Além da função de produtora, Vivian também toca a própria carreira musical e conversou com o TMDQA!

Mestres da Produção: Vivian Kuczynski fala sobre a jornada para se tornar uma das produtoras mais respeitadas da nova geração

Vivian Kuczynski trabalhou com artistas que vão de Pabllo Vittar a Júnior, de Alice Caymmi a Jão

Vivian Kuczynski
Crédito: Ivan Nishitani

Vivian Kuczynski é uma artista e produtora musical que vem despontando tanto em sua carreira solo quanto nos bastidores da música brasileira. Com um talento precoce, Vivian rapidamente se tornou uma das produtoras mais requisitadas do país, colaborando com grandes nomes e imprimindo sua marca em trabalhos de destaque. Sua habilidade em mesclar sensibilidade artística com competência técnica tem sido fundamental para o sucesso de muitos projetos – e de seu nome como um dos mais fortes na nova geração de produtoras.

Vivian ganhou destaque como artista ainda em 2019, com o álbum Ictus. Este ano, ela retornou com Copas & Estopim, um disco que atesta seu amadurecimento – tanto pessoal, quanto musical. Ao longo desses cinco anos, ela não parou – mesmo.

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Entre as colaborações mais reconhecíveis de Vivian estão os álbuns Tara Rara, de Bruno Capinan; e Imaculada, de Alice Caymmi, os quais ela produziu com uma autenticidade sem muitos paralelos no cenário do indie nacional. Sua versatilidade se estende também ao palco, como demonstrado na “SuperTurnê” de Jão. Além disso, Kuczynski esteve à frente da produção da música de abertura da novela das 7, Jardins da Babilônia, gravada por Jão e Júlia Mestre, consolidando seu nome como uma das grandes produtoras da atualidade.

Como compositora, Vivian Kuczynski mostrou seu talento em canções como “Idiota” e “A Lua”, gravadas por Pabllo Vittar, e “Gatilho” de Júnior, onde sua assinatura como compositora é evidente. Seu trabalho é marcado pela capacidade de capturar a essência dos artistas com quem colabora, resultando em músicas que dialogam profundamente com o público. 

Essa combinação de artista e produtora faz de Kuczynski uma figura única e indispensável na música brasileira contemporânea. E olha que ela tem apenas 21 anos. Confira nosso papo completo abaixo!

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TMDQA! Entrevista: Vivian Kuczynski

TMDQA!: Vivian, obrigada pelo seu tempo! Vamos começar pelo começo: como você desenvolveu o interesse pela música e pela forma como ela é feita e construída?

Vivian Kuczynski: Primeiro de tudo, eu queria agradecer pelas perguntas, pelo espaço. É isso, vamos lá. Bom, eu comecei a me interessar bastante por música quando criança. Eu já falei, acho que, numa entrevista para o Popload, que eu cresci ouvindo Justin Bieber e One Direction. Então, foi nessa época que eu ouvia as músicas e eu ficava pensando, imaginando como seria essa música se ela tivesse uma guitarra diferente ou um barulhinho em tal minuto e isso aqui podia ter vindo para o lado direito e para o esquerdo. Daí eu ficava pensando assim, “nossa, seria muito legal poder fazer essas mudanças nas músicas e ter essas ideias”. E acho que foi ali que já pintou um interesse, não de trabalhar com isso, mas talvez de fazer. 

Daí eu comecei a estudar guitarra quando eu tinha 8, 9 anos e aí só foi surgindo e crescendo cada vez mais. Ali pelos 13 anos eu já estava cantando um pouco, fui para o estúdio pela primeira vez e daí me apaixonei por áudio e microfones e equipamentos. Então eu acho que foi muito de pouquinho em pouquinho, mas acho que despertou pela primeira vez com essa sensação que eu tinha quando eu ouvi as músicas, de querer criar e modificar. E aperfeiçoar a sonoridade das coisas.

TMDQA!: Na medida que foi fazendo seus próprios trabalhos, que habilidades você desenvolveu foram mais decisivas para amadurecer sua sonoridade como artista e produtora?

Vivian Kuczynski: Eu sinto que a coisa que eu mais estudei, que eu sempre tive mais interesse em estudar na música em geral, nunca foi um instrumento, nunca foi algo muito teórico, musicalmente falando. Eu sempre gostei muito mais da parte de áudio mesmo, e da parte de como fazer tudo soar muito bem. Eu sempre gostei muito mais disso do que musicalidades em si, por mais que eu explore, goste, me interesse por tocar instrumentos diferentes, etc. Mas meu grande amor sempre foi o áudio e a mixagem, desde o começo de uma gravação já ser muito bem captada, muito bem gravada, muito bem editada, já pensando em cada instrumento no seu próprio lugar de frequência. Eu sempre fui bem nerd nesse quesito sonoro. 

Então eu sinto que desde o começo foi a coisa que eu mais resolvi focar. Nunca foi um instrumento em si, ou em fazer arranjos em si, mas sim, qual é o lugar mais legal para cada instrumento, para cada momento na música, como crescer essa dinâmica, como crescer mais o refrão, o que eu posso fazer para deixar a música mais interessante, sempre sonoramente falando. É muito doido, porque quando eu tô produzindo eu já penso assim, se eu gravar uma guitarra mais grave, vai caber mais, vai preencher mais. Numa região, sei lá, tipo 600 Hz, sabe? Então eu vou pensando assim, em preencher esses espaços de frequência, e acho que essa é uma das habilidades que eu mais desenvolvi para criar essa personalidade de timbres e dessas personalidades melódicas que eu acho que eu tenho bastante.

TMDQA!: Seu trabalho como produtora anda lado a lado com o de artista – em termos de reconhecimento, inclusive. Como você vê essas possibilidades que se descortinam à medida que sua carreira vai crescendo?  

Vivian Kuczynski: Eu sinto que, de fato, esses dois lados meus realmente andam lado a lado, porque eu sinto que uma coisa chama a outra, sabe? Em termos da minha carreira de artista, sempre foi tudo muito honesto, sempre foi tudo muito sincero comigo mesma, eu sempre fiz tudo que eu sempre quis fazer, em termos de composição, em termos de produção, em termos de caminhos. Que nem esse último disco que eu lancei agora, o Copas & Estopin, é um disco de estudo pra mim, de música latina, um disco de estudo de música MPB, de bossa nova, e foi algo que eu tava nesse momento e senti que era isso que eu queria fazer agora. Assim como em 2020, que eu lancei o meu EP Não Entendi Nada, eu tava numa pira de fritação e ouvindo Sophie e ouvindo Flume, e aquele era esse momento. 

Eu sinto que eu tenho uma liberdade muito grande pra explorar esses caminhos diferentes e automaticamente as pessoas que me procuram pra produzir as músicas de outros artistas, muitos vêm através do meu projeto autoral, que eles gostam da sonoridade, gostam das referências, gostam da construção de tudo e querem isso no trabalho deles também. Então é legal, porque eu consigo aplicar muito do que eu gosto de fazer, do meu gosto pessoal mesmo, musical, no trabalho de outros artistas produzindo. Então eu acho isso super incrível, isso é muito legal. E é isso, acho que uma coisa vai puxando a outra.

TMDQA!: Você trabalha com artistas enormes do pop nacional, mas não se restringe a estilos e identidades artísticas. Como você decide o próximo trabalho que terá sua assinatura?

Vivian Kuczynski: Eu sinto que cada trabalho que eu faço, eu consigo por um pouquinho de mim, mas principalmente quando eu mais consigo colocar minha personalidade e gostos, são em discos que eu produzo, que eu consigo mergulhar junto com artista e encontrar referências que nós dois gostamos. Eu adoro produzir discos, gosto muito e a coisa que eu mais gosto de fazer é produzir álbuns, porque você cria uma conexão especial com o artista, uma relação mesmo, e você consegue criar uma identidade inteira exclusivamente para esse projeto. Então são esses momentos que eu mais consigo colocar minha cara. Até exemplificando os trabalhos que eu mais tenho orgulho, são os discos do Bruno Capinan, Tara Rara, e da Alice Caymmi, Imaculada – que eu produzi, então são trabalhos que eu consegui mergulhar junto com eles e criar esse universo todo assim dos álbuns. 

Mas até em trabalhos gigantes, tipo o show do Jão, por exemplo – que eu produzi junto com o Zebu, que é um amigo muito querido meu -, até nesses momentos a gente consegue colocar a nossa cara, por mais que seja um show super pensado, elaborado, que já tem uma direção criativa muito requintada, muito bem pensada, a gente consegue por nossa personalidade em vários momentos. Inclusive no show do Jão, da SuperTurnê, tem uma das intros dos blocos – o show é dividido em vários blocos, ele é dividido no bloco do ar, da água, do fogo e da terra. A intro da terra é super minha cara. Eu estava num momento que eu estava curtindo muito, ouvindo um pouco de country e folk e aí consegui super mergulhar nesse universo, nessa música. Então é interessante como a gente vai conseguindo por esse brilho que cada um tem. E até a própria banda, eles conseguem colocar a personalidade deles mesmos nos trabalhos. Então é super legal isso. E acho que naturalmente já vai acontecendo.

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TMDQA!: Aliás, a assinatura, a autoria, é muito importante. Hoje, a indústria da música tenta entender o que fazer com a Inteligência Artificial generativa. Você acha que ferramentas que automatizam a produção musical são um risco para a profissão?

Vivian Kuczynski: Olha, eu acho que a inteligência artificial pode vir pra ajudar a gente como uma ferramenta boa mesmo. Até eu já uso, por exemplo, em vários momentos, que eu precisar. Por exemplo, vai ter um cover de uma música num show que eu produzi. Ao invés de eu ficar lá tentando achar, sei lá, o tom, criar a linha de bateria, criar a linha de guitarra, recriar tudo, eu já vou num site, faço stems, pego canal por canal, automaticamente de cada música. Então tem esse tipo de ferramenta que eu acho maravilhosa. Ferramentas de limpar sons completamente de ruídos com plugins. Enfim, isso eu acho que é algo que tá avançando cada vez mais e só vem pra ajudar a gente.

Mas, artisticamente falando e utilizar a inteligência artificial de uma forma criativa mesmo, pra substituir tarefas que nós, músicos e produtores e pessoas que trabalham com música e com criatividade, compositores, fariam, eu acho que é um absurdo, na verdade, porque aí sinto que não tem graça, entendeu? Qual é a graça de você ver algo que um robô fez? Eu não quero consumir uma arte que um computador tenha feito, sabe? Eu quero consumir uma arte que uma pessoa fez. Se eu vou num museu, eu quero ver um quadro, uma escultura que uma pessoa fez. Se eu vou num show, eu quero ver os músicos tocando. Então, tem isso, a música tem isso, é pra ser honesta, é pra ser sincera. É uma arte, um computador nunca vai… Pode até fazer, pode ficar foda, enfim, mas qual é a graça, né? Qual é o sentido? Eu não me sinto nem um pouco com vontade de explorar esse universo, porque simplesmente não cabe, assim. Não cabe. Eu nunca fui muito a fundo no AI, acho que eu não vou também. Mas é pra isso que eu falei antes, de usar como uma ferramenta mesmo, pra esses momentos mais técnicos. Eu acho que é super interessante, assim. Mas criativamente falando, acho que não.

TMDQA!: Falando em parcerias, o que você julga mais importante no relacionamento entre artistas/bandas e produtor musical?

Vivian Kuczynski: Pra mim, o mais importante é a confiança. O produtor, além de ser uma pessoa que, logicamente, você vai gostar da sonoridade, dos caminhos, das referências, das ideias, eu acho que tem que ser uma pessoa que vira meio que um guru, sabe? É uma pessoa que você vai confiar, uma pessoa que você vai ouvir, uma pessoa que você quer ouvir, que você contratou pra ouvir e pra te dar dicas. Não dicas, mas pra te ajudar a chegar no resultado que você quer e que você não chegaria sozinho, sabe? É uma pessoa com uma visão externa que vai conseguir transformar a sua ideia num produto final. Então, acho que a coisa mais importante mesmo é a confiança. Então, o produtor musical é uma pessoa que vai pegar na sua mão e vai te levar pro caminho que você quer chegar. Mas pra você chegar nesse lugar você tem que confiar na pessoa que você está contratando, é isso.

TMDQA!: As plataformas de streaming ainda não exibem todos os créditos de uma gravação, e com isso o nome dos produtores não ganha tanto destaque nesses ambientes. A seu ver, como isso pode ser melhorado pelos players do ecossistema musical?

Vivian Kuczynski: Eu acho que é uma solução tão simples de se resolver, se as plataformas de fato quisessem resolver, sabe? Porque é só um questionário que poderia ter na hora dos artistas subirem a própria música, ou das gravadoras subirem as músicas dos artistas. Deveria ser um pré-requisito, assim como é um pré-requisito você ter a capa da música, assim como é você ter o nome da música ou o nome do artista, sabe? Eu acho que é algo que deveria ser perguntado e não tem porque não ser assim. Eu acho que é uma falta de consideração mesmo que as plataformas têm com os trabalhadores da música em geral. Porque existem plataformas que dão esse espaço pra você creditar todo mundo que trabalhou na música, os músicos, os engenheiros… todo mundo. E tem outras plataformas que você só vê o nome da artista, raramente vai estar ali o nome do produtor correto, dos compositores…

Mas o certo mesmo é você ter a listagem completa, até porque é assim que o mercado funciona, várias vezes eu gosto de alguma música, quero ver quem mixou e tenho que ficar caçando na internet. Eu acho isso triste, porque é realmente uma ferramenta muito simples que as plataformas poderiam exigir das distribuidoras, mas não exigem. Na minha opinião é falta de consideração mesmo, e é isso. Eu acho que a gente, pessoas da música, vai precisar brigar e se revoltar até um momento que eles mudem, porque eu acho que é uma coisa fácil de se resolver e só ninguém quer olhar para isso.

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TMDQA!: Que conselho você dá para artistas que querem se autoproduzir e também para quem quer começar a produzir outros artistas?

Vivian Kuczynski: Eu acho que o conselho, na verdade, é ir fazendo. Lógico que tem toda a parte de estudo e produção musical é uma profissão que você precisa meio que entender um pouco de tudo, de música, de gravação. Hoje em dia ainda mais, porque hoje em dia o produtor musical é um faz-tudo, muito diferente de 30, 40 anos atrás, que era uma pessoa que ia e somente contratava os músicos, contratava um arranjador, contratava um engenheiro, contratava o engenheiro de mix, de gravação, de master. Hoje em dia o produtor musical faz tudo, vai fazer o arranjo, vai gravar os instrumentos, vai gravar a voz, vai editar, vai mixar. Enfim, então é um trabalho extremamente complexo, falando nos tempos de hoje. 

Então é algo que exige muito estudo e muita vontade. Mas fazendo isso, sabendo disso e querendo isso, eu acho que é ir fazendo, encontrando artistas que têm a ver com o que você gosta de fazer, com o som que você gosta de fazer, fazer o seu próprio som que você gosta de fazer, que você está com vontade. E é isso, acho que é ser verdadeiro, que nem qualquer outro tipo de arte, fazer o que você tem vontade de fazer com pessoas que você gosta. E é isso.

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