Vocalista conta o que mudou após perda de The Rev

TMDQA! Entrevista: M. Shadows exalta fase mais madura do Avenged Sevenfold antes de show no Rock in Rio

Banda irá comandar o Dia do Rock da edição 2024 do festival, que também conta com Incubus, Deep Purple e mais

M. Shadows, vocalista do Avenged Sevenfold, em 2023
Foto de M. Shadows via Shutterstock

Falta pouco: nesta semana, mais especificamente no dia 15 de Setembro, o Brasil finalmente vai reencontrar o Avenged Sevenfold. A relação da banda com o país é antiga, mas já são pouco mais de 10 anos sem uma passagem por aqui – e, neste tempo, M. Shadows e companhia passaram por muitas mudanças, incluindo dois novos discos de estúdio.

Esta será, aliás, a primeira vez que a banda vem pra cá com o baterista Brooks Wackerman. Conhecido por seu trabalho com o Bad Religion, o músico se tornou um pilar da “nova versão” do Avenged, responsável pelos álbuns The Stage (2016) e Life Is But a Dream… (2023). Entretanto, mais do que apenas a experiência de Brooks, a nova era é um resultado da maturidade de toda a banda.

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É isso que Matt contou em entrevista exclusiva ao TMDQA!, realizada algum tempo antes da performance que tem tudo para ser histórica. Afinal de contas, o Avenged Sevenfold será headliner de um dos maiores festivais de música do mundo, e terá a missão de fechar o único dia dedicado ao Rock na edição 2024 do Rock in Rio.

Além deles, o festival escalou Evanescence, Deep Purple, Journey, Incubus e muito mais, como você pode ver por aqui. Não é exagero dizer que este é um dos shows mais aguardados do festival, especialmente por toda a espera, e logo abaixo você pode ver a entrevista completa com M. Shadows para entender o que vai rolar nessa apresentação do Avenged Sevenfold no Rock in Rio!

TMDQA! Entrevista M. Shadows (Avenged Sevenfold)

TMDQA!: Oi, Matt! Como você está? Obrigado por falar conosco. Sou um grande fã e estou bem feliz de bater esse papo contigo. Queria começar falando sobre o que deve ser o maior show do Avenged Sevenfold em todos os tempos – tipo, estamos falando do Rock in Rio! Vai ser insano, e dessa vez vocês são as atrações principais. Já caiu a ficha por aí? Você tem ideia de quão louco vai ser isso?

M. Shadows: Estou bem, obrigado por perguntar! Olha, eu falei sobre isso um pouco já, mas eu tinha o disco ao vivo do Iron Maiden no Rock in Rio quando era criança, e definitivamente não deixo passar batido o fato de termos chegado a esse ponto.

É um daqueles shows em que eu posso estar no campo de golfe ou no restaurante e quando alguém diz, “Ah, onde você vai tocar” e eu respondo “Rock in Rio”, eles sabem o que é. Nos EUA, não há muitos shows que se traduzem para além das fronteiras, sabe? Se eu dissesse algo tipo, Rock am Ring ou Rock im Park, na Alemanha, seria uma coisa meio 50/50 de chance de conhecerem. Mas o Rock in Rio é algo que todo mundo meio que entende de cara o quão grande é.

Nós estamos muito gratos por tocar lá. Somos grandes fãs das bandas com as quais estaremos tocando, estamos empolgados por representar a única noite de Rock, e também somos grandes fãs das bandas e artistas tocando em outras noites. Nós vamos chegar cedo para ver o Travis Scott na sexta-feira! Vou levar meus filhos.

Então, no fim das contas, a gente tem sim a dimensão de quão grande é isso. A gente abriu pro Maiden há uns 10 anos lá, e foi uma das melhores experiências das nossas vidas. Nós definitivamente entendemos a gravidade disso, é incrível.

TMDQA!: Que demais. Olha, da última vez que vocês vieram, eu consegui ver o show de vocês em Brasília, eu ainda estava morando por lá. Foi incrível, mas ao mesmo tempo era perceptível que vocês estavam em um momento turbulento com a banda, se você me permite dizer isso. Era 2014, muita coisa ainda estava sendo processada, mudanças de formação… Eu sinto que, neste momento, vocês estão mais estáveis do que nunca, não só no que diz respeito à formação mas pessoalmente – vocês têm famílias, estão vivendo vidas pacatas, digamos assim, e construindo muita coisa com isso como base. Enquanto banda e enquanto músicos, quanto isso afetou as performances de vocês?

M. Shadows: Olha, você nunca quer que a arte se transforme em um emprego, mas em algum momento o comércio vai colidir com a arte. E, quando perdemos o The Rev… éramos apenas um monte de garotos fazendo o que queríamos, estávamos só tocando músicas. E aí, quando você perde um amigo, você tem muitas perguntas que precisam ser respondidas e decisões que precisam ser tomadas, e você percebe ali que nunca mais vai ser a mesma coisa, mas está tudo bem desde que você consiga ter uma mesma versão que seja igualmente divertida e pacata.

Agora, nós não tínhamos isso até encontrarmos o Brooks [Wackerman, baterista]. E agora o Brooks dá essa impressão dessa nova versão do Avenged, que é pacata e constante, como você disse. Temos famílias, temos liberdade com o que estamos tentando fazer. Não estamos tentando ser malucos com o trabalho e simplesmente ganhar um monte de dinheiro. Nós só queremos fazer os shows que estamos afim de fazer, fazer as músicas que queremos fazer, e meio que deixar as coisas acontecerem do jeito que for pra ser.

Eu acho que, com a nossa experiência de fazer isso por 25 anos, vem um pouco de maturidade e calma quando estamos tocando nesses lugares agora e quando fazemos eventos e tomamos decisões. Acho que isso se traduz para as pessoas também, e eu acho que o que as pessoas observam agora é um grupo bem calmo, organizado e unido – e, obviamente, temos questões por trás das câmeras, temos discussões e opiniões diferentes sobre as coisas mas, no fim das contas, estamos pegando essa experiência e calma e tentando fazer as coisas de um jeito diferente do que a maioria das bandas fazem, que acaba quase sempre sendo uma insanidade. Acho que estamos fazendo um bom trabalho com relação a isso.

TMDQA!: Eu concordo! Queria falar um pouco também sobre o novo disco, porque agora que ele completou mais ou menos um ano de lançamento, dá pra dizer que ele dividiu muito as opiniões. Muita gente curtiu, muita gente não curtiu. Eu fico curioso porque você e o Avenged Sevenfold, de forma geral, parecem ser pessoas que gostariam disso – fazer algo que divide opiniões parece bom, né? Então, passado esse ano, como você olha para esse disco? Você acha que acertaram em fazer algo que dividiu opiniões?

M. Shadows: Sabe, eu estava em um carro com o Brian [Synyster Gates] dirigindo para o estúdio do Joe Barresi perto do fim das gravações. E eu fiquei bem, bem preocupado de que não teríamos ido longe o suficiente.Tipo, eu tive esse sentimento porque muitas vezes, quando você convive com algo por alguns anos ou algo assim, você fica tipo, “Isso não me choca mais”.

E havia coisas como a trilogia “GOD” e “We Love You”, coisas que quando nós escrevemos nós ficamos tão empolgados porque elas eram tão avant-garde e tão diferente, mas que quando você convive com elas por um tempo você fica tipo, “Será que isso é tão doido assim?”. E aí o Brian virou pra mim e disse: “Não, a gente foi longe o suficiente”.

Mais tarde naquela semana eu pedi pro Joe gravar um CD com as versões sem mixagem mesmo e eu disse: “Coloque a trilogia ‘GOD’ inteira junta, me dê também ‘Life Is But a Dream’ no final”. Eu me lembro de sentar na cama e, quando aquela música começou e as transições começaram a rolar, eu não conseguia acreditar naquilo! [risos]

É tipo o que eu senti com Pinkerton, do Weezer. Quando eu o ouvi pela primeira vez, eu não conseguia acreditar que o Weezer tinha explorado aquele som de banda de garagem, e nem parecia que eles estavam fazendo músicas! Era como se não tivesse melodia, as melodias eram todas muito abstratas. Era tudo bem obscuro, me lembrava bastante as melodias do Mike Patton de certa forma, ou tipo as melodias do Chris Cornell quando elas eram bem diferentes. Aí, quando eu retornei ao Pinkerton, porque todo mundo me dizia o quanto aquele disco era bom, eu me lembro de pensar, “Isso é barulho…”, e aí eu coloquei pra tocar e fiquei, tipo, “Peraí, não é não”. [risos]

Há muita beleza por trás da loucura, certo? É o que acontece com Life Is But a Dream…. Muita gente vai colocar pra tocar com uma percepção específica e eles vão ficar tipo, “Eita, tem música aqui. Há melodias. É que tudo é tão caótico que eu fui pego de surpresa”. E eu fico feliz por termos feito algo assim, eu tenho muito orgulho desse álbum.

TMDQA!: Faz sentido. Voltando um pouco no passado, na turnê atual o Avenged Sevenfold tem tocado bem pouca coisa do City of Evil, mas é um disco que completa 20 anos no ano que vem e, em uma entrevista recente, o Zacky [Vengeance, guitarrista] disse que vocês podem celebrá-lo de alguma forma. Isso é algo que já foi discutido entre vocês? A ideia é mais uma turnê ou algum relançamento, alguma coisa nesse formato?

M. Shadows: Sabe, me perguntaram isso hoje pela primeira vez e, olha, conhecendo o Zacky, eu acho que ele provavelmente se expressou mal porque eu o conheço bem, conheço a banda e sei que ninguém quer seguir pelo caminho da turnê de nostalgia. Ninguém quer, mesmo. Então, eu garanto que ele estava falando sobre um relançamento ou alguma coisa de merch, o que talvez desaponte alguns fãs.

No fim das contas, na nossa atual idade, 42 anos, nós nos sentimos muito jovens. Nós temos muitas coisas que queremos conquistar. Não vamos permitir que essa fração de fãs que está totalmente determinada a continuar no passado nos mantenha presa a uma certa era, sabe? A gente até hoje recebe comentários tipo, “Será que vocês podem voltar a usar delineador?”, ou, “Será que vocês podem voltar a usar os bonés ao contrário?”. [risos]

Há uma parcela dos fãs que não quer que você evolua porque eles querem que você seja aquele sentimento de nostalgia que eles têm com a própria vida.

TMDQA!: E às vezes eles próprios não evoluem…

M. Shadows: Exato. Como seres humanos, nós queremos que as pessoas evoluam conosco! Queremos levar as pessoas junto, queremos mostrar coisas novas. Não podemos nos preocupar com o que os fãs querem. Então, pra gente, nós vamos continuar no caminho que sentimos que é o nosso futuro. Talvez a gente não venda um monte de ingressos sempre, mas é o que é.

TMDQA!: Ah, eu tenho certeza que vocês ainda vão vender um monte de ingressos.

M. Shadows: É sempre bom ter alguma carta na manga… [risos]

TMDQA!: Matt, foi um prazer conversar contigo. Espero que a gente possa se ver em breve novamente! Desejo um bom show pra você e que você possa curtir bastante o Brasil.

M. Shadows: Obrigado! Foi ótimo!

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