Brasileiro tem filme com French Montana e Chris Brown em finalização

Ator e cineasta Bernardo Barreto fala ao TMDQA! sobre carreira em Hollywood, filmar com artistas da música e próximos projetos

Bernardo Barreto reflete sobre projetos passados e futuros em papo com o site

Ator e cineasta Bernardo Barreto fala ao TMDQA! sobre carreira em Hollywood, filmar com artistas da música e próximos projetos

O ator e cineasta Bernardo Barreto está vivendo um ano definidor para sua carreira no cenário cinematográfico internacional. No dia 1º de agosto, seu mais recente filme, Invisíveis, será exibido no prestigiado 30th Annual San Antonio Film Festival. O longa concorre ao Grande Prêmio do Júri de Melhor Filme, Melhor Performance de Ator e Atriz, além do Prêmio do Público de Melhor Filme.

Bernardo Barreto vem se destacando tanto como ator quanto como roteirista. Recentemente, ele celebrou uma vitória no 32º Festival de Filme Internacional do Arizona, onde Invisíveis foi premiado como Melhor Longa Metragem de Drama. Esse filme, que já havia sido exibido no 39º Festival de Cinema Internacional de Santa Bárbara e no 24º Festival Internacional de Cinema de Beverly Hills, tem atraído a atenção do público e da crítica.

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Filmado em Nova York, Invisíveis é uma coprodução Brasil/EUA que aborda a vida de Jonathan, um imigrante brasileiro recém-saído do sistema prisional. Com roteiro escrito e protagonizado por Bernardo, o filme narra a jornada de Jonathan e TJ, um menino de seis anos, em busca da mãe desaparecida no perigoso submundo da imigração ilegal. A direção é de Heitor Dhalia, e o elenco inclui a renomada Andrea Beltrão. O lançamento está previsto para 2025 tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, após percorrer o circuito de festivais.

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Além desse sucesso, Bernardo Barreto está finalizando o thriller de terror Epitáfio, também com previsão de lançamento para o próximo ano. O filme, escrito e estrelado por Bernardo, conta com a participação de Alli Willow e Juliana Schalch. Epitáfio retrata a história de Alex, um escritor alcoólatra cujo passado sombrio ressurge durante sua lua-de-mel, trazendo à tona segredos perturbadores.

Bernardo também está à frente da reformulação do filme policial Respect the Shooter, projeto que conta com a participação de French Montana como produtor executivo e ator, além de Chris Brown e do saudoso Michael Kenneth Williams. Gravado há nove anos, o filme acompanha a trajetória de Nasir, um jovem que entra no mundo do crime em Nova York e busca vingança após cumprir pena na prisão de Riker’s Island.

Com uma carreira em ascensão e projetos ambiciosos para o futuro, Bernardo Barreto continua a se afirmar como uma figura que leva o talento brasileiro a novos patamares em Hollywood. O ator conversou com o TMDQA! sobre esse novo momento. Confira abaixo!

TMDQA! Entrevista: Bernardo Barreto

Cena de Epitáfio (Crédito: Divulgação)

TMDQA!: Olá, Bernardo! “Invisíveis” vai chegar para o público em 2025, já chancelado por vários festivais. Isso cria uma camada de pressão extra ou na verdade diminui a pressão, pelo reconhecimento já alcançado?

Bernardo Barreto: Com relação à pressão, não muda muita coisa. A pressão é alta sempre. O público de festival é um público diferente do público de cinema comum. Esse é um filme que eu venho entendendo que, em festivais, tem uma aceitação alta. E sei disso porque é sempre no segundo dia de exibição onde vão as pessoas que ouviram no boca a boca, sempre lota. E vejo que é um filme polêmico porque a maioria fica depois para o Q&A. Mas o público comum é quem determina o sucesso comercial do filme. E o objetivo deste filme é levantar perguntas, e para isso precisamos chegar nas pessoas, no grande público.

TMDQA!: “Invisíveis” tem um título muito certeiro, porque traz à tona os dramas dos imigrantes ilegais. O que esse mergulho no filme te ensinou sobre a experiência imigrante – para além da sua própria? 

Bernardo Barreto: Eu comecei essa trajetória com um filme completamente diferente. Já tinha um investidor comigo que estava apostando em mim. Com a prioridade em retornar o investimento, escrevi uma comédia que, a princípio, parecia agradar a todos, mas eu não estava satisfeito. Eu tinha nas mãos um projeto que poderia me projetar e servir de “showcase” para a minha carreira como ator/autor nos EUA. Mas num primeiro momento, eu estava mais preocupado em agradar o público do que em me conectar com o que eu realmente poderia trazer de mais autoral. Infeliz com a minha primeira escolha, desisti e comecei tudo de novo. Para o meu processo de criação, primeiro optei por um depoimento mais honesto sobre as minhas experiências e observações do meu mundo interno, o que eu estava passando a nível pessoal. E depois externo, o que estava passando no mundo que me afetava diretamente. Internamente, eu vivia as inseguranças de um jovem adulto, querendo me libertar de uma série de crenças limitantes oriundas da minha infância. Vinda dos meus pais, da minha cultura, dos privilégios e dos desafios de ser eu. 

Externamente, eu acabara de me mudar para NYC, uma cidade símbolo do capitalismo, cheia de oportunidades, porém extremamente competitiva e individualista, uma cidade que acolhe a diversidade, mas que também é refém do poder e do dinheiro. E naquele momento o presidente eleito, Trump, era declaradamente inimigo dos imigrantes, principalmente da comunidade latina. E no meu país, um outro presidente, o Bolsonaro, com características similares, ou talvez ainda mais perigosas. Foi o período em que no ocidente, essa direita, que no meu ponto de vista tem um pensamento retrógrado com relação à humanidade, se estabelecia no poder. A jornada de Jonathan tem raízes nesses pilares. E a história é uma reação a tudo isso. Parte de um sentimento, um olhar meu, e se expande a partir do cenário político dos EUA, Brasil e mundo. E se multiplica a partir de pesquisa e conversas com outros imigrantes. Pela primeira vez, me senti parte de um grupo maior e entendi o que é ser latino.

Cena de Invisíveis (Crédito: Divulgação)

TMDQA!: Já em “Epitáfio”, seu personagem é assombrado pelo passado. Como você lida com o seu próprio passado e momentos diferentes da carreira – por exemplo, tendo participado de Malhação e agora estando em uma fase totalmente nova?

Bernardo Barreto: Hahahah… Eu certamente tenho muitas sombras do passado, mas elas vêm de traumas, alguns comuns, meus pais não são perfeitos, alguns mais específicos da minha infância, das circunstâncias da minha vida. Como é para todos nós. Não sei se “Malhação” me assombra. Nunca pensei nisso. Foi uma experiência muito rica em vários sentidos, sou grato. Claro que gostaria de ter mais reconhecimento do público pelos meus trabalhos recentes, pelo artista que eu sou hoje, mas entendo a popularidade marcante do programa. Talvez ainda ser citado como “ex-ator de Malhação Bernardo Barreto” seja algo estranho, e que não reflete a minha maturidade nem na época e nem hoje. Mas o lado positivo é que as pessoas não esperam muito de mim, e aí fica um espaço enorme para a surpresa.

TMDQA!: “Respect The Shooter” tem uma história curiosa por si só – já faz 9 anos que o filme foi gravado e agora você trabalha no roteiro pra finalizar e levar aos cinemas. Nesse meio tempo, perdemos Michael Kenneth Williams, por exemplo. O que esse tempo “de molho” faz com uma produção?

Bernardo Barreto: Esse filme foi filmado e refilmado durante anos, com vários diretores, produtores e roteiristas tentando solucionar. Esse projeto vem sendo um grande desafio. Mas sinto que toda a minha experiência como produtor, diretor e roteirista de filmes e séries independentes me ajudou a encontrar soluções criativas e baratas quando ninguém mais via luz no fim do túnel. O diretor e roteirista do filme original são talentosos, apaixonados, mas na época tinham pouca experiência com dramaturgia. Vinham de videoclipes, projetos voltados para o YouTube etc. Uma noção mais instintiva de “storytelling” sem nenhuma estrutura narrativa. E em cima disso alguns artistas também com muito talento e carisma, mas com pouca experiência em atuação. 

As cenas improvisadas muitas vezes traziam performances mais espontâneas, porém o roteiro foi se perdendo por completo e ninguém conseguia montar o quebra-cabeça. A partir do momento em que eu encontrei uma motivação específica para o personagem principal, um objetivo, e estabeleci os desafios (obstáculos), o filme foi se encaixando, usando as próprias peças, já que não poderíamos refilmar, porque dois atores do elenco principal faleceram. E depois de junto a um editor e um roteirista, reescrever na montagem as cenas já filmadas, pretendo solucionar com duas diárias simples de filmagem, cenas novas, para toda a história se encaixar.

TMDQA!: Inclusive, esse é um filme que traz artistas da música na posição de atores – como é o caso de French Montana. Como foi ver esse outro lado de figuras públicas, atualmente mais conhecidas por outra veia artística? 

Bernardo Barreto: “Ver”, eu não sei, rs, mas trabalhar com uma turma que não necessariamente entende cinema como ofício tem os seus desafios. Ser ator é um sonho comum, talvez tão ou mais popular do que ser jogador de futebol. A gente se encanta com esses herois que parecem muitas vezes ser maiores do que a vida. Ao mesmo tempo que é legal ver um artista se expressando de diferentes formas, ser ator não é só saber ser natural diante das câmeras. Então é um processo que exige muito da equipe para tirar o melhor desses artistas.

TMDQA!: Como tem sido sua experiência morando e trabalhando em Los Angeles? De que maneira a mudança para os Estados Unidos impactou sua carreira e suas oportunidades no cinema internacional? 

Bernardo Barreto: Eu me mudei para Los Angeles esse ano, e tive a sorte de rapidamente ter sido absorvido para trabalhar em novos projetos. Sorte é um pedaço, porque vieram a partir dos meus projetos já realizados, do caminho que conquistei com muita luta até hoje. Eu estou amando. Sinto que aqui sou valorizado, a tal da meritocracia. O meu sonho agora é poder trabalhar sem ter que trabalhar tanto para trabalhar, if you know what I mean… rs. E o objetivo é fazer uma ponte do Brasil para o mundo.

TMDQA!: Quais são as principais diferenças que você percebe entre a indústria cinematográfica brasileira e a americana? 

Bernardo Barreto: A “indústria” em si, o Brasil ainda não tem um cinema autossustentável como nos EUA, e por isso depende dos incentivos de governo. Não é uma indústria. Dentro dessa natureza, tem mais liberdade, porque não tem obrigação com retorno financeiro para o investidor. Ao mesmo tempo que é maravilhoso, tende a ser um cinema amador. A responsabilidade com o resultado também pode ser positiva para o crescimento do cinema nacional. E ela está vindo com o streaming, mas sinto que ainda está em formação. 

Até muito pouco tempo atrás, a indústria de dramaturgia do Brasil se resumia a poucos canais abertos e mais alguns fechados. A Globo que dominava a maior fatia deste mercado foi quem mais produziu e preparou profissionais. Quando o cinema se expande junto com as leis de incentivo e entram os streamings multiplicando as produções, faltam profissionais qualificados. Estamos aprendendo fazendo. E acredito que quando o Brasil atingir essa maturidade, vai ganhar um espaço grande no mercado internacional.

TMDQA!: E como você vê o futuro do cinema brasileiro no cenário internacional? 

Bernardo Barreto: Somos um país culturalmente muito rico, com muito talento, e muita história para contar. E surfamos uma onda positiva de curiosidade com a nossa cultura que sempre ficou ilhada para grande parte do mundo. A música e o futebol são referências do nosso povo para o mundo, e agora podemos fazer isso com o audiovisual.

TMDQA!: Que conselhos você daria para jovens atores e cineastas brasileiros que sonham em seguir uma carreira internacional? 

Bernardo Barreto: Não saiam do Brasil para cortar suas raízes, pensem em levar sementes para o mundo. Somos brasileiros e isso é muito lindo, temos muito a ensinar, mas também temos muito a aprender. Não somos melhores ou piores que ninguém. Venham de coração aberto, escutem, e fiquem com o que te faz dar frutos.

TMDQA!: Você está planejando novos projetos para 2025. Pode nos dar uma prévia do que está por vir? 

Bernardo Barreto: Tenho 4 projetos de filmes em diferentes estágios de desenvolvimento com características internacionais para ser filmado no Brasil. E quero muito fazer como o ator um monólogo, uma peça brasileira aqui nos EUA.

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