O estilo único de Iuri Rio Branco, entre a "podreira" e a "humanização da arte"

Nomeado duas vezes a Produtor do Ano, Iuri Rio Branco se destaca pela singularidade de suas produções no rap e na música pop

Iuri Rio Branco
Foto: Bel Galdolfo

O estúdio, para o produtor Iuri Rio Branco, é mais do que um espaço físico; é um santuário criativo, onde ideias ganham corpo e ritmo. Cada instrumento, cada linha melódica, cada batida da bateria não é apenas som, mas uma extensão de sua identidade.

O produtor, natural de Brasília, carrega consigo a sabedoria de anos de imersão em gêneros como rap, reggae e rock, moldando uma assinatura única que ressoa em grandes obras da música brasileira contemporânea.

Desde os oito anos de idade, quando iniciou sua trajetória musical na bateria, Iuri já se via cercado pela magia do estúdio. Seu fascínio por encartes de discos e gravações, aliado às visitas aos bastidores do lendário Ratos de Porão, introduziram-no ao universo que viria a dominar. “Eu pirava só de ver um metrônomo. Sempre quis ser o melhor profissional da área”, reflete.

Esse desejo de excelência guiou Iuri por um caminho híbrido, entre palcos e estúdios, culminando em colaborações com artistas como Marina Sena, Liniker, Flora Matos e Jean Tassy. As parcerias renderam a ele duas indicações nominais ao Prêmio Multishow, em dois anos consecutivos, como Melhor Produtor Musical do Ano, e três indicações ao Grammy Latino.

Música preta como guia

A música preta é a bússola de Iuri Rio Branco. Desde criança, quando comprou seu primeiro disco, Dangerous, de Michael Jackson, sentiu-se cativado pela essência rítmica que a matriz africana traz. Para ele, o ritmo é mais que uma característica, é uma linguagem universal. “Minha cabeça é muito rítmica. Sempre tento resolver tudo ritmicamente. Essa herança da música negra é o fundamento de tudo que escutamos hoje.”

Esse respeito pela música negra transparece em cada faixa que produz. Em suas mãos, o rap ganha frescor com elementos inusitados. Ele rejeita a repetição genérica:

“Se vou fazer um trap, não vou buscar um sample de trap. Trabalhar em diferentes frentes ajudam na hora de produzir um rap. Essa bagagem que eu tenho é um diferencial, porque não tem uma virada de chave entre estilos”.

Um dos exemplos dessa criatividade singular de Iuri Rio Branco é a produção de “SUV”, do rapper Ryu, The Runner. Ele conta que o jovem artista chegou empolgado no estúdio com uma referência para a produção de música:

“Ele mostrou um hard rock dos anos 90 e eu disse que pra gente fazer um bagulho foda como ele queria, seria preciso samplear rock progressivo dos anos 70 do Brasil. Mostrei pra ele a banda O Terço, ele curtiu, peguei a guitarra e a bateria pra tocar e deu certo.”

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Cada parceria não é apenas um projeto, mas uma conexão musical que desafia padrões e busca o novo. Dessa maneira, sua parceria com Jean Tassy já dura oito anos e resultou na criação de 45 músicas. Na última semana, os dois artistas deram vida ao álbum Acrônico, flutuando por diferentes estilos e perspectivas criativas.

“Quando produzimos algo, se nos emocionarmos, lançamos na hora”, conta Iuri, explicando a conexão única que possui com o rapper. “Quando dá o play, você se liga na hora que a parada é uma só. O Jean tem uma bagagem cultural grande, e eu também. O Jean não escuta muito o som que faz, então a gente não deriva do próprio estilo, porque não vai trazer nada novo.”

A humanização da música de Iuri

Iuri Rio Branco acredita que a música, para ser duradoura, precisa transcender a máquina. Ele busca humanizar suas produções com baterias orgânicas e elementos que muitas vezes passam despercebidos, mas que moldam o caráter da faixa:

“Meu diferencial é a podreira, aquelas paradas que não são necessariamente instrumentos musicais. Minhas produções são enxutas, mas tudo ali tem que estar.

Pra mim, outro diferencial é o ritmo, com a linha de baixo sempre em cima do ritmo. Eu gosto muito de humanizar minhas produções, com a bateria, pra tirar um pouco o computador também e tornar a arte mais durável. Quantos computadores você teve e precisou trocar? Enquanto isso, o ser humano está aí.”

Essa busca pela essência também reflete sua visão crítica sobre o mercado atual, saturado por ferramentas que facilitam a criação de músicas genéricas. “A galera tem tesão por fórmulas, não por música. Eu quero ganhar dinheiro, claro, mas com algo que me emocione.”

O olhar de Iuri está sempre no presente, mas seu horizonte é vasto. Ele trabalha simultaneamente em projetos como o novo álbum de Don L, um tributo a Dorival Caymmi com Alice Caymmi, e um disco próprio que promete ser seu manifesto criativo. “Quero entregar tudo que tento fazer e os artistas não topam. Desta vez, o briefing vai ser meu.”

Mais do que produtor, Iuri Rio Branco é um criador de experiências sonoras. Sua jornada não é apenas técnica, dominando os ritmos e compassos, mas muito criativa. Ele nos lembra que a música, em sua essência, não é só feita para ser ouvida. É feita para ser sentida, para ecoar além do tempo.

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