Quais serão os melhores álbuns do rap nacional de 2024? Com o ano caminhando para o fim do seu oitavo mês, muitos discos e artistas se destacaram até aqui. E antes de encerrar o ano, decidi listar os meus 10 trabalhos preferidos até aqui.
Enquanto parte da cena tem replicado uma espécie de receita de bolo, em busca de viralizar nas plataformas de streaming, a maior parte dos discos presentes nessa lista chamaram a minha atenção por seguir um caminho próprio, com autenticidade nas composições e sonoridades exploradas.
E provavelmente, pela sua ótima qualidade, parte dos nomes abaixo ainda estarão presentes na lista de final de ano, que deverá ter a inclusão de nomes de peso como Racionais MCs, Don L, Matuê e Victor Xamã.
1. Febem – Abaixo do Radar
Febem é um caso raro de artista que possui uma carreira longeva e, a cada disco adicionado à sua discografia, sobe o sarrafo no quesito qualidade. Em Abaixo do Radar, o artista explora sua faceta mais introspectiva e vulnerável, ao mesmo tempo em que questiona sua desvalorização na cena, apesar de ser referência para outros artistas.
Ao lado do produtor Cesrv, Febem consegue apresentar ainda uma variedade sonora, flutuando em diferentes gêneros e samples. E apesar de estar “abaixo do radar”, o rapper da Zona Norte segue se firmando como um MC que vai além de ser acima da média, mas um dos melhores de sua geração.
2. Duquesa – Taurus Vol. 2
Natural de Feira de Santana, a rapper Duquesa já apresentava seu potencial artístico em projetos anteriores. Quem conhece sua trajetória, mantinha uma boa expectativa sobre o que poderia vir. Porém, o álbum Taurus Vol. 2 é uma porrada muito maior, onde a artista demonstrou uma surpreendente e rápida evolução, bem como amadurecimento.
Taurus Vol. 2 não apresenta uma mísera poeira de defeito e Duquesa entregou uma obra cheia de qualidade na escolha das produções, em suas composições, na versatilidade de ritmos e na maneira que seu flow é capaz de encaixar em qualquer estilo.
Duquesa não jogou na zona de conforto dos projetos anteriores, que também foram elogiados. A rapper baiana dobrou a aposta e ainda deixou uma mensagem: isso é só o começo.
3. Rashid – Portal
Durante seus 15 anos de carreira, Rashid sempre demonstrou saber rimar – e muito. Porém, em seu novo álbum, Portal, o rapper removeu todas as armaduras e expôs sua versão mais sensível e íntima.
Acessando seu eu interior, Rashid acessa camadas emocionais jamais exploradas anteriormente e apresenta uma sonoridade muito madura, saindo das estéticas padrões do rap e criando uma pluralidade de arranjos e produções.
Depois de oito discos, é possível afirmar que Rashid alcançou seu novo auge e criou o melhor álbum da sua carreira até aqui.
4. Kamau – Documentário
Kamau é o mentor da geração que mudou o rap nacional no início da década passada. Sua discografia empilha clássicos e seu novo projeto, Documentário, não foi diferente. Apesar da curta duração, o rapper não deixa de apresentar a sua melhor versão, misturando técnica e lírica como poucos.
Em 16 minutos, Kamau apresenta uma narrativa densa e poética, comprimindo temas complexos e conflitos pessoais de maneira objetiva. O trabalho enxuto faz com que o rapper não desperdice uma linha. Tudo é totalmente calculado, levando o ouvinte a emergir no universo da obra.
5. Kyan – Só Vilão, Aqui Não Tem Herói
Apesar de não alcançar o teto atingido por UM Quebrada Inteligente (2023), o terceiro álbum do rapper Kyan é mais um acerto em sua carreira meteórica. Em Só Vilão, Aqui Não Tem Herói, o artista do litoral paulista não ousa, mas ainda apresenta a sua melhor versão: muita rima, mensagem e flow.
Autoconsciente, Kyan faz uma reflexão sobre sua vida e o seu redor. Numa espécie de jornada do anti-herói, ele relata suas frustrações e conquistas, debatendo sua relação com o dinheiro e questiona o privilégio branco em setores do mercado.
Diferente da proposta do disco anterior, que nasceu com a ideia de criar uma sonoridade autoral e fora da caixa, nesse projeto Kyan cria músicas com o objetivo de se conectar com os seus, se colocando como a referência que é para a nova geração.
6. Boombeat – METamorFOSE
Boombeat sempre foi uma das minhas artistas favoritas. Desde o começo da carreira, ainda antes de integrar o Quebrada Queer, ela já se apresentava como uma das melhores rimadoras da cena, com uma das canetas mais potentes do rap brasileiro.
Em METamorFOSE, Boombeat traz uma nova faceta artística, uma espécie de rap mais humanizado, falando sobre autoestima, experiências próprias e amor sob a perspectiva travesti.
O projeto tem uma sonoridade diversa e colaborações que engrandecem a obra. Prova disso é que na faixa “Céu” é possível ver um dos melhores versos da carreira de Emicida.
7. Rap, falando – Músicas Pra Sair Na Mão
Um dos projetos mais importantes da história do rap nacional. É assim que a mixtape do perfil Rap, falando precisa ser retratado. Um disco criado por uma mídia independente, feito por pessoas que respeitam e trabalham por uma cultura, mesmo sem os incentivos devidos. Isso é gigantesco.
São 15 músicas com uma curadoria artística bem feita, unindo feats inesperados, mas bem executados. A produção é coesa do começo ao fim, misturando sonoridades, mas sem abandonar a proposta do projeto.
8. Yago Oproprio – OPROPRIO
O rapper Yago Oproprio é um daqueles talentos que marcam uma geração. Não é à toa que seus singles batem números impressionantes, furando a bolha do underground. E o álbum “OPROPRIO” é a coroação do que o artista construiu ao longo dos últimos anos.
O projeto explora as melhores qualidades do Yago. Os instrumentais bem construídos dão espaço para que a voz e flow do rapper, sua marca registrada, se destaque bastante.
Apesar da narrativa mais simples, onde o cantor narra seu cotidiano e suas reflexões, o disco leva o ouvinte a uma viagem noturna, com um tom noir. Um disco perfeito pra colocar no fone e caminhar pelo centro da cidade.
9. Sujoground – Maria Esmeralda
Um dos melhores trabalhos do ano não é do underground, mas da Sujoground. Intitulado “Maria Esmeralda”, o disco do quinteto composto por Thalin, VCR Slim, Cravinhos, Pirlo e iloveyoulangelo é completo em todos os sentidos.
Passeando por uma narrativa rica, recheada de referências, o álbum apresenta diferentes versões e visões na criação da figura de Maria Esmeralda, mostrando uma sensibilidade para a criação musical que eu ainda não havia visto dentro da cena nacional.
10. Oklin – Dialeto Delinquente
O último, mas não menos importante. O rapper Oklin será a revelação do rap nacional em 2024 e o disco Dialeto Delinquente é a prova disso. Em apenas oito músicas, o jovem artista da Zona Norte de São Paulo mostra uma versatilidade rara dentro do rap brasileiro.
Oklin flutua em diferentes estilos musicais, como o trap hard, o drill, jersey e o house. A originalidade também existe nas composições, apresentando rimas de autoafirmação, mas com um tom satírico e debochado.
Eu vejo Dialeto Delinquente como um disco ousado, onde um rapper em ascensão foge das receitas que têm dado certo no mercado para criar um disco autoral, criativo e muito bem executado.
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