O brasileiro pode até não saber o nome das capitais de cada estado, mas certamente conhece Konrad Dantas. Afinal, quem nunca ouviu falar da KondZilla? Pergunte em qualquer esquina.
Poucos nomes representam tão bem a interseção entre cultura pop e o mercado publicitário como ele. Com raízes no funk e na periferia, Kond começou sua trajetória gravando clipes para amigos e hoje seu império abrange não apenas a música, mas também o cinema – indicado ao Emmy Internacional 2024 – e a propaganda.
FEAT QUE VIROU HIT
Kond foi Jurado no Festival de Cannes em 2023 – mesmo ano em que a KondZilla conquistava seus primeiros Leões em parceria com as agências BETC Havas e Africa. Essa expansão no universo da propaganda resultou em uma das colaborações mais frutíferas deste ano: “Meu Karma”, da rapper paulista Jovem MK, foi indicada na categoria “Best Long Form Music Video” no Grammy Latino.
O filme, inspirado no novo álbum da artista, alerta para o fato de que o primeiro presente de muitas crianças nas comunidades é uma arma de fogo. Dirigido por Paladino e Kaique Alves, o projeto foi o resultado de um “Feat que virou Hit” entre a agência Africa, KondZilla e a produtora Czar. A ficha técnica completa segue nesse link.
NOS BASTIDORES: ENTREVISTA COM O TIME CRIATIVO
Ao questionar Kaique Alves, diretor da KondZilla e finalista do Emmy Internacional, sobre a escolha de entregar o projeto a uma agência de propaganda, ele foi claro:
“Levei a ideia para lá porque vi neles não apenas parceiros, mas também um alinhamento de visão. A Africa estava disposta a ir além da propaganda e se interessou genuinamente pela narrativa da Jovem MK. Durante as reuniões de criação, ficou claro que eles compreendiam a importância de contar histórias que ressoassem com a realidade dos jovens no Brasil.“
O insight inicial do projeto também teve participação de Tico Fernandes, sócio e diretor de criação da KondZilla. Ao perguntar a Tico como viabilizar um projeto sem uma marca patrocinadora, ele respondeu:
“Reduzimos despesas por meio de equipamentos que já temos e diretores que abriram mão de cachês. A estratégia foi calcular os custos e eliminar o que era possível. O saldo final foi dividido entre as empresas, resultando em um case colaborativo entre KondZilla, Africa e Czar.”
O Olhar da Agência
Para complementar a entrevista, resolvi sentar no outro lado do balcão e ouvir a opinião da equipe de publicitários que, na época, esteve no dia a dia da produção.
Adriano Sato, Diretor Criativo Associado da África, comentou sobre a experiência de colaborar com uma artista como a Jovem MK:
“É preciso ser fiel à narrativa e mensagem do que ela traz durante todo o disco. As trocas são mais constantes e menos lineares. Durante todo o processo, a gente se reuniu com Kondzilla e Czar pra bater o roteiro, as referências e a estrutura narrativa da história, sempre respeitando a vivência que a artista traz nas suas letras. Posso dizer que o processo é enriquecedor e ter essa aproximação mais direta com as produtoras e os diretores ajuda a somar esforços pra colocar de pé um curta-metragem com exímia qualidade técnica e estética. Afinal, o craft é fundamental.”
Entretenimento e Comportamento
Angerson Vieira, Diretor de Criação Executivo, trouxe um ponto interessante sobre a relação entre entretenimento, comportamento do consumidor e o futuro da indústria criativa:
“As pessoas nunca quiseram ver propagandas, quem dirá agora nessa sociedade do estímulo. Nesse sentido, o entretenimento parece uma escolha óbvia. Toda marca quer vender enquanto diverte. Isso justifica o interesse das agências por séries, filmes e clipes. Essa corrida começou agora. Daqui para frente, vamos ver mais agências indicadas ao Grammy, Emmy e Oscar.”
A Liberdade da Produção Artística
Segundo Gabriela Ferrer, que assumiu o processo como produtora de RTV, a diferença entre uma produção para artista e uma para marcas é significativa:
“Enquanto na produção para marcas é necessário comunicar os códigos exatos que sigam uma construção objetiva, onde a imagem é guiada pelo protagonismo do produto, a produção artística abre-se para a subjetividade. Percebo uma liberdade na construção da narrativa, e a imagem agora abre espaço para uma emoção genuína como dispositivo de discurso. No fim, o processo criativo possibilita soluções surpreendentes que promovem uma conexão real com o público.”
Conclusão: O Futuro da Colaboração Criativa
Esse projeto entre KondZilla e Africa é mais do que uma simples produção audiovisual. À medida que as agências buscam se integrar ao entretenimento, a colaboração com artistas se torna uma estratégia eficaz para alcançar públicos de forma autêntica e emocional.
Essa parceria demonstra que a combinação de arte, narrativa e estratégia de mercado pode gerar resultados significativos. A ambição de se tornar parte da cultura, que já é antiga no mercado, vem se provando cada vez mais realidade.
Lembre-se: Outro feat que virou hit, em 2020, quando a AKQA foi indicada ao Grammy com a Cave e BaianaSystem. Assista aqui.
Até a próxima coluna!