ÁLBUM

"Da Boca": ADL transforma gírias da favela em poesia e resistência

Composto por 10 faixas, novo disco de ADL apresenta colaborações com nomes icônicos do rap nacional e narrativa única

ADL
Crédito: Beatriz Madeira

O grupo ADL (Além da Loucura) lançou o tão aguardado álbum Da Boca, um projeto que mistura lirismo afiado, sonoridade nostálgica e um compromisso inabalável com as narrativas das periferias brasileiras.

Composto por 10 faixas, o disco apresenta colaborações com nomes icônicos do rap nacional, como MV Bill, Sombra, DJ Cia e Ingrid Monteiro.

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“A gente dá voz às bocas que são caladas, que são silenciadas”, resume DK 47, integrante do grupo ao lado de Lord e os produtores musicais Índio e TG. O rapper revela como o grupo transforma revolta e indignação em arte, mergulhando em histórias reais para dar vida às canções.

Um exemplo é a faixa “Paizão”, inspirada em relatos pessoais. “Eu contei a história do meu primo como se fosse minha. Essa é nossa responsabilidade, contar essas histórias para melhorar nossa comunidade”, reflete o cantor, em entrevista exclusiva ao TMDQA!.

Entre gírias e resistência, o conceito de Da Boca

Inspirado pelas gírias das comunidades do Rio de Janeiro, Da Boca explora a pluralidade de significados das palavras. Cada faixa traz um termo com sentidos diversos, como “Visão Menor”, “Brabão” e “Carro Bixo”, conectando elementos do cotidiano às experiências vividas nas favelas.

Para Lord, a ideia era ir além do sentido literal:

“A gente chegou nessa ideia das gírias para comunicar com a favela, mas também trazer um conceito mais profundo. Por exemplo, ‘Pedrada’ é uma música que fala do crack, mas também de algo muito bom.”

Na sequência, DK complementa, ressaltando a profundidade das letras:

“Se ‘Paizão’ é o cara que paga a rodada, também tem o ‘paizão’ que abandona o filho. A gíria está na boca de todo mundo, mas a gente traz poesia pra girar e ampliar o poder dela”.

Sonoridade de resgate

Musicalmente, o disco é um mergulho nas raízes do hip hop. Com produções assinadas por TG, Índio, DJ Cia, Y4AN, Lenderk e Sativo, o disco do ADL combina elementos orgânicos, como flautas e corais, com a tecnologia analógica da fita magnética de 1/4 polegada, resgatando a textura sonora que embalou os primórdios do rap. “A gente tentou puxar a estética do passado, mas colocando uma modernidade”, explica o produtor Índio.

O projeto também se destaca pelos elementos visuais. Todas as canções contarão com clipes que retratam bocas de moradores das comunidades, em uma celebração à diversidade e à ancestralidade do “Brasil Favela”. A capa do disco, assinada pelo artista visual Domeio, aborda debates urgentes sobre colorismo e identidade.

Ponto de partida

Num momento em que parte do rap flerta com discursos conservadores, o grupo ADL reafirma o caráter político do gênero. “A principal importância de se posicionar é evitar que o rap seja abraçado pela direita”, enfatiza DK.

“Hoje, você vê páginas de rap cheias de fãs de direita, por causa de MCs despolitizados ou com ideias de direita. O pobre de direita está desarmando uma bomba que vai explodir nele mesmo, enquanto os MCs estão com copos cheios de uísque nas mãos.”

Mesmo com uma trajetória marcada por projetos icônicos como “Favela Vive” e “Poetas no Topo”, o grupo encara Da Boca como um recomeço. “Não importa o que vai acontecer, a luta só continua”, reflete DK. Já Lord observa o álbum como uma oportunidade de ampliar os horizontes:

“Não existe um lugar onde queremos chegar, mas por onde temos que passar. Vamos chegar na casa do favelado e no ouvido do playboy que precisava ouvir isso.”

Com Da Boca, ADL reafirma seu papel como cronista das ruas, unindo arte e resistência em um momento em que a representatividade e o posicionamento são mais necessários do que nunca. “Nossa luta não depende da vitória pra continuar”, conclui DK 47.

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