O escritor Neil Gaiman, autor da famosa história em quadrinhos Sandman e de outros títulos de destaque da literatura, se manifestou pela primeira vez após ter sido acusado de abuso sexual.
No início desta semana, uma reportagem da New York Magazine, intitulada “There Is No Safe Word” (“Não existe palavra segura”) compartilhou relatos de oito mulheres aprofundando o assunto que foi inicialmente exposto pela Tortoise Media em Julho de 2024.
No ano passado, o portal lançou um podcast de seis partes, chamado Master, onde cobriu as alegações de cinco mulheres. Já no início desta semana, a matéria da NY Mag ampliou a história falando com um total de oito mulheres que tiveram experiências semelhantes com Gaiman, sendo quatro delas participantes do podcast do Tortoise.
De acordo com a Variety, entre as acusadoras do autor britânico estavam uma babá de Gaiman e do filho de sua ex-esposa, Amanda Palmer, uma zeladora da propriedade de Gaiman em Woodstock, NY, uma fã que conheceu o autor quando ela tinha 18 anos e uma mulher que alegou que ele tentou agredi-la sexualmente em seu ônibus de turnê.
A nova reportagem apresenta mensagens de texto, trechos de diário e depoimentos de testemunhas que mostram Gaiman usando a sua posição de prestígio para manipular e explorar sexualmente fãs e colegas.
Segundo os relatos, as relações entre as supostas vítimas e o autor envolveram práticas não consensuais de dominação sexual. Em alguns casos, Neil foi acusado de ultrapassar os limites do consentimento mesmo se tratando de atividades BDSM, que dependem de regras claras e respeito mútuo.
Neil Gaiman se manifesta após acusações de abuso sexual
Após as novas acusações, Neil Gaiman finalmente quebrou o silêncio e se manifestou através de seu blog pessoal com um texto longo em que nega veementemente todas as acusações feitas contra ele:
“Eu nunca me envolvi em atividade sexual não consensual com ninguém. Nunca”.
Na declaração completa publicada nesta terça-feira (14), o autor repetiu um discurso usado muitas vezes nesse tipo de situação e se disse arrependido pela maneira como lidou com relacionamentos pessoais:
“[…] eu estava emocionalmente indisponível enquanto estava sexualmente disponível, focado em mim mesmo e não tão atencioso quanto eu poderia ou deveria ter sido. Não estou disposto a virar as costas para a verdade, e não posso aceitar ser descrito como alguém que não sou, e não posso e não vou admitir ter feito coisas que não fiz“.
Você pode ver a declaração completa de Gaiman ao final da matéria.
Projetos cancelados
Desde que surgiram as primeiras acusações em Julho do ano passado, alguns projetos de Neil Gaiman foram afetados. Um exemplo é o último episódio da terceira temporada de Good Omens, no Prime Video, que terá 90 minutos e não contará com o britânico na produção.
A Disney também fez uma pausa na produção de sua adaptação cinematográfica de The Graveyard Book e a Netflix cancelou Dead Boy Detectives, embora não esteja claro se essa decisão está relacionada às alegações.
Por outro lado, acredita-se que a segunda temporada de The Sandman ainda será lançada este ano na Netflix e a adaptação da série Anansi Boys pelo Prime Video segue o mesmo caminho.
Veja o pronunciamento de Neil Gaiman sobre abusos sexuais
Nos últimos meses, tenho assistido às histórias que circulam na internet sobre mim com horror e consternação. Fiquei quieto até agora, tanto por respeito às pessoas que estavam compartilhando suas histórias quanto por um desejo de não chamar ainda mais atenção para muita desinformação. Sempre tentei ser uma pessoa reservada e sentia cada vez mais que as mídias sociais eram o lugar errado para falar sobre assuntos pessoais importantes. Agora cheguei ao ponto em que sinto que devo dizer algo.
Ao ler esta última coleção de relatos, há momentos que reconheço pela metade e momentos que não, descrições de coisas que aconteceram ao lado de coisas que enfaticamente não aconteceram. Estou longe de ser uma pessoa perfeita, mas nunca me envolvi em atividade sexual não consensual com ninguém. Nunca.
Voltei a ler as mensagens que troquei com as mulheres ao redor e depois das ocasiões que foram posteriormente relatadas como sendo abusivas. Essas mensagens são lidas agora como eram quando as recebi – de duas pessoas desfrutando de relacionamentos sexuais totalmente consensuais e querendo se ver novamente. Na época em que eu estava nesses relacionamentos, eles pareciam positivos e felizes de ambos os lados.
E também percebo, olhando para eles, anos depois, que eu poderia e deveria ter feito muito melhor. Eu estava emocionalmente indisponível enquanto estava sexualmente disponível, focado em mim mesmo e não tão atencioso quanto eu poderia ou deveria ter sido. Eu era obviamente descuidado com os corações e sentimentos das pessoas, e isso é algo que eu realmente, profundamente me arrependo. Foi egoísmo da minha parte. Eu estava preso na minha própria história e ignorei a de outras pessoas.
Passei alguns meses refletindo profundamente sobre quem eu era e como fiz as pessoas se sentirem.
Como a maioria de nós, estou aprendendo e tentando fazer o trabalho necessário, e sei que esse não é um processo da noite para o dia. Espero que, com a ajuda de pessoas boas, eu continue a crescer. Entendo que nem todos vão acreditar em mim ou mesmo se importar com o que eu digo, mas farei o trabalho de qualquer maneira, por mim, pela minha família e pelas pessoas que amo. Farei o meu melhor para merecer a confiança deles, assim como a confiança dos meus leitores.
Ao mesmo tempo, ao refletir sobre meu passado – e ao rever tudo o que realmente aconteceu em oposição ao que está sendo alegado – não aceito que tenha havido qualquer abuso. Para repetir, nunca me envolvi em atividade sexual não consensual com ninguém.
Algumas das histórias horríveis que estão sendo contadas agora simplesmente nunca aconteceram, enquanto outras foram tão distorcidas do que realmente aconteceu que não têm relação com a realidade. Estou preparado para assumir a responsabilidade por quaisquer erros que cometi. Não estou disposto a virar as costas para a verdade, e não posso aceitar ser descrito como alguém que não sou, e não posso e não vou admitir ter feito coisas que não fiz.
OUÇA AGORA MESMO A PLAYLIST TMDQA! ALTERNATIVO
Clássicos, lançamentos, Indie, Punk, Metal e muito mais: ouça agora mesmo a Playlist TMDQA! Alternativo e siga o TMDQA! no Spotify!