Artista pernambucano busca a valorização do Frevo ao longo do ano

TMDQA! Entrevista: Romero Ferro exalta o Frevo e defende o ritmo fora do Carnaval

Cantor pernambucano vem se manifestando para que o ritmo nascido em Recife seja executado com mais frequência

Romero Ferro inaugurou o projeto Frevália
Crédito: divulgação

Após realizar a estreia do show Frevália no Rio de Janeiro e São Paulo, o cantor e compositor pernambucano Romero Ferro tem se dedicado a levar o Frevo a todos os espaços possíveis, ultrapassando as fronteiras do Carnaval de Pernambuco para alcançar lugares que ainda não explorados pelo ritmo que nasceu na cidade de Recife.

A partir dessa proposta, o músico conversou com o Tenho Mais Discos Que Amigos! e falou sobre seu novo projeto, as apresentações que marcaram a estreia do Frevália e suas iniciativas para tornar o Frevo um gênero musical com força suficiente para atingir novas audiências e percorrer circuitos fora dos blocos de foliões.

Confira o resultado da entrevista logo abaixo e aproveite para conferir o visualizer do single “Bicho Maluco Beleza”, feito em parceria com Rodrigo Alarcon, ao final da matéria!

TMDQA! Entrevista Romero Ferro

TMDQA!: O seu projeto “Frevália” surgiu para ajudar a popularizar o Frevo fora do Nordeste. Recentemente, você se apresentou com o novo espetáculo no Rio de Janeiro e São Paulo. Como foi a recepção do público?

Romero Ferro: Foi incrível, a melhor recepção possível! Eu ouvi por muito tempo que o Frevo era um ritmo regional, e me falavam isso de forma pejorativa, como se regional fosse algo ruim, ou menor. Quando na verdade, o regionalismo faz parte da diversidade cultural que o Brasil tem. Todo ritmo musical vem de alguma região, e essas diferenças precisam ser exaltadas, e não colocadas em um comparativo vazio de valor. O Frevo é pop, e não sou eu quem tá falando isso, basta olhar para sua história, o seu legado. A maior resposta para mim, é perceber que quando o Frevo toca, ninguém fica parado!

TMDQA!: O Frevo é ritmo que a maioria das pessoas conhece, mas não estão habituadas a escutar fora do circuito do Carnaval, como você tem reforçado. Quais eventos no Brasil, atualmente, você indicaria para que elas familiarizassem os seus ouvidos?

Romero Ferro: Infelizmente não existe espaço para o Frevo em festivais, eventos, plataformas, com exceção do período carnavalesco. Sei que o carnaval foi um dos maiores aliados para que o ritmo se popularizasse, mas ao mesmo tempo, esse estereótipo que foi colocado é um dos maiores obstáculos que faz o Frevo, atualmente, não furar bolhas. Eu escuto o tempo inteiro: “Que burrice a sua ficar tocando Frevo fora do carnaval!” E por aí vai… O mais próximo do que dialoga com o Frevo são os eventos de música tropical, que mesmo assim, estão longe do que poderia ser uma “introdução ao ritmo”. Por isso criei o FREVÁLIA, para discutir, ocupar espaços, e tocar Frevo o ano inteiro.

TMDQA!: Nesse sentido, quais artistas você recomendaria para quem estiver interessado a procurar álbuns de Frevo nas plataformas digitais?

Romero Ferro: Tanto Elba [Ramalho] como Alceu [Valença] gravaram muitas canções e álbuns de Frevo, e são defensores do ritmo, assim como Maestro Spok, Nena Queiroga, André Rio, Maestro Forró, Silvério Pessoa, Gustavo Travassos, Marron Brasileiro, Orquestra 100% Mulher, Bia Vila Chan, Coral Edgar Moraes,
Orquestra Malassombro e muitos outros artistas incríveis. Mas a produção do Frevo tá longe de ser o que poderia, porque o ritmo não tem uma prateleira no mercado, não tem espaço. Logo, sem uma produção expressiva, não existem curadores, eventos, festas, playlists, e daí essa cadeia não funciona, nem se fortalece.

Então, as produções são bem pontuais, e os artistas sofrem para se manter ao longo do ano, por que só é consumido Frevo no carnaval. Infelizmente. Está sendo um duro imenso abrir espaço nos lugares, fazer as pessoas darem uma chance ao ritmo. Mas isso é algo que eu já previa, e faz parte desse processo de diálogos.

TMDQA!: O Frevo é uma mistura de vários ritmos e para o “Frevália” você decidiu incorporar o Brega Funk à batida das músicas. Como se deu a ideia?

Romero Ferro: Eu queria muito tirar o Frevo de um lugar elitista e classista que algumas pessoas o colocam. Talvez por ser um ritmo mais complexo de ser tocado, ter bebido do jazz, ele ficou preso em um universo mais conservador. Algumas orquestras exigiam que o ritmo fosse tocado de uma forma específica, e isso impediu que o Frevo se misturasse. O FREVÁLIA é exatamente o oposto de tudo isso, eu quero a mistura. E o brega funk foi a primeira coisa que me veio na cabeça, por que é um movimento que só se fortalece nacionalmente, nasceu na periferia do Recife, então fazia total sentido. Não tem nada mais pernambucano do que misturar o Frevo e o Brega Funk, né?

TMDQA!: Quais são os próximos passos da turnê? O que o público pode esperar nos shows que estão por vir?

Romero Ferro: Vêm mais shows por aí, um show novo que acabou de estrear, participações especiais, e um festival do FREVÁLIA. É um projeto gigante, que tá só começando!

TMDQA!: Pernambuco é um dos estados brasileiros mais ricos em cultura e Recife é o berço do Frevo. Desde 2012, o ritmo é considerado pela UNESCO como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, o que lhe confere grande importância mundialmente. Como mostrar aos brasileiros que eles deveriam valorizar mais o Frevo?

Romero Ferro: Eu estou tentando encontrar a melhor estratégia para isso, o FREVÁLIA fala da valorização do ritmo o tempo inteiro. Quanto maior a dimensão desse projeto, maior a valorização, e fortalecimento do Frevo. Acabei de lançar um álbum, com várias participações, e todo mundo abraçou a causa de coração. Mesmo assim, falta investimento, patrocínio, estrutura para fazer o ritmo rodar ainda mais. Eu sou só um canal, o ritmo já fala por si só. Então vamos levar a palavra do Frevo adiante!

TMDQA!: Para finalizar, use esse espaço para convidar nossos leitores para a sua turnê, e sinta-se livre para complementar quaisquer temas que você julgue necessário.

Romero Ferro: “Estou aqui passando para convidar todos os leitores do TMDQA para escutarem o FREVÁLIA e o Frevo, o ano inteiro. Acabei de voltar de shows em São Paulo, Rio de Janeiro, e Garanhuns, em breve sairão mais datas, e eu espero vocês lá também! Obrigado pelo carinho e espaço, o Frevo agradece!”