Todo final de ano termina igual: um brasileiro é derrotado no Mundial de Clubes, você troca de presentes de amigo secreto com pessoas indesejadas e sai uma lista suspeita de melhores álbuns do ano. E eu, como não sou besta, aproveito o tema em alta para fazer o meu ranking de melhores álbuns do rap nacional em 2024.
Entretanto, diferente de outras listas que tentam impor quais são os “melhores” discos do ano com olhos voltados mais a quesitos técnicos, eu gosto de esclarecer que aqui estão os projetos que eu mais gostei entre aqueles que eu pude escutar. É uma lista subjetiva feita com uma dose de influência do meu próprio gosto e, lógico, explicando o porquê de cada trabalho ter chamado a minha atenção.
Na metade deste ano, quando iniciei essa coluna, fiz um ranking prévio sobre os melhores álbuns do rap nacional que mais me agradaram até então. Naquele texto, justifiquei que as escolhas foram feitas com trabalhos que chamaram a minha atenção por seguir um caminho de autenticidade nas composições e sonoridades exploradas.
Outro ponto importante de ponderar é que essa seleção abaixo é feita apenas de álbuns, deixando de fora EP’s, mixtapes e afins. Por isso, obras que eu amei como o EP EST…, do Kamau, e as mixtapes Músicas Pra Sair na Mão, Vol. 1 e Quase Pronta Mixtape,do RAP, falando e da Barona, respectivamente, não foram incluídas.
Inclusive, como a lista é limitada em apenas 15 álbuns, muitos projetos que eu ouvi bastante e gostei muito ficaram de fora. Isso não quer dizer que são álbuns ruins, como é o caso de O queridinho de Deus, do Froid, Púrpura, da Budah, ou de Só Tem Vilão, Aqui Não Tem Herói, do Kyan. São projetos que eu acho incríveis e que estariam presentes numa lista um pouco mais extensa.
15 – Luccas Carlos – Busco Romance Love Show
Finalizando a lista de melhores álbuns do rap nacional em 2024, sempre que Luccas Carlos lançar um álbum, ele estará no meu ranking, pois só ele é capaz de combinar rap e R&B em um álbum que explora lovesongs com excelência. Com influências que vão do drill ao funk, ele mostra por que é um dos artistas mais subestimados da indústria musical, alcançando novos patamares artísticos em cada trabalho.
14 – Filipe Ret – Nume
Filipe Ret resgata suas raízes em Nume, repaginando a sua melhor versão num álbum introspectivo que mistura lirismo cru com produções sofisticadas. Explorando temas como autoconhecimento e perseverança, o rapper entrega um trabalho que conecta o humano e o divino, reafirmando sua relevância na cena.
13 – Monna Brutal – Vista Grossa
A gigantesca Monna Brutal, dona de um dos melhores versos do ano em “Quebrada UFC“, une amor e crítica social em Vista Grossa. O disco desafia padrões e afirma sua identidade no hip-hop. Ao longo das 15 faixas, a rapper apresenta o que há de melhor do seu lirismo afiado, construindo uma obra que reflete tanto sua visão artística quanto pessoal.
12 – nabru – Desenredo
Em Desenredo, nabru aposta em simplicidade e profundidade, entregando um álbum que foge de excessos e prioriza narrativas poéticas. Fugindo das superproduções atuais – que entregam nada numa embalagem reluzente – nabru vai na direção contrária, onde suas rimas abordam questões existenciais e políticas com inteligência, provando que menos pode ser mais quando há autenticidade.
11 – 2ZDinizz – Patrono
Esse entrou aos 45 minutos do segundo tempo e me cativou muito. Patrono é uma conversa intimista, numa mesa de bar, entre 2ZDinizz e seu mentor imaginário, abordando temas como amor, decepção e dificuldades financeiras. O álbum resgata o boombap clássico com uma abordagem nostálgica e contemporânea, mostrando a habilidade do rapper em conectar passado e presente. Este trabalho marca o início de uma promissora trajetória artística.
10 – Alee – CAOS
O rapper Alee transforma o caos de sua trajetória em arte. Explorando gêneros como trap, drill e R&B, ele mostra uma inquietude criativa que o diferencia. Caos combina letras introspectivas e sonoridades dinâmicas, apresentando o artista baiano como um artista versátil e original. Este é um trabalho que ressignifica suas experiências, marcando seu renascimento na cena musical com autenticidade.
9 – Yago Oproprio – OPROPRIO
Yago Oproprio apresenta um álbum que mistura cotidiano e introspecção com uma estética marcante. OPROPRIO combina instrumentais envolventes com o flow característico do rapper, criando uma experiência imersiva. Com um tom noir e letras que dialogam com o ouvinte, o disco é uma afirmação do talento único de Yago na cena.
8 – VND – Onde as Histórias Se Cruzam
Com Onde as Histórias Se Cruzam, VND constrói um mosaico de vivências que abrange amor, perigo e reflexões sobre a vida. O álbum mistura boombap e drill, resultando em um trabalho que equilibra maturidade e versatilidade sonora. Cada faixa é uma história que reflete o momento de vida do rapper, trazendo o ouvinte para dentro do seu denso universo e solidificando seu lugar como um dos melhores de sua geração.
7 – MC Luanna – Sexto Sentido
Sexto Sentido é um retrato da dualidade entre a MC Luanna e a mulher por trás da artista. O álbum mistura trap, bounce e dancehall em um mosaico sonoro que reflete sua pluralidade. Cada faixa é uma peça dessa jornada emocional, traduzindo suas vivências e desafios em músicas que conectam autenticidade e diversidade. A rapper solidifica sua posição como uma das vozes mais promissoras do rap nacional, ao mesmo tempo em que convida o ouvinte a explorar suas próprias emoções.
6 – Matuê – 333
Matuê desafia convenções do trap e leva os ouvintes a uma experiência sensorial única em 333. O álbum mescla a estética do trap com influências dos anos 80, resultando em uma sonoridade rica e experimental. As faixas fluem como uma viagem, guiadas por produções complexas e mixagens impecáveis. O rapper cearense reafirma seu amadurecimento artístico ao apostar em uma abordagem criativa e fora do convencional, consolidando seu lugar entre os grandes nomes da música nacional.
5 – Cristal – Epifania
Epifania é um marco para Cristal, que mistura black music contemporânea com referências à soul music brasileira. A artista entregou um álbum que celebra a negritude e a excelência com groove e autenticidade. Na obra, as letras carregam revelações pessoais, traduzindo emoções e experiências com uma força única. Este trabalho é tanto uma homenagem ao passado quanto uma afirmação de seu lugar no presente.
4 – Duquesa – Taurus Vol. 2
Duquesa eleva sua arte a patamares inéditos com Taurus Vol. 2, mostrando uma evolução impressionante em sua carreira. O álbum é uma combinação de produções refinadas, composições impecáveis e um flow versátil que se adapta a qualquer estilo. Com faixas intensas e uma sonoridade densa, a rapper demonstra um domínio artístico que reflete tanto seu amadurecimento quanto sua capacidade de inovar.
3 – Rashid – Portal
Com Portal, Rashid se permite vulnerabilidade como nunca antes, entregando um trabalho que transcende os limites tradicionais do rap. Explorando temas íntimos e emocionais, o rapper cria um disco maduro, repleto de arranjos criativos e uma pluralidade sonora que destaca sua versatilidade. Após 15 anos de carreira, Rashid atinge um novo ápice artístico, provando que ainda tem muito a oferecer e consolidando este como o melhor álbum de sua carreira.
2 – Thalin, Cravinhos, VCR Slim, iloveyoulangelo, Pirlo – Maria Esmeralda
Maria Esmeralda é um exemplo raro de coesão e profundidade no rap nacional e poderia muito bem liderar essa lista. O quinteto formado por Thalin, VCR Slim, Cravinhos, Pirlo e iloveyoulangelo, da Sujoground, explora temas ricos e cria uma narrativa multifacetada, personificando a personagem-título de maneira sensível e artística. Cada faixa é uma camada de poesia e complexidade, com uma sonoridade que dialoga entre o clássico e o inovador. O álbum se destaca pela forma como equilibra lirismo e emoção, marcando a cena paulistana com uma obra singular que transcende rótulos.
1 – Febem – Abaixo do Radar
Febem demonstra, mais uma vez, ser um artista em constante evolução, entregando em Abaixo do Radar uma obra que equilibra introspecção e versatilidade sonora. O rapper reflete sobre sua trajetória, questionando sua subvalorização na cena enquanto se reafirma como uma referência para outros artistas. A parceria com Cesrv resulta em uma rica diversidade musical, com influências que vão além do rap tradicional. Mesmo “abaixo do radar”, Febem consolida seu lugar como um dos MCs mais consistentes e influentes de sua geração.