É inegável que nós estamos na era do isolamento e da ansiedade, e por isso tem crescido o interesse em músicas e estímulos sonoros que possam reduzir o estresse. Mas o Pearl Jam já havia pensado nisso lá em 1999.
O sexto álbum da banda de Eddie Vedder traz no título uma técnica de gravação que está sendo explorada em 2024 por gigantes do mercado – incluindo a Universal Music, como te contamos nesta matéria.
É claro que estamos falando de Binaural, disco lançado exatamente na virada de século, em janeiro de 2000, e que tem os clássicos “Nothing as It Seems”, “Light Years” e “Insignificance”.
Neste editorial, vamos explicar o que é a gravação binaural e como o Pearl Jam teve um papel pioneiro ao popularizar uma técnica musical que pode promover o relaxamento, concentração e melhor qualidade de sono.
O que é uma gravação binaural?
A tecnologia que deu início aos estudos binaurais surgiu ainda no século 19, quando o engenheiro francês Clément Ader criou um equipamento chamado teatrofone, literalmente um telefone que transmitia óperas e peças teatrais.
A partir dali, músicos e cientistas se uniram para criar batidas que, quando reproduzidas em certas frequências e com um padrão repetitivo, se sincronizam às ondas cerebrais para induzir os estados mentais desejados.
Basicamente, uma gravação binaural utiliza dois microfones para criar uma sensação de som em 3D, como se o ouvinte estivesse rodeado pelos instrumentos. Por isso mesmo, essas músicas devem ser reproduzidas em fones de ouvido, e não em aparelhos estéreo.
A tecnologia foi usada por algumas gravadoras nos anos 1970, incluindo em um álbum de Lou Reed chamado Street Hassle (1978), mas depois caiu em desuso por causa do alto custo de gravação e de fones de ouvido de qualidade.
Hoje, com a crise global de saúde mental e um acesso mais fácil aos equipamentos, as gravações binaurais foram resgatadas especialmente por músicos de Lo-fi – e por um álbum do Pearl Jam!
Continua após o vídeo
Momento de mudança para o Pearl Jam
Em 1999, o Pearl Jam encerrava a longa turnê do álbum Yield (1998) e enfrentava algumas dificuldades, como a saída do baterista Jack Irons, a internação do guitarrista Mike McCready na reabilitação e Eddie Vedder vivendo um bloqueio criativo.
Foi ali que Matt Cameron entrou na banda, e diante de tantas mudanças o grupo também decidiu trabalhar com outro produtor, encerrando uma longa parceria com Brendan O’Brien que vinha desde o álbum de estreia.
Buscando um som mais experimental, o PJ convidou Tchad Blake, produtor de nomes como U2 e Peter Gabriel, e que tinha acabado de vencer um Grammy ao lado de Sheryl Crow. Além disso, ele era conhecido justamente por usar a gravação binaural.
A técnica funcionou para a maioria das músicas do disco, incluindo “Of the Girl” e “Grievance”, que afastaram a banda do Grunge e usaram influências acústicas do Folk e do Post Punk.
No entanto, como estamos falando de Pearl Jam, o álbum também precisava de faixas pesadas como “Breakerfall” e “Gods’ Dice”, e para elas a banda voltou a pedir o auxílio de Brendan O’Brien, que as remixou.
Binaural estreou em segundo lugar na Billboard e atingiu a certificação de ouro no mesmo ano de lançamento, vendendo mais de 500 mil cópias. Até hoje, “Nothing as It Seems” está entre as mais reproduzidas do grupo nos streamings.
Continua após o vídeo
Ouça Binaural, do Pearl Jam
Em suma, o que a Universal Music está buscando atualmente é a licença para adicionar batidas binaurais a músicas já existentes, permitindo que os fãs escutem suas bandas e músicas favoritas com uma faixa relaxante sincronizada.
Mas enquanto isso não se torna realidade, você pode escutar o álbum do Pearl Jam que já foi gravado usando essa técnica! Ouça abaixo Binaural, que está prestes a completar 25 anos de lançamento.
LEIA TAMBÉM: Os 8 discos que mudaram a vida de Jeff Ament, baixista do Pearl Jam