Por bem ou por mal...

Há 10 anos, U2 lançava "Songs of Innocence" de graça no iTunes e enfurecia meio mundo

A abordagem, considerada invasiva por muitos usuários, ainda é lembrada como um exemplo polêmico de marketing musical

U2 - Songs of Innocence

Em setembro de 2014, o U2 fez história ao lançar seu álbum Songs of Innocence de forma gratuita, diretamente para mais de 500 milhões de usuários do iTunes. A estratégia, resultado de uma parceria com a Apple, consistiu em adicionar o álbum automaticamente às bibliotecas digitais dos usuários, sem consentimento prévio. O movimento, embora inovador, gerou reações negativas, com muitos considerando a abordagem uma invasão de privacidade.

A iniciativa, que visava impulsionar o alcance global da banda, acabou por se tornar um exemplo de como o marketing digital pode gerar resultados inesperados. Enquanto alguns chegaram a elogiar a ousadia do U2 e da Apple, outros criticaram o fato de terem o álbum adicionado às suas bibliotecas sem escolha – e sem a possibilidade de excluí-lo! O impacto do lançamento levantou discussões sobre os limites entre inovação e o respeito à privacidade dos consumidores.

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Lançamento do U2 em parceria com a Apple teve anúncio na TV e tudo!

A reação do público e a resposta do U2

O feedback negativo foi imediato. Muitos usuários do iTunes reclamaram sobre a inclusão do álbum sem permissão, forçando a Apple a criar um guia específico, em um hot site, explicando como fazer a remoção do disco.

A banda, em entrevistas posteriores, reconheceu que a estratégia poderia ter sido melhor planejada, com Bono, vocalista do U2, admitindo que a ideia foi motivada pelo desejo de alcançar o maior número de pessoas possível, mas que não previu a resistência dos usuários.

A repercussão do lançamento também trouxe à tona discussões sobre o papel das grandes empresas de tecnologia na vida pessoal dos consumidores. Para muitos, o caso foi um alerta sobre o poder de plataformas como o iTunes e a maneira como dados e conteúdo digital podem ser manipulados.

Com toda a repercussão negativa, Bono acabaria fazendo um mea culpa. Ele se desculpou publicamente em resposta a uma pergunta de uma usuária do Facebook que criticou o lançamento do álbum. Ela disse: “Vocês podem nunca mais lançar um disco que entra automaticamente nas playlists das pessoas? É muita falta de educação”.

Bono admitiu que a ideia, embora bem-intencionada, acabou sendo mal recebida.

“Ops, sinto muito por isso. Eu tinha essa ideia bonita e meio que nos empolgamos demais. Artistas tendem a fazer esse tipo de coisa. Um pouco de megalomania, um toque de generosidade, um pouco de autopromoção e um medo profundo de que essas músicas, nas quais despejamos nossas vidas nos últimos anos, possam não ser ouvidas. Há muito barulho por aí. Acho que acabamos nos tornando um pouco barulhentos também para conseguir nos destacar.”

Pelo menos reconheceu!

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Tim Cook desencorajou o lançamento do U2 – mas prosseguiu com o acordo

A campanha do U2 com a Apple ganhou novas revelações recentemente, quando foi lançada a autobiografia de Bono. O cantor retorna a essa fase emblemática na carreira da banda no livro Surrender – 40 Músicas, Uma História.

Graças a isso, hoje se sabe que o CEO da Apple, Tim Cook, expressou reservas sobre a ideia de disponibilizar o álbum gratuitamente, afirmando que isso não era consistente com a filosofia da empresa de garantir que os músicos fossem pagos por sua música. 

No entanto, a banda insistiu que o álbum fosse oferecido a todos os usuários, que poderiam escolher ouvi-lo ou não. Bono esperava que a iniciativa fosse um marco para um novo tipo de serviço de assinatura de música.

Apesar da controvérsia, o U2 não saiu prejudicado financeiramente, já que a Apple pagou uma quantia não revelada à banda e investiu US$100 milhões em uma campanha publicitária como parte do acordo.

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O legado da estratégia do U2 e Apple na indústria musical

Dez anos após o lançamento de Songs of Innocence, a estratégia do U2 ainda é lembrada como uma das campanhas mais debatidas na música.

Ela marcou o início de uma nova era no marketing musical, em que o uso de plataformas digitais tornou-se central para lançamentos e divulgação. No entanto, a repercussão negativa serviu como lição para artistas e empresas sobre a importância de equilibrar inovação e o respeito à experiência do usuário.

Hoje, a relação entre tecnologia e música continua evoluindo, com plataformas de streaming dominando o mercado. O lançamento de Songs of Innocence permanece um marco de como a indústria musical, artistas e plataformas podem se adaptar — ou enfrentar desafios — diante de novas tecnologias e estratégias de distribuição.

Artistas como Patrick Carney, dos The Black Keys, somaram ao coro dos insatisfeitos, dizendo que o U2 contribuiu para a desvalorização crescente da música no ambiente digital. Isso em um momento em que a banda do baterista estava fora de plataformas como Spotify. Porém, como sabemos hoje, isso já mudou. 

No fim das contas, o grande resultado da estratégia dos irlandeses foi o contrário do pretendido: ao forçar todo mundo a ter suas canções em seus telefones e computadores (numa época em que cada gigabyte de um iPhone valia uma fortuna!), os músicos se tornaram a única notícia. 

Suas canções passaram batidas por muita gente, que se recusou a ouvir. Em retrospecto, Songs of Innocence traria algumas das faixas mais marcantes do U2 na fase mais recente da sua discografia, como “Song for Someone” e “The Troubles”, parceria com Lykke Li. Mas, por culpa da própria banda, muita gente não descobriria isso.

A trilogia, completa por Songs of Experience (2017) e Songs of Surrender (2023), ficaria bastante prejudicada em seu alcance. Nada disso, porém, tirou a relevância das turnês do U2, que nesse meio tempo voltou às graças do público ao reviver o show do icônico álbum The Joshua Tree em 2017. 

O caso mostra como não há um caminho certeiro para lançamentos musicais na era do streaming. Mas, graças ao U2, muita gente hoje já sabe o que não fazer.

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