"Estamos no início da caminhada"

TMDQA! Entrevista: Pluma potencializa experimentações sonoras em seu disco de estreia "Não Leve a Mal"

Em conversa com o TMDQA!, a banda paulista revela bandas e artistas que inspiraram seu primeiro disco

PLUMA
Crédito: Maria Cau Levy

A banda Pluma, que lá em 2019 era apenas um projeto de faculdade dos músicos Diego Vargas (teclado e synth), Guilherme Costa (baixo), Lucas Teixeira (bateria) e Marina Reis (voz), compartilhou com os fãs seu disco de estreia Não Leve a Mal.

O trabalho do grupo paulista, que é considerado um dos destaques da atual música alternativa brasileira, chega com 12 faixas que revelam o amadurecimento sonoro da banda e reflexões sobre libertação, pessimismo, melancolia e leveza.

Reunindo a essência do que foi apresentado em seus dois primeiros EPs, Mais do Que Eu Sei Falar (2020) e Revisitar (2021), o grupo buscou fazer novas experimentações e reforçar a presença dos sintetizadores em suas canções, chegando em um resultado surpreendente.

Mesmo com poucos shows realizados após o retorno dos eventos em 2021, mas mostrando boa parte de seu potencial através de seus primeiros trabalhos, a Pluma foi convidada para se apresentar no prestigiado Primavera Sound Barcelona em 2022.

Em entrevista ao TMDQA!, o grupo explicou que a pressão de participar do evento internacional fez com que eles se vissem obrigados a evoluir em pouco tempo. Porém, a vivência parece ter valido a pena, principalmente, para o processo de criação do seu primeiro disco:

“Assistir a tantos shows incríveis, de artistas que admiramos muito e depois de 2 anos de pandemia, mudou nossa percepção sobre as músicas que queríamos fazer e como elas soariam ao vivo.”

Trabalhando por cerca de dois anos nas músicas de Não Leve a Mal, a banda, que fez uma imersão para desenvolver as ideias do disco, aponta que suas referências foram mudando ao longo do processo de criação e passou por nomes como Steve Lacy, badbadnotgood, Céu, Rosalía, Boogarins, Tame Impala e mais.

Como você pode ouvir ao final da matéria, o disco de estreia da Pluma é inovador no cenário nacional, apresentando uma mistura muito bem elaborada de ritmos como jazz, rock psicodélico, pop, R&B, neo soul e indie rock e mais.

No dia 31 de agosto, o grupo irá realizar seu primeiro show após o lançamento do disco no festival 5 bandas, que acontece na Casa Rockambole, em São Paulo.

Confira a seguir o papo na íntegra com os integrantes da Pluma, assista ao clipe de “Quando Eu Tô Perto”, dirigido por Gabriel Rolim e Pablo Aguiar, e ouça ao final da entrevista o novo disco Não Leve a Mal.

TMDQA! Entrevista Pluma

TMDQA!: Vocês fizeram uma viagem para Cambará, no Paraná, para trabalhar nas músicas de “Não Leve a Mal”. Eu queria saber o quanto essa imersão influenciou no resultado que vocês apresentam no disco?

Pluma: Influenciou completamente! Quando fizemos a viagem a gente já tinha várias ideias pequenas, alguns loops, algumas composições e demos, mas foi lá que realmente o disco tomou forma, onde conseguimos fazer uma imersão e desenvolver as ideias, experimentar, ficar 100% na ideia do álbum, o que cada vez é mais difícil no dia a dia, com todos da banda tendo que se desdobrar em diversas funções e com toda a correria do dia a dia, então foi muito especial poder tirar esse tempo e ficar 10 dias pensando e criando as músicas, além de termos ficado os quatro juntos o tempo inteiro, como banda foi algo muito bom.

TMDQA!: Quais foram as principais diferenças para o som de vocês e no processo de criação do disco entre trabalhar nos primeiros EPs durante a pandemia e fazer o novo álbum nesses últimos anos?

Pluma: Muita coisa mudou desde os primeiros EPs, conseguimos viver a banda, tocar e se conectar com pessoas. A gente considera que ter visto muitos shows juntos (inclusive alguns muito especiais no Primavera Sound Barcelona) foi essencial. Lá, tivemos a perspectiva das músicas no contexto do ao vivo e vimos as reações das pessoas. Além disso, o fato de ter experimentado e aprendido muito nas nossas primeiras músicas, e a oportunidade de explorar nossas novas ideias em um álbum de 12 músicas, nos dá mais calma e espaço para se expressar e poder fazer algo mais conciso e completo.

TMDQA!: Um dos grandes destaques do álbum foi o uso dos sintetizadores, e eu queria saber se priorizar esse recurso era algo que vocês já tinham em mente ou ele foi se tornando essencial ao longo do processo mesmo?

Pluma: Desde o início da concepção da banda nós já pensávamos em usar os sintetizadores como parte principal do som, um dos motivos também de termos escolhido essa formação de trio de baixo, bateria e sintetizador. Isso parte muito das referências que a gente pega em “neo soul “e “r&b alternativo”, que têm esse instrumento bem presente.

TMDQA!: A sonoridade de “Não Leve a Mal” reúne uma mistura de gêneros musicais como jazz, rock psicodélico, pop, R&B, neo soul e indie rock e mais. Quais foram as principais referências que acompanharam vocês no processo de construção do disco?

Pluma: Como o processo inteiro do álbum levou muito tempo, acabamos passando por várias fases de influências. Acho que as principais foram Steve Lacy, badbadnotgood, Céu, Rosalía, Billie Eilish, Boogarins, Tame Impala, Arlo Parks, Crumb, Mr. Jukes, dentre outros.

TMDQA!: Qual é o maior desafio em misturar elementos mais voltados para a música internacional com referências da música brasileira e conseguir chegar nessa sonoridade única e coesa que vocês apresentam?

Pluma: Acho que usar os caminhos que já foram construídos por outros artistas brasileiros que admiramos para chegar nessas sonoridades ajuda muito, como é o caso da Céu e do Boogarins. A gente acabou aprendendo que não adianta forçar essa união, ela tem que ser resultado da nossa interação com a música brasileira que existe desde que somos pequenos.

TMDQA!: Vocês acreditam que esse som experimental ajuda a chamar mais atenção do público geral ou acaba atraindo um nicho específico, que pode se interessar pelo som de vocês?

Pluma: O interesse do público sempre vai existir para trabalhos que são bem pensados, por isso tentamos ao máximo juntar referências para poder experimentar coisas novas, mas mantendo alguma coisa com que as pessoas podem relacionar e se interessar.

TMDQA!: Vocês comentaram que a participação no Primavera Sound Barcelona em 2022 foi um divisor de águas na carreira de vocês. O que vocês sentem que mais mudou a partir daquele convite e daquele show?

Pluma: Em primeiro lugar, a pressão de sair do Brasil para tocar em um festival daquele tamanho fez com que a gente evoluísse muito em um curto período de tempo; principalmente considerando que até então haviam tido poucas oportunidades de tocar ao vivo. Além disso, assistir tantos shows incríveis, de artistas que admiramos muito e depois de 2 anos de pandemia, mudou nossa percepção sobre as músicas que queríamos fazer e como elas soariam ao vivo.

TMDQA!: Em “Sonar”, última música do disco, vocês cantam “que o que me move é o medo de parar”. Essa é uma sensação que vocês sentem? E vocês fazem algum tipo de relação entre isso e a trajetória da banda?

Pluma: Eu (Marina) escrevi esse trecho porque muitas vezes senti que mais do que qualquer outra coisa, o que me move é estar em movimento. Muitas vezes não sabemos exatamente a direção ou o destino que buscamos, mas ficar parado esperando descobrir com certeza nunca ajuda. Durante a criação desse primeiro álbum muitas vezes não sabíamos para onde mirar, mas no meio do processo as coisas iam se esclarecendo aos poucos.

TMDQA!: Vocês estão completando 5 anos de carreira este ano e eu quero saber, após o lançamento do primeiro disco da banda, como vocês avaliam a trajetória da banda até aqui e o que vocês querem conquistar ou fazer nos próximos anos?

Pluma: Os primeiros dois anos de banda foram vividos durante a pandemia. De certa forma isso muda um pouco a nossa percepção de tempo. Sinto que ainda estamos no início da caminhada, lançando nosso primeiro álbum e começando a fazer mais shows pelo país. Nos próximos anos espero cada vez mais consolidar nosso nome e quem sabe exportar o som para além do Brasil.