Série de entrevistas destaca alguns dos melhores produtores do Brasil

Mestres da Produção: Ana Frango Elétrico fala ao TMDQA! sobre ganhar notoriedade na produção de seu trabalho e outros artistas

Confira entrevista inédita com Ana Frango Elétrico sobre carreira na produção musical e parceria com outros artistas

Ana Frango Elétrico - Crédito Hick Duarte
Crédito: Hick Duarte

Ana Frango Elétrico sempre se mostrou versátil artisticamente – seja na polirritmia das suas canções, nas abordagens das letras ou nas suas andanças pela cena carioca. Hoje, sua carreira é celebrada justamente pela capacidade de ser ímpar em seu trabalho autoral, tendo chegado a três álbuns altamente elogiados.

Mas Ana Fainguelernt vai além do palco. Sua trajetória é marcada por uma produção autoral intensa, onde assume o papel principal na produção de seus trabalhos. Essa autonomia criativa lhe permite moldar um som pessoal, que transita por diversos gêneros, do indie pop ao experimental, sempre com uma pitada de sofisticação e psicodelia.

Carioca, Ana estreou em 2018 com o álbum independente Mormaço Queima, um trabalho que já demonstrava sua maturidade musical e sua capacidade de construir atmosferas sonoras ricas e complexas.

Em seguida, veio o aclamado Little Electric Chicken Heart, que projetou sua voz nacionalmente e lhe rendeu indicações ao Grammy Latino e ao Prêmio Multishow. Nesses trabalhos, Ana Frango Elétrico não se limita a interpretar suas próprias canções, mas também as produz, arranja e, muitas vezes, toca diversos instrumentos. 

Os dois primeiros discos foram co-produções. No primeiro, o crédito é compartilhado com Guilherme Lirio, Gustavo Benjão, Marcelo Callado e Thiago Nassif; o segundo, assinado com Martin Scian. A lista atesta a sua proximidade dos nomes de vanguarda do cenário indie do Rio. Mas, no terceiro álbum – o excelente Me Chama de Gato Que Eu Sou Sua, lançado pelo selo Risco em 2023 -, Ana não apenas assina solo a produção musical, como também deixa sua marca na direção de arte. 

Este é um dos seus muitos superpoderes como artista: além da produção musical, Ana Frango Elétrico também se destaca na pintura e poesia. Essa versatilidade se reflete em sua música, que muitas vezes traz elementos visuais e literários. As letras, poéticas e introspectivas, abordam temas como amor e identidade, sempre com uma sensibilidade única. É assim que Ana cria um universo estético que lhe coloca como uma das vozes mais originais da nova geração da música brasileira – seja cantando suas próprias músicas, seja produzindo para outros artistas. 

É o caso do álbum homônimo da banda Sophia Chablau e Uma Enorme Perda De Tempo; do premiado SIM SIM SIM, do Bala Desejo, que produziu ao lado do quarteto; e de produções com Julio Secchin e Rubel. Esses trabalhos mostram a disposição em ir além dos mundos que cria em suas canções caleidoscópicas.

Ana falou ao TMDQA! sobre como formou o gosto por construir sonoridades, os desafios desse trabalho e um possível impacto da Inteligência Artificial. Confira abaixo!

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Ana Frango Elétrico assina suas próprias produções

TMDQA! Entrevista: Ana Frango Elétrico

TMDQA!: Ana, obrigada pelo seu tempo! Começando pelo começo: como você desenvolveu o interesse pela música e pela forma como ela é feita e construída?

Ana Frango Elétrico: Obrigada a você. Meu primeiro interesse na música surgiu com a composição, esse lugar da criação, onde eu comecei a compor, escrever e pintar. Então sinto que a música surgiu no interesse pela arte, a vontade de ser artista, de trabalhar com a criação e provocação. 

TMDQA!: Na medida que foi fazendo seus próprios trabalhos, que habilidades você desenvolveu foram mais decisivas para amadurecer sua sonoridade como artistas e na produção?

Ana Frango Elétrico: Acho que há um interesse pessoal pela evolução, por melhorar. Eu nunca me senti nem um cantor nem instrumentista foda, mas confio no meu gosto, no meu senso estético, no meu direcionamento e no que eu quero e imagino. 

Então sinto que a produção musical me contemplou porque tenho conhecimento musical, teórico e subjetivo, e também tenho essa macro visão, esse interesse na direção, de ser essa pessoa que pensa no todo, nas tonalidades, intros e outros, timbres etc. 

Um ponto chave pra mim foi começar a me equipar de repertório de vocabulário técnico sobre equipamentos e processos de uma gravação, sinto que pra mim foi muito importante, porque todo mundo sabe que é um meio tomado por homens cis, então ou eu tinha certeza, ou eu tinha certeza. 

Para além de gostar muito, pra mim foi uma virada começar a saber sobre microfones e microfonação, compressores, prés e processos.  

E aí como artista, eu queria ser escultora, então quando comecei a cantar não tinha esse desejo de me profissionalizar, mas como fui me tornando cantora, tenho cada vez mais desejo de melhorar e estudar. Comecei a fazer aula de piano e de canto e mudou minha vida. 

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Julio Secchin é um dos expoentes da cena carioca que tiveram trabalhos assinados por Ana Frango Elétrico

TMDQA!: Seu trabalho na produção musical vem sendo cada vez mais reconhecido. O que você acha que vem mudando na forma como as pessoas encaram a produção e se informam sobre ela? 

Ana Frango Elétrico: Acho que a internet mudou tudo, eu mesmo, fui aprender sobre microfones e compressores na internet, sempre pesquisei como produtores que eu amo produziram e microfonaram tais coisas. Quando fui gravar baixo acústico pela primeira vez, pesquisei no youtube como Al Schmitt gravava. 

Acho que tá em um momento particular do som em relação a volume e compressão por conta das plataformas digitais e também por uma falta de padrão em relação a caixas de som, não as de estúdios, e sim o som que ouvimos em casa celulares e headphones. 

Acho que em breve volta para um padrão, sinto que justamente não gosto de produzir pensando na plataforma, e sim no meu ouvido e tudo de clássico que eu já ouvi. Prezo muito pela textura. 

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Ana Frango Elétrico co-assina a produção do premiado disco do Bala Desejo que ganhou um Grammy Latino.

TMDQA!: Como você decide o próximo trabalho que terá sua assinatura na produção?

Ana Frango Elétrico: Normalmente o que eu acho que posso contribuir, que eu já tenha uma pré visão etc. Vai sair disco da Dora Morelenbaum e do Negro Leo, ambos com minha produção. 

Como tenho feito muita coisa na minha carreira pessoal, hoje em dia só tô fazendo o que eu realmente quero e admiro do fundo do coração. No caso dos dois, são amigos queridos que admiro. E também eu amo produzir os meus discos, já estou começando a pensar no próximo. 

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Ana Frango Elétrico também trabalhou com Rubel

TMDQA!: Aliás, a assinatura, a autoria, é muito importante. Hoje, a indústria da música tenta entender o que fazer com a Inteligência Artificial generativa. Você acha que ferramentas que automatizam a produção musical são um risco para a profissão?

Ana Frango Elétrico: Sinceramente, não. Acho que pra não ficar ruim o resultado gerado, é preciso muita referência. 

Tive uma experiência com imagens e senti isso, quando fui começando a botar mil referências, e processos diferentes é que foi ficando bom o resultado. 

Então eu imagino que pra não ficar completamente genérico você precise colocar muitas coisas do seu conhecimento pra jogo. 

O cérebro eletrônico faz QUASE tudo (risos).

TMDQA!: Falando em parcerias, o que julga mais importante no relacionamento entre artistas/bandas e produtor musical?

Ana Frango Elétrico: Confiança e escuta.

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O disco de Sophia Chablau e uma Enorme Perda de Tempo projetou a banda para a cena nacional

TMDQA!: E que conselho você dá para artistas que querem se autoproduzir e também para quem quer começar a produzir outros artistas?

Ana Frango Elétrico: Bom, primeiro eu não acho que todo artista deve se produzir, acho que um erro das gerações mais novas, a minha inclusive, é querer fazer tudo, compor, mixar, produzir. Acho muito importante a troca com outros profissionais, eu aprendi MUITO trabalhando com outras pessoas que sabiam mais que eu, e sinto que se não tivesse trabalhado com esses profissionais seria outra pessoa hoje. Então só produza se você tiver realmente interesse por esse campo, lapide o que você acha que tem de melhor, seja cantar, compor, ou produzir. 

Para quem quer começar a produzir, eu diria para encontrar sua linguagem, o que quer dizer em termos de texturas, o que quer provocar com sonoridades. Assim como no desenho, aprenda a representar qualquer coisa, pode ser até desenho de palitinho, mas esse desenho tem que ter a sua cara. 

Ah e se você quer mais volume, não sai entupindo de coisa. Mais elementos e microfones, menos compressão. Já errei por aqui (risos).

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