Cultura e resistência

Documentário "Black Rio! Black Power!" estreia nos cinemas e preserva memória da música negra nacional

Longa dirigido por Emílio Domingos (Chic Show, Batalha do Passinho) chega aos cinemas no dia 5 de setembro

Black Rio - Crédito Arquivo Agência O Globo
Crédito: Arquivo Agência O Globo

O documentário Black Rio! Black Power!, dirigido por Emílio Domingos (Chic Show, Batalha do Passinho) estreia nos cinemas no dia 5 de setembro. O filme explora o impacto cultural e político do movimento Black Rio, que emergiu na década de 1970 como uma resposta à opressão racial enfrentada pela população negra no Brasil. 

O longa destaca a trajetória de Dom Filó, líder do movimento, e é ilustrado por depoimentos e imagens de arquivo que capturam a essência dos bailes black e sua influência na juventude da época.

A origem e o impacto dos bailes black

O documentário faz uma imersão no surgimento dos bailes black no Grêmio Social Esportivo Rocha Miranda, conhecido como “Templo Soul”. Dom Filó, o escritor Carlos Alberto Medeiros, os músicos Carlos Dafé e Marquinhos de Oswaldo Cruz, e membros da equipe Furacão 2000, como Rômulo Costa e Virgilane Dutra, são alguns dos personagens que relembram o impacto cultural do movimento. Eles destacam como a estética black power, roupas estilosas e a música soul americana foram instrumentos de resistência e afirmação da identidade negra no contexto carioca.

O filme também traz imagens de arquivo dos lendários bailes promovidos pela Soul Grand Prix, equipe de som formada por jovens negros dos subúrbios do Rio de Janeiro. Segundo o diretor Emílio Domingos, essa influência é percebida hoje tanto na conscientização do hip hop quanto no movimento negro politicamente organizado:

“O filme mostra uma juventude negra pioneira que se organizou e influenciou a cultura afro-brasileira, em meio a um período de grande ebulição política e sociocultural.

Emílio Domingos, diretor de Black Rio! Black Power! (Crédito: Divulgação)

A importância do legado Black Rio

O movimento foi fundamental para a construção de uma identidade negra no Brasil, impulsionando a autoestima e a resistência cultural em um período de intensas lutas por direitos civis. O documentário mergulha na origem dos bailes e nos depoimentos de figuras icônicas como o próprio Dom Filó, que reflete sobre o impacto duradouro do movimento.

“O legado mais importante é não só o movimento, mas o documentário traz à tona a necessidade que nós tínhamos, a minha geração tinha, de não ter tido referências. Hoje, tanto o movimento como esse documentário fazem parte da história pública da sociedade brasileira.”

Além de destacar o papel transformador da música soul e dos bailes, Black Rio! Black Power! também celebra sua vitória cultural. É como pontua Dom Filó, ao enfatizar a força e resiliência que caracterizaram o movimento, apesar das adversidades enfrentadas:

“A minha geração teve que ir lá do outro lado do Atlântico, entender um processo, trazer para cá, abrasileirar e criar uma forma de vitória. Então, nós tivemos uma vitória.” 

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Reconhecimento internacional e a construção da memória coletiva

Desenvolvido ao longo de mais de dez anos de pesquisa, o documentário de Emílio Domingos já participou de 24 festivais internacionais, recebendo oito prêmios. O filme, que iniciou sua trajetória no Festival do Rio 2023, tem sido aclamado por seu papel em preservar e divulgar a memória do movimento Black Rio para futuras gerações. O projeto surgiu para o diretor de forma bastante natural.

“Eu adorava esse gênero musical, eu sempre ouvia falar dos bailes, desde criança, e tenho muita curiosidade em relação ao assunto. Tenho pesquisado muito sobre isso há algum tempo, essa história dos bailes, a música negra me interessa muito, e eu estava fazendo uma pesquisa para o novo Museu da Imagem e do Som, sobre os 50 anos dos bailes no Rio de Janeiro, e percebi que nos anos 70 havia uma lacuna em relação à documentação e à produção de imagens, e aquilo me intrigou muito. Como é que esse período, que é tão interessante, tão rico, tem um escasso número de documentos, de material audiovisual, de foto?” 

Justamente por conta disso, o processo de reunir as fontes necessárias foi tão árduo. O diretor continua:

“Foi um grande desafio porque a gente não tinha muita imagem, foi um trabalho arqueológico de busca das imagens, e contamos muito com a consultoria e a gentileza do Filó, a orientação nas conversas ao longo desse período, para entender um pouco quem são as pessoas que eu poderia falar, onde é que eu poderia conseguir determinar os arquivos. Foi um trabalho de diálogo contínuo, e aí a gente demora 10 anos para conseguir financiamento. Mas a gente não desistiu do filme e está muito contente que esteja chegando nos cinemas agora.” 

O impacto global do documentário também tem sido considerável, com exibições em países como Austrália, Estados Unidos, Reino Unido e Quênia. A produtora Leticia Monte comentou com o TMDQA! sobre a importância de um projeto dessa magnitude:

“O ‘Black Rio! Black Power!’ é resultado de um trabalho de mais de 10 anos de pesquisa do Emílio sobre esta cena musical e da proximidade com Dom Filó, que foi fundamental e nos trouxe muitas histórias que vão virar novos projetos.”

O documentário recebeu homenagens e prêmios, como a Menção Honrosa do Júri Oficial no Festival do Rio 2023 e o segundo lugar no prêmio Pierre Verger da Associação Brasileira de Antropologia. A obra é uma produção da Espiral, em coprodução com a Osmose Filmes e a RioFilme, e conta com apoio da Ford Foundation, Open Society Foundations e IIE.

A preservação dessa memória é vista como um ato de resistência e celebração da cultura afro-brasileira, especialmente em um contexto onde a luta por reconhecimento e igualdade ainda é tão relevante.

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