No Brasil, o dia 26 de setembro marca a celebração do Dia Nacional do Surdo, uma data de conscientização e reconhecimento da luta por acessibilidade e inclusão da população surda. Essa data, criada para fortalecer a visibilidade e os direitos das pessoas surdas, reforça a importância de integrar essa comunidade a todas as áreas da sociedade, incluindo a cultura.
A música, em especial, tem sido um campo onde diversas iniciativas buscam incluir a população surda de maneira respeitosa. De clipes com intérpretes de Libras a grandes shows e festivais com acessibilidade, artistas e produtores vêm trabalhando para garantir que a música seja uma experiência possível e acessível para todos.
5 iniciativas de inclusão na música para pessoas surdas
Clipes com língua de sinais
A acessibilidade em clipes musicais é uma das formas mais diretas de tornar a música inclusiva para a população surda. No Brasil, artistas como Leo Fressato e a banda Mulamba lançaram vídeos que contam com a tradução de suas letras em Libras.
Outros nomes também têm se destacado nesse campo, como a cantora Luiza Caspary, que lançou em 2018 o álbum acessível Sinais, com videoclipes em Libras e legendas no YouTube. Paulo Neto, cantor pernambucano, seguiu o mesmo caminho com o clipe de “Casa Caiada”, trazendo uma coreografia de Libras que traduz a letra de forma hipnótica. Raissa Fayet também fez isso em “Zoiúda”, utilizando a Libras para expressar a conexão com a natureza e as mitologias afro-brasileiras.
Na cena internacional, SIA lançou, ainda em 2008, o clipe “Soon We’ll Be Found”, focado na expressão por meio da língua americana de sinais (ASL). Além dela, Paul McCartney, em parceria com Natalie Portman, lançou “My Valentine”, com a ASL como parte fundamental da interpretação visual. O DJ Marshmello também se uniu a essa tendência com o clipe de “You Can Cry”, onde aparece sinalizando ao lado da modelo surda Nyeisha Prince, trazendo a língua de sinais ao centro da narrativa.
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Coldplay dá destaque à inclusão surda
O Coldplay é mais um exemplo internacional de acessibilidade na música. Além de clipes que contam com intérpretes de Libras, a banda vem contratando intérpretes para seus shows ao vivo, proporcionando uma experiência musical acessível em turnês globais. Com isso, fãs surdos têm a oportunidade de participar e entender as letras e emoções das músicas.
Um dos destaques é o belo vídeo de “feelslikeimfallinginlove”, lançado em julho. O vídeo traz não apenas a interpretação de Natasha Ofili, como sua visão no roteiro e direção criativa.
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Grandes eventos com intérpretes de Libras
Festivais de música e grandes eventos no Brasil também estão aderindo à inclusão com o uso de intérpretes de Libras. Eventos como o Rock in Rio e Lollapalooza já contaram com profissionais que traduzem as apresentações musicais para a língua de sinais, promovendo uma experiência acessível para o público surdo. Essa prática tem se tornado uma tendência crescente em festivais de todo o mundo.
Vale lembrar que não se trata apenas de uma tendência. No Brasil, é obrigatório que eventos públicos e privados de grande porte ofereçam intérpretes de Língua Brasileira de Sinais para garantir a acessibilidade à população surda. Essa obrigatoriedade foi estabelecida pela Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146/2015), também conhecida como Estatuto da Pessoa com Deficiência, que entrou em vigor em janeiro de 2016.
A lei abrange eventos com grande circulação de pessoas e com impacto social relevante, como festivais de música, exposições culturais, congressos, cerimônias públicas, entre outros. O objetivo é assegurar que a comunidade surda tenha pleno acesso à comunicação, à cultura e ao entretenimento, promovendo a inclusão social em todos os níveis.
Aqui no TMDQA!, você conferiu uma entrevista com Daniel Thorn, intérprete de Libras no show do The Cure no Brasil que roubou a cena com sua performance.
Berg Menezes dedica uma turnê à acessibilidade surda na música
O cantor e compositor cearense Berg Menezes é uma figura central no movimento por acessibilidade na música. Com uma trajetória de quase duas décadas na cena indie, ele se destaca por incorporar a inclusão de pessoas com deficiência em sua produção artística.
Suas apresentações sempre contam com intérpretes de Libras, o que permite que a comunidade surda possa desfrutar da música em tempo real. Ao longo de sua carreira, ele tem se dedicado a criar espaços onde a música possa ser apreciada de maneira inclusiva, dialogando diretamente com o público surdo e mostrando como a arte pode ser transformadora.
Um exemplo claro desse compromisso é sua turnê “Sinais Musicais”, na qual ele se apresenta com uma equipe inclusiva em diversas instituições. Além dos shows em casas de espetáculos tradicionais, Berg também se apresenta em locais como o Instituto Cearense de Educação de Surdos, buscando ampliar o alcance de sua música e proporcionar uma experiência mais acessível. A presença de intérpretes de Libras em suas apresentações não é apenas um detalhe técnico, mas parte integral de sua proposta artística.
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Instrumentos adaptados
Além da presença de intérpretes de Libras, a adaptação de instrumentos musicais é outra forma de incluir pessoas surdas no universo da música. Instrumentos que emitem sons graves, como tambores e alfaias, são bastante utilizados por transmitirem vibrações que podem ser sentidas pelo corpo. Isso permite que surdos sintam a música fisicamente, ampliando sua capacidade de apreciação. Grupos como os Batuqueiros do Silêncio, criado em 2010 em Recife, mostram como a percussão pode ser acessível, com apresentações marcantes como no encerramento das paralimpíadas de 2016.
Além disso, a tecnologia tem desempenhado um papel importante na inclusão musical. Coletes táteis, que convertem o som em vibrações, permitem que as pessoas surdas “sintam” a música através do corpo. Aqui no Brasil, alguns eventos já fazem uso desse grande avanço – é o caso do Na Praia Festival, em Brasília, por exemplo.
Já softwares como o Serato Scratch Live auxiliam DJs surdos a visualizarem a música por meio de padrões visuais e sequências. Outros dispositivos, como o Launchpad da Novation ou o Tenori-on da Yamaha, utilizam luzes para criar feedback visual, facilitando a interação de surdos com a música. Esses avanços tecnológicos têm revolucionado a maneira como pessoas surdas podem participar ativamente do universo musical.
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Essas iniciativas refletem o avanço da acessibilidade na música, criando espaços onde todas as pessoas podem compartilhar da experiência. Agora, elas precisam ser amplificadas e espalhadas, para que a maioria ouvinte também se comprometa com uma melhor inclusão da população com perda auditiva e surda em diversos outros âmbitos da sociedade.