Conhecida nos últimos anos como sensação do TikTok, a cantora e compositora pernambucana Bela Maria tem marcado a nova cena musical brasileira com sua incrível mistura de R&B, Pop e MPB, apresentada tanto em suas releituras como em suas canções autorais.
A jovem artista que está se preparando para lançar em 2025 seu primeiro disco completo conversou com o TMDQA! sobre seu caminho até a fama, que tem sido apoiado por uma forte presença nas redes sociais, especialmente no TikTok, onde ela conquistou visibilidade ao lado de outros grandes nomes da indústria.
Bela foi uma das artistas homenageadas na lista Vozes Visionárias, que integrou as ações do TikTok dedicadas ao mês da Consciência Negra, e foi incluída na categoria “Inovadores da Indústria” ao lado de outros nomes de destaque como Liniker, Tássia Reis, Melly e Os Garotin.
A lista reconhece os artistas que estão abrindo novos caminhos para artistas pretos, influenciando e impactando a vida de pessoas ao redor do mundo, e a artista foi questionada sobre como isso pode influenciar na construção de sua carreira. Ela declarou:
“Eu enxergo justamente como uma porta, que eu não sei se sem a internet ela viria nessa minha fase, que é o momento em que a gente tá buscando. E você se enxergar, me colocar ali do lado de Liniker, do lado d’Os Garotin, as pessoas verem uma pessoa que cresceu na internet… porque são muitos percursos diferentes ali.
[…] Quando as pessoas conseguem ver que conseguem chegar lá só com o que tem, ou cantando do jeito que você canta – porque tem uma pessoa de R&B, uma pessoa de pop, então acho que, quanto mais diversidade, até em questão do nosso ser mesmo e as bandeiras que a gente leva, existe mais diversidade de caminhos para você entender como pode chegar lá.
Eu acho que as plataformas têm muito esse poder quando elas mostram os nossos rostos. Pra mim, o que tá acontecendo no mercado agora é muito revolucionário.”
Na conversa, Bela Maria também contou sobre suas referências musicais, compartilhou detalhes sobre seu single “Divina Comédia” e revelou os próximos planos da carreira. Confira na íntegra a seguir!
TMDQA! Entrevista Bela Maria
TMDQA!: Bela, eu vi que seus primeiros trabalhos de estúdio foram lançados entre 2020 e 2021, e pra gente começar eu queria saber um pouco da sua relação com a música, quando foi seu primeiro contato com essa arte?
Bela Maria: Eu acho que eu já venho conectada desde a infância por conta dos meus pais, que são pessoas muito musicais. Então, sempre que tem alguma coisa aqui em casa, eles estão escutando música. A minha família sempre foi muito musical e barulhenta, nesse sentido, então acho que a música sempre veio da minha própria infância mesmo. Mas a minha curiosidade, é porque eu queria muito fazer aquilo. Eu assistia os desenhos, os filmes, eu ficava lá cantando as músicas dos musicais na frente da TV. Depois de também ganhar um karaokê, pequena, não tinha como, os vizinhos que aguentassem ali porque era todo dia. Eu tenho muito essa relação, que eu acho que é muito afetiva com a música, veio junto.
TMDQA!: Nas suas músicas você faz essa mistura entre o R&B com o Pop e também com a MPB. Quais são os artistas que te inspiraram e que despertaram seu gosto por esses estilos?
Bela Maria: Eu acho que pra compor eu bebo muito da nossa MPB, porque eu venho das composições de Alcione, de Cartola, de Gal Costa, de todos esses artistas que a gente tem, porque acho que não tem uma fonte melhor pra ir buscar do que a nossa MPB, que é maravilhosa, as nossas composições. Então eu sempre bebo muito dessa fonte, que já vem desde a infância também, então quando eu vou escrever, eu acho que só transmito isso, que já vem na bagagem. E pensando nos ritmos, meu deus, eu saio catando coisas, saio descobrindo música nova todo dia, amo ficar pesquisando artista independente, lá de fora também. Então eu misturo muito as referências do nosso pop atual, do nosso pop R&B anos 2000, que tá vindo aí agora, acho que eu estou me baseando muito nisso, nos pops antigos, dos R&B anos 2000, que eu sinto falta da gente com esse tipo de pop aqui e estou querendo muito trazer porque eu amava ouvir isso.
TMDQA!: Bela, nesses últimos anos você ficou conhecida como uma sensação do TikTok, inclusive eu vi que você foi ao Grammy Latino do ano passado a convite da plataforma. Queria saber um pouco do começo da sua produção de conteúdo para lá, o que te motivou a começar a postar e quais foram seus primeiros conteúdos?
Bela Maria: Eu fazia muitos vídeos cantando, tentava fazer uma versão diferente no teclado, no violão. E aí teve um dia que eu sentei pra cantar falei, “ah, vou cantar esse aqui de Tim Maia”. Só que na hora eu pensei: “acho que ele estava pensando muito nisso aqui, quando ele fez essa música”, e aí foi muito espontâneo isso de fazer essa fala no começo do vídeo, pra meio que contextualizar o que eu achava que ele estava pensando quando ele compôs. Eu fiz, e foi um daqueles casos assim, de que eu deitei pra dormir e quando acordei o vídeo estava com um milhão de visualizações, eu fiz “onde é que eu estou? Peraí, que eu não tinha chegado nessa parte ainda não, agora faz o que?”. E aí foi uma surpresa muito grande pra mim saber que as pessoas também gostavam de entender a contextualização. Não fui eu que escrevi, mas eu acho que quando eu trazia esse lado também era uma maneira das pessoas ouvirem antes e tipo, “caramba, eu acho que eu estou me identificando com isso, o que será que vem depois?”. Então criava essa expectativa e ao mesmo tempo uma conexão, porque tinha essa coisa da interpretação, não somente ali na hora da canção. As pessoas ouviam o que eu estava falando e faziam, “meu deus sou eu”. E aí foi muito importante pra mim esse tipo de vídeo viralizar, porque eu construí uma base de ouvintes, as pessoas elas me escutavam e me ouviam. Era de um todo. Elas escutavam o que eu tinha pra falar e o que eu estava cantando também.
TMDQA!: Era algo que ia além do seu som ali, né? E você continuou fazendo isso com suas músicas autorais também?
Bela Maria: Sim, continuei! Inclusive, foi muito massa, porque as pessoas nunca sabiam o que eu ia cantar depois, elas ficavam envolvidas pela fala, então elas sempre estavam esperando uma surpresa, então tanto faz eu trazer um pagode em R&B ou alguma coisa em R&B, e eu vim com essa lapada, entre aspas, de colocar minha própria música. Então, a galera nos comentários perguntava: “que música é essa? pelo amor de deus, o que é isso?”. Então eu pensava, ó, já tá aí, eu posso trazer a música que eu quiser, digamos, que as pessoas se interessam primeiro pela fala. Acabou chamando a atenção primeiro pela pessoa, pra depois vir a música.
TMDQA!: Recentemente, você foi nomeada na lista Vozes Visionárias, do TikTok, e foi incluída na categoria “Inovadores da Indústria” ao lado de outros artistas de destaque como Liniker, Tássia Reis e Os Garotin. Como você se sentiu com esse reconhecimento?
Bela Maria: Ah, eu fiquei maravilhada, porque toda vez que a gente abre qualquer espaço, vindo de onde a gente vem, eu por exemplo sou aqui do Nordeste, não sou do eixo Recife, sou de Paulista, então são muitas lonjuras, que eu vou quebrando essas barreiras. Então quando eu entro numa lista dessa, eu acho que eu estou abrindo as portas para outras pessoas daqui e ao mesmo tempo eu estou me vendo num lugar que eu nem sei como é que a Bela de uns 14 anos de idade se imaginaria num lugar como esse. Porque a gente sabe que tem a capacidade, a gente faz as coisas pensando no macro, de tipo, “isso vai chegar longe”, mas a gente não vê as portas se abrindo até a gente ir lá abrir. Então quando eu vi esse nome aí, eu fiquei pensando em tudo que tinha acontecido, em como eu comecei, como às vezes a gente duvida meio que das ideias da gente, mas é autêntico porque a gente está pensando, sabe? Então eu fiquei, muito emocionada, quando eu fui passando os nomes da lista eu falei: “menina!”.
TMDQA!: E essa lista ela integrou uma das ações do mês da Consciência Negra do TikTok. Como você vê o papel das redes sociais e das plataformas como o TikTok na construção de um espaço de maior equidade e protagonismo para os artistas negros na indústria musical?
Bela Maria: É um maiores palcos e um dos mais abertos que a gente tem, porque a gente mesmo constrói e aí eu acho que com as pessoas conseguindo buscar, você mesmo tendo as pessoas fazendo a sua própria curadoria, porque infelizmente em cima do palco ainda é aquela coisa, você vai ver o que foi levado até você. Mas ali é uma porta aberta, eu acho que é o maior palco que a gente tem e quando a própria plataforma procura impulsionar a gente, eu acho que isso é abrir caminhos, porque tem muita gente ali que faz conteúdo. Então, a pessoa vai olhar para mim na plataforma, mas ela vai antes olhar pro meu cabelo, ela vai antes olhar para o jeito como eu estou me vestindo, o jeito como eu me porto, o lugar que eu falo, de onde eu venho. Porque a gente vê um reels e fala assim, “meu deus, que pessoa incrível”, a gente tem esse lugar de admiração, de uma vida que parece distante, mas tá distante a uma tela, então tem outras pessoas iguais a mim, do jeito que eu sou, do jeito que eu falo, de onde eu venho, e elas também podem. E eu acho que levar isso para a mão da pessoa no dia a dia, é muito importante. Eu fico muito feliz quando tem algo como o “Amplifica” do Spotify, por exemplo, que leva os artistas também, que a gente participou e tá na playlist então, sempre que eles impulsionam eu vejo isso como revolucionário mesmo.
TMDQA!: A gente tem observado nos últimos anos que o TikTok redefiniu a forma como a música e outras formas de arte se conectam com o público. Como você enxerga a sua inclusão no Vozes Visionárias como parte dessa transformação digital na música brasileira e de que maneira isso tem influenciado na construção da sua carreira?
Bela Maria: Eu enxergo justamente como uma porta, que eu não sei se sem a internet ela viria nessa minha fase, que é o momento em que a gente tá buscando. E você se enxergar, me colocar ali do lado de Liniker, do lado d’Os Garotin, as pessoas verem que uma pessoa que cresceu na internet… porque são muitos percursos diferentes ali. Liniker vem com uma construção incrível, que foi através dos álbuns dela, acho que muito mais por essa questão mais musical dos trabalhos completos do que pela internet, então quando as pessoas veem que tem outros caminhos que podem ser seguidos, eu acho impressionante, porque cada um ali foi de um jeito até chegar no seu auge, digamos. E quando as pessoas conseguem ver que conseguem chegar lá só com o que tem, ou cantando do jeito que você canta, porque tem uma pessoa de R&B, uma pessoa de pop, então acho que quanto mais diversidade, até em questão do nosso ser mesmo e as bandeiras que a gente leva, existe mais diversidade de caminhos para você entender como pode chegar lá. Eu acho que as plataformas têm muito esse poder quando elas mostram os nossos rostos. Então pra mim o que tá acontecendo no mercado agora é muito revolucionário.
TMDQA!: Você tem essa repercussão forte do público nos seus conteúdos. O que você acredita que cria essa identificação deles com o seu trabalho e com o conteúdo que você compartilha no seu TikTok?
Bela Maria: Quando eu vejo muito essa questão acho que de falar antes dos sentimentos, trazer o R&B, que é um ritmo que eu acho muito maravilhoso e que está sendo explorado e visto mais ultimamente. Porque a gente até então não tinha nenhuma playlist de R&B, digamos, de Spotify ou na Deezer a gente não tinha, isso foi feito agora e antigamente tudo era englobado ali no pacote Black Music. E aí as pessoas falavam, “meu deus, eu amo esse ritmo que eu não sei o que é”, mas trazer esses ritmos pra cá, as pessoas entenderem também… uma coisa que eu acho muito engraçada, é quando a pessoa fala “meu deus, eu nunca tinha escutado R&B com seu sotaque”. Eu falei, caramba que doideira, porque eu realmente parei para pensar, e realmente… Eu acho que essa identificação das pessoas verem que tá acontecendo R&B, que eu sou daqui, mas que eu também faço pop, que eu também faço outros tipos de coisa, mas com essa essência. E falar antes um pouco, transmitir isso dos meus sentimentos também, eu acho que fazem as pessoas se sentirem, justamente essa coisa de ver você no palco ali da internet e falar, “olha onde ela tá, onde eu estou”, e eu sinto a mesma coisa, gera essa identificação.
TMDQA!: E falando sobre suas músicas, seu single mais recente é o “Divina Comédia”. Eu queria saber um pouco sobre essa produção, como ela surgiu e qual é a mensagem dessa música?
Bela Maria: Eu tenho momentos de obsessão. Eu estava obcecada com o livro Bell Hooks, “Tudo Sobre o Amor”, e aí eu fiz “Peça Única”, que foi um dos meus singles do ano passado. E aí eu estava lendo “Divina Comédia”, e eu fico nessa obsessão e aí eu preciso fazer alguma coisa. Eu comecei a escrever essa música como uma love song, acho que as primeiras linhas dela, mas eu guardei, gravei um áudio só para não esquecer e fui terminar no outro dia. Mas quando eu sentei para escrever eu estava com um sentimento completamente diferente, pensando que se encaixa muito numa relação amorosa complicada e também na carreira de ser artista independente, que é uma divina comédia, porque são altos e baixos, toma seu tempo do mesmo jeito, às vezes, você se vê preso, você precisa ser vulnerável, tanto quanto num relacionamento e eu pensei, “é uma dualidade que casa muito, como se realmente fosse uma relação ali, uma divina comédia”. E acho que acabou ficando mais sobre isso do que sendo uma love song e eu queria muito fazer essa referência do lúdico, do sofrer, de ter aquela coisa do teatro e a gente fez tudo na garagem de casa. E eu estava com muita vontade de encerrar esse ano com um lançamento desses pra quem estava esperando.
TMDQA!: Eu quero saber exatamente sobre isso. Como estão os planos para o ano que vem e os preparativos para o seu primeiro disco completo?
Bela Maria: Eu estou preparando tudo! Quero vir com os dois pés na porta para trazer uma coisa bem diferente, puxando muito esse lado do R&B anos 2000, que eu acho que as pessoas esperam muito esse R&B de mim e vai ter porque eu amo fazer isso. Mas ao mesmo tempo eu também sou muito uma artista de palco e eu amo trazer coreografia, trazer as loucuras de pirotecnia. E eu vou conseguir fazer isso, acho que através desse pop que eu estou querendo trazer, que vai vir com um estilo totalmente diferente. Vai vir depois do carnaval, ainda sem uma data, mas até lá eu vou sair soltando os singles pra dar essas deixas para a galera entender o que que tá vindo por aí. Então ao longo de janeiro, fevereiro vem aí os singles do álbum também e outros de espera.
TMDQA!: E Bela, quais são os artistas que você tem vontade de colaborar?
Bela Maria: Com certeza a Liniker, IZA. Eu estava falando com Jota.Pê, acho que seria incrível fazer uma música com ele também, porque no disco tem um popzinho, que na verdade é um funk, e ele entrando nesse funk ia ficar muito maravilhoso. Eu já fico pensando. Eu amo BK’, Luccas Carlos, eu acho que essa gama de ser um álbum pop, com essa pegada anos 2000, dá para colocar muita gente ali da cena que eu amo muito. Tem muitos nomes.
TMDQA!: Pra gente encerrar, queria que você indicasse aos leitores do TMDQA! os álbuns que você tem ouvido nos últimos tempos.
Bela Maria: Tenho escutado “Chromakopia” de Tyler, the Creator, tenho escutado muito o de Liniker, impossível não ouvir. Deixa eu lembrar aqui, eu estava viciada no de Cartola, “Raízes do Samba”, não paro de ouvir e Gal também. Eu estava ouvindo muito, estava voltando para as antiguidades.
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