O Smashing Pumpkins está em uma extensa agenda de shows desde o ano passado em apoio ao lançamento do álbum Aghori Mhori Mei (2024), 13º trabalho da carreira do grupo e mais um que celebra o reencontro de Billy Corgan com os outros membros originais Jimmy Chamberlin e James Iha.
Como parte desta celebração, a banda organizou sua primeira turnê pela América Latina em nove anos e incluiu o Brasil, onde passará por Brasília nesta sexta-feira (1) e São Paulo no próximo domingo (3).
Os ingressos para a apresentação na capital paulista, que acontecerá no Espaço Unimed, estão esgotados, mas ainda há bilhetes para o show no Distrito Federal, que será realizado na Arena BRB Nilson Nelson e você pode garantir seu acesso neste link.
Além disso, o Smashing Pumpkings concedeu uma entrevista exclusiva ao TMDQA! e o papo está disponível logo abaixo. Na conversa, Billy Corgan comentou sobre o retorno ao país, algumas de suas memórias e a construção de sua relação com o Brasil. Veja a seguir!
TMDQA! Entrevista Billy Corgan (Smashing Pumpkins)
TMDQA!: Oi, Billy! Como você está? Tive o prazer de falar com você ano passado e que sorte a minha de poder bater outro papo contigo!
Billy Corgan: Olá! Obrigado, o prazer é meu.
TMDQA!: Bom, no ano passado a gente teve uma conversa bem legal e não consigo não pensar em quanta coisa mudou em tão pouco tempo. Um pouco mais de um ano depois, você já tem um novo disco – e que disco! É um álbum bem diferente do anterior, e ele soa muito mais próximo do Rock e até do Metal. Você sente que esteve mais conectado com esse seu lado, voltou mais ao passado pra fazer esse álbum?
Billy: Acho que é um pouco diferente disso. Sabe, eu tenho 57 anos, tenho filhos pequenos. E me pego pensado, tipo, “Beleza, não sei quantos anos mais eu vou fazer isso”. Seja um ano ou 20 anos, o que eu quero fazer com esse tempo? O que eu tenho a dizer? Do que eu ainda quero ir atrás? Ou já chega pra mim de explorar ou qualquer coisa assim? Então, pra mim, foi só bem natural fazer esse disco, não exatamente pra finalizar, mas… meio que fechar um círculo, sabe?
A banda que começou lá em Chicago, em 1988, a… 36 anos? Ou qualquer coisa assim. Acertei a conta? [risos] Acho que sim. Mas, bom, foi uma forma de meio que trazer paz a essa situação, musicalmente falando. Nós sabemos quando lançamos um disco que não é o que as pessoas esperam. Sabemos que haverá muita reclamação, ou pessoas confusas, ou sei lá, simplesmente pessoas se recusando a ouvir. Tá tudo bem, já estamos acostumados com isso. Mas há momentos em qualquer instituição criativa nos quais você precisa de um período de paz.
Sabe, há um momento para as tempestades e há um momento para só apreciar o Sol brilhando. Eu senti que essa era um momento em que só precisávamos de um pouco de Sol sobre nós.
TMDQA!: Faz sentido. Outra coisa curiosa pra mim é que o ATUM foi um disco tão grandioso, por falta de uma palavra melhor – é um projeto que provavelmente teve um custo muito grande pra você, criativamente falando, pra compor tudo isso. Esse, por outro lado, parece quase uma reação a tudo isso com a crueza que traz. Foi uma resposta interna de vocês pra vocês mesmos?
Billy: Um pouco. Acontece que eu acabei fazendo algumas músicas mais ligadas ao Rock no ATUM, e eu me senti confortável fazendo isso. Foi a parte em que eu menos tive que pensar; todo o resto do ATUM me exigiu muito pensamento, muita pesquisa e desenvolvimento e experimentação. Então, depois que fiz tudo isso, eu pensei que eu estava me sentindo muito confortável fazendo Rock nesse momento da vida.
Eu não sei o motivo pra isso. [risos] Porque se você me perguntasse intelectualmente, eu diria que eu não estaria confortável. Mas, no fim das contas, eu me vi nessa porta e pensei, “Ok, eu vou só entrar nessa porta e ver o que acontece”. Peraí, eu preciso dar uns gritos. [falando com os filhos: “Ei, vai se vestir. Vai se vestir, por favor.”] Desculpa. Eu tenho filhos pequenos. Sabe, todo dia é uma aventura. [risos]
TMDQA!: Tá tudo bem, Billy. [risos] Bom, você vem ao Brasil em breve e vai ser a primeira vez em, tipo, 10 anos, o que é inacreditável pra mim. Eu tive a sorte de estar da última vez, e curiosamente você vai estar na cidade onde morei a maior parte da minha vida – Brasília – enquanto eu vou estar de lua de mel em Chicago, tentando visitar o Madame Zuzu’s [loja de chá de Billy Corgan]…
Billy: [risos] Nossa, que engraçado!
TMDQA!: Pois é! Uma coincidência curiosa mas infeliz… [risos] Enfim, além de mim, muita gente no Brasil espera esse retorno há bastante tempo, e eu queria falar um pouco contigo sobre sua relação com o país e se você tem alguma memória favorita conosco.
Billy: Olha, eu vou dar uma volta para explicar isso. Eu acho que a primeira vez que tocamos no Brasil foi em 1996, no Rock in Rio, talvez? Era um festival incrível, o The Cure estava tocando, teve Plant & Page, os Black Crowes, a gente… [nota: foi o Hollywood Rock, que aconteceu em São Paulo e no Rio em Janeiro de 1996]
Então, foi um momento bem mágico. Fez com que nos sentíssemos parte de algo importante. Mas para nós, enquanto americanos, nós nunca tínhamos visto algumas das coisas – algumas das favelas ou como quer que chamem por aí, onde as pessoas moram em casebres nos morros… Peraí. [falando com os filhos: “Vem aqui. Vem aqui, por favor. Você está em apuros. Vai se vestir! Vai lá se vestir primeiro.”] Desculpa. [risos]
Enfim, pra nós, foi chocante ver isso. É difícil pra gente entender isso. Nós vivemos com tanta riqueza nos EUA e eu não tinha um grande conhecimento do povo brasileiro ou da cultura. É claro que você pode ter a… vamos chamar de “versão turista”, porque é claro que tem essa bela cultura, pessoas muito bonitas, toda a ótima música brasileira, e nós ali na praia… Mas aí você vê toda essa pobreza. É difícil, em uma viagem só, de juntar todas essas peças.
Bom, mais ou menos na mesma época, eu fiz uma amiga em Portugal, que nasceu em Portugal mas é filha de brasileiros. Então, na cabeça dela, ela é totalmente uma brasileira. [risos] E ao virar amigo dela, ela me ajudou a entender mais da cultura brasileira de uma maneira mais íntima, eu diria. Então, quando eu voltei ao país depois disso, aí eu consegui ver o país que é o Brasil através dos olhos dela, se é que isso faz sentido.
Eu senti que eu dei uma roubada por ter uma amiga brasileira que poderia me ajudar a entender as complexidades da vida brasileira. [risos]
TMDQA!: Entendi! Realmente, é uma vida cheia de complexidades. Billy, pra fechar, porque já estamos quase sem tempo, queria falar um pouco sobre a entrada da Kiki na banda e principalmente sobre o processo de ter essa nova pessoa na banda, uma vez que vocês fizeram um processo seletivo super aberto, transparente, e basicamente deixaram claro que haveria uma chance pra quem quer que fosse, de qualquer parte do mundo. Isso foi legal demais. Queria entender como foi o seu olhar pra esse processo, ver quantas pessoas estavam interessadas em ter esse emprego. Deve ter sido algo que te faz renovar sua perspectiva, né?
Billy: Sim! Foram 10 mil inscrições, de todas as partes do mundo. Então, sim, me trouxe um senso de humildade. Mas a outra questão disso, sabe, é que sempre há uma certa confusão com relação ao tipo de banda que somos. Mas uma coisa que realmente vem das nossas raízes desde o começo é que nós realmente não nos importamos com quem você é e de onde você vem. É mais sobre você se encaixar com o que a banda é.
Então, tipo, é mais sobre: será que você consegue levar quem você é à banda e contribuir? Não porque nós tenhamos uma visão de como você precisa se vestir ou agir ou pensar ou gostar ou tocar, mas mais no sentido da sua voz se somar a essa orquestra, por falta de uma palavra melhor.
Se você pensa lá no começo da banda, com James, D’arcy, Jimmy e eu, são quatro pessoas totalmente diferentes de áreas totalmente diferentes da vida. Nós não crescemos perto um do outro. Não estudamos na mesma escola. Nós só nos encontramos no meio dessa coisa chamada banda.
Então, eu vejo algumas pessoas não entenderem onde a Kiki se encaixa na banda porque elas olham para a forma como a Kiki se veste, elas olham para a forma como a Kiki toca, elas olham para o perfil do Instagram da Kiki, e elas pensam, “Como essa pessoa se encaixa no mundo dos Pumpkins?”. Mas é exatamente esse o ponto. A Kiki traz a sua propria personalidade e sua própria voz à banda, e agora a banda é diferente por causa dos pontos positivos de quem a Kiki é.
Nós não precisamos que a Kiki seja como nós somos. Nós precisamos que a Kiki seja quem ela é. E a Kiki é muito impressionante dessa forma. Ela tem um senso de si mesma muito forte. É um pouco estranho porque as pessoas fazem as contas do jeito errado. Elas dizem, tipo, “Ela é uma guitarrista de Metal”. Sabe? Bom, ela se veste com uma garota do Metal no palco. Tá, quem liga? Ela deveria se vestir da forma como ela quiser se vestir; ela não precisa se vestir como se fizesse parte do Smashing Pumpkins. Tipo, eu uso uma roupa de padre no palco. [risos]
Sabe, o que significa ser parte do Smashing Pumpkins? É meio que uma piada, de verdade.
TMDQA!: Perfeito, Billy. Muito obrigado pelo seu tempo e pela sua música. Foi um prazer bater esse papo com você de novo! Nos vemos em breve.
Billy: Pois é, não dessa vez, né? [risos] Mas em uma próxima. Obrigado. Se cuide.
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