Após a grandiosa turnê Encontro, banda tem nova fase intimista

TMDQA! Entrevista: Tony Bellotto e Sérgio Britto (Titãs) falam sobre passado, presente e futuro em pleno clima de “Microfonado”

Em papo exclusivo, os integrantes comentam sobre trajetória e último lançamento da banda

Foto de divulgação da banda Titãs, por Tony Santos
Reprodução: Tony Santos

Existem coisas que são certas ao passar dos anos, e uma delas é que o Titãs, atualmente composto por Tony Bellotto, Sérgio Britto e Branco Mello, sempre surpreenderá o público com alguma nova fase em sua carreira. Os ícones do rock nacional, que ainda de forma fresca em nossa memória fizeram o país emergir numa atmosfera grandiosa com a turnê Encontro, agora correm para um projeto completamente oposto – acústico e intimista.

Em junho deste ano, a banda teve o prazer de revelar o álbum Microfonado, um projeto ao vivo que conta com releituras de clássicos do repertório do grupo, com participações especiais que abraçam bem a música nacional como um todo. O trio vai contando curiosidades sobre o processo criativo e outras histórias por trás de cada faixa, fazendo com que a experiência do ouvinte realmente seja como alguns minutos sentado ao lado dos músicos, conversando e apreciando o material.

Agora, o Titãs volta para a agitação de uma agenda recheada de datas para poder apresentar a turnê desse projeto. Com shows já feitos em Vitória, de exemplo, o grupo agora faz uma apresentação super especial no Espaço Unimed, que contará também com as participações de Roberto de Carvalho e Bruna Magalhães. Tivemos a oportunidade de conversar com Bellotto e Britto – já que Branco Mello ainda estava se recuperando de sua última cirurgia – e você confere agora o papo o papo que fala sobre essa trajetória da banda!

TMDQA! Entrevista Titãs (Tony Bellotto e Sérgio Britto)

TMDQA!: Primeiramente, muito obrigado pela oportunidade! Como estão? Branco vem se sentindo bem com a recuperação pós cirurgia?

Tony Bellotto: E aí, pessoal! Estamos bem. Branco está se recuperando muito bem e felizmente já estará de volta aos palcos nesse início de turnê.

TMDQA!: Ótimo saber! Bom, após o fim da turnê Encontro com a formação clássica da banda, vocês logo retornaram com os trabalhos em formato de trio (mesmo com as célebres participações de Mario Fabre e Beto Lee no apoio). Como tem sido essa volta? Pudemos ver o Tony soltando a voz em Sonífera Ilha, por exemplo!

Tony Bellotto: Pois é, o Titãs Microfonado é essa ideia de contrapor aquela grandiosidade da turnê Encontro com um trabalho mais intimista e essencial. Mesmo nessa revisitação aos clássicos, a gente sempre consegue ter algum ineditismo em cada canção, né? É o caso de Sonífera Ilha, que eu canto pela primeira vez, faz um registro fonográfico porque eu sou um dos autores da música e a faixa já teve grandes intérpretes ao longo do tempo. Também podemos pegar Marvin de exemplo, uma canção do Nando com o Britto que agora ganha uma roupagem do Britto com o Vitor Kley, e assim por diante.
Eu acho que essa pegada mais intimista do Microfonado junto a um olhar de que cada música, mesmo conhecida, teria algum ineditismo nela, norteou a gente com esse projeto.

TMDQA!: Com este novo material lançado, vimos o rock do Titãs se fundir com a música nacional por um todo, em releituras únicas. Com muitas novidades e participações especiais, poderiam dizer sobre o processo criativo e escolhas que vão desde ícones atemporais até artistas atuais em ascensão?

Tony Bellotto: Sem dúvidas, esse é o grande charme do projeto! As participações especiais são o grande diferencial, e nós sempre fomos uma banda caracterizada pela diversidade. Desde o início, sempre houve uma diversidade de estilos, principalmente quando a gente foi lançado. Tinha aquele negócio de que a gente conseguia ser meio punk e meio brega ao mesmo tempo, que é um feito inacreditavelmente importante para expressar uma virtude do nosso grupo – fazer uma música plural, diversificada.
Acho que nessa escolha dos convidados, a gente se impôs muito. Temos desde Ney Matogrosso, esse ícone da MPB, do rock, do pop brasileiro, desde que ele se lançou com o Secos e Molhados junto de toda sua gloriosa carreira, e também temos o Major RD, um menino com um trabalho muito criativo e relevante. Também tem o Vitor Kley, um cara da nova geração muito talentoso e que faz um trabalho muito bonito, a Bruna Magalhães que é uma cantora paraense, a Assis Mendes que é essa rockeira de Rondônia que já tinha trabalhado com a gente na ópera “Doze Flores Amarelas”… A ideia foi essa, diversificar numa relação direta o que a nossa música propõe.

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TMDQA!: Completando quase dois meses desde o lançamento de Microfonado, como se sentem reencontrando o público em shows que trazem mais intimidade em meio a um projeto tão diverso explorando o “repertório inesgotável” cultivado nos anos de carreira?

Tony Bellotto: Olha, pra dizer a verdade, não é um reencontro. [risos] Eu, como membro-fundador, estando aqui desde 1982, tenho a sensação de que a gente sempre teve um encontro total e absoluto com nosso público. Claro que existem diferenças perceptíveis em estar em um estádio para 50.000 pessoas e um teatro para 2.000, 3.000, mas mesmo com as dificuldades e dúvidas em nossa carreira tal como a saída de alguém da banda ou a morte do Marcelo, o público sempre nos abraçou.
Acho que o encontro no Microfonado é sim diferente, pois uma coisa é a força de uma multidão em que, vamos dizer, as individualidades do público “se dissolviam” um pouco naquela força, mas o tempo todo a gente tá numa tremenda sintonia com eles. Ainda bem.

TMDQA!: Com isso, quero aproveitar a deixa: a gana em fazer música aos 60 anos de idade em média comprova um legado incontestável. Queríamos saber: como é visualizar gerações e gerações que se apaixonam e criam histórias com as canções da banda?

Tony Bellotto: Essa é a nossa maior realização, com toda certeza. Não existe prêmio, dinheiro, cachê que pague a gente por isso. Em Tiradentes, Minas Gerais, já chegou um fã no camarim dizendo que se chama Marvin pois foi batizado pelos pais graças ao amor que tinham pela música.
É muito comum a gente ver, na nossa plateia, pessoas da nossa idade – ou até mais velhas – pessoas mais jovens e adolescentes, até crianças. Essa capacidade da gente se comunicar com outras gerações é uma grande realização, um grande prêmio para gente.

TMDQA!: Em 2024, é muito comum ouvir por aí que “o rock morreu”. Como vocês enxergam essa fala? Ainda mais com essa constante busca em enriquecerem o conteúdo da banda, mas sempre com a essência que já conhecemos desde a década de 80.

Sérgio Britto: É, isso é algo que está em moda, né? [risos] Teve uma época que o samba também estava morto, e agora é a vez do rock. Eu acho que essa questão dos gêneros é relativa, porque existem momentos de auge, e realmente é evidente que as grandes bandas de rock eram mais hegemônicas nas paradas de sucesso.
Mas o rock como gênero continua muito vivo, só pegar nossa última turnê de exemplo. Acho que existe muita dessa atitude rockeira no rap, por exemplo, e o rock sempre foi dado por essas misturas. Surgiu dessa mistura com o blues e o country, se espalhando depois na década de 60. Acho que essa constante renovação também é uma grande prova disso.

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TMDQA!: Lidando com a indústria musical e sua recorrente mudança, poderiam citar um ou dois nomes que vocês acreditam que também agregariam para a proposta do Microfonado e vocês gostariam de trabalhar com?

Sérgio Britto: Olha, são muitos os nomes, acho que se a gente for pensar, a gente pode fazer uma lista gigantesca! [risos] Temos grandes bandas como o Paralamas do Sucesso, Capital Inicial… Também sempre me imagino fazendo algo com o Djavan, adoraria trabalhar com ele.
Cantoras maravilhosas, artistas novos que não conhecíamos tipo o Major, que tivemos uma química maravilhosa ao trabalharmos. Mas se for pra escolher um caminho só, realmente artistas novos do rap, acho que tem tudo haver com o rock e com o Titãs.

TMDQA!: Com o pé na estrada no momento, quais são os objetivos que vocês têm em mente para o futuro do Titãs?

Sérgio Britto: Agora a gente tá com essa turnê na estrada, acabamos de lançar o produto, acho que é natural que esse ciclo se complete até o próximo ano para depois pensarmos em novos projetos e músicas. Enquanto isso, também focamos em coisas solo, tipo o Tony que acabou de lançar um livro e eu tenho a intenção de lançar um disco com inéditas no próximo ano!
Mas o objetivo é esse: varrer o Brasil com essa turnê e estarmos juntos, principalmente com o Branco se recuperando.

TMDQA!: Eu não poderia terminar essa entrevista sem essa deixa. Em respeito ao nome do veículo, queria saber se vocês acreditam ter mais discos do que amigos! E também, poderiam fazer um top três discos que mudaram suas vidas/te influenciaram em aspectos e aspectos?

Sérgio Britto: Cara, como você deve imaginar, são muitos discos [risos] Muitos discos marcaram minha vida, nem teria como enumerar. Mas já que você perguntou, vou falar os primeiros que vem em mente.
Tem o Help! dos Beatles, acho que foi o primeiro disco de rock/pop que eu ouvi pra valer. Também tem o Chega de Saudade do João Gilberto, obra-prima nacional que influenciou a música brasileira por um todo e me influencia também como artista, afinal, o João é um gênio da música mundial. E outro que me veio na cabeça agora é o Tropicália, do Caetano Veloso, que acredito ser um ótimo exemplo de explosão de informação e maneira de encarar/fazer música de maneira nova, ali por quando foi lançado.
Fico com esses 3 exemplos!

TMDQA!: Obrigado pela oportunidade, pessoal, foi um privilégio. Até a próxima!

Titãs: Valeu, obrigado!

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