Quem acompanha o TMDQA! há algum tempo já deve ter visto por aqui inúmeras listas e recomendações de bandas que provam que o Rock e o Metal vivem uma ótima fase. O discurso por aí, sabemos bem, é contrário – não faltam exemplos de quem prefere afirmar que os gêneros estão morrendo (Gene Simmons que o diga!), mas isso não poderia estar mais longe da verdade.
Em um ano como 2024, recheado de shows ligados a essas cenas no Brasil, temos exemplos incontáveis de como essa cena tem uma grande vida tanto no mainstream quanto no underground, indo desde o espetáculo do Linkin Park no Allianz Parque em seu retorno triunfal até o caos gostoso de shows menores que mostram a força da nova geração, como o Movements, que passou recentemente pelo país.
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Dito tudo isso, o que realmente chama atenção é quando a nova geração consegue chegar a um palco tão grande quanto seus antecessores. E não há exemplo melhor disso do que o que aconteceu no último final de semana em São Paulo, quando o Bring Me The Horizon colocou um time impecável em um Allianz Parque lotado para mostrar a força da cena pesada atual.
Time impecável fez show histórico virar “festival”
À primeira vista, chegou a ser estranho não conceber o evento do último dia 30 de Novembro como um festival. Afinal de contas, eram quatro bandas, todas de gêneros parecidos – e, convenhamos, já vimos o termo ser usado de forma livre por eventos em que faria muito menos sentido.
Acontece que esse, realmente, era um show especial do Bring Me The Horizon. De antemão, já sabíamos que se tratava da maior apresentação como headliner da carreira da banda em questão de público, mas a surpresa ficou por conta do investimento absurdo em cenografia, conceito, efeitos especiais e apresentação que conquistou até mesmo os mais céticos.
Antes disso, no entanto, o BMTH cedeu espaço para três bandas que mostram vertentes diferentes da música pesada, todas com um papel importantíssimo em manter o gênero vivo. Quem abriu a festa foi o The Plot In You, fazendo sua estreia no Brasil em um show focado nos EPs que lançou recentemente e que, sem exagero, estão entre os melhores lançamentos de todos os gêneros possíveis de 2023 pra cá.
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Apesar de ser bastante veterana na cena e ter alguns bons sucessos na carreira, principalmente através do disco DISPOSE (2017), é impressionante como a banda conseguiu evoluir e chegar em uma sonoridade extremamente única para seus lançamentos mais recentes.
A ideia de divulgar três EPs de forma pausada, com um foco maior em cada uma das músicas, também parece ser uma consequência do cuidado envolvido em cada composição. Tudo isso foi traduzido de forma espetacular na performance ao vivo, com o vocalista Landon Tewers sendo alvo de muitos olhares de admiração por seu alcance impressionante.
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Estreia do Spiritbox e retorno do Motionless In White
A segunda apresentação ficou por conta do Spiritbox, de quem falamos com frequência por aqui desde a época do lançamento do álbum de estreia Eternal Blue (2021). Prestes a divulgar seu segundo disco, Tsunami Sea, a banda liderada por Courtney LaPlante conversou com o TMDQA! antes da estreia no Brasil e a vocalista se mostrou um pouco insegura com a possibilidade de tocar para “fãs de outras bandas”.
Que nada. Na própria entrevista, já deixamos claro que o público brasileiro não iria decepcionar – e assim foi. Para a surpresa de ninguém (além da própria Courtney), o grupo foi extremamente bem recebido e entregou tudo que esperávamos, incluindo um setlist especial com algumas raridades que não vêm aparecendo com frequência, como “Blessed Be”.
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LaPlante, inclusive, comentou na mesma entrevista conosco um ponto que é central para toda a discussão que envolve a cena atual do Metal. Depois de fazer turnês com diversos grandes nomes do gênero, a vocalista tem a percepção de que, atualmente, este público se divide entre um com uma veia mais conservadora, que não aceita as novas sonoridades, e outro que busca abraçar todas essas individualidades.
É neste último, obviamente, que ela se encaixa, ressaltando ainda o quanto é chato viver em um mundo sem diversidade. Não é à toa que Courtney nos disse que se alegra tanto com a possibilidade de dividir fãs com o BMTH; afinal de contas, estamos falando de alguém que tem colaborações com Megan Thee Stallion na carreira e lista Ariana Grande e Beyoncé entre suas principais influências.
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Essa mistura de gêneros é resultado de uma geração de artistas que perdeu a vergonha (finalmente!) de dizer que não escuta só Metal ou Rock. É o afastamento do purismo, e o abraçar de uma estética que vai além daquela relação binária que o Rock promoveu com sucesso por tantos anos, fechando as portas para quem tentava fazer algo diferente.
Esse papel também é cumprido com maestria pelo Motionless In White, especialmente com o vocalista Chris Motionless esbanjando carisma em um retorno ao Brasil que já era devido há muito tempo. A presença do MIW foi fundamental para mostrar que, além das bandas que surgiram há menos tempo, aquelas que já estão conosco há duas décadas também seguem inovando, buscando novas direções e, acima de tudo, respeitando a movimentação dos que chegaram depois.
Eleita como melhor show da noite por alguns, a apresentação do Motionless In White foi realmente impecável, e ainda serviu como chamariz para alguns dos melhores visuais do público, com seus fãs se destacando na plateia e adicionando ainda mais diversidade.
No repertório, teve volta ao passado com “Abigail” e músicas do ótimo disco mais recente, Scoring the End of the World, equilibrando o setlist entre novidades e saudosismo e ainda encontrando espaço para a divertida versão de “Somebody Told Me”, do The Killers, que sempre faz sucesso nas apresentações.
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Noite histórica do Bring Me The Horizon
Como falamos acima, a estranheza pelo fato de não ser usado o termo “festival” foi muito bem explicada – e isso aconteceu antes mesmo do Bring Me The Horizon subir ao palco. Assim que a montagem foi finalizada, o cenário impactou todos os presentes e era claro que algo muito grandioso estava por vir. Mesmo assim, é difícil achar alguém que não tenha sido pego de surpresa.
Algumas coisas não eram exatamente novidades, como toda a história envolvendo a personagem EVE, que foi exibida até mesmo no show intimista na Audio, também em São Paulo, na quinta-feira (28). Mas os efeitos especiais da apresentação, que pareceram ter vindo de um orçamento ilimitado, deixaram claro que aquela noite não era sobre receber o cachê e ir embora, e sim sobre entregar o maior show da carreira de uma banda que tem um carinho enorme pelo Brasil.
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Esse carinho passou pelas diversas interações em português do brasileiro (com CPF!) Oliver Sykes com a plateia, além do encontro com Di Ferrero e MC Lan na hora de “Antivist”, faixa que na última visita do BMTH ao país foi cantada em parceria com Pabllo Vittar.
Quem olha de fora pode não ver sentido em parcerias como essas ou em vídeos como este logo acima, exibido antes de “Kool-Aid”, com um anjo caído ensanguentado destruindo o palco.
Aliás, na porta do Allianz Parque, ainda à tarde, duas senhoras conversavam entre si e, quando uma perguntou se haveria show por lá, a outra respondeu: “sim, show de horrores”. Imagino a reação delas se pudessem ver o ritual que aconteceu logo antes de “n/A”!
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e esse ritual aqui que REALMENTE EXISTE porra, insano!!! lesser banishing ritual of the pentagram pic.twitter.com/IQ915CsY8s
— 𖤐 (@lauraghorta) December 1, 2024
Brincadeiras à parte, é exatamente esse tipo de reação que, na atual conjuntura, mostra que o Bring Me The Horizon e seus convidados estão no caminho certo. O Rock e o Metal sempre foram parte da contracultura, contestando valores – pra voltar ao começo do texto, quantas vezes será que o KISS não foi visto como um “show de horrores” pela geração anterior?
A verdade é que a incapacidade de alguns em aceitar a evolução de um gênero que está em constante mutação não pode atrapalhar a caminhada de quem finalmente está conseguindo se conectar com um público que passou anos sendo deixado de lado, inclusive pelas próprias bandas que admiravam e que nunca fizeram questão de reconhecê-los como fãs por seus próprios preconceitos.
Hoje, o Metal vive a sua melhor fase – e não dizemos isso pelo fato do Bring Me The Horizon ter feito o maior espetáculo do ano no Allianz Parque, com um show impecável em todos os aspectos possíveis, mas sim por estar abrindo as portas para esse gênero acolher mais pessoas do que nunca. E, nesse sentido, o dia 30 de Novembro de 2024 foi só o começo.
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