“É possível fazer diferente e, por que não, mudar o mundo?"

VME estreia na produção de eventos com muita experiência na bagagem

Vinícius Munhoz está à frente da VME, empresa que quer inovar no setor do entretenimento ao vivo

Vinícius Munhoz está à frente da VME, empresa que quer inovar no setor do entretenimento ao vivo
Foto: João Caldas Fo

A VME, nova promotora de eventos no mercado brasileiro, já começa suas atividades com grande experiência e ambição. Idealizada por Vinícius Munhoz, a empresa tem como objetivo elevar o entretenimento no Brasil, trazendo uma visão mais ousada para o setor e oferecendo alguns de seus maiores diferenciais – como por exemplo a bagagem forjada no teatro musical. 

Vinícius Munhoz tem uma trajetória marcada por sua paixão pelas artes, iniciada na adolescência com a produção de sua primeira peça. Desde então, construiu uma carreira sólida, dirigindo e produzindo grandes projetos como Wicked, Evita Open Air, Matilda e Escola do Rock. Com tanta experiência, a VME entra no mercado já anunciando parcerias de peso.

Entre as novidades estão a dupla de ilusionistas Henry & Klaus, o diretor e roteirista Rafael Gomes e o Musical Bar, maior evento de teatro musical em São Paulo. Tudo para tentar inovar no setor do entretenimento ao vivo – que segue em alta, mas sem negar: os desafios são muitos. Munhoz enfatiza a busca por diversidade e envolvimento em seus projetos, visando se tornar protagonista no cenário desse mercado em expansão no Brasil.

O empresário e produtor falou com exclusividade ao TMDQA! sobre a VME este novo momento.

TMDQA! Entrevista: Vinícius Munhoz (VME)

TMDQA!: A VME tem uma vocação clara para o teatro e o musical, porém ambos são ainda pouco frequentados pela maioria dos brasileiros. Como vocês veem esse cenário em 2024 e as possibilidades para formação de público?

Vinícius Munhoz: Uma estudiosa das Artes Cênicas, a doutora titular da USP, Elizabeth Campos, tem uma frase que define muito bem o teatro no Brasil: “o teatro no Brasil já nasceu musicado”, em referência às primeiras manifestações teatrais na época do Brasil colônia. O público brasileiro que frequenta teatro musical é apaixonado pelo formato. Mas sua pergunta não poderia ser mais intrigante. Existe uma enorme parcela da população que nunca sequer pisou em um teatro. A meu ver quanto mais produtores, quanto mais conteúdos neste formato e quanto mais investimento (público e privado) no teatro e no teatro musical, mais oportunidades estamos criando para que a demanda aumente.

As Leis de Incentivo à Cultura também possuem um papel fundamental para formação de plateias e democratização de acesso. Em cada conteúdo patrocinado pela Lei Rouanet, por exemplo, o mínimo de 10% dos ingressos são dedicados às instituições que atendem populações minorizadas ou para distribuição com caráter educativo, com a concessão às escolas públicas. Outros 20% são disponibilizados à venda ao valor máximo de 3% do salário-mínimo vigente, aumentando ainda mais o acesso a quem pode pagar para assistir aos shows. É um trabalho de formiga que, sem dúvida, vai apresentar resultados a longo prazo se o setor conseguir construir um formigueiro e manter a constância e estabilidade das produções. 

TMDQA!: O setor do entretenimento ao vivo no país ainda passa por desafios. Recentemente, uma onda de cancelamentos de shows e festivais musicais, por exemplo, colocou esse ecossistema em pauta. Como vocês da VME veem o mercado de entretenimento em geral, depois do otimismo do pós-pandemia?

Vinícius Munhoz: Eu acredito que tem espaço para todos os conteúdos e existe demanda para isso, mas, ainda assim, existe um limite quando falamos de Brasil. Se compararmos com outros países como os Estados Unidos, por exemplo, a indústria não vive somente do público local e turismo interno. Pesquisas realizadas pela Broadway League mostram que a esmagadora maioria do público de musicais vêm de outros países. Isso também vale para o West End, em Londres. 

Aqui no Brasil dependemos do público interno e somente do turismo local para lotar as casas de espetáculos. Isto porque nossa localização geográfica e idioma são barreiras difíceis de serem transpostas para outras nacionalidades. Partindo disto, os produtores precisam analisar o mercado e fundamentar-se em pesquisas, dados, consultar base de clientes para entender qual dimensionamento cada conteúdo deve ter. Se um show deve lotar um estádio ou uma casa de porte médio. Se uma temporada de teatro sustenta 2 meses ou 2 anos, por exemplo. 

Para além, temos que ter presente o conceito de share of wallet (a forma como o cliente vai dividir seus limitados recursos no mês ou no ano para dispêndio de uma ou mais atividades). Para mim este é um dos conceitos mais importantes atualmente. Não existe produzir um mega evento que movimenta milhares de pessoas sem analisar quem são seus concorrentes diretos e indiretos. Planejar a data de realização dos shows baseado nas agendas já existentes nas cidades onde o evento acontece. Outro fator importante é quais condições de pagamento você está entregando para o cliente escolher seu conteúdo frente aos demais. Na minha visão, o que falta hoje nos produtores é planejamento a longo prazo. Na VME estamos falando de conteúdos para 2030. Me orgulho em dizer que em 12 anos de carreira nunca tive que cancelar ou adiar um conteúdo.

TMDQA!: O Brasil, por si só, é um enorme mercado consumidor e que se orgulha de sua arte, porém com particularidades e carências muito específicas de região para região. A seu ver, quais os maiores desafios e vantagens que só existem por aqui e que nos tornam únicos?

Vinícius Munhoz: São tantos desafios! Primeiro vivemos em um país onde temos uma instabilidade econômica e uma desvalorização do Real frente a outras moedas que produzir um conteúdo internacional é impossível sem investimento de patrocinadores, por exemplo. A escassez de mão de obra qualificada no setor também é um grande desafio. Se você é um jovem recém-saído do Ensino Médio e quer trabalhar com entretenimento ao vivo, quais cursos e graduações específicas para o setor existem hoje? Muito do nosso mercado aprendeu a fazer entretenimento na raça, no dia a dia, acertando e errando.

Outro desafio que existe, e a VME tem como objetivo mudar esse cenário, é a descentralização da cultura fora do eixo Rio de Janeiro e São Paulo. O Brasil é um país enorme e se locomover com uma turnê é um trabalho homérico, mas possível, com muito planejamento e organização a longo prazo. Das vantagens, somos um povo muito criativo e isso nos ajuda muito para enfrentar esses e tantos outros desafios que é empreender no país. Somos apaixonados por aquilo que fazemos e temos que deixar de lado a síndrome de vira-lata que assola nosso inconsciente e mostrar que é possível, sim, fazermos tão bem ou até melhor do que as grandes indústrias do entretenimento de outros países.

TMDQA!: Você já tem uma longa trajetória no show business brasileiro, com a produção de peças renomadas. Quais aprendizados você está trazendo para formar a espinha dorsal da VME?

Vinícius Munhoz: Produzir espetáculos de teatro musical são verdadeiras empreitadas gigantescas. A cada produção estamos falando da contratação de mais de 200 pessoas por projeto. O ser humano é nossa espinha dorsal. A gestão de todas essas pessoas é um dos maiores atributos conquistado ao longo dos anos e que venho focando em nossos primeiros movimentos frente ao mercado. Sem o ser humano não existe emoção. Não existe paixão. A magia do ao vivo não acontece. Ela só acontece porque temos pessoas na plateia, pessoas em empresas que acreditam e financiam nossas empreitadas e pessoas em cima e atrás do palco fazendo aquilo que amam. A VME nasce com o propósito de transformar a vida das pessoas por meio da magia do entretenimento ao vivo, criando experiências únicas, de emoção e conexão que enriquecem a experiência humana. 

TMDQA!:⁠ A VME inicia suas operações com a dupla de ilusionistas Henry & Klauss e o diretor Rafael Gomes. Como essas colaborações foram estabelecidas e o que o público pode esperar dessas novas produções?

Vinícius Munhoz: O Rafael Gomes e eu sempre estivemos próximos com o objetivo de trabalharmos juntos. Em 2020 estrearíamos nossa primeira produção: o antológico Um Estranho no Ninho, em São Paulo mas, assim como muita coisa, a pandemia não nos permitiu concluir estes planos que já estavam em sala de ensaios. Em 2022 tivemos nossa primeira parceria executada: a exposição dos fotógrafos Jairo Goldflus & João Caldas, realizada pelo Instituto Artium de Cultura na época em que eu era Diretor Geral da Instituição e o Rafael assinou a curadoria. Agora, a partir de 2025, vamos estrear ao menos um conteúdo juntos por ano, pelos próximos quatro anos, de teatro e teatro musical, com temporadas em São Paulo e no Rio de Janeiro. O primeiro, que deve estrear em março de 2025, será anunciado em breve. 

A parceria com o Henry e Klauss é um momento, literalmente, mágico. Sempre quis explorar outras frentes que não só peças teatrais, incluindo música, exposições, experiências imersivas e, por que não, o ilusionismo, que no Brasil é protagonizado por essa dupla que tive o prazer de conhecer em 2024. Eles seguem representados pela Opus Entretenimento e a VME entra como uma terceira ponta para iniciar a representação comercial do Illusion Show em 2024 e a partir de 2025 assinar a realização da dupla junto da Opus para sua turnê brasileira, passando pelo menos por São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Belo Horizonte.

TMDQA!:⁠ A VME começa com um compromisso com a diversidade e a inclusão. Como elas são incorporadas na cultura da empresa e de que maneira isso vai pautar os próximos passos do trabalho?

Vinícius Munhoz: Por muitas vezes na indústria do entretenimento vi ações para promover a diversidade e inclusão em seus conteúdos. Elas, em sua grande maioria, são pontuais e com um objetivo específico. Aqui na VME estamos propondo a criação de um comitê de diversidade e inclusão que será formado por pessoas de diversos setores e vivências, sejam pessoas do entretenimento ou dos mais diversos ambientes corporativos, com o objetivo de olhar para todos os nossos projetos e ações, de forma transversal, e propor mudanças ou incorporar novas ações. Desde seleção de talentos, consolidação da nossa cultura e valores, bem como da escolha dos conteúdos que vamos produzir, por exemplo. O comitê será presidido pelo Alexandre Kiyohara (ele/dele), homem trans, head de diversidade e inclusão da B3. Eu tenho certeza de que é possível fazer diferente e, por que não, mudar o mundo?