Minha carne é de carnaval, o meu coração é igual

Janis Joplin tem passagem pelo Brasil relembrada em documentário que registra última viagem da cantora

O filme "JANIS - Amores de Carnaval", dirigido por Ana Isabel Cunha, resgata a visita da cantora durante o carnaval carioca de 1970

Janis Joplin no Rio de Janeiro (Crédito: Ricky Ferreira)
Janis Joplin no Rio de Janeiro (Crédito: Ricky Ferreira)

O documentário JANIS – Amores de Carnaval fará sua estreia mundial no Festival do Rio, trazendo à tona a pouco conhecida passagem de Janis Joplin pelo Brasil. Produzido por Marcelo Braga e dirigido por Ana Isabel Cunha, o filme narra a estadia da cantora no Rio de Janeiro, com base no relato do fotógrafo Ricky Ferreira, que a hospedou durante o carnaval de 1970.

A produção busca resgatar momentos únicos vividos pela artista, como por exemplo sua famosa expulsão do Copacabana Palace e sua busca por uma espécie de “detox” das drogas. O longa apresenta ainda entrevistas com personalidades como Baby do Brasil e Alcione, além de raridades fotográficas do acervo de Ricky Ferreira. A atriz Carol Fazu ainda interpreta Janis em reconstituições.

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O documentário faz sua estreia nesta semana no Festival do Rio, na seção Première Brasil: Retratos Longa-Metragem, e será exibido dia 4 de outubro, 18:30 no Estação NET Gávea 3.

Continua após o trailer

A visita ao Rio e a fuga da heroína

Janis Joplin chegou ao Brasil em 1970 com o objetivo de fugir do vício em heroína. Durante sua estadia, ela buscava relaxar e aproveitar o carnaval, mas acabou sendo expulsa do Copacabana Palace por supostamente nadar nua na piscina do hotel. Depois disso, ficou hospedada no apartamento de Ricky Ferreira, no Leblon, onde viveu dias intensos de festa e folia.

Marcelo Braga explica a importância de ter essa fonte primária para o filme:

“Ricky é pessoa fundamental para esta obra ter sido realizada. Não só por todo rico arquivo fotográfico que licenciamos dele sobre esta passagem meteórica de Janis, como ele foi, de fato, um cicerone dela pelos 7 dias a hospedando em sua residência no Leblon, e a acompanhando pelo carnaval, bailes, praias, bares e boates da cidade. Foram dias inesquecíveis para ele e para ela também, imaginamos”.

A passagem pelo Brasil também marcou um momento de liberdade para a artista, que circulou de forma anônima pelas ruas cariocas. Além das festas e encontros, Janis conheceu o americano David Niehaus, por quem se apaixonou. A diretora Ana Isabel Cunha destacou o desafio de reconstruir essa história, dada a aura de mistério que sempre envolveu essa viagem da cantora ao Brasil:

“Não se sabia ao certo como e por que ela havia vindo parar no Brasil. Mas foi aqui que Janis pôde ser livre, uma anônima na folia carioca e onde conheceu seu grande amor, um amor de Carnaval, o americano David Niehaus. A passagem pelo Rio acabou sendo sua última viagem. O ponto de partida foram as fotos do Ricky e o material de arquivo – registros dos principais momentos vividos por ela na cidade. Voltamos com Ricky e os entrevistados aos locais onde eles encontraram com ela e assim fomos reconstruindo essa viagem. Na montagem, as imagens subjetivas da ‘nossa Janis’ ajudaram a costurar esses momentos”.

Janis Joplin no Rio de Janeiro (Crédito: Ricky Ferreira)

Fotografia e música no centro da produção

O documentário se destaca por sua narrativa visual, composta por fotos de Ricky Ferreira e pela direção de fotografia de Pedro Dourado. Segundo Marcelo Braga, a produção investiu em uma estética que evoca a nostalgia dos anos 1970, com imagens subjetivas da atriz Carol Fazu. A trilha sonora também foi cuidadosamente selecionada, trazendo raridades que complementam a história da artista no Brasil.

Ana Isabel Cunha ressaltou a importância de trazer um olhar equilibrado para a obra, já que o ponto de vista de Ferreira permeia toda a narrativa. A diretora acrescentou camadas de objetividade ao retratar Janis Joplin, uma figura que enfrentou preconceitos estéticos e sociais, tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil:

“Janis era feminista, teve que se impor em um mercado dominado pelos homens. Quando comecei a entrar mais a fundo na história da Janis fui descobrindo uma mulher sensível, com suas inseguranças e que queria ser aceita, ser amada. Na juventude sofreu bullying pela aparência e aqui no Brasil sentiu isso novamente. Na passagem dela pelo baile do Theatro Municipal, mesmo sendo convidada, foi barrada no camarote por ‘não ser boa’. Mesmo não falando português, ela entendeu exatamente o motivo. Essa pressão estética é um tema que nós mulheres sofremos até hoje.”

Janis Joplin no Rio de Janeiro (Crédito: Ricky Ferreira)

Janis Joplin ganha nova cinebiografia

Enquanto o documentário estreia no Brasil, outra produção promete levar a vida de Janis Joplin para as telas. A atriz Shailene Woodley foi confirmada como a protagonista de um novo filme biográfico sobre a cantora. Com produção da Temple Hill Entertainment, o longa será filmado na Califórnia, onde Joplin consolidou sua carreira.

A realização de uma cinebiografia de Janis enfrentou diversos desafios de produção ao longo dos anos, incluindo negociações para o uso das músicas da artista. Agora, o novo longa quer finalmente tirar essa história do papel. 

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