Eric Clapton é considerado um dos guitarristas mais lendários da história, mas seus discursos e posicionamentos polêmicos conseguiram fazer com que muitas pessoas sentissem uma forte antipatia por ele ao longo de sua carreira.
Um dos primeiros momentos em que o astro britânico se mostrou controverso foi em 1976, quando em um show realizado em Birmingham, na Inglaterra, o músico criticou a crescente entrada de imigrantes no país – e muitos de seus argumentos foram baseados nas ideologias do político de extrema direita Enoch Powell.
Em seu comentário extremamente racista, o músico, que segundo relatos estava visivelmente bêbado, declarou ao seu público:
“Temos algum estrangeiro na plateia hoje à noite? Se sim, por favor, levantem as mãos. Então, onde vocês estão? Bem, onde quer que estejam, acho que todos vocês deveriam simplesmente ir embora. Não apenas sair do show, mas deixar nosso país. Eu acho que Enoch está certo e devemos mandá-los todos de volta. Impeça a Grã-Bretanha de se tornar uma colônia negra. Tire os estrangeiros daqui.”
Para a decepção de muitas pessoas, Eric continuou sendo prestigiado na indústria nos anos seguintes, tocando com outros grandes nomes como Roger Waters, Phil Collins e mais.
As polêmicas de Eric Clapton
Alguns anos depois, o músico ainda tentou se desculpar por suas falas nos anos 70, mas seu discurso continuou repetindo diversos “clichês” usados por quem carrega o racismo estrutural dentro de si:
“Tenho vergonha de quem eu era, uma espécie de ‘semi-racista’. Aquilo não fazia sentido. Metade dos meus amigos eram negros na época. Eu já namorei uma mulher negra e sempre defendi a música negra.”
Eric Clapton voltou a ser duramente criticado após o início da pandemia causada pela COVID-19. Isso porque o guitarrista compartilhou uma série de falas negacionistas com relação à vacina contra o vírus e ainda foi um dos críticos das restrições impostas pelo governo britânico, lançando inclusive uma música anti-quarentena em parceria com Van Morrison.
Com tantas polêmicas envolvendo o astro do blues-rock, muitos se questionam como ele ainda não foi fortemente cancelado até hoje. Por outro lado, alguns músicos já se posicionaram de forma bem forte contra o guitarrista, e a seguir você pode conferir uma lista com artistas que não conseguiram esconder seu desgosto por Eric Clapton.
5 músicos que odeiam Eric Clapton
Phoebe Bridgers
Phoebe Bridgers sente tanta aversão a Eric Clapton que incluiu uma crítica direta ao guitarrista em uma de suas músicas. Na letra de “Moon Song”, ela diz:
“Nós odiamos ‘Tears In Heaven’ / Mas é triste que seu bebê tenha morrido”
A cantora menciona a emocionante faixa inspirada na trágica morte do filho de Clapton, que tinha apenas 4 anos quando sofreu um acidente.
Após o lançamento, Bridgers explicou ao Double J o contexto do verso de sua música que integra o disco Punisher (2020) e reforçou seu descontentamento com o fato de muitas pessoas terem pegado leve com Eric após seu discurso racista nos anos 70:
“Eu tenho uma fala sobre Eric Clapton porque eu acho que é uma música extremamente medíocre, mas também, ele é um racista famoso. Às vezes, eu acho que as pessoas são problemáticas demais para serem canceladas ou não são relevantes o suficiente para serem canceladas. Quer dizer, nem seria notícia se ele dissesse algo racista hoje porque ele fez um discurso racista nos anos 60 ou 70 que era muito famoso.”
Integrantes do Yardbirds
Eric Clapton era conhecido por ser uma pessoa difícil como companheiro de trabalho, e Jim McCarty, que foi baterista do lendário grupo de blues-rock Yardbirds, compartilhou certa vez com o The Guardian o que ele e seus colegas de banda sentiram após Eric deixar o grupo:
“Eric tinha essas músicas modernas de R&B que ele queria que fizéssemos. Ele indo embora foi um alívio. Eric ficava sentado na van sem falar com ninguém. Você pensava que ele é tão temperamental, ele é um pé no saco, estávamos fartos disso.”
Apesar do saudoso Jeff Beck não ter trabalhado diretamente com Clapton na banda, já que ele entrou no grupo justamente para substituir o guitarrista britânico, o músico apontou que ele e Eric compartilhavam “uma rivalidade desconfortável”. Ele argumentou:
“Descobri mais tarde por Pattie, sua esposa, que definitivamente havia [uma rivalidade] – especialmente com as coisas do Stevie Wonder. Ele não gostou muito de eu fazer algo bem-sucedido com Stevie. Acho que isso talvez o tenha irritado um pouco.”
Bandas Punk dos Anos 70
Após o discurso racista de Clapton nos anos 70, o guitarrista se tornou alvo de críticas de diversos artistas da cena Punk, incluindo Dave Wakeling, vocalista do The English Beat. Na época, em entrevista à Rolling Stone, o músico não poupou críticas à fala de Eric:
“Sabemos que a bebida não faz você inventar mentiras sofisticadas. Ela só faz você falar a verdade alto demais, na hora errada, para as pessoas erradas”.
As falas de Clapton também foram responsáveis em parte pela criação do movimento Rock Against Racism, que surgiu em reação ao aumento dos ataques racistas em 1976. A ação, que criou um show gigantesco em 1978 reunindo nomes como The Clash e X-Ray Spex, provocou Clapton no início do movimento.
Isso aconteceu quando os organizadores Red Saunders, Roger Huddle, Jo Wreford e Pete Bruno enviaram uma carta à NME, uma das maiores publicações de música do Reino Unido, dizendo:
“Vamos Eric… assuma. Metade da sua música é negra… quem atirou no xerife, Eric? Com certeza não foi você!”.
A carta, claro, faz referência à música “I Shot The Sheriff” (“Eu atirei no Xerife”), gravada originalmente por Bob Marley e que ficou famosa em versão de Clapton.
Rita Coolidge
Rita Coolidge ficou bastante decepcionada com Eric Clapton ao descobrir que ele e seu antigo namorado Jim Gordon, que era baterista da banda de Eric, Derek & The Dominos, não deram os devidos créditos à ela no sucesso “Layla”.
A artista revelou em seu livro de memórias Delta Lady que a parte do piano usada na música foi criada por ela e Gordon:
“O que eles claramente fizeram foi pegar a música que Jim e eu escrevemos, descartar a letra e anexá-la ao final da música de Eric. Era quase a mesma coisa.”
Coolidge disse ter abordado o empresário de Clapton na época, Robert Stigwood, mas ouviu um sonoro “Quem você pensa que é?” ao questioná-lo sobre a música. Já em relação a Eric, ela disse ao The Washington Post:
“Eu nunca tive uma conversa com Eric sobre provavelmente nada. Ele sempre me fez sentir… como se eu estivesse abaixo dele.”
Robert Cray
Robert Cray se viu obrigado a encerrar sua amizade com Claptonn, que teve início na década de 1980, após o guitarrista ter lançado a música anti-quarentena “Stand and Deliver” em parceria com Van Morrison.
Incomodado com a canção que mostrava Clapton comparando o lockdown à escravidão e fazendo referência ao “fascismo” do uso de máscaras, Cray pediu, educadamente, uma explicação sobre a música através de um e-mail – e não foi convencido com a resposta.
Ao Washington Post, Robert disse que a “reação de Clapton para mim foi que ele estava se referindo a escravos, você sabe, da Inglaterra de muito tempo atrás”.
Mas esta não foi a única situação que incomodou Cray. O músico também comentou sobre a foto de Eric com o controverso governador do Texas, Greg Abbott, que apoia leis antiaborto e políticas que restringem os direitos dos eleitores.