A banda mineira Black Pantera surgiu como uma força da natureza para fazer sons pesado repletos de influências brasileiras.
Em 2024, o grupo aumentou o tamanho do seu caldeirão e não apenas deu espaço para elementos do Metal, Punk Rock e Hardcore, como também incluiu belas pitadas do Rock Nacional dos Anos 90 e também do Hip Hop.
Como resultado, o grupo lançou seu melhor disco e vive o melhor momento da sua carreira, por isso é a Banda do Ano 2024 aqui no Tenho Mais Discos Que Amigos!
“Perpétuo” e uma história de superação
Surgido no interior de Minas Gerais, o trio Black Pantera sempre lutou contra as adversidades e as estatísticas, seja por não estar no eixo Rio-São Paulo, por fazer Rock no Brasil ou por lutar diariamente contra o racismo em suas letras, clipes e aparições públicas.
Se isso pode aparecer como um desafio para muita gente, para o Black Pantera serviu como combustível que foi esquentando motores gradualmente, primeiro com o Project Black Pantera lá em 2015, depois com Agressão em 2018, Ascensão e 2022 e agora o excelente Perpétuo em 2024.
No álbum, há canções como “Tradução”, inspirada na mãe de Charles e Chaene, vocalista/guitarrista e baixista da banda, respectivamente. Chaene, aliás, já pode ganhar o título de vocalista também, já que entoa essa bela canção e inaugura uma nova fase onde o Black Pantera apresenta vocais limpos e sons melódicos.
Ao falar para o TMDQA! sobre como essas novas influências acabaram impactando na carreira da banda, ele afirmou:
“Foi um acerto muito grande porque quando eu comecei a escrever algumas coisas para o Perpétuo eu vi que os textos, a linguagem e a identidade estavam vindo de outro jeito diferente do Ascensão. Basicamente foi algo natural, não foi algo pensado pra ser assim e eu fiquei até com um certo receio ‘porra, as músicas estão vindo de outro jeito, elas estão vindo com um pouco mais de melodia’. E eu lembro que eu gravei ‘Tradução’ no celular pro Rafa [Rafael Ramos, produtor], mandei pra ele e ele me mandou um áudio muito emocionado, tava ele e a esposa, e ele falou: ‘Cara, eu quero isso no disco! Eu quero isso! Nós já temos um disco novo do Black Pantera e essa música vai ser um dos carros-chefes’. Eu fiquei com receio porque era voz e violão, mostrei pros meninos no ensaio e os caras também muito emocionados falaram: ‘Cara, é uma das músicas mais pesadas que a gente fez, pelo contexto, pela letra e tudo mais’.
Assim como a música ‘Perpétuo’, que veio de uma outra maneira. Eu estava viajando pelo Nordeste e isso me tocou de uma forma muito forte. Falei com a minha esposa sobre uma frase, ela é umbandista, e no dia falaram no centro sobre isso também. Então, foi uma conexão muito forte, muito ancestral e espiritual. Basicamente, a gente se permitiu isso!
A gente ficou muito feliz com tudo, tá muito feliz com o impacto desse disco nas vidas das pessoas mostrando um Black Pantera diferente, mostrando nossa musicalidade, outras vertentes conseguindo também trazer quem a gente é desde o começo, essa raiva mas mostrando outras perspectivas. A gente fala que tá sempre puto, mas às vezes estamos um pouco vulneráveis também, o que é o normal do ser humano. E eu acho que isso foi o diferencial do ‘Perpétuo’, acabou trazendo mais ouvintes e mais seguidores pra banda.”
Shows ao vivo e luta antirracista
E não foi só em estúdio que o Black Pantera se destacou esse ano.
Verdadeiros “operários do Rock”, os caras rodaram o país para fazer shows desde os bares underground mais intimistas até palcos enormes de festivais como o Knotfest Brasil.
Nessas oportunidades, o Black Pantera sempre mostra a energia de suas canções e entoa, diversas vezes, a frase “Fogo Nos Racistas”, marca registrada das apresentações.
Ao falar sobre a luta diária, Chaene afirmou:
“Pô, é uma puta responsa! A gente vê no olho das pessoas, principalmente das pessoas pretas que têm ido aos shows né, isso aumentou muito! Mulheres pretas, homens pretos e pessoas que chegam e falam pra gente: ‘vocês deviam existir há 20 anos atrás quando eu estava no mesmo movimento, eu parei de ouvir rock porque eu não me sentia representado, porque não era um lugar seguro pra mim’.
O show do Black Pantera tem sido uma celebração. Algo que é incrível da gente poder viver, as pessoas choram, cantam. Eu não consigo tocar ‘Tradução’ e não fechar o olho porque você olha pras pessoas e elas estão realmente emocionadas, elas estão sentindo essa energia. ‘Fogo nos Racistas’ também é um momento super importante do show, são músicas que eu acho que dificilmente vão sair do repertório ao longo dos anos porque são músicas que as pessoas cantam a pleno pulmões.
Não é só mais por nós ou pela banda, é algo que é muito representativo no cerne da palavra, sacô? O Black Pantera é muito maior do que nós três, muito maior que nós, é algo gigantesco que as pessoas se espelham, que usam. As pessoas têm usado nas academias, nas universidades, professores têm usado nas escolas, as pessoas têm tatuado o símbolo da banda, ainda mais que a gente trouxe uma simbologia trazendo a questão do Adinkra ao ‘Perpétuo’.
A gente furou sim várias bolhas e as músicas têm vindo ainda mais contundentes, têm vindo ainda mais incisivas nessa questão porque a gente se descobriu realmente mais, se encontrou nesse caminho. E quanto mais a gente estuda, mais a gente lê, mais a gente entende quem foram nossos ancestrais, o peso da história do povo preto mais as músicas vêm furiosas, mais elas vêm querem passar essa visão e trazer essa história. E mostrar pro mundo quão importante a cultura e a história negra foram e são. Então basicamente é isso, a gente tá ligado na importância desse nosso papel e o quão fundamental é. A gente fica muito feliz e orgulhoso mas é responsa, responsa pra caralho mas a gente tá disposto a pagar o preço.”
“A gente tá fazendo uma manutenção da nossa carreira e estar perto das pessoas, seja onde for, é extremamente necessário. Tem cidades que você vai no interior do Brasil que as pessoas não acreditam que você tá lá. A gente gosta de tocar, hoje a gente vive de tocar, de fazer show, de vender o nosso merchandising. Então além de ser uma parada de necessidade a gente também gosta. O show é o mesmo, seja num pub, num palco para 200 ou 300 pessoas ou num estádio, como foi no Allianz Parque, com mais de 35 mil pessoas no Knotfest. A energia e a vontade são as mesmas, essa gana de estar conectado com as pessoas. De ver, ouvir elas cantarem, ter essa resposta do público ainda nos move, é o que faz a gente querer gravar disco para poder estar na estrada, pra poder estar ocupando vários espaços.”
Rock and Roll e as novas gerações
Por falar em Rock, Chaene nos deu a sua opinião a respeito do que pensa sobre o ressurgimento do gênero, já que as novas gerações parecem estar ligadíssimas no Metal.
Ao falar sobre isso, ele disse:
“O Rock tá vivo, ele pode não estar nas grandes mídias, pode não estar na televisão toda hora, nas rádios mas ele tá vivo. ”
“O Rock está vivo cara, a gente até brincou em um post que a gente tá celebrando as missas de sétimo dia do Rock todo dia porque a gente tá vivendo isso, o Rock tá pulsante. A gente viajou bastante de norte a sul do país, ampliou ainda mais. Acho que se uma banda conseguir fazer sucesso no Brasil, ela consegue fazer uma tour por ano porque o Brasil é gigantesco, é um país continental dadas as devidas dimensões. A resposta tá aí, a gente tá vivendo de Rock no Brasil, somos uma banda preta antirracista, você pensa o quão difícil isso é. Apesar de ser uma parada mais de nicho, o Perpétuo conseguiu meio que furar várias bolhas. E você vê um Knotfest lotado, você vê Linkin Park lotando estádios, vários festivais que tivemos ao longo do ano no país inteiro então a gente tá muito feliz.
Tem uma molecada ouvindo Black Pantera, tem uma molecada indo nos shows, uma molecada levando os pais, todo show tem alguma história de algum menino ou menina que mostrou o som pros pais ou o pai mostrou pros filhos, ou vai a família inteira. No ENEM a gente teve essa surpresa de ter vários candidatos usando as músicas da banda no tema que foi super importante, então você vê que tem uma resposta. É um aumento exponencial da molecada querendo voltar a tocar, voltar a fazer som e a gente tá feliz de certa forma ser um exemplo pra essa galera. Então, é ficar ligado nas nossas atitudes também porque a gente representa o sonho de muita gente. O Rock tá vivo, ele pode não estar nas grandes mídias, pode não estar na televisão toda hora, nas rádios mas ele tá vivo.”
Banda do ano e um panorama histórico
Em 2024, a montanha russa de cenários, públicos e quantidades em que o Black Pantera mergulhou ainda contaram com ocasiões como o Prêmio Multishow, onde a banda teve algumas indicações por canções de Perpéuto ao lado de nomes como Barão Vermelho e Dead Fish.
Foi um ano e tanto para uma banda que não faz Pop Rock, não fica em um grande centro e não alivia quando o assunto é falar verdades por aí.
Por isso, nós os escolhemos como a Banda do Ano aqui no TMDQA! e perguntamos para Chaene como ele resumiria esse 2024: