GENIALIDADE

Tyler, The Creator alcança evolução em "Chromakopia" e se consolida no "Big 3" do rap

Oitavo álbum do rapper americano explora ainda mais sua liberdade, acrescentando temas mais sensíveis sobre sua vida

TYLER THE CREATOR
Foto: Reprodução

Chromakopia, o oitavo álbum de Tyler, the Creator, é um triunfo artístico que reflete o crescimento e a maturidade de um dos rappers mais disruptivos de sua geração.

Neste projeto, Tyler revisita a ideia de “artista underground” em seu sentido mais amplo, aproveitando a liberdade que conquistou para explorar sonoridades e temas que transcendem o mainstream, mantendo sua marca de autenticidade e provocação.

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Em Chromakopia, a evolução de Tyler, The Creator é evidente, não apenas pela complexidade musical que ele traz ao álbum, mas também pela profundidade de sua autoanálise e pelo conteúdo mais reflexivo das letras.

Logo no início do álbum, ele reafirma sua posição no cenário do rap, referindo-se ao Odd Future e à sua trajetória como um artista que sempre seguiu seu próprio caminho. Desde jovem, ele se destacou por sua audácia, e, assim como Kendrick Lamar e a Black Hippy, ajudou a redefinir o rap contemporâneo, mostrando que era possível desafiar o status quo sem fazer concessões.

Hoje, Tyler é um vencedor de Grammy e um dos artistas mais aclamados da música, mas ele se mantém fiel à sua abordagem artística: criar álbuns profundos, que convidam à imersão, ao invés de se render à fórmula comercial de hits fáceis.

Em uma era dominada pela lógica dos singles e das playlists, Chromakopia se destaca como uma obra conceitual e coesa — algo raro e cada vez mais valioso.

A genialidade de Tyler, The Creator

Um dos aspectos mais marcantes do álbum é sua visão uniforme sobre a música. Apesar de sua variedade de sons e estilos, o álbum ainda parece uma unidade integrada.

O estilo de produção característico de Tyler cria uma experiência de escuta consistentemente recompensadora, onde as transições entre as faixas são suaves, reforçando os temas centrais de autodescoberta e introspecção.

A produção é um dos maiores trunfos do álbum. Totalmente escrito, produzido e arranjado pelo próprio Tyler, The Creator, Chromakopia traz uma paleta sonora que abrange desde o soul e jazz até influências de rock zambiano dos anos 70, eletrônica e guitarras acústicas.

A diversidade apresentada pelo rapper e produtor cria uma atmosfera quase cinematográfica, reforçada pelos videoclipes de apresentação, que ajudam a transportar o ouvinte para o universo visual dele. A escolha de poucos convidados, incluindo Daniel Caesar, ScHoolboy Q e o brasileiro Pedro Martins, contribui para a construção de um álbum profundamente pessoal, onde cada colaboração parece escolhida a dedo para complementar a narrativa.

Já em termos líricos, Chromakopia é uma obra de autodescoberta e de reflexão sobre o amadurecimento. Faixas como “Hey Jane” abordam dilemas emocionais e decisões de vida que surgem na vida adulta, como o medo e a incerteza de uma gravidez inesperada e o desafio de se comprometer com o futuro.

Já “Like Him” explora a relação de Tyler com seu pai ausente, um tema que ele introduziu em seu primeiro álbum e agora retoma com mais maturidade e sensibilidade. O rapper também fala sobre identidade e as máscaras que as pessoas usam para se adaptar às expectativas sociais, como em “Take Your Mask Off”, onde ele pinta perfis complexos de personagens marginalizados pela sociedade, mas sem esquecer de refletir sobre suas próprias inseguranças e paradoxos.

A evolução de Chromakopia

O álbum Chromakopia é repleto de momentos intensos e autênticos, mas Tyler, The Creator também se permite relembrar suas origens com faixas mais agressivas, como “Rah Tah Tah”, que retoma o estilo provocativo de seus primeiros trabalhos.

Os versos de “Sticky”, com GloRilla, Sexyy Red e Lil Wayne, e a participação impactante de Doechii em “Balloon” trazem energia e contrastam com as faixas introspectivas, criando uma estrutura dinâmica e bem equilibrada. Ao fazer essa combinação, Tyler evita cair na tentação de repetir uma fórmula e, em vez disso, expande os limites de sua própria expressão artística.

Comparado a trabalhos marcantes como My Beautiful Dark Twisted Fantasy, de Kanye West, e Mr. Morale & the Big Steppers, de Kendrick Lamar, Chromakopia apresenta a visão única de Tyler, consolidando-o como um dos grandes contadores de histórias da sua geração. Inclusive, diante do debate sobre o “Big 3” do rap desta década – até então formado por Kendrick, Drake e J. Cole -, é possível afirmar que Tyler, The Creator ocupa um desses lugares e senta-se à mesa dos melhores.

Ele é um artista que não apenas desafia os “termos” do rap, mas também reimagina o que a música pode ser — uma jornada complexa e envolvente que reflete o mundo interno de seu criador.

Com Chromakopia, Tyler, The Creator prova que a música ainda pode ser um espaço de profunda introspecção e experimentação, trazendo algo novo e significativo para a arte e para a cultura contemporânea.

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