No dia 1º de agosto, Bia Ferreira fez história ao se apresentar no The Kennedy Center, em Washington DC, com um show esgotado no Family Theater. A artista brasileira, conhecida por sua mistura inovadora de soul, R&B e rap com influências da MPB, recebeu uma calorosa recepção, sendo aplaudida de pé por uma plateia que geralmente não adota esse tipo de reação. Este foi o 43º show do ano para Ferreira, que tem se destacado em festivais e eventos ao redor do mundo. E ela certamente não parou por ali.
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A turnê internacional de Bia Ferreira para 2024 é marcada por uma impressionante agenda de 50 shows em 10 países até novembro. A artista já seguiu para Lisboa, onde continua sua turnê, com eventos programados em Portugal, Espanha, Suíça, Alemanha, Eslováquia, Dinamarca, Estados Unidos e Canadá. Entre as apresentações de destaque estão sua participação no Rototom Sunsplash, em Benicassim, Espanha, e no Bratislava Jazz Days Festival, na Eslováquia.
Um ponto alto dessa jornada acaba de acontecer na Festa do Avante!, um importante evento político-cultural em Portugal. Lá, Bia Ferreira compartilhou o palco com Dino d’Santiago, Eva Rapdiva e Mázinha, promovendo um ato de resistência contra o conservadorismo. Como resultado, teve o maior público de sua carreira até aqui: 35 mil pessoas.
Essa agenda movimentada não é necessariamente novidade para a artista. O primeiro semestre de 2024 foi igualmente prolífico para Bia Ferreira. Começando o ano no globalFEST, em Nova York, ela se destacou em festivais como o South by Southwest (SXSW) e fez uma turnê pela Europa e América do Norte. Em julho, ela retornou à Europa para se apresentar no Festival Cruilla e em outros eventos importantes, reforçando seu compromisso com a arte e a política cultural.
Desde sua estreia internacional em 2018, Bia Ferreira tem ganhado reconhecimento crescente, com uma carreira em ascensão. Em 2022, foi destaque em uma das feiras de negócios de música mais importantes do mundo, o WOMEX, que aconteceu em Lisboa. Sua música, que explora temas de resistência e identidade, continua a ganhar espaço em diversos contextos culturais e políticos ao redor do mundo, mesmo onde não se fala português. O motivo? Suas performances intensas, que comprovam o quanto a música não precisa de tradução para fazer sentido.
O TMDQA! trocou uma ideia com Bia Ferreira em meio a esse turbilhão. Confira abaixo!
TMDQA! Entrevista: Bia Ferreira
TMDQA!: Bia, você começou o ano se apresentando no Lincoln Center, em Nova York, e recentemente fez um show com ingressos esgotados no The Kennedy Center, em Washington DC. Como você avalia a recepção do público norte-americano à sua música, especialmente em espaços tão icônicos?
Bia Ferreira: Foi muito bom começar o ano no Lincoln Center e fazer agora o Kennedy Center com sold out, mostra que estamos construindo um público nos Estados Unidos, que é um público fiel e que acompanha mesmo. O meu primeiro show em Washington foi sold out. A primeira vez que eu dei sold out nos Estados Unidos foi no Lincoln Center, nesse show de janeiro. Então, eu fiquei muito orgulhosa de ver que estamos construindo aos pouquinhos e cativando esse público, que é novo para mim. Ano passado foi a primeira vez que eu fui para lá e agora estamos ampliando esse público e conseguindo cativar para que seja um público frequente. E eles são norte-americanos, né? Os norte-americanos estão acostumados com outro tipo de música, com outro tipo de abordagem, mas são muito dispostos ao novo, a conhecer o diferente. E eu acho que eu chego nesse lugar, o que eu faço é um negócio diferente e a galera acaba gostando. É um público diferente do público europeu, mas tirando essas diferenças, eu consigo identificar que todas as vezes que eu faço show, eu encontro pessoas dispostas a receber o que eu tenho pra oferecer. E isso é o que tem em comum nesses públicos, o que me faz sentir à vontade. Então, eu estou muito feliz com a ampliação desse público norte-americano e que aconteça mais assim.
TMDQA!: Este ano, sua turnê internacional inclui festivais variados, como o Rototom Sunsplash, na Espanha, e o Bratislava Jazz Days Festival, na Eslováquia. Como você adapta seu repertório para públicos e estilos musicais tão distintos?
Bia Ferreira: O repertório, majoritariamente na tour desse ano, é o mesmo. O que muda é a intenção, a intensidade que colocamos no que estamos nos propondo a fazer. Se o público é mais idoso, tem um jeito de falar. Se o público é mais jovem, tem uma outra abordagem. Então, no Rototom, eu abordei uma linguagem muito mais reggae do que normalmente tem nos meus shows. Assim como o concerto da Bratislava, vai ser um concerto com uma linguagem um pouco diferente. Vai ser minha primeira vez lá, não faço ideia do que esperar. Mas estamos preparando um show que seja impactante, que a pessoa saia de lá diferente do jeito que ela chegou. E esse é o principal objetivo do meu show.
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TMDQA!: Você mencionou que o Rototom Sunsplash, apesar de ser um festival de reggae, tem uma conexão conceitual com a sua música. Como você enxerga a relação entre a política presente no reggae e as mensagens que você traz em suas composições?
Bia Ferreira: As mensagens que eu trago têm ligação direta com reggae porque o reggae é um gênero musical conhecido por trazer problemas sociais e a solução através do afeto e do pensamento. E isso tem muito a ver com a minha arte. O ambiente do reggae é muito abrangente, é muito aberto. Ele nos recebe de um jeito muito bonito. Você pode chegar cantando música de amor em reggae, você pode chegar fazendo uma música de intervenção em reggae. O reggae abarca todas essas coisas e isso me conecta com ele, mas também o conecta comigo: eu não tenho um gênero específico, mas eu abarco várias coisas nesse lugar que cabem para a riqueza do que eu me proponho apresentar. Então, a cultura reggae, de fazer denúncia e de cantar a realidade, de trazer essa narrativa, é o que me faz também me sentir livre para poder fazer isso, não só com reggae, mas na minha arte em geral, porque eu me sinto motivada pelas pessoas que fazem dessa forma.
TMDQA!: Na Festa do Avante!, você tratou seu show um ato contra o avanço do conservadorismo global unindo três continentes no palco. Qual é a importância de usar a música como uma ferramenta de resistência política em um cenário internacional?
Bia Ferreira: Olha, eu acho que a importância de usar a música como ferramenta de resistência política é que, salvo as devidas proporções e as exceções, ninguém vai bloquear a música. A música é uma ferramenta que entra em qualquer espaço. Quem não gosta de música? E aí poder trazer para a minha música esse tipo de posicionamento faz com que eu consiga transitar por espaços importantes sem ser julgada por isso, porque eu tô chegando com arte. E a arte tem abertura em espaços onde somente o meu discurso não chegaria.
TMDQA!: Ao longo dos últimos anos, você se apresentou em diversos países e festivais ao redor do mundo. Depois dessa longa turnê, o que você trará na bagagem para “temperar” seus próximos trabalhos?
Bia Ferreira: O que eu trago na bagagem é muito respeito pela música brasileira. Muita gana de fazer acontecer, de fazer dar certo. Eu trago na bagagem muito mais autoestima enquanto uma mulher negra que se entende ocupando o mundo com arte. Vem muita coisa por aí, as pessoas podem esperar que venha uma nova Bia, com outras narrativas e outras vivências. Eu falo sobre a minha vivência. Então, agora que eu tô podendo experimentar outros tipos de vivência, acho que as pessoas vão experimentar também um outro tipo de música, um outro tipo de letra. Eu não sei ainda o que vem, mas tá vindo.
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