O MIMO Festival retorna a Amarante, em Portugal, levando na bagagem as suas duas décadas de história. De 19 a 21 de julho, o evento promove uma experiência artística diversificada e inclusiva. A edição acontece novamente sob a batuta e curadoria de Lu Araújo, idealizadora do festival.
Com mais de 2 milhões de espectadores em 60 edições realizadas em cidades históricas do Brasil e da Europa, o MIMO é reconhecido por seu alto padrão artístico e pela ampla variedade de atrações gratuitas. Em 2024, não poderia ser diferente.
A programação deste ano destaca a acessibilidade e a diversidade cultural, com uma seleção de artistas renomados e novos talentos, mesclando música brasileira e portuguesa, além de outras atrações da lusofonia. Entre os destaques estão Jaques Morelenbaum & Fred Martins feat Joana Amendoeira, A Cor do Som feat Carminho, Fatoumata Diawara, Rita Benneditto, Arnaldo Antunes e Vítor Araujo, Femi Kuti & Positive Force, além de Marcelo D2 (abrindo a turnê internacional de seu disco solo, Iboru), DJ Tahira, Kebra Ethiopia Sound System e Bassekou Kouyate & Band. A edição também conta com a Nova Orquestra e a celebração dos 50 anos do Ilê Ayê, encerrando o evento com Dino D’Santiago.
O MIMO Festival não se limita aos palcos, ocupando toda a cidade com uma programação rica que inclui concertos, palestras, workshops, exposições, cinema e atividades de bem-estar. Para um evento que acontece em 360º no formato de uma caravana itinerante, os desafios são muito únicos. Porém, os deleites também.
A curadora Lu Araújo celebra o retorno a Amarante nesse papo exclusivo com o Tenho Mais Discos Que Amigos! sobre um dos festivais mais vibrantes da cena nacional – e também internacional.
TMDQA! Entrevista: Lu Araújo (MIMO Festival)
TMDQA!: Vocês estão de volta a Portugal. Fale um pouco pra gente sobre a decisão de expandir a marca para o exterior e por que motivos Amarante foi o destino?
Lu Araújo: Quando eu pensei em internacionalizar o festival, eu já tinha certo que Portugal era uma possibilidade. Eu me sentia familiar a essa história, a essa cultura. Isso lá atrás, porque a primeira edição do MIMO em Portugal nasceu em 2016, mas eu comecei a pensar nessa internacionalização em 2013, quando o MIMO fez 10 anos no Brasil. Eu tenho muito orgulho de ter acreditado e ter trabalhado neste sentido. De ter acreditado que Portugal iria receber bem o conceito do MIMO, além de ter tido coragem de partir para essa abordagem sem nenhum tipo de apoio brasileiro. Deixei isso claro para todos os parceiros locais.
O MIMO começou no Brasil dentro desse universo das cidades que preservam valores da colonização portuguesa no Brasil. Depois foi percorrendo outras cidades históricas brasileiras, como Ouro Preto por exemplo, que assim como Olinda, também é tombada como Patrimônio da Humanidade. Ocupou cidades como Paraty, Tiradentes, São Paulo, Rio de Janeiro, que possuem conjuntos históricos muito importantes para o Brasil, todos vinculados à colonização portuguesa. Ao internacionalizar o MIMO para Portugal, fiquei muito feliz de reencontrar essa história, parte da cultura de nosso país. O MIMO é isso: esse conjunto artístico, de atividades artísticas atuais, realizados e espaços do passado, da tradição. Esse encontro é o que acontece de mais bonito durante o festival!
TMDQA!: Desde 2016, o MIMO ficou bandeira em Portugal. Como você avalia as experiências que tiveram ao longo dos anos, da primeira edição até agora? Quais foram os avanços?
Lu Araújo: Trabalhar com uma cultura diferente do Brasil relativamente ao modo de fazer, produzir. Trabalhar na região Norte de Portugal, uma região de incrível tradição para o país, mas com os desafios de não estar no grande eixo dos fornecedores e da mão de obra especializada. Selecionar curatorialmente artistas que sejam expressivos para o país e ao mesmo tempo apresentar novidades. Esses foram os desafios dessa implementação do MIMO em Portugal. Sem sombra de dúvidas, nos trouxeram enormes ganhos e aprendizados. Sinto que com isso, hoje já podemos realizar o MIMO em diversos locais do mundo. Extrapolamos o modo de fazer brasileiro e hoje temos um modo de fazer universal e isso é um grande avanço. No que diz respeito aos resultados, sejam de público ou estruturais, crescemos a cada ano e isso é perceptível.
TMDQA!: O MIMO preza pela diversidade no line-up. Como foi feita a escolha para as atrações dessa edição? Quais eram as prioridades da curadoria?
Lu Araújo: A principal prioridade do festival é criar a cada ano uma programação que seja honesta e representativa do conceito que o festival adotou desde a sua criação há 20 anos: escolher trabalhos de qualidade artística e que apresentem inovação sonora. Por ser um festival musical multigênero, outro aspecto que sempre exige um certo cuidado e delicadeza é combinar sons de diversas origens, estilos e gêneros de modo a tornar essas escolhas instigantes para o público. O MIMO não é só um festival de rock, de reggae, de música clássica ou instrumental. No MIMO o público pode encontrar todos os gêneros musicais reunidos.
No que diz respeito a programação, eu poderia citar alguns nomes, principalmente os vinculados à África e a língua lusófona. O MIMO tem uma relação muito forte com a música africana. Desde sempre, desde o surgimento!
Esse ano temos uma mulher maravilhosa, uma artista incrível, a primeira mulher a tocar guitarra no Mali que é a Fatoumata Diawara, que está vivendo um grande momento na carreira dela. Temos na programação o Femi Kuti, The Positive Force da Nigéria, o Dino D’Santiago, português com essa relação também com a África e suas referências de Cabo Verde. Tem o General Levy da Inglaterra e que tem uma relação com a Jamaica. Tem o Marcelo D2, que é um dos maiores rappers brasileiros, que vem propondo uma parceria diferente do samba com o Hip Hop. A Cor do Som, que está convidando a portuguesa Carminho, o Newen Afrobeat do Chile com participação do Deli Sosimi, que é da Nigéria! A comemoração dos 50 anos do Ilê Aiyê, bloco afro mais antigo do Brasil.
O MIMO é um festival que o público precisa ter fôlego: são inúmeras atividades acontecendo, muitas delas em simultâneo. E a maior bandeira que o MIMO carrega é da gratuidade! E é um enorme desafio entregar um festival gratuitamente, sem perder em nada em qualidade da música ou qualidade técnica.
TMDQA!: O MIMO faz parte de uma onda de festivais que prosperaram nos últimos anos. Porém, com o baque da pandemia e o otimismo da retomada, o setor vem passando por alguns altos e baixos, até com cancelamentos e adiamentos. Como você vê esse panorama atual? Quais características ajudam um festival a “sobreviver” nesse ecossistema?
Para um festival gratuito como o MIMO, o maior desafio é sempre em relação a confirmação de patrocinadores, e apoios. Vivemos isso há 20 anos.
Não restam dúvidas de que a pandemia foi um enorme baque e ainda estamos nos recuperando. Por exemplo, não consigo confirmar se teremos a edição 2024 no Brasil. No momento, ainda estamos buscando o investimento necessário, aguardando respostas dos patrocinadores e parceiros.
No entanto, já fizemos 60 edições, temos a marca de mais de 2 milhões de espectadores, atravessamos o Atlântico internacionalizando a marca MIMO. Somos um festival robusto, maduro e sempre tivemos marcas importantes nos patrocinando. Sinto que vamos continuar e sobreviver a esse tempo difícil.
TMDQA!: Quais as vantagens e os desafios em ter um festival “itinerante”, que já passou por múltiplas cidades?
Lu Araújo: O MIMO é um festival inquieto, que se movimenta, que nunca é igual em nenhuma cidade. Ele tem esse espírito livre, essa é uma grande vantagem e a sua marca registrada.
Os desafios estão sempre no recomeçar, no descobrir o que cada cidade pode nos oferecer. Também, de como o MIMO pode colaborar para a movimentação econômica local, na valorização da imagem das cidades onde ocupa. Sempre nos preocupamos em ter atenção com a comunidade local e em construir um projeto que deixe memórias positivas em todos.