Blue Mar é codinome para Marcelo Deiss, um músico brasileiro com carreira internacional. Depois do EP Hurl (2021) e do disco de estreia The March Hare (2022), ele retorna com seu novo álbum, OLIVEIRA, onde une suas raízes nacionais ao indie rock.
Conhecido pela guitarra virtuosa e pela capacidade de traduzir sentimentos profundos em suas composições, Blue Mar se aproxima do DNA do som brasileiro neste trabalho, buscando reconectar-se com suas origens e explorar novas vertentes criativas. Este lançamento representa uma nova fase para o artista, que, após turnês por países como Estados Unidos, Europa e África do Sul, sentiu a necessidade de trazer ao público um som mais pessoal e introspectivo.
A produção de OLIVEIRA envolveu sessões intensas de gravação em Londres e São Paulo, onde Blue Mar trabalhou ao lado de produtores como Ian Flynn, Liam Hutton e Pedro Serapicos, resultando em um álbum que transita entre o pessoal e o dançante.
Faixas como “Fallen Leaves” e “Tough Spell” expressam os dilemas e emoções que moldaram o álbum, oferecendo um olhar sobre as tentações e escolhas que definem a trajetória do artista. O nome OLIVEIRA carrega ainda um significado íntimo, sendo uma homenagem ao sobrenome de solteira de sua mãe, reforçando a busca de Blue Mar por um elo com suas raízes.
Para promover o novo disco, Blue Mar inicia uma turnê de 11 datas pela Europa, incluindo apresentações na Alemanha, onde os ingressos já estão praticamente esgotados. Esse novo projeto, lançado em vinil pelo selo Rough Trade, reafirma a identidade de Blue Mar como um brasileiro cidadão do mundo e consolidando seu espaço na cena alternativa.
Parte da divulgação envolveu um papo com a mídia brasileira, inclusive o Tenho Mais Discos Que Amigos!. Confira logo abaixo!
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TMDQA! Entrevista: Blue Mar
TMDQA!: Oi, Marcelo! Onde você está no mundo hoje?
Blue Mar: Estou em São Paulo, mas amanhã já estou indo para Berlim.
TMDQA!: Tá certo. Parabéns pelo novo trabalho! É muito comum a gente apontar como você traz muito do DNA brasileiro em sua música, mas isso não é uma novidade. E eu queria que você começasse falando um pouquinho sobre o que que diferencia nessa proximidade das suas raízes que você tá fazendo no OLIVEIRA e qual foi o significado de usar essa conexão familiar logo no título do álbum, de trazer o nome de solteira da sua mãe.
Blue Mar: Então, o álbum, como você comentou, realmente veio de uma inspiração de outros álbuns que vieram antes, sim. O Technicolor, do Mutantes, é um álbum que eu adoro, tá no meu Top 5. Mas tem também outros discos aqui do Brasil, com Secos e Molhados, Casa das Máquinas, coisas que eu cresci escutando e que trouxeram muito pro meu som, tanto como guitarrista, como compositor e como músico. Eu nunca tentei reinventar a roda, não tô querendo criar um som novo, acho que não é essa a proposta. Nunca foi uma ideia de inventar uma coisa nova.
TMDQA!: Exato. Fica claro que você não quer recriar nada e sim trazer uma perspectiva muito pessoal. É isso?
Blue Mar: Total. Com o primeiro disco, The March Hare, eu queria algo que me representasse como brasileiro. Então, eu fiz isso através das letras. Tem letras que eu começo cantando em português, aí eu passo pro inglês, tem letras que eu começo cantando em inglês e passo pro português. Então, eu faço essa mistura com a língua, né? E era uma coisa que eu queria trazer desde o começo.
Quando eu cheguei pra fazer o OLIVEIRA, eu também queria trazer alguma coisa. Eu falei, acho que eu não vou fazer da mesma forma, eu quero trazer isso com instrumentos brasileiros. Então, foi através dessa coisa de brincar com samples no começo. Eu comecei a mexer com a cuíca, com o pandeiro, com o instrumento, com o sample de escola de samba. E isso começou a me dar uma ideia nova, e me abriu uma porta nova. Se é para ter algum elemento brasileiro, eu vou querer trazer o meu som, que é uma coisa com mais guitarra, é uma coisa que eu gosto mesmo, mas eu quero ter essa coisa que me represente do Brasil. Como sonoridade, essa foi a minha intenção. Com o disco, foi trazer através dessa exploração de instrumentos brasileiros, mas realmente focando no Blue Mar, que é essa coisa mais rock mesmo, coisa que eu gosto e eu queria fazer.
O nome OLIVEIRA também faz parte disso, eu queria uma coisa que me representasse no Brasil. Então, eu já tinha em mente esse nome, eu ia usar em algum momento, e eu achei legal porque estou colocando bastante coisa brasileira, como as letras foram todas inglês, eu queria fazer esse contraponto, que não foi uma coisa que eu fiz no primeiro, em que eu cantei em português também. Então, como o primeiro disco tem um nome inglês, eu quis trazer essa divisão.
Eu acho que, para quem já escutava meu som, vai dar uma cara nova. Tem aquelas guitarras que eu sempre gostei de fazer, tem os sons doidinhos, tem coisas que eu exploro muito com a guitarra também, que eu trouxe para esse álbum. Então acho que tem essa mistura com a música, com os instrumentos brasileiros, mas com essa cara Blue Mar mesmo, que eu trouxe do primeiro álbum para o segundo.
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TMDQA!: Agora falando dessa transição, você descreveu muito bem a evolução musical do seu projeto, mas eu queria que você falasse um pouquinho sobre a evolução temática. Quais novos assuntos você ainda não tinha abordado no EP e no The March Hare que você trouxe para esse trabalho pela primeira vez? Como que você vê essa transição temática de um para o outro?
Blue Mar: Legal. O The March Hare foi feito durante a pandemia, então foi um álbum meio caótico para fazer, porque a coisa foi um processo muito lento, a gente teve que fazer em lugares separados às vezes, remarcar a sessão, sabe? Foi uma coisa bem lenta, tanto que o álbum ia sair em 2021, eu acabei lançando em 2022, pelo fato de que estava tudo fechado, aquela coisa da pandemia. E foi um álbum muito influenciado por tudo o que estava acontecendo, porque a questão de polarização, a questão de internet, a questão de inteligência artificial, aquela coisa de NFTs, tudo que a gente teve durante a pandemia, bitcoins, todas as coisas que a gente ficava em casa absorvendo. Era o dia inteiro celular ou era TV, acompanhando pela tela o mundo. Muito das letras são sobre isso no The March Hare.
No OLIVEIRA eu quis abordar uma coisa um pouco mais pessoal, que começou com altos e baixos, até como músico. A questão de que a grama do vizinho é sempre mais verde, porque “aquele músico tem isso”, sabe? Ah, mas eu quero estar ali, aí quando eu estou ali, ah, mas eu quero aquilo lá. Começou com uma discussão, que até eu conversava muito com amigos, dessa coisa a gente sempre estar nesses altos e baixos, da própria indústria, a gente fica numa coisa que cria muita ansiedade, que cria muita expectativa. Então eu comecei a escrever sobre isso, eu coloquei muita coisa pessoal minha, referente ao mercado da música e eu acabei transportando isso para altos e baixos, do Blue Mar mesmo, coisas que eu estava passando, o que isso está me afetando na minha vida, o que que isso está me trazendo de bom também.
Então foi muito uma discussão que começou com realmente compreender a jornada que a gente tem, que como músico é uma coisa que não é fácil. A gente realmente acaba tendo que aprender muita coisa e que lidar com muita coisa. Tem muitos frutos legais também que o mercado da música também traz para você. Então foi realmente desse debate que eu comecei a escrever as músicas.
TMDQA!: E eu queria falar um pouquinho sobre a progressão de cores. Eu estava olhando a capinha dos discos lado a lado. E, bom, o EP estava todo em preto e branco. O primeiro disco foi pra um tom meio rosado e para esse, bem mais vibrante. E aí, eu queria entender se essas capas com cores crescentes, se também acompanharam a sua identidade sonora ou se foi só uma coincidência.
Blue Mar: Não, foi pensado, sim. A gente fez uma sessão de fotos e trabalhou com a Betty Wang, de Nova York, ela é uma designer. Ela trabalhou com a Arlo Parks. Eu sou muito fã da Betty, e ela criou vários layouts diferentes e trouxe essas opções. Ela falou, “olha, isso aqui cria uma evolução”. É exatamente isso que você falou. Ela acabou trazendo opções que criassem essa evolução da referência às outras capas, do EP, dos singles. Então, se você pegar o The March Hare com o OLIVEIRA, realmente eu sinto, pelo menos, uma evolução. Parece que tem duas pessoas diferentes ali, uma olhando para um lado, outra olhando para o outro. Então, tem todo um lance também.
TMDQA!: É, tem um storytelling acontecendo ali.
Blue Mar: Tem, tem. E tem um lance com cor no próprio vinil. Tem a cor vermelha na frente, tem a cor azul atrás, as músicas em cima, elas estão numa ordem certa, embaixo elas estão ao contrário. A mesma coisa na capa, o Blue Mar está certo, Oliveira está ao contrário, de ponta cabeça. Então, tem tudo que tem a ver com essa coisa de uma evolução, de uma certa coisa que foi uma sacada muito legal dela, que realmente fez todo o sentido.
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TMDQA!: Se a gente olha para as cidades que mais te ouvem, lá no Spotify tem essa informação, e o que consta é: Berlim, Helsinki, Praga, Sydney e Varsóvia. Para os brasileiros, de certa forma, você ainda é uma novidade, algo que vem talvez mudando um pouco esse trabalho de imprensa mais focado aqui para o Brasil. E eu fiquei curiosa: qual seria a primeira impressão que você queria deixar para os brasileiros que ainda não te conhecem e vão passar a te conhecer a parte desse disco?
Blue Mar: Desde o começo, o foco foi a gente ir para fora. Eu acho que isso desde o The March Hare, eu toquei fora, Estados Unidos, Europa, enfim. E a ideia sempre foi voltar. Então, eu tenho um grande carinho pelo pessoal do Brasil e eu realmente quero criar uma conexão com o pessoal aqui, com os fãs brasileiros. Mas como a gente sempre teve essa gana de levar essa coisa de instrumentos brasileiros pra fora, eu acho que é até por isso que a gente tem Berlim, tem Praga [entre as cidades onde são mais ouvidos], porque a gente sempre acabou promovendo lá fora e trabalhou com relações públicas lá fora também.
Então a ideia sempre foi divulgar, principalmente no caso do OLIVEIRA, que tinha até uma coisa mais em inglês, mas com essa pegada do Brasil. A gente queria realmente mostrar nossa música, nossa sonoridade em instrumentos brasileiros, a gente queria apresentar pra eles lá fora. The March Hare foi o contrário, a gente queria lançar mais aqui, porque tinha essa coisa de música brasileira. Então a gente conseguia acessar mais fácil, porque tem muito disso, queira ou não queira, às vezes é a própria letra da música, você tem uma facilidade de se conectar com uma pessoa cantando inglês, se a pessoa tá compreendendo inglês. Então às vezes tem essa coisa de conexão mesmo, o trabalho sendo direcionado para uma coisa em inglês e a gente focar nisso lá fora, a gente sempre teve essa estratégia desde o começo.
Mas a gente quer muito. Eu digo eu, mas é uma banda, a gente quer muito tocar aqui, a gente quer muito apresentar esse som para o pessoal aqui, fazer conexões aqui, colaborar com músicos daqui também, até porque a gente colaborou com músicos daqui para fazer o álbum também. Então tem essa coisa que a gente tá querendo explorar bem mais no mercado brasileiro.
TMDQA!: E tem algum feat que você imagina com algum artista brasileiro?
Blue Mar: Eu produzi com Pedro Serapicos e ele já produziu vários artistas. Ele me falou da Mahmundi, que é uma pessoa que eu sou muito fã e eu acho que seria muito legal. O próprio Boogarins também, são os caras que estão tocando fora e estão aqui no Brasil. Então eu acho que tem muita gente que tá explorando esse mercado lá fora, mas acaba pegando essa coisa brasileira também. Com o Blue Mar é um pouco diferente pelo fato de ser inglês, mas em questão de sonoridade, a gente está buscando a mesma coisa, a gente quer estar no mesmo universo e colaborar também. São dois artistas que seriam super legais, são artistas que eu respeito muito, tenho muito carinho, adoro o trabalho, então seria muito legal.
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TMDQA!: Tem que ter essa sintonia, né?
Blue Mar: Sim!
TMDQA!: Você comentou sobre a turnê do The March Hare. Eu queria encerrar fazendo uma reflexão sobre essas andanças que você fez – Estados Unidos, Europa, África do Sul… Você viajou bastante e quando se está longe de casa, da zona de conforto também, é uma oportunidade muito boa de autoconhecimento. Queria saber o que essas andanças trouxeram pra você, sobre a sua música, e que acabaram influenciando o OLIVEIRA e que apareceram ali de alguma forma.
Blue Mar: Teve muita coisa, desde isso da sonoridade mesmo, de estar lá fora, eu queria já explorar coisas com instrumentos brasileiros. Eu não sabia como, foi quando eu realmente voltei pra cá depois que eu fiz essa tour, que eu resetei a coisa, e aí eu falei, “olha, eu quero realmente começar com o trabalho, eu quero explorar isso lá fora com esses instrumentos brasileiros”, mas que acabaram nos samples que eu já estava construindo, eles trouxeram essa ideia nova e isso veio dessa tour que eu fiz fora.
E a própria questão também de entender como tocar fora, de como se locomover lá, de como fazer pra se conectar com o público. Eu acho que são coisas que a gente vai aprendendo realmente depois de cada show, você vai realmente criando uma conexão maior, você vai aprendendo a lidar com o público. Então são coisas que eu já trouxe até para o OLIVEIRA. Com o The March Hare, era só eu e um baterista. Então, eu queria realmente trazer uma banda mesmo. Então, isso foi outra coisa que veio dessa tour.
E o fato também de já compreender mais a questão de uma tour. Quando eu fiz Estados Unidos, Europa, a primeira vez, é uma coisa que é meio impactante. Fica meio difícil lidar com tanta emoção, com tanta ansiedade, tanta coisa que acontece ao mesmo tempo.
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TMDQA!: São muitos firsts, né? Tipo, coisas que acontecem pela primeira vez.
Blue Mar: Muitos firsts. Total. Essas coisas, só realmente fazendo que acabam te dando segurança. Então, são coisas que agora eu espero levar com mais segurança. Já tenho mais uma ideia de como é o público, dos lugares. Realmente, se eu posso falar do que me trouxe, é questão de experiência mesmo, questão de evolução.
TMDQA!: Perfeito. Maravilha, Marcelo. Dá pra sentir isso no disco. E tá lindão, parabéns pelo trabalho. Espero que você se divirta agora com ele e talvez até volte aqui pra tocar, né?
Blue Mar: Total, total.
TMDQA!: É isso, foi muito bom falar com você.
Blue Mar: Obrigado por todo o apoio que vocês deram aí também desde o começo, desde o primeiro single. A gente sempre tá acompanhando. A gente ficou muito feliz aqui com o trabalho de vocês. Obrigado, hein?
TMDQA!: Pode contar com a gente.
Blue Mar: Obrigadão!
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