me fazia sentir bem. E é também por isso que a escolhemos como nosso primeiro single, porque parece ser uma mensagem que as pessoas estão gostando agora, especialmente porque o mundo voltou a se sentir confortável indo a shows e vendo seus entes queridos e todas essas coisas. Lembra que eles não nos deixaram ver, não nos permitiram ir a funerais?

TMDQA!: Sim…

Aaron: Pelo menos aqui nos Estados Unidos. Não sei como foi para vocês aí, mas foi muito difícil. Então, estou muito feliz por estar distante disso e as pessoas parecem estar abertas a novas músicas. Porque quando o mundo fica realmente assustador, tendemos a gostar mais de música nostálgica, porque ela nos leva a um tempo mais inocente. 

E acho que durante todos os lockdowns, curtimos o rock clássico. Sabe, músicas dos anos 90, músicas da nossa infância antes de a gente enfrentar esse tipo de adversidade. Mas dito isso, muitas pessoas saíram e estão prontas para seguir em frente e ouvir novas músicas. 

Então é um ótimo momento para novas músicas. E eu também – não apenas para o The Phantom Five e AWOLNATION e tudo isso – mas estou animado para ouvir o que outros artistas fazem agora que se sentem livres novamente para fazê-lo. 

TMDQA!: Pois é, graças a Deus. Já era hora. Então, falando de música nova, você parece ter feito alguns amigos aqui e ali ao longo do caminho. E tem alguém que você está morrendo de vontade de chamar para uma música do AWOLNATION? Tipo, qual é o feat dos seus sonhos a essa altura, depois da Emily?

Aaron: Bom, teremos Del the Funky Homosapien no disco também. Esse é um sonho que se tornou realidade. Ele é um dos maiores rappers de todos os tempos. E tudo o que ele fez em seus próprios álbuns, e depois os álbuns do Deltron 3030, e depois seu envolvimento no primeiro disco do Gorillaz… E a lista continua. Então, quer dizer, eu tenho um rapper do Hall da Fama no disco. E essa vai ser a próxima música lançada daqui a um ou dois meses, talvez. E essa já foi ótima. Também tive Rivers Cuomo, do Weezer, no último disco. E esse foi um outro sonho realizado. Então quer dizer, me sinto bem… sinto que meu copo está bem cheio agora, no que diz respeito a colaborações. 

Mas, sabe, feat é uma coisa engraçada. Quer dizer, quantas vezes ouvimos uma colaboração e achamos que vai ser incrível, e então você fica meio decepcionado, certo? Então só espero que esses feats [do novo disco] sejam satisfatórios para o ouvinte. E partimos daí.

TMDQA!: Tá certo. Agora, falando dessa longa jornada de vocês… o AWOLNATION vai da trilha sonora de “Cinquenta Tons de Cinza” para o jogo Just Dance, que eu amo! 

Aaron: (risos) Pois é!

TMDQA!: É, e aí tem Vikings, tem FIFA… Quer dizer, a lista de Sail sozinha já é extensa. Então eu queria perguntar sobre o licenciamento de música, porque pode ser um verdadeiro divisor de águas para qualquer banda. Isso mudou a realidade de vocês?

Aaron: Sabe, eu cresci nos anos 90, nos anos 80, mas especialmente nos anos 90, no início dos anos 2000, em que, nos negócios da música, isso era meio mal visto. Você se tornava um vendido. “Ah o Nirvana nunca teria licenciado suas músicas”, por exemplo, ou The Clash ou bandas de punk rock ou bandas com reputação. Mas então o que aconteceu é que ficou cada vez mais difícil alcançar as pessoas porque houve… quando o streaming se tornou disponível, ficou mais difícil se concentrar em chegar ao ouvinte. 

E então acho que quando isso aconteceu, não sei que ano foi exatamente, mas tornou-se muito mais apropriado dizer sim a qualquer coisa. Para que as pessoas possam ouvir a sua música. E então, se for preciso um comercial para Vikings, como você disse, a série, ou tiver um momento viral no TikTok, ou for para a NFL ou FIFA ou o que quer que seja, é absolutamente uma bênção fazer com que as pessoas ouçam a música, não importa a forma que aconteça. 

Quer dizer, houve algumas ofertas comerciais que recebi que tive que dizer não, por motivos pessoais. E abri mão de um dinheiro considerável nessas coisas. Há um tempo e um lugar para dizer não, mas principalmente eu diria que qualquer oportunidade de fazer com que as pessoas ouçam sua música tem que ser uma coisa boa. 

TMDQA!: Com certeza. Agora, eu quero falar de duração. Porque temos visto uma onda de edições de luxo e álbuns duplos surgindo em todos os lugares. E isso é ótimo, mas o The Phantom Five está previsto para ter 33 minutos. Portanto, isso também significa que este será o álbum mais curto do AWOLNATION até o momento. Fiquei curiosa se foi uma espécie de exercício de concisão e, em última análise: tamanho importa?

Aaron: (risos) Tá meio cedo no dia pra esse tipo de pergunta! Mas, sim… não… não sei. Quer dizer, acho que a qualidade importa mais do que qualquer coisa. E eu meio que entrei na produção do disco pensando: eu só quero que esta seja a melhor coleção de músicas. Não precisa necessariamente seguir os outros discos. Eu tinha sempre alguma música muito longa, geralmente perto do final do disco ou literalmente no final. No meu primeiro álbum, eu tinha uma música de 12 minutos ou pelo menos passando dos cinco minutos, na maioria dos outros álbuns também. 

Mas eu me sentiria um pouco repetitivo se eu fizesse isso de novo neste álbum. Então eu só queria que parecesse uma coletânea de sucessos, que faz você querer apertar o play novamente do início ao fim. E definitivamente há uma música final nesse que tem esse clima, mas não é muito longa. E algumas das minhas músicas favoritas de todos os tempos não são muito longas. E nem todo mundo tem mais de cinco minutos para ouvir uma música e se concentrar nela de qualquer maneira. Então, para responder a sua pergunta, tamanho importa e não importa ao mesmo tempo. 

TMDQA!: É, e eu não poderia concordar mais! Então, eu li em algum lugar que você escolheu o nome AWOLNATION porque queria que soasse ambicioso e grandioso e que o céu seria o limite. E desde então você tem alguns sucessos pra contar. Então queria saber: quais são as suas ambições hoje? O que te mantém motivado? O que falta conquistar?

Aaron: Bem, esta é uma boa pergunta. Eu tenho uma família agora, então eu gostaria de deixar os meus meninos orgulhosos. E mostrar-lhes que o trabalho duro importa e compensa, e a honestidade. E eu tento colocar muita honestidade nessas músicas sempre que posso. Mas também devo mencionar que comecei outro projeto pesado, chamado The Barbarians of California. E é bem apropriado que eu mencione o Sepultura como uma das maiores influências deste projeto. Sabe, minha banda brasileira favorita de todos os tempos. E é algo entre Sepultura, Pantera, The Dead Kennedys, Minor Threat… não que sejamos tão bons quanto qualquer uma dessas bandas, mas é definitivamente uma banda de hardcore, metal e punk que remonta às minhas raízes. 

Então eu pude criar esse projeto ao mesmo tempo em que fiz o The Phantom Five, porque o mundo inteiro estava fechado de qualquer maneira, então eu tive tempo de sobra para criar esses dois projetos. Então para responder à sua pergunta sobre ambições ou o que estou tentando realizar agora, não sei necessariamente o que estou tentando realizar, mas é realmente terapêutico e divertido lançar dois álbuns completamente diferentes ao mesmo tempo, quase simultaneamente. E acaba sendo acidentalmente um álbum duplo. 

TMDQA!: O que nos traz de volta à questão da duração, certo? Então, para finalizar, eu sei que tenho que te liberar, Aaron, mas eu estava apenas lembrando aqui que, sabe, 2024 marca o aniversário de 10 anos de sua última vinda ao Brasil. Então acho que minha pergunta é: por que você odeia o Brasil, Aaron?

Aaron: Nem brinca com isso! (risos) Eu amo o Brasil. Eu amo o Brasil mais do que a mim, tá? Nós apenas… há questões técnicas, sabe? Esta é uma resposta pouco sexy, mas muitas vezes os negócios atrapalham e você está lidando com selos diferentes e situações diferentes e tudo isso e aquilo. 

E agora estou finalmente independente e fazendo tudo isso por conta própria, o que é incrivelmente útil e me dá mais liberdade para fazer o que eu quero fazer. Uma das principais coisas da minha lista é ir ao Brasil lindo e maravilhoso e ter um reencontro com os fãs. Então, espero que possamos fazer isso acontecer no ano que vem. 

TMDQA!: Tá, então o que você está me dizendo é que, se você não vier, você é a única pessoa que devemos culpar. É isso?

Aaron: (risos) Não, o que eu estou te dizendo é que se a gente não for, vocês podem se culpar porque são vocês que deveriam ir a todos os promotores e dizer e dizer para eles nos ligarem e nos colocarem em todos os festivais incríveis e todas essas coisas (risos).

TMDQA!: Ok, justo.

Aaron: Mas sim, nós amamos o Brasil, é claro e sabe, eu não conheço ninguém que não ame o Brasil. Ou seja, seria uma honra voltar. 

TMDQA!: Tá certo, e adoraríamos recebê-los. Então espero que se divirtam muito com esse disco e que venham ao Brasil com ele. Obrigada pelo seu tempo, Aaron.

Aaron: Espero que nos vejamos em breve. Obrigado!