No último dia 06 de junho, uma das mais novas apostas do cenário independente ganhou vida com um EP que transborda sentimentos. Depois de apresentar dois singles ao público indicando o lançamento, a Paira, duo formado por Clara Borges (claragbb) e André Pádua (dedeco), lançou o EP01.
Rock, hypnagogic pop, breakcore, drum n’ bass, UK garage… Colocados sob a mesa, os nomes podem causar estranheza – mas é justamente assim que podemos sintetizar a sonoridade que a banda traz para apresentar ao mundo.
Com toda essa abundância de referências citadas para a introdução, o duo já relatou anteriormente que trabalha nesse projeto desde antes dos tempos de pandemia, quando ainda não tinham a proximidade de “quase irmãos”, como Borges define hoje a relação da talentosa dupla. Dois anos depois formaram a banda e assim as coisas começaram a se ajeitar, tomando as rédeas para chegar na Paira que conhecemos hoje.
No dia 23 de junho, em um domingo, fizeram o primeiro show após essas conquistas na cidade de São Paulo; por ali, tiveram a chance de ver o público cantando as músicas que lançaram completamente empolgados. Além dessa data, também se apresentaram em Belo Horizonte, casa do grupo.
Tivemos o prazer de entrevistar Clara e André, continuando mais um capítulo e pontuando razões Pra Ficar De Olho nessa junção que já chamou a atenção de nomes como Karen Jonz e Lucas Silveira (Fresno).
Origens e dificuldades
Nossa primeira pergunta já foi a respeito da curiosidade sobre este projeto ser idealizado antes mesmo dos dois firmarem uma verdadeira amizade e compromisso como dupla. André nos explicou:
“A Paira surgiu desse interesse de nós misturarmos as coisas, os gêneros. Pra mim, já que estamos falando de origens, isso foi antes da pandemia. Eu tava tentando escrever um riff na guitarra e tava muito difícil, então decidi passar pro Ableton Live [software de produção musical] e pensei em transcrever e tirar ele em parte disso.
Mas, quando fiz, eu usei um sonzinho de guitarra MIDI toscão, e achei que ficou muito foda. Acabei fazendo uma música eletrônica e desde 2019 (tem um tempasso) tô desenvolvendo essas sonoridades.”
Clara complementa com seu lado da história:
“Eu sempre fiz umas músicas mais voltadas ao rock, essa coisa mais analógica, e um dia me chamaram pra fazer um feat numa música eletrônica e eu achei muito doido. Desde então, eu entrei num limbo e comecei a me questionar sobre fazer música eletrônica e/ou com elementos eletrônicos ou então continuar no emo, fazer meus rocks, essas coisas mais tristes.
Aí um dia, só pensei: ‘Véi, por que não juntar as duas coisas?’
Isso foi bem na época que eu e André nos conhecemos, e a gente se conheceu logo num show, então quando você tá num ambiente assim, você também acaba pensando nos seus projetos. [risos] A gente foi conversar e foi uma explosão de mente, os dois queriam fazer isso.”
Essa pergunta acaba nos levando a falar sobre os desafios enfrentados para fazer esse projeto sair do papel, até porque o EP teve um longo caminho de 2 anos até chegar em sua versão final.
A gente deixa a resposta por conta de André Pádua:
“Pra além de questões pessoais que acho que a gente não precisa de entrar, eu acho que era uma coisa muito nova e diferente o que a gente tava fazendo. Assim, tem referências claras, e a gente tá longe de ser a primeira banda a misturar rock e música eletrônica [risos] Kraftwerk já tinha algo de rock ali antes mesmo de virarem o que são, The xx, enfim, muita coisa.
Mas a gente tava buscando uma sonoridade que fosse muito nossa, que fosse particular, então desenvolver isso demorou bastante até chegarmos em um local que estivéssemos satisfeitos.”
Em resumo, a idealização e entrega do produto final foi um processo exigente, como Borges complementa:
“Eu e André nos cobramos demais. Somos muito chatos. [risos] Foi um trabalho minucioso, qualquer coisinha a gente mudava.”
O duo reitera que, além dos desafios em entender os lados e gostos de cada um, o que dificultou na prática esse processo é tudo que está atrelado a fazer música no país: trata-se de algo bastante caro, cujos custos saem do próprio bolso, e que acaba tendo que ser conciliado com a vida fora da arte, tendo em vista que isso tudo também é fruto de ganhos com trabalhos fora da indústria, com suas dificuldades como quaisquer outros.
Viradas de chave
Como falamos acima, essa tomada de rédeas da Paira foi um processo de anos. E tudo isso passou por um momento importante e difícil: a escolha do nome da banda. Qual a razão por trás de Paira? Clara responde:
“Então, nós já estávamos com todas as músicas prontas (todas as demos), e a gente tava tipo: ‘Véi, a gente não tem um nome, mano.’”
Ela e Pádua se olham e começam a relembrar as opções cômicas pensadas ao início da busca pela identidade, continuando o raciocínio:
“A gente precisava achar algo que converse, porque a gente mora no Brasil, estávamos fazendo música em português. Passamos muito tempo tentando achar um nome, eram dias e dias mandando nomes, até que um dia eu só virei e falei: Paira.”
A princípio, Dedeco não gostou muito. Ele gostava da palavra, mas tinha suas dúvidas sobre a ideia do uso. Depois, o nome acabou subindo em seu conceito e ele chegou a amar a sugestão, além de estender a explicação desse conceito:
“A imagem na cabeça era algo meio onírico, tipo um amanhecer enevoado, um bosque com orvalho, partículas de poeira no sol, era essa a ideia. Queríamos uma palavra que transmitisse esse conceito.”
Se aprofundando em momentos fundamentais na história da banda, não poderíamos deixar de falar da relação com a Balaclava Records, selo fonográfico independente, produtora musical e publicadora de revista eletrônica fundada em 2012. Com casting de grandes nomes como Terno Rei, Gab Ferreira, terraplana e mais, queríamos saber mais sobre como a Paira se tornou parte “da família”.
Borges diz que sempre foi um sonho da dupla ser parte do catálogo do selo, mas revela que a dupla nem pensava na possibilidade de concretizar o desejo. Só que ela já conhecia pessoas que faziam parte da Balaclava, incluindo Popoto, da banda Raça, que um dia fez o convite para Clara gravar um som com ele em SP:
“Acabei mostrando Paira pro Popoto e pro Truno da Marrakesh, dois grandes amigos, e eles amaram. Falaram que isso é a cara da Balaclava, mas fiquei tipo: ‘até parece!‘.
Deu um mês, e o [Fernando] Dotta [CEO do selo] nos mandou uma mensagem falando que curtiu muito as demos, perguntando sobre o que a gente achava de lançar o material através do selo. Lembro que minha reação era olhar pro celular totalmente desacreditada. [risos] Foi bizarro!”
Pádua ainda lembrou que, para esse convite acontecer, Truno estava com Fernando, e o CEO acabou pedindo pra eles mandarem as demos pois estava bastante curioso. Depois de receber o pedido de Dotta através do companheiro de selo e amigo, Clara e André se desesperaram – mas foi paixão imediata e o compromisso da banda como parte do casting vem se firmando cada vez mais.
Sucesso, Futuro e Recomendações
Colhendo frutos das produções feitas, a dupla já tem almejado ares internacionais. Ao entrar nas redes sociais da Paira (principalmente o X/Twitter), você pode se deparar com admiradores de lugares como Japão e alguns outros lugares do mundo.
Ao perguntarmos sobre como foi essa recepção aos mineiros, Clara nos diz que é uma loucura:
“A gente nunca esperava isso, termos fãs japoneses. Foi bem do nada, mas na hora que a gente foi mandar nosso release, falamos um pouco das nossas referências e tinha a Number Girl, uma das maiores bandas de rock de lá, é imenso no país. Até é conhecido fora do Japão, mas nem tanto, e teve uma página indie que postou isso e parece que a galera pirou, sabe?”
Para o fim da conversa, fizemos a dinâmica tradicional da coluna, e os questionamos sobre futuro e recomendações. Sobre os nomes da cena independente/autoral aos quais eles recomendam que o público e mídia fiquem de olho, a resposta foi a seguinte:
“Clara Bicho! Clarinha é nossa grande amiga. Ela é muito cabulosa, começou do nada, fiquem de olho nela. Acho que nossos amigos de selo do Mundo Video, eles são muito bons, somos apaixonados no som deles, eles são muito fodas e achamos que não tão ganhando a atenção que merecem. Lançaram um EP agora que ficou muito doido, eu ouvi antes e ficou fino demais.
Tem o Fernando Motta! Tá com um disco novo foda demais, terminando agora. A gente participou de uma música, o trampo todo tá bom demais, ele deve lançar no segundo semestre agora.
Por fim, tem a godofredo, banda que eu (Dedeco) fazia parte, e sempre vai morar no meu coração. Também tão finalizando um disco, então se liguem.”
Sobre o futuro, o duo diz que vão continuar na divulgação do EP01, focando nos próximos shows. André explica:
“Até agosto, a gente quer gravar uma sessão ao vivo pra lançar e ter esse material, pra galera saber como é o show, ter tudo isso muito cravado. Nosso som é muito pensado no ao vivo desde a gravação, as guitarras, tudo bem imaginado pros shows.”
Clara complementa revelando que eles têm planos de lançar singles agora no segundo semestre e o álbum virá depois, já que eles estão esperando o “momento certo”. No entanto, a dupla nos diz, com exclusividade, que um clipe novo vai ser lançado em breve. Fique de olho!
Siga Paira nas redes sociais: @pairapairapaira