“A revolução está acontecendo”

Céu faz balanço da carreira, conta bastidores da produção de “Novela” e celebra os dramas cotidianos em entrevista ao TMDQA!

Cantora está com shows marcados nos EUA e Europa, mas fará show em SP com banda completa e participação especial de Liniker

Céu - Crédito Fernando Mendes
Crédito: Fernando Mendes

Se o céu é o limite, Maria do Céu Whitaker Poças parece desconhecê-lo. Mal surgiu, há quase 20 anos com o álbum de estreia, aquele nome de apenas três letras não entregava a longevidade da carreira que viria a seguir. Céu se firmou muito rapidamente como uma das vozes mais marcantes da geração dos anos 2000, que viu de perto e protagonizou uma mudança de paradigmas sem precedentes do mercado da música. Do físico para o digital, do mainstream para o midstream.

Já de cara, Céu foi indicado tanto ao Grammy Awards quanto ao Grammy Latino, tornando-se um dos discos brasileiros mais vendidos nos Estados Unidos. Ao longo dos anos, ela conquistou três Grammy Latinos e uma base sólida de fãs, acumulando mais de 700 mil ouvintes mensais nas plataformas de streaming. Agora, Céu une toda essa vivência no novo álbum, Novela, uma ode à sua brasilidade, latinidade e mulheridade.

Novela foi lançado em abril e já se provou um sucesso, atingindo mais de 1 milhão de reproduções nas plataformas digitais na primeira semana. O álbum, produzido por Pupillo e Adrian Younge, busca capturar a essência da música ao vivo, evitando artifícios tecnológicos. As 12 faixas do disco são enriquecidas por colaborações de artistas como Ladybug Mecca, anaiis e Loren Oden. Na tracklist estão composições de Marcos Valle e Nando Reis e Kleber Lucas, além das muito elogiadas canetadas da própria Céu. Ela descreve Novela como um reflexo das tramas da vida cotidiana, carregando um tom passional e caricato, mas sem cair no estereótipo.

A nova turnê de Céu, que promove Novela, inclui shows em várias cidades brasileiras, começando em São Paulo na Audio, com a participação de Liniker. O espetáculo promete uma mistura de canções novas e sucessos anteriores, em uma apresentação quente e envolvente. Céu, que também assume a direção artística dos shows, destaca a formação da banda, composta por bateria, guitarra, cavaquinho, baixo e percussão, garantindo uma experiência musical autêntica e vibrante para o público.

Diretamente da França, onde cumpre agenda de shows, Céu falou com exclusividade ao Tenho Mais Discos Que Amigos! sobre essa fase, a maturidade, seu papel na atual geração da música nacional e um álbum cuja produção foi tão novelesca quanto seu título. Confira abaixo!

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Céu no programa Ensaio

TMDQA! Entrevista: Céu

TMDQA!: Oi Céu, tudo bem? Onde você está no mundo hoje?

Céu: Oi, estou ótima. Estou na França hoje.

TMDQA!: Que chique! Vamos começar por aí então: você está com a agenda lotada, né? Europa, Brasil, Estados Unidos, Brasil de novo… E você tem uma ótima recepção na gringa, a gente sabe que você tem um público formado como artista indicada e vencedora de Grammy, etc. Então queria ter sua perspectiva, como alguém que frequenta esses espaços já há um certo tempo, se você vê uma mudança na percepção da música brasileira, que talvez antes ocupasse um lugar mais de exotismo e parece – pelo menos pra quem olha de fora –, que os gringos estão um pouco mais integrados à música brasileira, de fato, da psicodelia dos Boogarins ao pop da Pabllo Vittar. É impressão que você tem também? 

Céu: Olha, eu acho que há um interesse profundo na nossa música desde sempre, a gente sabe disso, né? Isso não é novidade, mas quando a gente transita, a gente vê como é profundo. Eles realmente são muito apaixonados pela nossa cultura e pela nossa música. Eles têm um interesse, os shows aqui, as pessoas têm essa atenção muito grande, e aí você até pensa, “nossa, acho que ninguém está gostando”. Aí no final você vê o pessoal assim [vibra], no final você fala, “nossa, que louco, é um outro jeito”. E eu acho que artistas plurais, múltiplos, estão tomando conta cada vez mais da cena, já era mais do que hora disso acontecer. Essa grande revolução está acontecendo. 

E eu creio que há uma mudança sim. Vamos dizer que coisas mais elitistas estão saindo um pouquinho do foco, muito embora ainda exista interesse nas coisas mais ligadas à Bossa Nova. Mas eu acho que estão entendendo um Brasil que tem essa pluralidade. Agora, não é simples, porque como a gente canta em português, sempre há um olhar do exotismo. Especialmente eu percebo para a galera que está tentando se inserir no pop, com a linguagem global, esse é um caminho ainda mais difícil. Por isso que é interessante o trabalho que a Anitta está fazendo, ela é muito inteligente, é uma pessoa que você vê que o passo a passo dela está sendo meticulosamente pensado por uma pessoa muito inteligente. Porque ela vai de pouco em pouco, ela joga o jogo deles, aí ela solta um pouquinho do dela, aí ela joga o jogo deles… Eu que estou aqui há muito tempo, eu percebo o que ela está fazendo. Não adianta você chegar, “ah, eu quero ser pop, eu vou cantar assim”… Não é isso. Então eu percebo sim uma mudança acontecendo e vou observando.

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Céu na KEXP.

TMDQA!: Tá certo. Agora, vamos falar de Novela, né? É uma fase muito gostosa, essa fase noveleira de abraçar esses dramas cotidianos. 

Céu: Sim, vamos!

TMDQA!: E, bom, a gente está falando aqui de um produto brasileiro por excelência. E muito estabelecido, mas que é meio dado aos exageros. 

Céu: Sim, passionalidade. 

TMDQA!: Exato! Eu queria saber como foi trazer o seu toque, a sua dramaticidade para essas canções e criar sua novela. E se você se impôs a algum limite estético ou temático para construir sua trama. 

Céu: Então, eu sou muito instintiva, eu sou muito intuitiva, eu vou escrevendo as coisas, eu vou indo de peito aberto. De olhos fechados e peito aberto, eu sou um pouco assim, né? Eu sou até super controladora, mas depois. No processo criativo, eu gosto de ter esse lugar, “nossa, onde é que eu estou indo”, sabe? Eu vou indo, vou indo. 

TMDQA!: Deixa a vida me levar. 

Céu: Deixa a vida me levar. E eu percebi que eu estava falando mais uma vez desse prisma latino-americano, nesse lugar mesmo de dramaticidade e das crônicas cotidianas que são tão comuns a todos. Não é só meu – é meu, é seu, é de todo mundo, sabe? Mas eu queria trazer esse prisma que é tão novelesco (risos). E aí, eu fui entendendo onde é que eu estava chegando. Mas, a princípio, não há um planejamento claro. Há um desejo, eu sei que eu quero falar de coisas que às vezes as pessoas acham feio e não querem, enfim. Nesse meu lugar de artista, quero tocar em lugares que às vezes incomodam, sabe? E trazer a novela. “Ah, mas você gosta de novela?” Sim, eu gosto de novela, adoro novela! Acho que novela é incrível, até quando é ruim!

TMDQA!: E tem hora que quanto pior, melhor, né?

Céu: Exato! Eu acho isso rico para pensar no ser humano, no jeito que a gente é. Então, novela é isso.

TMDQA!: Perfeito. Agora, você citou a sua necessidade de controle e eu entendo, sou bem assim também. E eu queria saber como foi o processo da gravação e da produção mesmo, porque eu sei que tem um dedo forte seu, tem a condução do Pupillo e do Adrian Younge, que é um cara mais do analógico, do ao vivo. E aí eu queria saber quais foram as delícias e os desafios desse processo. 

Céu: Menina, eu vou começar dos desafios, porque foram bafos (risos). Foi muito difícil, porque uma coisa é você entender na cabeça, “ah, você vai gravar analógico, não tem computador”. Então, você vai ter que fazer, você vai lá e faz, entendeu? Tipo, não tem refação, tá? Você entende na cabeça, você fala, ”Ah, eu consigo, pô, tô com 44 anos, com uns discos aí na minha carreira, uma andada grande, eu dou conta, sabe?” A outra coisa é você chegar lá e ver o que é isso (risos).

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Trailer do álbum “Novela”, de Céu, para o Noize Record Club

TMDQA!: Ainda mais sabendo o que tá em risco, o que tá em jogo. 

Céu: Exato. Então, foi muito desafiador. O Adrian, ele desafia muito. E ele é norte-americano, né? Então ele tinha às vezes outras percepções de uma compositora. Coisas de letra, por exemplo, que ele não sabia do que eu estava falando. Tinha que estar mais bem falado, ele falava que estava perfeito. E eu olhava aquilo e estava horrível e ele falava, “mas está bom”, e a gente… E não eram muitos takes, porque ao mesmo tempo, quando você começa – e isso é verdade – quando você começa a refazer, refazer, refazer milhões de vezes, você vai perdendo a naturalidade. Então não adianta, também, eu ganhar [a discussão] e ficar refazendo um zilhão, porque tem um errinho que não vai ter correção, e eu vou perdendo o que ele estava querendo trazer, que é o momento, que é a força do “vamos juntos”, que é a força do visceral. Então, foi um embate constante. O Adrian nunca tinha trabalhado, também, com uma pessoa que chega com uma obra muito pronta. Eu chego com muita coisa pronta. Ele sempre trabalha nessa coisa de “vamos levantar um som”. Então, pra ele, foi uma revolução (risos).

TMDQA!: Mas gente, tempo de estúdio é dinheiro também (risos). 

Céu: É, entendeu? Então, assim, só que acontece que a gente tretava, todo mundo, daí a pouco ninguém queria olhar na cara do outro, daqui a pouco todo mundo se amando muito de novo. Então, assim, foi novelesco, foi dramático (risos)! Mas foi muito interessante o processo, sabe? E no final, a sensação que eu tinha, agora falando da parte boa, era… Juro pra você, sem mentir, quase uma sensação de cura. Porque o computador, e tudo que a gente tem hoje, dá muito conforto. E ao mesmo tempo, tudo está sendo feito, o artista está muito achatado, porque todo mundo está fazendo coisas legais. Para você sobressair… A internet deu voz a todos e [é complicado] você contar uma história sua, concisa, que tem algum sentido e tal. Esse processo de voltar para o analógico foi muito interessante para mim. Deu uma mexida mesmo como artista, sabe? Me botar à prova, todo esse desconforto que eu senti, medo mesmo de não saber se eu consigo entregar na hora do vamos ver. Eu vi que, cara… É isso, sabe? E é bonito, está aí, está inteiro, tem erro, tem acerto. É vivo, eu sou humana, não sou máquina, não sou inteligência artificial, sabe assim? É o que eu sei fazer. Então, comecei a entrar em um lugar que foi me transformando muito. Isso foi muito legal. 

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Um dos destaques do álbum Tropix

TMDQA!: Deu para sentir. E o resultado ficou classudo, né? Nossa, as texturas desse disco são muito diferentes. E, bom, talvez as pessoas já tenham uma ideia preconcebida do que elas esperam de um disco da Céu. E esse disco, eu acho que ele quebra algumas barreiras, sendo talvez o seu disco mais cosmopolita, em alguns sentidos. Tem sotaques e línguas diferentes, é uma tracklist que vai de Marcos Valle a Kleber Lucas, sabe? Tem algumas conexões que muita gente não imaginaria. 

Céu: (risos) Sim, verdade. 

TMDQA!: Como é que foi encaixar essas peças do quebra-cabeça formar esse caleidoscópio de uma forma que fizesse sentido para você? 

Céu: Então, é isso, esse lugar meu de ir sentindo as coisas e escrevendo e montando como se fosse um grande painel – eu vou juntando peças. As coisas são peças que vão se encaixando. A música do Kleber e do Nando [“Corpo e Colo”], por exemplo, chegou lá no final, já quase estava fechado o meu repertório. Porque eu pedi muita música para muitos artistas. Eu estava com muita vontade de gravar música de outras pessoas, pedi para vários artistas. Mas é difícil, eu entendo. Eu agora mesmo estou tendo que entregar música para um artista, é difícil. O artista às vezes não está com música para entregar, porque está gravando seu próprio disco, ou às vezes não consegue sentir que essa música tem a ver com esse artista. Enfim, é uma coisa delicada. E eu tinha pedido uma para o Nando. E aí o Nando chegou com essa. 

TMDQA!: Apenas um dos maiores compositores do Brasil, né? Vamos combinar.

Céu: Exato, sabe? Um cara que domina o cancioneiro. Nando é papo reto do coração. Ele é um grande talento. E eu fiquei muito feliz. Quando chegou a canção dele, a letra, a caneta do Nando é incrível. E a canção também é linda, do Kleber. Enfim, eu falei, “não, não vou deixar essa jeito nenhum”. Pronto. Então é isso, vai se formando. Eu não consigo te dizer como você faz isso. Eu vou sentindo, vou trazendo. Eu falo, isso tem a ver, isso não tem. E é assim que eu vou andando, sabe? 

TMDQA!: E no fim encaixa. 

Céu: É, exato. Eu no fim encaixa. 

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TMDQA!: E vem cá, Céu: a gente te escuta faz um tempo. Mas aí eu fiquei surpresa de notar que “Novela” foi o seu sexto disco. “Só”, entre aspas. Porque isso mostra um ritmo de produção que é muito próprio, sem a pressa característica dos lançamentos de hoje em dia. Sinto que você conseguiu estabelecer muito um jeito próprio de caminhar nessa indústria vital da música. E aí, como foi estabelecer esse seu ritmo? A sua malemolência, assim, por assim dizer. 

Céu: Olha, eu acho que é todo dia é reafirmar os desejos mais profundos, sabe? Isso é quase um ativismo no Brasil, sendo compositora, mulher, mãe. É muita coisa, então eu sou uma pessoa que procuro estar alinhada com uma verdade interna todo dia. E muitas vezes isso não foi bom para mim, eu posso até ter fechado portas, mas eu quis estar presente na escola com os meus filhos. Eu sou essa pessoa, eu tento achar um lugar dentro da minha existência, que é feita da música, é feita disso tudo, mas é feita também da minha vida. Eu fui indo, com certeza eu perdi coisas, eu não fui aquela pessoa que falou com o mercado hiper assim. “Ah vai lançar agora isso, lança disco em inglês”. Quando saiu meu primeiro disco todo mundo queria que eu gravasse um disco em inglês. 

TMDQA!: Mercadologicamente, faria muito sentido. 

Céu: Sim, exato, super faria. E hoje eu observo que eu fiz o que eu senti, sabe? Quando eu cheguei eu era super imatura e eu já entendo, com muita terapia, porque eu estava naquele lugar, porque eu não estava preparada. Então assim, eu me aceito,  é o que eu fiz, é o que eu pude dar. E ao mesmo tempo, acho que eu fui construindo uma coisa sólida, de solidez. Então é isso que você falou, tipo, são nem tantos, mas tem uma certa solidez eles, né? Eles vêm, os discos vêm. 

TMDQA!: Ó, eu não estou reclamando não, tá? Inclusive, eu já tinha voltado nos seus discos, porque recentemente eu entrevistei o jornalista Marcelo Monteiro, ele publicou um livro, “Avalanche”, sobre a geração da cena indie BR, 2010 até 2020, assim, a galera que mudou o jogo com streaming, etc. E você aparece ali como um personagem central. Tipo uma virada de página, em muitos sentidos. E aí, me lembrou desse momento, efervescente…

Céu: Me passa o nome do livro? Quero ler. 

TMDQA!: Ah, é grandão. Avalanche – A revolução do streaming (2010-2020): 51 nomes para conhecer a novíssima música brasileira, do Marcelo Monteiro. Tem entrevistas e você aparece ali. E voltando assim nesse turbilhão, esse momento em que tudo aconteceu, você já conseguia ter a percepção de que tinha uma mudança acontecendo ali, promovida por você e vários outros artistas naquele ecossistema? E, num segundo momento, revisitando, como você se sente de ocupar esse papel? 

Céu: Bom, eu sentia que sim, eu percebia que isso ia acontecer, essa revolução. Talvez eu não conseguisse nomear exatamente o que a gente estava fazendo, o significado real da história. Mas eu sentia que tinha uma janela que estava precisando ser aberta, sabe? E era isso o que eu sentia. E sobre o lugar que eu tô hoje, eu percebo. É bem claro, assim. É claro, porque hoje eu transito com todas as gerações, pessoas mais velhas – estava tocando com Marcos [Valle], eu vou fazer um show com o [Arthur] Verocai –, enfim, eu transito. Mas eu também, às vezes, tenho ligações de artistas novos me pedindo conselho. “Como você faria?” Artistas grandes, que hoje estão mais conhecidos que eu.

TMDQA!: Mas é que hoje já dá pra sentir a galera que se fez ouvindo seu som, né?

Céu: Exato, e aí que eu percebo o lugar que eu tomei, porque eu fiquei num lugar, é quase que… Eu viro a mãe mesmo deles [dos novos artistas], sabe? “Você acha que é isso, que eu faço isso? O que você faria?” E eu acho isso muito lindo, sabe? Pra mim é… Putz, é incrível quando me pedem conselhos, quando a gente troca, mesmo falando de perspectivas de mercados diferentes, estando em lugares diferentes, é muito interessante poder ter essas trocas. 

TMDQA!: Sim, imagino, e esse lugar é seu, tá cimentado! Agora, queria puxar o papo para falar de um outro tipo de dramaturgia, digamos. Porque as suas músicas, elas têm esse lugar de trilha sonora da vida das pessoas e são literalmente trilha sonora de filmes, de novelas, de séries. Eu queria saber como que funciona para você quando você vê a sua música dando tom de uma cena e tal. Ela te passa algo novo, te mostra uma camada que você não tinha imaginado? Como é ver a sua canção sendo apropriada para uma outra obra, sabe? 

Céu: Sim, super, isso é uma coisa que mexe comigo. Até por exemplo, quando eu fiz, vamos supor, o “Corpocontinente”, do APKÁ, eu ganhei um clipe incrível, uma produtora maravilhosa, os caras me deram de presente e porque eles queriam trabalhar comigo e porque também com certeza ele queria fazer um trabalho – o diretor, o Rodrigo Saavedra –, que estivesse em uma competição tal, então acho que foi uma coisa mútua. E ele fez uma perspectiva da música que nunca tinha passado na minha cabeça, nunca. E isso acontece tanto em um clipe, por exemplo, no caso especialmente de “Corpocontinente”, eu sinto bastante isso, mas também em filmes ou séries, quando eu vejo cenas… Eu acho lindo. Sempre tive uma coisa meio vinculada a filme, cinema, atriz… Tem gente que fala que eu sou meio atriz mesmo (risos). O Pupillo sempre fala, “Ainda vão te descobrir!” (risos).

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TMDQA!: Ah, você não estava em um episódio de Família É Tudo?

Céu: É, foi muito surreal, a Globo me chamou pra fazer um negócio e eu fiz. Eu estava no Rio, era uma ponta e eu falei, “gente, mas é isso mesmo?”. “É, a gente precisa de uma cantora”. Eu falei “eu vou, né?”, era até a estreia do show no Circo Voador, eu fiz lá rapidinho e tal. Mas eu era tão matuta, tão verde no começo… Eu tive vários convites de cineastas pra fazer filmes. Eu não queria, porque eu queria focar na música, muito. Mas essa história do cinema, da música, da música como servindo de apoio pra uma imagem, isso eu sempre gostei, eu sempre curti fazer música sob encomenda, música para filme. Lá no meu primeiro disco, o Beto Villares, que produziu meu primeiro disco, vira e mexe, ele largava comigo umas coisas. Ele tinha muito trabalho, ele falava, “faz a música dessa cena”, eu fazia, então essa coisa tá comigo desde sempre, sabe? Mas as cenas que mais me emocionam são as cenas que ou vivencio mesmo, ou que pessoas que eu amo, que me importam, vivenciam. Essas aí são as que eu acabo levando para o meu disco. 

TMDQA!: Exato, porque aí vira – sem querer banalizar, mas vira material, vira inspiração, né? 

Céu: Sim, justamente.

TMDQA!: Para a gente encerrar, queria trazer um pouquinho desse diálogo que tá sempre presente no seu trabalho. Sinto que as suas canções são muito imagéticas, sempre foram, dá para você ouvir e imaginar toda uma história se desenrolando ali. Você pensa nelas de um ponto de vista de contadora de histórias, tipo um fio que guia, que conta uma narrativa? 

Céu: Sim. Eu já ouvi pessoas falarem, “ah, você é meio solta na letra”. Não, não sou solta, não tem nada solto na letra. Eu posso até ser psicodélica, mas solta não (risos). Eu gosto de ter um fio condutor nas histórias das letras. Elas têm alguma coisa sempre, sim, que vai do começo, que vai para o meio, que vai para o fim, que contam, que trabalham com uma imagem, com uma sensação ou uma coisa que pode ser da minha história. São curtas, eu não sei fazer a linha da galera mais verborrágica, que escreve muita coisa. Você não vai ver muito assim, porque o meu jeito é mais sucinto. Mas você vai ver que tem sempre esse fiozinho condutor aí. 

TMDQA!: Sim, tem muito nas entrelinhas também, né? Céu, eu sei que tenho que te liberar, mas queria te agradecer pelo seu tempo.

Céu: Imagina, foi ótimo, adorei!

SERVIÇO

Céu @ São Paulo
Data: 9 de agosto de 2024 (sexta-feira)
Horário: 21h
Local: Audio – Av. Francisco Matarazzo, 694 – Barra Funda – São Paulo/SP
Valores: A partir de R$50,00 (pista solidário) | A partir de R$60,00 (pista) | A partir de R$80,00 (mezanino)
Ingressos: https://www.ticket360.com.br/ingressos/28735/ingressos-para-ceu-lancamento-do-album-novela